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05/02/2023 às 08:00•2 min de leitura
A fala foi (e continua sendo) um importante mecanismo de comunicação para o desenvolvimento do ser humano. Poder transmitir conhecimento através da oralidade nos ajudou a difundir cultura, criar diferentes maneiras de fazer política e até mesmo de exercer poder. Mas como tudo isso começou?
Hoje já é aceito que todos os seres vivos se comunicam. Porém, a fala necessita de padrões bastante específicos. Ela depende de intenções e exige alguns critérios, que fazem dela um formato tão rico e importante para nós, humanos. E hoje nós estamos começando a entender como a fala se originou na nossa espécie.
(Fonte: Shutterstock)
A origem do Homo sapiens data de cerca de 200.000 anos, no continente africano. Muito diferente do que somos hoje, os primeiros membros da nossa espécie eram caçadores-coletores, viviam em grupos e aos poucos começaram a aprender a importância de se dividirem por funções. Eles com certeza sabiam se comunicar, mas faziam isso com grunhidos, gritos e, em alguns casos, a diferença de um som de alerta para um som de carinho era o tom usado.
O que conhecemos como fala, provavelmente surgiu com uma proto-linguagem. Sons específicos para palavras importantes que poderiam ser mais comuns para o dia a dia. Eles teriam palavras para “mãe”, “pai”, nomes para animais e plantas, dizer “por favor” e “obrigado”. Em algum momento eles também passaram a usar nomes uns para os outros — um processo um pouco mais avançado — e, finalmente, aprenderam a fazer planos para se preparar para o inverno e a criar estratégias elaboradas de comunicação para a caça.
A fala passou de uma comunicação desarticulada — gritos que expressavam alegria, dor, tristeza, felicidade, ódio, medo, etc — para algo que deu sentido e significado a todos os sons. E junto com a fala e a linguagem, os povos paleolíticos evoluíram.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Uma evidência bastante importante sobre a origem da fala na nossa espécie pode estar “escondida” em algumas cavernas da Europa. Imagens de bisões, leões e outras criaturas são bastante conhecidas e serviam para representar os grandes feitos das pessoas que viveram há dezenas de milhares de anos.
Porém, em meio aos animais, também existem alguns símbolos pintados, que por muito tempo foram ignorados. São triângulos, quadrados, círculos completos, semicírculos, ângulos abertos, cruzes e grupos de pontos. Outros são mais complexos: desenhos de mãos com dedos distorcidos; fileiras de linhas paralelas; diagramas de símbolos semelhantes a galhos.
Genevieve von Petzinger e April Nowell, ambos da Universidade de Victoria, na Colúmbia Britânica, criaram um banco de dados de todos os sinais encontrados em mais de 200 cavernas e outros abrigos na França e na Espanha. O objetivo é estudar onde e quando foram usados pela primeira vez, e em que combinações, e compará-los com marcas encontradas em outros artefatos antigos.
Um caso em particular chamou a atenção dos dois pesquisadores. Um conjunto de cinco símbolos — “II ^ III X II” — é especialmente comum, aparecendo nas paredes de maneira recorrente, em diferentes cavernas. Mas esses símbolos também apareceram em outro lugar bastante inusitado.
"Em St. Germain de la Rivière, ao norte de Bordeaux, o esqueleto de uma jovem — datado em cerca de 15.500 anos — foi descoberto com um colar feito de dentes de veado vermelho", comenta von Petzinger. "Três desses dentes têm marcas neles: 'II ^' estava em um; 'III' em outro; e 'X II' no terceiro".
Embora não seja possível afirmar com precisão o que signifiquem esses símbolos, eles provavelmente representam três unidades específicas de significado. "Isso pode não ser a escrita como a conhecemos, mas não são rabiscos aleatórios em um muro", explicou von Petzinger.
Essa descoberta é importante, porque ela pode antecipar o nascimento da escrita de cerca de 6.000 anos atrás, a incríveis 30.000 anos atrás. Elas também sugerem que os nossos antepassados na Idade da Pedra poderiam já estar preocupados em desenvolver uma forma de comunicação mais elaborada. E se isso aconteceu na escrita, certamente também estava acontecendo com a língua.