Ciência
28/10/2023 às 06:00•2 min de leitura
Olhando para os jornais nos últimos meses, até poderíamos argumentar que a sociedade humana está se tornando cada vez mais violenta. Mas será que isso é algo verídico? Embora hoje tenhamos um arsenal suficiente para destruir o mundo de uma vez só, nossos antepassados também já cometeram alguns atos brutais.
De todo modo, as guerras em curso e as violações dos direitos humanos sugerem que estamos vivendo um dos tempos mais cruéis da história. Porém, evidências buscadas por arqueólogos a respeito da escalada de violência histórica não mostram uma resposta definitiva sobre essa situação.
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(Fonte: Getty Images)
Se quiséssemos concluir que os humanos estão mais violentos do que nunca, precisaríamos montar uma linha do tempo de todas as ações agressivas já realizadas pelo homem na história da humanidade. Nesse sentido, arqueólogos encontraram alguns artefatos que contam uma história do passado violento de nosso povo, desde um esqueleto que poderia ter sido a primeira vítima de assassinato há cerca de 430 mil anos até os antigos poços da morte na Mesopotâmia — que guardavam vítimas de guerras e sacrifícios humanos.
O problema, contudo, é que quanto mais recuamos no tempo, mais temos problemas em avaliar a violência e os assassinatos. Evidências isoladas não contam a história completa de um tempo. Mesmo que a autópsia de um ser humano antigo implique uma morte brutal, ela não revela o motivo do assassino.
Logo, encontrar evidências suficientes para saber se os humanos em um determinado período foram violentos ou se a morte violenta de alguém foi algo distinto é complicado. Nesse sentido, é mais fácil interpretarmos que as sociedades humanas vivem em um ciclo infinito de paz e violência.
(Fonte: Getty Images)
Em determinada percepção, poderíamos até dizer que vivemos uma das eras mais pacíficas do mundo até hoje. Afinal, as comunidades se estabeleceram em estados mais organizados, as pessoas parecem ser mais "civilizadas" e desenvolvemos competências, como empatia, raciocínio e autocontrole. Então, como definir o que é a escalada da violência?
Um novo trabalho feito por pesquisadores da Universidade de Barcelona examinou um grande conjunto de ossos para realizar um dos maiores estudos arqueológicos sobre a violência humana precoce. Graças aos dados obtidos, os cientistas conseguiram associar a maior pare das mortes traumáticas a conflitos em curso, à economia e à distribuição desigual de recursos e riqueza causada pelo clima.
A violência interpessoal — assassinato, tortura e escravidão — atingiu um pico por volta de 4500 a 3300 a.C., uma época em que unidades políticas disputavam o controle de diversas regiões, transformando as disputas locais em conflitos ainda maiores. O autor do estudo, Giacomo Benati, disse ter se surpreendido ao constatar uma queda brusca de violência durante o período do Bronze Inicial e Médio. Acredita-se que esse tenha sido um período de melhores padrões de vida.
Essas alterações entre tempos de paz e guerra parecem acontecer ao longo de toda a nossa história. Na visão de Benati, a forma como as pessoas reagiram a eventos climáticos extremos no passado pode ser um indicativo de como as pessoas reagirão à instabilidade no futuro — algo nada positivo. Tendo em mente o histórico sangrento de nossas sociedades na gestão de conflitos, os arqueólogos continuam divididos sobre se os humanos algum dia viverão numa sociedade livre de violência.
No fim do dia, nós atuamos como uma balança desregulada: estamos sempre em busca do equilíbrio (a paz), mas perdemos o controle quando os momentos árduos começam a pesar.