Ciência
03/04/2019 às 11:00•2 min de leitura
Heródoto não ficou conhecido como “Pai da História” por acaso! É graças aos registros deixados por esse ilustre geógrafo e historiador grego que hoje sabemos sobre muitos acontecimentos e fatos da Antiguidade – muitos reunidos em sua obra “Histórias”, que se divide em 9 livros que tratam sobre as Guerras Médicas, travadas entre gregos e persas entre os anos de 499 e 449 a.C.
Pois, em um dos volumes – um em que Heródoto fala sobre suas viagens pelo Egito, por volta do ano 450 a.C. –, o historiador se refere a uma embarcação curiosa chamada baris que ele viu sendo construída durante as suas andanças pelas terras dos faraós. O barco, segundo o grego, era dotado de um mastro de acácia, um leme que passava através de uma abertura na quilha e velas feitas de papiro, e era montando a partir de tábuas com cerca de 1 metro de comprimento organizadas como se fossem tijolos.
(Reprodução / The Guardian / Christoph Gerigk / Franck Goddio / Hilti Foundation)
Ainda segundo o relato de Heródoto, os construtores inseriam as tábuas através de 2 pedaços de madeira longos e resistentes, colocavam vigas esticadas sobre eles e remendavam o interior do barco com papiro. De acordo com Laura Geggel, do site Live Science, o grego dedicou um total de 23 linhas descrevendo a embarcação em sua obra, mas se passaram 2,5 mil anos sem que nenhum exemplar como ela tenha sido descoberto.
Pois, bem! Você já ouviu falar na antiga cidade portuária de Thonis-Heracleion? Ela foi redescoberta submersa no litoral do Egito há quase 20 anos e, nesse local, além de encontrarem uma vasta quantidade de artefatos arqueológicos, equipes de pesquisadores identificaram mais de 70 embarcações naufragadas construídas entre os séculos 8 e 2 a.C. E adivinhe só! Uma delas, identificada como “Barco 17”, é exatamente igual à que Heródoto descreveu em Histórias.
(Reprodução / The Guardian / Christoph Gerigk / Franck Goddio / Hilti Foundation)
Os cientistas que primeiro examinaram o barco disseram que ele era meio diferentão e contava com tábuas grossas unidas por meio de pedaços menores de madeira. Originalmente, a embarcação devia ter perto de 30 metros de comprimento e, segundo as estimativas, apesar de ela ter naufragado por volta da primeira metade do século 5 a.C., a barcaça provavelmente foi construída no século anterior.
Conforme explicaram os arqueólogos, esses tipos de embarcações, as baris, eram usadas pelos antigos egípcios para o transporte de todo tipo de coisa pelo Nilo, como mercadorias, materiais de construção e até soldados. No caso da que foi identificada em Thonis-Heracleion, os pesquisadores acreditam que ela era empregada por um empório no transporte de produtos.
(Reprodução / The Guardian / Christoph Gerigk / Franck Goddio / Hilti Foundation)
Entretanto, com o passar do tempo, à medida que essas barcaças foram se deteriorando e novas tecnologias foram surgindo, as baris possivelmente começaram a ser incorporadas como parte da infraestrutura do porto – até finalmente naufragarem. E para quem pensava que Heródoto estava só de papo furado quando descreveu a embarcação, pode ter demorado, mas eis aí a prova de que o historiador não estava de brincadeira, não.