Irmandade do Amor Eterno: o culto hippie que tentou viciar a sociedade dos EUA de 1960 em LSD

06/11/2023 às 03:005 min de leitura

Moritz Zimmermann tem uma inteligência excelente, principalmente no que diz respeito a área de tecnologia, programação e desenvolvimento de programas e sites. Em sua empreitada para tentar reconquistar sua ex-namorada Lisa, que ficou com outro jovem mais popular e atraente, ele resolve aplicar sua inteligência em algo tão lucrativo quanto descolado na escola: as drogas sintéticas.

Essa poderia ser apenas a premissa da premiada série alemã Como Vender Drogas Online Rápido, distribuída pela Netflix em 2019, mas é baseada na história real de um jovem alemão de 18 anos chamado Maximilian Schmidt. Por meio do seu site Shiny Flakes, ele comercializou por mais de um ano cerca de 900 quilos de haxixe, cocaína, ecstasy, LSD e medicamentos prescritos.

Ele despachava as mercadorias pelos correios para todo o mundo, usando carteiros como seus mensageiros incautos e recebendo pagamentos via Bitcoin. Foi assim que, no conforto do seu quarto na casa dos pais, e sem que alguém soubesse, ele construiu um verdadeiro império de narcóticos.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Schmidt é apenas o resultado de um movimento que surgiu a partir dos anos 2000, com a popularização da World Wide Web, quando os "dark markets" ofereceram uma plataforma para compra e venda de produtos ilegais, incluindo drogas.

Mas antes da internet, o comércio de drogas já era um problema anterior até mesmo à denominada "Guerra às Drogas". No século XIX, a China já lutava contra o comércio e a adição da população com o ópio. Não é para menos que, em 1912, foi assinada a Convenção Internacional do Ópio, um tratado que representou o primeiro esforço significativo para regulamentar e controlar o comércio e uso de substâncias psicoativas, como o ópio e a cocaína.

Em 1960, no auge dos movimentos de contracultura, surgiu a Irmandade do Amor Eterno, a maior máfia de LSD do século XX, que tentou viciar a sociedade americana para promover uma revolução espiritual.

A contracultura e as drogas

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Na década de 1960, os EUA experimentaram o nascimento do movimento de contracultura, uma reação radical à ideia de sociedade tradicional, ao conservadorismo, ao período de guerra, à discriminação e ao consumismo. Defendendo valores como liberdade, igualdade, autenticidade, amor, paz e liberdade; o movimento foi recebido como um ato de rebeldia, quando, na verdade, foi essencial para empurrar a busca pelos direitos civis, a coibição da discriminação racial, transformar a cultura musical e questionamento a politicagem.

As drogas entraram nesse contexto e foram hipervalorizadas por vários motivos, desde porque eram uma forma de desafiar a conformidade com os valores e a autoridade estabelecida pelo governo, até por serem vistas como meios de alcançar novos estados de consciência para explorar formas de pensamento e aumentar a criatividade e expressão artística.

Vale ressaltar que, apesar de sua prevalência em grande escala, as drogas não eram parte intrínseca do movimento de contracultura. Muitos apoiadores não aderiram ao uso, inclusive até alertaram sobre seus riscos devido à quantidade de experiências negativas ou problemas de saúde.

(Fonte: Archive Holdings Inc./Getty Images)(Fonte: Archive Holdings Inc./Getty Images)

A busca por alternativas espirituais, filosóficas e políticas na década de 1960 foram objetivos precursores do movimento "New Age", que permeou todos os aspectos da contracultura. Assim, em 14 de janeiro de 1967, surgiu na Califórnia o denominado "Verão do Amor", um intenso período histórico e cultural. Isso foi durante o Human Be-In, um evento que aconteceu no Parque Golden Gate, em São Francisco, organizado em oposição à proibição do LSD.

O governo estadual e federal alegava que a droga psicodélica ameaçava a vida dos cidadãos devido aos seus efeitos, mas um grupo de evangelistas que havia formado uma igreja em devoção ao poder transformador da droga estava firme em advogar a favor dela. Essa era a Irmandade do Amor Eterno.

A origem da Irmandade do Amor Eterno

Timothy Leary. (Fonte: Michael Ochs Archives/Getty Images)Timothy Leary. (Fonte: Michael Ochs Archives/Getty Images)

Foi um efeito em cascata o que fez a organização, fundada por John Griggs, escalar de um culto a uma droga que o havia salvado da violência para uma imensa rede de tráfico de drogas que visava "salvar" a sociedade americana por meio do vício em LSD.

