Ciência
22/11/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 22/11/2024 às 20:00
Daniel Crouch, um renomado negociante de livros e mapas raros, encontrou em seu acervo um mapa inusitado do século 19. Esse mapa, que desenha em detalhes o fictício Reino de Poyais, foi criado por Gregor MacGregor, um escocês audacioso que enganou centenas de pessoas com uma história impressionante. "O primeiro que você precisa saber sobre Gregor MacGregor é que seu nome soa improvável", disse Crouch. "O segundo é que sua história é ainda mais improvável, mas, acredite, tudo que vou contar é verdade."
O mapa ilustra um país tropical e paradisíaco, localizado entre a Nicarágua e Honduras, com cidades portuárias e florestas densas, margeando as águas azuis do Caribe. Era uma imagem de sonho, atraente para quem procurava uma nova vida. O problema? Poyais nunca existiu. No entanto, o mapa e as promessas de MacGregor convenceram centenas de pessoas a investir fortunas no que seria um dos maiores golpes da história.
A ideia de Poyais surgiu após uma série de eventos peculiares na vida de MacGregor. Ele já havia acumulado certa reputação, inclusive lutando como mercenário ao lado do revolucionário Simón Bolívar na América do Sul. Em uma de suas aventuras, MacGregor conquistou uma pequena ilha na Flórida, mas, em vez de defendê-la, ele passou a inventar bandeiras, selos e até uma moeda local. A experiência em Amelia Island pareceu acender sua imaginação. Foi então que ele voltou para Londres e pensou: "Talvez eu possa criar um país."
MacGregor apresentou Poyais como um reino tropical sob seu comando, o cacique, com vastas florestas e terras férteis, habitado por nativos amistosos e com rios onde se podia encontrar ouro. Com um talento notável para criar detalhes, ele desenvolveu um guia fictício do país e até mesmo moedas de Poyais, que os colonos poderiam adquirir. No auge do golpe, ele convenceu sete navios cheios de escoceses a partirem para essa terra prometida, acreditando que lá encontrariam prosperidade.
Crouch conta que, ao desembarcarem, os colonos encontraram apenas a selva inóspita e passaram dois anos tentando sobreviver nas condições adversas. Cerca de 250 pessoas embarcaram em busca do sonho em Poyais, mas apenas 40 voltaram. Mesmo com essa experiência, alguns ainda defendiam MacGregor, acreditando que o fracasso se devia a um erro de localização, e não a uma farsa.
Como um mestre da ilusão, MacGregor sabia como manipular mapas e criar detalhes convincentes. Sua inspiração pode ter vindo de uma obra cartográfica de Thomas Jeffreys, o The West Indian Atlas, onde, curiosamente, aparece o nome “Poyais” em uma edição. “Por sorte, eu tinha uma cópia por perto quando recebi esse mapa”, comenta Crouch. “É muito raro. Ao abrirmos, lá estava, no mapa de Honduras. Obviamente um erro, mas MacGregor aproveitou disso.”
A engenhosidade de MacGregor não encontrou barreiras geográficas. Quando as autoridades britânicas começaram a suspeitar, ele levou a fraude a Paris, onde arrecadou cerca de 300 mil euros antes de ser acusado de fraude em 1826. Eventualmente, ele conseguiu escapar do julgamento e acabou voltando a Londres, onde continuou aplicando suas mentiras.
Depois de anos enganando investidores, MacGregor se retirou da vida pública e faleceu em Caracas, aos 58 anos — ainda com uma considerável fortuna. Hoje, o mapa de Poyais é uma das relíquias da coleção de Daniel Crouch, que inclui outros mapas fictícios, como os de Atlântida e da Terra Média de Tolkien.