Artes/cultura
05/08/2023 às 06:00•2 min de leitura
Os estudiosos da história da comunicação debatem até hoje sobre qual seria o primeiro texto que foi escrito. Mas, para entender isso, é preciso compreender um pouco do processo de desenvolvimento das formas de se comunicar até a algum registro que contivesse códigos.
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(Fonte: Getty Images)
Quando se pensa nos primeiros registros de mensagens feitas pelo homem, não por acaso lembramos das pinturas rupestres encontradas por cavernas do mundo todo. Essa forma de comunicação visual foi a primeira forma que a humanidade encontrou para criar alguma permanência ao que existia em seu entorno.
Contudo, essas pinturas costumam não ser entendidas como mensagens linguísticas, e sim pictóricas. Mas, quando se analisa o que elas indicavam, começamos a notar que algumas dessas imagens (os pictogramas) já carregavam significados. Por exemplo: um círculo podia significar o sol, ou dois palitos juntos indicavam um ser humano.
Aos poucos, essas formas de comunicação foram evoluindo para ideogramas, que são os símbolos que abrangem conceitos abstratos – como calor, luz, dia, amor e raiva. Por muito tempo, os ideogramas e os pictogramas foram as únicas representações presentes para registrar elementos do cotidiano das pessoas. Os hieróglifos egípcios, por exemplo, envolvem pictogramas que evoluíram para ideogramas.
Para se entender o surgimento da escrita, no entanto, é preciso pensar em mais um passo na evolução: a elaboração de símbolos que identificam palavras (os logogramas) e o surgimento de alfabetos.
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(Fonte: Wikimedia Commons)
A mais antiga forma de escrita documentada ficou conhecida como tábuas de Kish. Elas envolvem objetos que foram encontrados na cidade suméria de Kish, localizada onde hoje é o Iraque. As tábuas datam de cerca de 3.500 a.C. e possuem símbolos pictóricos que ficam entre uma escrita rudimentar e a escrita cuneiforme – nome dado porque era feita em argila com uma cunha, uma espécie de instrumento cortante, e que, em sua versão mais evoluída, já tinha elementos silábicos.
Este objeto histórico foi provavelmente criado muitos séculos antes dos primeiros hieróglifos egípcios, o que o coloca como o mais antigo sistema de escrita decifrável produzido pelos humanos.
O mais curioso é que levou muito tempo para que os historiadores desvendassem o que havia nessas tábuas. Foi apenas em 1929 que o arqueólogo alemão Julius Jordan começou a catalogar esses documentos. Segundo anotou em seu diário de pesquisa, os sumérios haviam registrado nas tábuas itens do seu cotidiano, como frascos, pães e animais.
Foi apenas nos anos 1970 que a arqueóloga francesa Denise Schmandt-Bessera passou a estudar peças da mesma região e concluiu que parte da escrita envolvia finalidades simples: ela era usada como método de contagem de itens correspondentes. A escrita se prestava, portanto, a fazer formas de registro de transações. Por exemplo: o sistema usava cinco linhas para indicar o número cinco, um círculo para indicar o dez e três linhas para o 23.