Ciência
05/10/2020 às 08:00•4 min de leitura
Os sanatórios surgiram como uma tentativa de reforma no campo da saúde mental, uma chance de fornecer os cuidados necessários para aqueles que antes eram apenas ignorados ou vistos como uma vergonha para a própria família.
Contudo, com a estigmatização de problemas psicológicos e deficiência, juntamente com o aumento de diagnósticos entre os séculos 19 e 20, eles se transformaram em instituições superlotadas que serviam como um modo de afastar da sociedade todos que eram considerados indesejados.
Os tratamentos utilizados eram assombrosos: banhos de gelo, terapia de eletrochoque, lobotomia, camisas de força, purgação e muitos outros, todos considerados práticas legais na época.
Felizmente, graças a investigações secretas e testemunhos de pacientes, o show de horrores que aconteciam dentro destas instalações foram revelados, como a história de Isaac Hunt em 1851, que após ser internado no Hospital para Insanos de Maine descreveu o lugar como “o sistema vil de desumanidade, que se assemelhava muito aos dias mais sangrentos e sombrios da Inquisição ou às tragédias da Bastilha”.
Mas nem todos tiveram a mesma sorte de Hunt de poder contar suas experiências nessas verdadeiras câmaras de tortura, e separamos três dos locais mais infames e os atos macabros que aconteciam dentro de suas paredes.
Inaugurado em 1863 na Virgínia Ocidental, Estados Unidos, o Trans-Allegheny seguia a filosofia de Thomas Kirkibride, que defendia um tratamento mais holístico dos pacientes, com acesso a ar fresco e luz solar em um ambiente saudável.
A instalação parecia um verdadeiro santuário, com quartos privados e limpos, corredores espaçosos, grandes janelas e tetos altos. Mas não demorou muito para este sonho virar um pesadelo.
Com 20 anos de funcionamento, o local começou a ficar lotado, fazendo com que os quartos particulares passassem a ser divididos entre cinco a seis pessoas, sem camas ou comida o suficiente para todos.
Indivíduos considerados indisciplinados eram trancados em gaiolas posicionadas nos corredores, o saneamento básico foi abandonado e a equipe estava em grande desvantagem numérica.
Porém, o maior horror deste manicômio foi o laboratório experimental de lobotomia dirigido por Walter Freeman, o infame cirurgião que não só era um dos maiores defensores desta prática, como preferia o método cruel de usar uma haste fina e pontiaguda na órbita do olho do paciente, juntamente com um martelo, para forçá-la através do tecido conjuntivo até o córtex pré-frontal do cérebro.
Os abusos do Trans-Allegheny permaneceram ocultos do público até 1949, quando o The Charleston Gazette reportou suas condições terríveis. Mesmo assim, a instituição continuou a funcionar até 1994, quando foi finalmente fechada.
Este sanatório ficou tão famoso por seus tratamentos opressores e abusivos que H.P. Lovecraft e a D.C. Comics se inspiraram nele para criar suas versões de um manicômio, ambas intituladas Arkham Asylum.
O Danvers foi inaugurado em 1878, com capacidade para 450 pessoas. Ele era composto de 40 edifícios separados e pretendia ser autossustentável, apresentando várias instalações para tratamento que deveriam “curar” completamente as doenças dos internados.
Porém, em seu auge, a instalação chegou a receber mais de 2.000 indivíduos, uma superlotação que obviamente causou um declínio na qualidade de vida e saneamento.
Os pacientes eram deixados nus e viviam em sua própria sujeira, além de passarem por terapias de eletrochoque e lobotomia, e quando os médicos acreditavam que estas intervenções não funcionavam, os enfermos eram considerados “incuráveis”, restringidos por camisas de força e largados a própria sorte.
Em 1939, um total de 278 mortes foram registradas no hospital, mas suas condições abusivas continuaram até 1985, quando a maior parte de seus prédios foi fechada. Contudo, a jornada deste lugar macabro só acabou totalmente em 1992.
Esta talvez seja uma das instituições de saúde mental mais assustadora do século 20, com relatos de violência desenfreada, completa falta de controle, suicídios e até mesmo assassinatos.
O Hospital Mental Byrberry surgiu em 1903 na Filadélfia, Estados Unidos, como uma fazenda para abrigar pacientes que não cabiam em outros sanatórios superlotados. Entretanto, ele recebeu tantas pessoas que passou a ser considerado uma instituição completa, mesmo sem contar com os recursos para isso.
Seu crescimento desenfreado impactou na captação de indivíduos qualificados, e muita gente sem experiência relevante foi contratada apenas para preencher cargos. Além disso, grande parte da equipe foi formada durante a Primeira Guerra Mundial, quando aqueles que se opunham ao conflito foram enviados para trabalhar em hospitais psiquiátricos nos Estados Unidos.
Estes indivíduos foram essenciais para revelar a terrível violência que assolava o sanatório, apresentando relatos de pacientes esfaqueando outros com colheres afiadas, e funcionários que frequentemente batiam e abusavam daqueles sob seus cuidados.
O mais surpreendente é que em 1919, dois enfermeiros confessaram estrangular um dos internados até que seus olhos saltassem, alegando que o ato foi cometido devido ao trauma da guerra. Porém, em vez de serem demitidos e condenados pelo crime, eles continuaram trabalhando ali, recebendo inclusive um aumento no salário.
Não era incomum que pessoas sumissem do hospital, sendo encontradas dormindo nos quintais dos vizinhos ou até mesmo mortas em algum canto da propriedade. Como o caso mulher foi brutalmente estuprada e assassinada, e seu corpo só foi descoberto quando os trabalhadores do hospício notaram pacientes carregando seus dentes.
Quanto aos tratamentos, além das famosas terapias de eletrochoque e lobotomias, os médicos do Byrberry também utilizavam um método hediondo que sufocava os indivíduos com toalhas molhadas, com um relatório do Philadelphia Record em 1946 apontando que um dos pacientes perdeu a consciência por 15 minutos após o procedimento.
O uso de analgésicos também era incomum. Dentes eram arrancados sem anestesia, e houve relato de pelo menos um médico suturando a lesão de um indivíduo sem qualquer tipo de sedação. Toda essa brutalidade era justificada com a afirmação de que “esquizofrênicos não sentiam dor”.
Mas enquanto alguns medicamentos eram ignorados, outros eram aplicados sem consentimento. A empresa farmacêutica Smith, Kline & French, atual GlaxoSmithKline, recebeu permissão para montar um laboratório no hospital, realizando testes obscuros de medicamentos, como o antipsicótico Torazina, usando os internados como cobaias.
Por sorte, as situações absurdas que ocorriam no Byrberry começaram a chamar a atenção do público no final da década de 70 e início de 80, mas esta jornada macabra só cessou por completo em 21 de junho de 1990, deixando muitos traumas e cicatrizes em todos que passaram por ali.