Quando Griggs roubou um produtor de Hollywood sob a mira de um revólver, seu corpo estava cheio de heroína, e ele apenas queria dinheiro para poder comprar mais e se entorpecer. Segundo ele, depois que tomou LSD pela primeira vez, renunciou à violência e aos pecados causados por ela. Sua transformação não foi tão atípica, afinal, um experimento de pesquisa do Projeto Psilocibina, feito pela Universidade de Harvard em 1962, sugeriu que as taxas de reincidência poderiam ser reduzidas drasticamente tratando prisioneiros com psicodélicos.

A princípio, o objetivo da Irmandade fundada por Griggs era abandonar a sociedade, recomeçar em uma ilha paradisíaca e viver da autossuficiência comunal. Segundo o escritor Nicholas Schou, os discípulos acreditavam que o LSD poderia "curar e revelar", e era considerando uma janela, um sacramento e uma chave para destrancar as portas da percepção divina.

Não é para menos que o professor e psicólogo Timothy Leary, com sua filosofia de expansão da mente baseada no uso de psicodélicos, se tornou um messias da contracultura da década de 1960. A hóstia da Irmandade do Amor Eterno era o LSD e, buscando a isenção religiosa da proibição, foram atrás em derrubar a Lei de Controle de Substâncias de 1965, que restringia severamente a produção, distribuição e posse do psicótico.

Droga e revolução

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

O evento Human Be-In foi a plataforma perfeita para que Griggs e sua igreja psicodélica protestassem em larga escala contra a proibição, afinal, eram 30 mil pessoas reunidas em prol de um objetivo. Sendo assim, o evento foi alimentado por LSD em tamanha quantidade que a gangue de motociclistas Hells’ Angels foi convidada para administrar a banca de drogas.

O LSD entregue aos espectadores fazia parte da marca da Irmandade, chamada Orange Sunshine, fabricada em cima de fundos arrecadados com o contrabando de haxixe afegão que discípulos traficaram de Cabul e Kandahar. No ano seguinte, após o sucesso da distribuição no evento, a sede da Irmandade se mudou para Laguna Beach, na Califórnia, para poder ficar mais em contato com o esquema de contrabando.

(Fonte: Tim Brown/iStock Photo)(Fonte: Tim Brown/iStock Photo)

Engana-se quem imagina que foi nesse momento que a fundação de Griggs perdeu o propósito e se tornou um negócio extremamente lucrativo. Em todos os braços da Irmandade, o desejo era apenas que o LSD chegasse a maior quantidade de pessoas o possível, por isso era vendido a preço de "droga barata", mesmo sendo da melhor qualidade. “Nós não éramos gananciosos, só queríamos que as pessoas ficassem chapadas”, disse Michael Randall, um dos primeiros membros da Irmandade, em matéria à BBC.

Prova disso é que eles lançaram de um avião cerca de 25 mil comprimidos de LSD durante 3 dias em Laguna Beach, em uma tentativa de promover ainda mais a revolução espiritual em massa que visavam. 

Quando Griggs morreu aos 25 anos de uma overdose de cristais de psilocibina, a Irmandade redobrou seu compromisso com o propósito espiritual e expandiu suas operação para conseguir produzir 100 milhões de doses de LSD. O plano era reduzir o preço da droga por meio da produção em massa para que se tornasse praticamente gratuita.

O plano de Nixon

(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)

No início da década de 1970, a administração de Richard Nixon lançou a "Guerra às Drogas", uma política de combate ao tráfico de drogas nos EUA, que foi continuada e expandida por Ronald Reagan e George Bush. Ela tinha como objetivo reduzir o consumo de drogas ilegais no país e combater os cartéis de narcotráfico por meio de políticas e esforços da polícia federal e estadual.

Em 5 de agosto de 1972, o FBI realizou uma série de ataques às propriedades da Irmandade do Amor Eterno, batizada como "Máfia Hippie" pela polícia. Muitos membros conseguiram fugir e evitar a condenação, usando múltiplas identidades para escapar da detecção e permanecerem social e politicamente influentes.

Para Timothy Leary, o messias moderno da contracultura, foi a guerra de Nixon às drogas que diluiu a Irmandade, mas também a crescente popularidade da cocaína, considerada um narcótico alternativo "não espiritual". Isso tirou toda a espiritualidade das pessoas, destruindo famílias, causando violência e transformando todo mundo em "animais paranoicos".

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