Quem foi o primeiro rei do mundo?

Às vésperas da coroação de um monarca dos nossos tempos — o rei Charles III do Reino Unido – deparamo-nos com esse papel que, mais do que definir um chefe de governo, expressa um padrão universal de liderança e simbolismo. Por isso, a pergunta "quem foi o primeiro rei do mundo?" esbarra em questões culturais e semânticas.

A primeira grande dificuldade é, naturalmente, a ausência de registros históricos documentando a existência de reis que possam ter vivido há mais de 5 mil anos. E, nos que existem, resta a dúvida sobre quais palavras ancestrais definiam o que chamamos hoje de "rei". O termo "faraó", por exemplo, só passou a designar os reis do Egito em nossa cultura a partir do século XIX. 

Definir o primeiro rei do mundo torna-se, portanto, uma tarefa praticamente impossível, uma vez que os primeiros líderes tribais ou chefes de clãs exerciam papéis de liderança em suas comunidades sem serem necessariamente chamados de reis. Além disso, muitos escritos antigos usam mitos para descrever esses governantes, o que muitas vezes os aproximam de divindades. 

Sargão, o primeiro "rei verdadeiro"

Cabeça de bronze representando Sargão da Acádia, no Museu Nacional do Iraque. (Fonte: Wikimedia Commons)

Embora muitos historiadores considerem Narmer — que governou o Egito por volta do ano 3100 a.C. — como a figura histórica mais antiga associada ao cargo de rei, eles apontam um antigo manuscrito chamado Lista de Reis Sumérios como o documento que lista os primeiros reis, tanto concretos como fictícios.

Nas primeiras páginas desse documento, com inscrições cuneiformes em tabuletas, há relatos sobre Sargão, o Acádio — também chamado de Sargão, o Grande — que é o primeiro personagem da história a criar um império. Em relatos poéticos e lendas, ele é referido como Sharrum-kin, um termo que pode ser traduzido como "rei legítimo" ou "rei verdadeiro".

Como foi o reinado de Sargão, o primeiro rei do mundo?

Mapa mostrando a extensão do império de Acádia. (Fonte: Wikimedia Commons)

Os primeiros relatos descobertos pelos arqueólogos aproximam a saga de Sargão à de Moisés, uma vez que o futuro rei acadiano também era filho de uma sacerdotisa que o colocou, ainda recém-nascido, em uma cesta de vime. Enviado rio abaixo, ele foi encontrado e criado sob a proteção da deusa Ishtar.

Sargão deu início ao seu reinado atacando a cidade de Ur na Suméria (sul da Mesopotâmia) e depondo o rei local Lugaizagesi. Depois, rumou para o norte, onde dominou as cidades de Mari e Tuttui (atual Síria), chegando a fazer incursões até a Anatólia, no mar Negro.

Além de fundar o primeiro império da história, Sargão soube eternizá-lo, criando o primeiro exército profissional conhecido, que passou a cobrar impostos em guarnições militares espalhadas por todo o reino. Na área externo, o rei centralizou todo o comércio do Golfo Pérsico nos portos da Acádia.