Saúde/bem-estar
16/12/2023 às 12:00•2 min de leitura
Todos os anos, especialmente no mês de dezembro, a cidade de Agnone, na Itália, realiza uma procissão de centenas de portadores de tochas ao longo do centro do município. O ritual é uma espécie de cerimônia de boas-vindas ao inverno, que é cortejado com o fogo cortante que ondula atrás das milhares de tochas acesas na noite escura e fria.
De acordo com historiadores, esse evento milenar é chamado de Ndocciata, um ritual de fogo considerado um dos maiores do mundo na pequena cidade localizada no topo de uma colina na região montanhosa de Molise. Historicamente realizada na véspera do Natal, esse ritual também ocorre no primeiro e no segundo sábado de dezembro.
(Fonte: Getty Images)
Com apenas 5 mil habitantes, Agnone é uma cidade que se destaca por suas tradições. Nos dias de Ndocciata, centenas de pessoas andam pelas ruas do município carregando tochas de 3 metros de altura, sustentando entre 1 e 26 fogueiras. É um ritual simbólico entre aquele povo para se livrar do mal, estabelecer as bases para um ano frutífero e dar as boas-vindas aos dias que ficarão mais longos novamente por conta do inverno.
As origens definitivas do evento foram perdidas com o tempo, mas o elemento central da adoração do fogo durante a época mais escura do ano tem raízes antigas e pagãs. A celebração de solstícios era comum entre muitos povos antigos da Europa e usar fogo e luz é uma característica comum desses eventos, uma vez que o solstício de inverno marca o ponto mais escuro do ano.
A Ndocciata faz referência a como os antigos romanos celebravam o festival de inverno da Saturnália, uma cerimônia complexa muitas vezes descrita como um grande festival de luzes e renovação. Embora a cerimônia realizada atualmente seja apenas um eco fraco dos antigos festivais pagãos, ela segue sendo uma amostra cultural carregada por muitos anos.
(Fonte: Getty Images)
Durante mais de 100 anos, a Ndocciata foi celebrada exclusivamente na véspera de Natal. Em 1996, no entanto, os habitantes locais levaram a tradição a Roma, no dia 8 de dezembro, para o aniversário de 50 anos do sacerdócio do Papa João Paulo II. O evento, que tinha 1,2 mil tochas brilhando intensamente no centro do cristianismo, foi televisionado para toda a Itália e em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália.
As tochas usadas no ritual são construídas com abetos brancos que estão doentes, morrendo ou que foram derrubados durante as tempestades de inverno. Então, ramos secos da flor Ginestra, que queima com facilidade e brilho, são imprensados entre os troncos. Quando acesa, a tocha produz um som alto de estalo e um ruído que antes acreditava-se assustar as bruxas.
A procissão de fogo, no entanto, termina com um empecilho: o último portador da tocha terá que carregar 26 fogueiras que pesam mais de 130 kg juntas. Esse é um feito que não exige apenas força, mas também equilíbrio. Porém, no fim da travessia, a chama chega até o centro de Agnone na Falò della Fraternanza, uma enorme fogueira em que as tochas são descartadas em uma exibição final de homenagem ao elemento como um recipiente de purificação.