Estilo de vida
26/11/2019 às 14:11•3 min de leitura
Em sua operação total, desde 10 de janeiro de 1863, quando o tráfego ainda era feito através de comboios a vapor, a malha ferroviária do metrô de Londres se tornou a terceira maior do mundo. Hoje, com 16 linhas ativas e 270 estações, os trilhos alcançam uma extensão de aproximadamente 403 quilômetros, abrindo caminho do leste ao oeste em meio à história de uma das cidades mais famosas do mundo, carregando cerca de 1 bilhão e meio de passageiros por ano.
Sem levar em consideração os suicídios e outras eventualidades do gênero, o transporte subterrâneo metropolitano é considerado um dos mais seguros do mundo seja em qual parte dele for. O rigor de construção, a tecnologia aplicada e o maquinário bem desenvolvido sempre foram pontos mais do que a favor dentro dessa grande engenharia contemporânea. As inspeções são feitas periodicamente e com o máximo de rigor o possível, porém nada jamais impediu que a mais precisa definição da palavra fatalidade acontecesse, como foi no ano de 1975.
Naquela sexta-feira do dia 28 de agosto de 1975, era o maquinista Leslie Newson, na época com 56 anos de idade, que estava no comando dos trens que conectavam o terminal ferroviário de Moorgate — uma das redes de linhas ao norte da cidade de Londres — ao serviço subterrâneo da linha principal. Leslie prestava seus serviços desde 1969 e era considerado um homem centrado, atensioso e amigável entre seus colegas de trabalho. Ele nunca havia recebido nenhuma advertência, tampouco faltava com frequência. A conduta do homem era impecável no que dizia respeito à sua profissão e seu comportamento estava mais do que normal naquele dia em que embarcou para conduzir o vagão que saía de Drayton Park e ia na direção de Moorgate.
A partir das 6h53, Leslie completou três turnos seguidos e às 8h38 da manhã, com apenas 30 segundos de atraso, ele partiu no que seria sua viagem final — não só do dia, como a de sua vida também. Bem no horário de pico da cidade, com a clássica superlotação nos dois primeiros vagões — por pararem perto da saída principal de número nove do metrô —, o comboio composto por quatro trens carregava por volta de 300 pessoas que viajavam em pé e sentadas.
Durante a última parada do trem, na Old Street, antes de completar o seu trajeto de exatos 56 segundos até Moorgate, foi especulado pela investigação do caso que Leslie Newson teria deixado o painel de controle e ido para o fundo da cabine do carro por alguma razão desconhecida. E então, quando o trem deveria reduzir a velocidade para 24 km/h no momento em que começasse a chegar próximo à plataforma, ele acelerou para quase 50 km/h. Quando o comboio 272 avançou pela estação, testemunhas afirmaram que Leslie Newson estava rumando para se sentar diante do painel, com o boné na cabeça e o olhar fixo à frente. Alguns alegaram que as suas expressões demonstravam tranquilidade.
Às 8h46 da manhã, depois dos últimos e derradeiros oito minutos, o comboio ultrapassou a placa de pare no final da plataforma, desmembrou o amortecedor hidráulico e colidiu com a parede de concreto no final do túnel. Os primeiros 15 assentos do primeiro vagão foram esmagados a três metros de altura e o trem logo atrás foi forçado contra a traseira do primeiro, que quebrou em três pontos e virou uma lata de sardinha num efeito dominó fatal. Quarenta e duas pessoas morreram na hora por conta da batida, boa parte delas prensadas ou mutiladas pelas ferragens. Outras 74 ficaram gravemente feridas e mais duas delas morrerram mais tarde no hospital.
Para o resgate, foram mobilizados 1.324 bombeiros, 240 policiais, 80 paramédicos e 16 médicos auxiliares até o dia 10 de março do mesmo ano. O corpo de Leslie Newson foi resgatado dos escombros no dia 4 de março e a autópsia revelou que não houve nenhum sinal de problemas de caráter vascular ou cadíaco que pudessem justificar o motivo de o homem não ter parado o trem. Não havia rastro de drogas ou álcool em seu sangue, ou qualquer dano por bebida em seu fígado. Assim como testes também foram realizados nos trens e os relatórios não acusaram nenhuma anormalidade mecânica.
Em anos de análises e investigações, nunca foram capazes de descobrir se Leslie Newson estava bêbado, distraído ou que tenha descontado algum tipo de infelicidade psicológica nos controles do comboio 272, que se tornou o pior acidente da história do metrô mundial. A única certeza foi que o homem nunca teve intenção de parar o trem antes que fosse tarde demais, seja lá por qual motivo tenha sido.