Estilo de vida
01/07/2022 às 06:30•2 min de leitura
Bibliotecas são lugares dos livros, certo? E que tal a ideia de uma biblioteca que "empresta" pessoas? É esta a proposta da The Human Library, uma biblioteca criada na Dinamarca em 2000 e que hoje existe em mais de 80 países.
A ideia é simples: a biblioteca empresta, na verdade, 30 minutos com uma pessoa para que os "leitores" conversem com ela. São sujeitos que enfrentam preconceitos por conta de alguma característica marcante — como, por exemplo, "transgênero", "poliamoroso", "satanista", "autista", "bipolar" — e que talvez, de alguma forma, gerem algum desconforto naqueles que os lerão.
O lema da Human Library é unjudge someone, ou seja, "desjulgue alguém", convidando os participantes a conhecerem uma pessoa diferente deles para que possam despir-se de seus preconceitos.
(Fonte: Spotlight English)
O projeto surgiu num festival de música na Dinamarca, quando Ronni Abergel, seu fundador, resolveu juntar alguns voluntários que topassem participar desta empreitada. Já no primeiro dia, a ideia deu certo e todos os 50 "volumes" foram emprestados.
Abergel diz que a iniciativa é um convite para que as pessoas sejam vistas como livros abertos que podem ensinar coisas novas. "Não temos tempo para parar e aprender o que não sabemos, então colocamos as pessoas em caixinhas", disse. Por isso, a proposta da biblioteca é que os leitores reservem seu tempo para se dedicar a alguém.
"Em nossa biblioteca, recomendamos sentar e conhecer pessoas com quem você normalmente não conversaria porque há algo nelas que talvez te provoque um incômodo peculiar. Assim, você não aprende muito sobre elas, mas aprende ainda mais sobre você mesmo", declarou Abergel à BBC.
(Fonte: The Yellow Sparrow)
A biblioteca realiza vários eventos nas suas filiais. Há, por exemplo, o "Livro do Mês", em que uma pessoa é destacada para falar com um grupo. Neste caso, o "livro" em questão é alguém que é convidado para compartilhar sua história com um público maior.
Samantha, uma crossdesser do Peru, foi o livro do mês de fevereiro de 2022. No site do projeto, ela comentou sobre como foi a experiência: "quando sou publicada, sinto que posso testemunhar como meus leitores apagam a imagem que tinham de mim em suas mentes".
Vários países já exploraram algumas aplicações práticas da biblioteca. Em Glasgow, na Escócia, 300 estudantes de medicina foram estimulados a se tornarem membros da Human Library, no intuito de desenvolver suas habilidades como profissionais da saúde.
Segundo a professora Lynsay Crawford, que fez a recomendação, a ideia é "desprogramar" os julgamentos dos futuros médicos. "Os estudantes de medicina precisam ter uma ampla base de conhecimento que pode ser aprendida em livros tradicionais, mas para serem médicos verdadeiramente eficazes e compassivos, eles precisam desenvolver habilidades mais sutis -—comunicação, empatia, escuta, reflexão — e que melhor maneira de conseguir isso do que por meio de interações e conexões com pessoas e suas experiências vividas - os livros humanos", declarou à Forbes.