Ciência
03/11/2022 às 08:00•3 min de leitura
No dia de 30 de outubro, as eleições brasileiras confirmaram Luiz Inácio Lula da Silva como o próximo presidente da República. A partir do dia 1º de janeiro de 2023, Lula irá para o seu terceiro mandato à frente do mais alto posto do país. Mas qual é a situação que o espera? Neste texto, desdobramos alguns aspectos do cenário brasileiro que o novo governo recebe de herança.
(Fonte: Unisinos)
Lula e sua equipe recebem uma economia com leve melhora nos índices do PIB, inflação e taxa de desemprego, após anos com inflação, juros e desemprego atingindo os mais altos patamares.
O PIB está em 2,76%, segundo o Boletim Focus do Banco Central, divulgado no dia 24 de outubro. Em 2023, há a projeção de aumento de apenas 0,63%, o que significa uma desaceleração da economia e uma margem pequena para pensar em novos investimentos.
Outro aspecto relevante é que o país está com taxas de crescimento inferiores em relação às nações vizinhas. A inflação segue acima da meta e há o desafio de enfrentar a necessidade de criação de novos postos de trabalho em regime CLT.
O novo governo também precisará tomar decisões sobre a questão de programas de renda como o Auxílio Brasil, que foram impulsionados na véspera das eleições, sem muita responsabilidade com os cofres públicos.
A inflação cresceu muito entre 2020 e 2022, chegando a uma taxa de 12% em abril este ano - o índice mais alto desde outubro de 2003. Isso só começou a baixar em agosto, em parte pela queda no valor dos combustíveis, cujo preço havia escalado nos últimos anos.
O Banco Central já admitiu que a meta de inflação para 2022 será descumprida pelo segundo ano consecutivo. Há 93% por chance de ficar acima da meta.
(Fonte: Banco de Alimentos)
Provavelmente o maior desafio do presidente Lula será lidar com o combate à pobreza. Atualmente, há cerca de 33 milhões de pessoas no Brasil passando fome, e caberá à equipe do governo pensar em soluções viáveis para isso.
De acordo com alguns especialistas, isto deverá ser feito por programas de transferência de renda. Contudo, segundo o professor de economia Renan Pieri, o desafio será pensar em soluções para além disso. Será preciso "criar políticas públicas para além de transferência de renda, especialmente aquelas com foco em educação, para que as pessoas saiam da armadilha da pobreza estrutural, que passa pelas gerações e limita o potencial de ganho econômico das famílias", declarou ao portal UOL.
A taxa de desemprego é outro problema gravíssimo que terá que ser enfrentado. A queda no desemprego no último ano tem a ver com o aumento de trabalhos sem carteira assinada. Segundo o IBGE, 2021 registrou a maior taxa de falta de empregos no Brasil desde o começo da série histórica, em 2012: são 15% de pessoas sem ocupação formal.
O plano de governo de Lula diz que irá propor, "a partir de um amplo debate e negociação, uma nova legislação trabalhista de extensa proteção social a todas as formas de ocupação, de emprego e de relação de trabalho", com especial atenção "aos autônomos, aos que trabalham por conta própria, trabalhadores e trabalhadoras domésticas, teletrabalho e trabalhadores em home office, mediados por aplicativos e plataformas".
(Fonte: UOL)
O Brasil, depois de muitos anos, retornou ao Mapa da Fome, segundo a Organização das Nações Unidas. Ainda que o país tenha uma fortíssima produção agrícola, não consegue garantir que a sua população não passe fome.
Segundo levantamento do FGV Social, 36% dos brasileiros estavam em 2021 em situação de insegurança alimentar, significando que não tinham dinheiro para comer ou fornecer comida para sua família. É o maior índice desde 2006.
Dentre estes 33 milhões de brasileiros com fome, há ainda um viés racial: 65% dos lares habitados por pessoas pretas ou pardas sofrem com a restrição de alimentos. A grande questão para o novo governo, segundo os especialistas, será pensar em soluções novas.
"O auxílio emergencial levou a pobreza ao menor nível da série histórica desde que elas são geradas no Brasil. Desigualdade menos, mas pobreza com certeza", explicou o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.
(Fonte: BEI Educação)
O país também enfrenta uma situação crítica na educação, agravada pela pandemia. Dados do Unicef mostram que 2 milhões de meninos e meninas entre 11 e 19 anos não haviam terminado a educação básica e deixaram a escola.
O dado é assustador: 11% das crianças e adolescentes estão fora da escola no Brasil. O problema se agrava nas classes C e D, com percentual de 17%. A razão principal do abandono da escola é ter que se sustentar ou ajudar a família.
Segundo os especialistas, este é um problema gravíssimo que precisará ser enfrentado de cara pelo governo Lula. "Você imaginar uma criança ou jovem com escolaridade baixa — abaixo da conclusão do ensino médio —, isso vai significar para a vida dela: subemprego, dificuldade para se inserir economicamente e ter a sua dignidade mais básica garantida — como alimentação, habitação — e também gera outros efeitos, como gravidez precoce. Para o país, o efeito é de atividade econômica reduzida, maior concentração de renda, taxas de violência maiores, democracia fragilizada, cidadania fragilizada", pontua Priscila Cruz, presidente do movimento Todos Pela Educação.