Estilo de vida
26/08/2020 às 15:00•3 min de leitura
A cidade de Hana está localizada em uma região censitária do Condado de Maui, no Havaí. De acordo com o censo de 2010, havia cerca de 1.235 habitantes na ilha. Foi na manhã de 11 de fevereiro de 1979 que tudo começou, quando o recém-divorciado Scott Moorman, de 27 anos, que havia acabado de se mudar de Boston para Hana, propôs a Patrick Woesner (26), Benjamin Kalama (38), Peter Hanchett (31) e Ralph Malaiakini (27) tirarem um dia de folga para fazer uma pescaria.
Eles embarcaram no modesto baleeiro do irmão gêmeo de Malaiakini, o barco Sarah Joe, de apenas 6 metros de comprimento e um motor de 85 cavalos de potência. A embarcação não era equipada para nenhum tipo de viagem marítima que fosse muito longe da costa. Uma vez que Moorman decidiu tudo de última hora, ele não conferiu a previsão do tempo para o dia, preferindo confiar no que via no horizonte: um tempo muito aberto, Sol, quase sem vento e as águas calmas do Pacífico.
Os homens partiram às 10 horas, sem imaginar que um sistema de baixa pressão se aproximava das ilhas, trazendo fortes ventos de tempestade. Às 12 horas, eles já estavam em alto-mar quando o dia de folga se tornou um pesadelo.
(Fonte: The Talko/Reprodução)
O pai de Peter Hanchett correu até a costa quando o tempo virou, mas não conseguiu localizar o Sarah Joe em nenhum lugar do oceano. Em poucas horas, ondas de 12 metros de altura quebravam no mar com ventos muito fortes. Em quase 50 anos, a cidade de Hana nunca havia sofrido uma tempestade tão cruel como aquela, que destruiu casas e causou enchentes em vários lugares. Foi por sorte que alguns barcos pesqueiros maiores conseguiram retornar, pois muitos naufragaram. Então, quais eram as chances para o modesto Sarah Joe?
No entanto, os familiares de alguns dos homens não queriam esperar pelo pior. Arriscando as próprias vidas em uma péssima condição de tempo, eles se juntaram para procurá-los, mas a visibilidade impediu que enxergassem mais do que um palmo à frente do nariz.
Às 17 horas, no pico da tempestade, alguém da família ligou para a Guarda Costeira para relatar o desaparecimento. Uma equipe foi mobilizada para busca e resgate por ar, mas os ventos ferozes impediram que continuassem.
(Fonte: Express Digest/Reprodução)
No dia seguinte, o pai de Peter Hanchett se aliou ao biólogo marinho John Naughton para continuarem as buscas, mas não encontraram nada. O capitão Jim Cushman da Guarda Costeira seguiu com o seu trabalho e vasculhou 70 mil milhas quadradas do oceano com helicópteros e lanchas, sem nenhum sucesso. Familiares e amigos investiram financeiramente em buscas durante 3 semanas, procurando principalmente em algumas ilhas mais remotas, onde acreditavam que os 5 homens pudessem estar isolados. Pombos-correio treinados para localizar pessoas perdidas no mar foram soltos na esperança de que ajudasse, mas não adiantou.
Depois de quase 5 semanas de buscas intensas, eles concluíram que os homens foram mortos pela tempestade ou estavam perdidos em uma ilha muito distante. A partir daquele ano, todo 11 de fevereiro amigos e familiares se reuniam para uma cerimônia fúnebre no cais de onde os 5 homens partiram.
Foi assim por 10 anos, até que algo aconteceu.
(Fonte: Anomalien/Reprodução)
Em 10 de setembro de 1988, o biólogo John Naughton se uniu a uma equipe de pesquisa marinha estabelecida pelo Serviço Nacional de Pesca Marinha para uma missão nas Ilhas de Marshall, próximo ao atol desabitado de Bokak – um estreito de ilhas a cerca de 2,2 mil milhas a sudoeste do Havaí.
Perto do atol, Naughton avistou um barco de fibra de vidro abandonado na costa e resolveu se aproximar mais. Verificando o registro da embarcação, ele identificou que pertencia às ilhas havaianas. Por volta de 60 metros dos destroços, o homem também encontrou uma pilha de pedras de coral e uma cruz de madeira feita à mão, de onde uma mandíbula humana se projetava em meio a uma pilha de papéis alumínio. Naquele momento, ele não sabia se a ossada tinha conexão com o barco, pois os membros de sua equipe não encontraram nenhum rastro de que um dia a ilha tivesse sido habitada, nem por um longo ou curto período de tempo.
A equipe deixou tudo como estava e retornou ao Havaí com os dados. Naughton descobriu que o barco era o Sarah Joe desaparecido, e isso foi mais do que o suficiente para fazê-lo voltar.
(Fonte: Maui News/Reprodução)
Em análise forense, foi descoberto que a mandíbula era de Scott Moorman, assim como vários outros ossos encontrados na sepultura. As buscas na área foram intensificadas, mas nenhum resto mortal foi encontrado, tampouco sinais de vida.
Eles descobriram que o motor de popa do Sarah Joe havia desaparecido, provavelmente levado pela forte tempestade. O fato intrigante, porém, é de que uma pesquisa feita pelo governo dos EUA no atol de Bokak, em 1985, não encontrou vestígios do Sarah Joe. Então onde o barco estava desde 1985? Ou ainda, quem sepultou Scott Moorman? Onde estavam os seus amigos?
Historiadores apontam que os papéis-alumínio sobre a sepultura de Moorman seriam de uma antiga tradição de sepultamento oriental. Os chineses colocavam pedaços desse tipo de papel ou papel-moeda entre folhas de ouro e prata como um meio de fortuna para a vida após a morte. Os pesquisadores acreditam que algum barco de pesca tenha encontrado o cadáver do homem e realizado a cerimônia, e que os chineses não relataram o corpo porque realizavam uma pesca ilegal na região.
Placas em homenagem à memória da tripulação do Sarah Joe foram instaladas no atol de Bokak e na Baía de Hana.
Foram as dúvidas sem respostas que tornaram o caso um mistério. Especialistas calcularam que o barco ficou à deriva por 3 meses até alcançar o atol. Por que a equipe de pesquisa que foi até o local antes de Naughton não relatou a embarcação e muito menos o túmulo? Essa é a pergunta feita até hoje.