Ciência
07/05/2023 às 07:00•2 min de leitura
Mesmo que você não tenha lido os livros ou assistido aos filmes, você provavelmente conhece a ideia geral da série Jogos Vorazes, certo? Em um mundo distópico, jovens de vários distritos são selecionados como sacrifícios humanos — tributos — para lutar até a morte.
Pois bem: os astecas faziam isso séculos antes dos livros e filmes virarem moda. As batalhas, muito bem organizadas com os melhores combatentes de cada reino, eram conhecidas como xochiyaoyotl — Guerra das Flores, no idioma nativo.
A ideia era garantir um fluxo contínuo de sacrifícios humanos para os deuses astecas. Em uma teoria, os sacrifícios eram para o Templo de Huitzilopochtli, mas também há historiadores que afirmam que tudo começou depois de uma grande fome.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Segundo essa teoria bastante disseminada entre os historiadores, a Guerra das Flores surgiu depois de quatro anos de colheitas muito ruins — que levaram a uma grande fome, em 1454.
Os sacerdotes acreditavam que os deuses estavam bravos com o Império Asteca. Por isso, o povo precisava sacrificar muitos homens e fazer isso regularmente. Foi aí que Xicotencatl, um lorde do reino de Tlaxcala, sugeriu organizar batalhas com um objetivo bem simples: capturar inimigos que serviriam de sacrifício aos deuses.
Diz a lenda que Xicotencatl fez campanha em vários reinos rivais, quase como um deputado colhendo assinaturas para um projeto de lei. Ele buscava convencer a todos de que sacrificar soldados rivais era um ótimo agrado aos deuses, já que era uma comida "quente e fresca".
Ele provavelmente era um político habilidoso, porque a ideia pegou. As cidades estado de Mexico (Tenochtitlan), Texcoco e Tlacopan, assim como os reinos próximos de Huexotzinco, Cholula e Tlaxcala se engajaram no projeto.
(Fonte: Mabarlabin/Wikimedia Commons)
Ao contrário de outras batalhas, a Guerra das Flores contava com a participação dos melhores lutadores da nobreza asteca. Além disso, em vez de armas de longo alcance, as batalhas eram no corpo a corpo. Afinal, essa era uma guerra religiosa e deveria seguir rituais.
Contudo, ninguém usava flores, obviamente. O nome, segundo fontes históricas, veio da ideia de que os lutadores mortos nessa guerra estariam agradando aos deuses — portanto, teriam "uma morte florida". Muito poético...
Na prática, as coisas não eram nada bonitas: os inimigos eram somente capturados no campo de batalha. Isso porque o pior estava guardado para depois, quando os sacerdotes sacrificavam os homens, arrancando seus corações ainda pulsantes.
O sacrifício parecia ser bem caprichado, mas talvez os deuses não tenham gostado tanto. Até porque, cerca de 70 anos depois do início da Guerra das Flores, os espanhóis conquistaram o Império Asteca.
É claro que não temos certeza de que os motivos da guerra eram mesmo esses, já que alguns historiadores argumentam que, na verdade, elas foram criadas como treinamento para jovens soldados. Por outro lado, como muitos lutadores da nobreza se engajavam nas lutas-rituais, a hipótese dos sacrifícios humanos ainda é mais aceita.