A morte de Davey Moore fez Papa João XXIII pedir o fim do boxe

04/12/2022 às 11:003 min de leitura

O boxe é considerado um esporte que envolve questão de vida ou morte, devido à violência de sua natureza. Uma pesquisa realizada por Manuel Velazquez apontou que entre 1890 e 2011, estima-se que 1.604 boxeadores morreram como resultado direto de lesões sofridas no ringue, representando uma média de 13 mortes por ano.

A primeira morte registrada no ringue de boxe foi a do jovem norte-americano Andy Bowen, então com 27 anos, em 1894, que aconteceu após ele bater a cabeça na lona de madeira quando seu oponente, Kid Lavigne, o derrubou no 18º round. Ele nunca recuperou a consciência e morreu na manhã seguinte.

O excesso de violência em um esporte considerado "bárbaro", com um índice de morte alto, foi o que motivou o Papa João XXIII tentar proibir o boxe em 1963, após a morte do astro Davey Moore.

Um profissional brilhante

Central Press/Getty ImagesDavey Moore. (Fonte: Central Press/Getty Images)

Nascido em 1933 no Kentucky, EUA, Moore estava destinado ao sucesso. A primeira vez que ganhou destaque nacional foi por sua atuação na equipe olímpica de boxe em 1952, mas foi só em 11 de maio do ano seguinte, aos 19 anos, que fez sua estreia profissional. Ele venceu Willie Reece após 6 rounds. Nesse mesmo ano, ele lutou 8 vezes, com um recorde de 6 vitórias, 1 derrota e 1 no contest (quando a luta é encerrada por razões externas).

Muito embora fosse de baixa estatura e considerado pequeno, esses atributos não podiam ser menosprezados, afinal alguns consideram que este foi o maior erro de seus adversários. “Ele tinha uma ótima mão direta e um ótimo gancho de esquerda. Uma das coisas que o diferenciava, era que ele tinha um bom jab. Ele lutava contra homens mais altos e os superava”, disse Don Chagrin.

Moore foi considerado fantástico pelos críticos e especialistas por conquistar 18 vitórias consecutivas, das 29 lutas de sua carreira, terminando esse auge apenas quando perdeu para Carlos Morocho Hernández, em 17 de março de 1960, por nocaute técnico. Apesar disso, ele manteve o título de melhor do mundo até o fim de seus dias.

A última luta

Sugar Ramos. (Fonte: RSA/Reprodução)Sugar Ramos. (Fonte: RSA/Reprodução)

O dia 21 de março de 1963 ficou marcado para sempre na vida de Moore, não só porque ele perderia o título mundial, como também a vida nas mãos do boxeador Ultiminio Ramos, mais conhecido como Sugar Ramos. Fugido de Cuba para a Cidade do México, o homem foi um lutador durante a maior parte de sua vida, mesmo quando teve que deixar sua cidade natal e se mudar para os EUA, no início da década de 1960.

Portanto, quando o duelo entre Moore e Ramos foi anunciado, a emoção e expectativas foram tão altas a ponto de a partida, que aconteceu em Los Angeles, ser transferida para o Dodger Stadium, que pode acomodar até 56 mil espectadores, tamanha era a demanda.

(Fonte: Ebay/Reprodução)(Fonte: LAPL/Hollywood Citizen News/Valley Times Collection)

Horas antes de entrar no ringue, Moore deu uma entrevista em que afirmou que venceria. Ele tinha um título nas costas para defender, milhares de pessoas assistindo em uma arena lotada e também todo o país, visto que a sua luta foi a primeira a ser televisionada na história do boxe.

A partida foi difícil, muito acirrada a princípio, mas no 10º round ficou claro que Ramos conseguiu abrir a liderança. E foi nesse momento que ele atingiu Moore com tanta força que ele caiu nas cordas do ringue sobre o próprio pescoço. Apesar de ter conseguido se levantar e finalizar o round, Ramos venceu a luta e se tornou o novo campeão peso pena.

A pior dor

(Fonte: Ebay/Reprodução)(Fonte: Ebay/Reprodução)

“Simplesmente não era a minha noite”, disse Moore, que permaneceu no ringue para dar entrevistas, conforme o Los Angeles Review of Books. “Posso lutar muito melhor. Acho que posso nocauteá-lo. Mas simplesmente não consegui me recompor”.

Depois disso, ele foi para seu camarim e disse a um dos membros de sua equipe que sua cabeça doía muito. Moore acabou desmaiando instantes depois e levado às pressas para o White Memorial Hospital, em Los Angeles. Em poucas horas, o ex-campeão mundial aclamado entrou em coma profundo, morrendo 3 dias depois, aos 29 anos, deixando a esposa Geraldine e seus cinco filhos.

O peso da fatalidade rapidamente caiu sobre os ombros de Ramos, ainda que não tenha sido os punhos dele que causaram a morte de Moore. Os médicos concluíram que o boxeador havia morrido devido a danos cerebrais causados pelo impacto de seu pescoço contra as cordas de aço do ringue. Esse golpe na base do crânio fez seu cérebro inchar e causar sua morte.

(Fonte: Jo Sports/Reprodução)(Fonte: Morton Sharnik/Sports Illustrated/Reprodução)

No entanto, isso não foi o suficiente para minimizar a culpa de Ramos perante o público, ao passo que catapultou a imagem do boxe como um esporte violento e assassino.

O Papa João XXIII foi um dos primeiros nomes a vir a público e condenar o boxe como “”bárbaro”, observando que as lutas de socos são contrárias aos princípios naturais. Pat Brown, então governador da Califórnia, se juntou ao coro para pedir a proibição do esporte, tendo a figura religiosa como apoio.

Todo o circo midiático criado ao redor da morte de Moore destruiu e assombrou a carreira e vida de Ramos até seu último dia, em 3 de dezembro de 2017. E apesar dos esforços que aconteceram para tentar proibir o esporte, isso nunca aconteceu, embora tenha sido censurado em rede nacional.

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