Ciência
26/11/2023 às 10:00•2 min de leitura
Enquanto brincava com seu cachorro, você já notou que ele não consegue interpretar onde foi parar a bolinha se você só a apontar com o dedo? Novas pesquisas indicam que alguns cães "mais inteligentes" podem ser capazes de entender melhor onde um objeto está no espaço — o que talvez não seja o caso do seu animal de estimação.
Ao estudar esse fenômeno chamado viés espacial, pesquisadores esperam refletir mais sobre o que os cães veem e até mesmo mostrar que alguns cachorros processam informações de forma semelhante aos humanos. Essas descobertas foram publicadas na revista Ethology no dia 18 de novembro.
(Fonte: Getty Images)
Conforme o estudo, o viés espacial é a forma como o cérebro processa informações relacionadas ao espaço, localização ou distância. Esse mesmo tipo de informação pode ser aplicada à posição de um objeto. Logo, quando uma pessoa aponta para um objeto, uma criança humana geralmente focará diretamente onde ele está.
No entanto, um cão geralmente interpreta o gesto como uma dica para olhar naquela direção específica. Essa diferença não se da por conta da visão dos cães, mas sim pela forma como eles pensam e interpretam nossos gestos. Isso é chamado cientificamente de "preconceito espacial", que pode ser demonstrado na diferença em como cães e crianças reagem quando uma pessoa lhes mostra onde pode estar um brinquedo.
“Desde muito cedo, as crianças interpretam o gesto como apontar para o objeto, enquanto os cães interpretam o gesto como uma dica direcional. Em outras palavras, independentemente da intenção da pessoa que dá a deixa, o significado para crianças e cães é diferente”, destaca o coautor do estudo, Ivaylo Iotchev, em comunicado oficial.
Esse preconceito espacial foi observado em testes comportamentais que mostram como os cães aprendem e imitam, mas que não tinha sido estudado até agora. Estudos anteriores não esclarecem se esse comportamento canino se deve a uma visão inferior em comparação aos primatas ou se é porque os parâmetros do espaço ao seu redor são mais importantes do que objetos específicos próximos.
(Fonte: Getty Images)
Em experimento, a equipe de pesquisa testou 82 cães domésticos de raças e tamanhos variados. A equipe mediu o aprendizado dos cães pela rapidez com que cada um deles conseguia decifrar o lado correto onde estava uma guloseima. Os resultados mostraram que os cães aprendiam mais rápido quando a guloseima era colocada à direita ou à esquerda do prato, mas não sobre ele.
Uma tarefa mais complexa envolvia verificar se os cães retinham o conhecimento de onde a guloseima havia sido colocada. Posteriormente, os cientistas também mediram o quão curta era a cabeça de cada um dos animais, tendo em mente que isso está relacionado com a acuidade visual.
Como resultado, os pesquisadores relataram que o viés espacial é menor em cães que conseguem ver melhor detalhes mais sutis. Nas crianças humanas, por exemplo, o preconceito espacial tende a diminuir com o aumento da inteligência — o que também pode ser possível para alguns cachorros com a mentalidade certa.
Os cientistas notam que os cães que apresentam características rotuladas pelos humanos como "inteligência" demonstraram a capacidade de realizar tarefas mais complexas. Por fim, compreender como isso funciona pode ajudar os biólogos a compreender melhor a evolução canina daqui para frente.