Ciência
09/03/2021 às 12:00•3 min de leitura
ATENÇÃO: este texto pode ter conteúdo sensível por abordar um caso real
A socialite brasileira Ângela Diniz foi brutalmente assassinada em uma casa de praia em Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro, após uma acalorada discussão com o empresário e também seu namorado Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street.
No dia 30 de dezembro de 1976, Doca Street disparou 4 tiros contra a moça — 3 no rosto e 1 na nuca — após não concordar com o término do relacionamento que já durava 4 meses. Posteriormente, o crime foi considerado homicídio passional, e a defesa alegou "legítima defesa da honra com excesso culposo", tendo o empresário agido por amor.
(Fonte: Ângela Diniz/Arquivo Pessoal)
Ângela Diniz e Doca Street se conheceram durante um jantar da elite paulistana realizado em 1976. Oriundos de famílias ricas, ambos logo sentiram uma grande sintonia e apaixonaram-se rapidamente. Não precisou de 1 mês de romance para que Doca Street abandonasse sua esposa e filhos para viver intensamente seu romance com Ângela.
A partir desse momento, o casal se mudou para Búzios, onde a mulher, de 32 anos, tinha residência em frente ao mar. Aproveitando uma vida regada de luxos, Ângela passou a bancar todas as despesas geradas pelos dois e também começou a sustentar todas as necessidades de Doca Street por tempo integral.
Entretanto, o excesso de ciúmes do novo namorado fez ela deixar de frequentar os lugares que sempre gostou e ter que se afastar de todas as suas amizades. Acostumada a ser uma mulher independente, a socialite passou a ficar incomodada com o relacionamento abusivo — fato que gerou grandes brigas entre ambos.
(Fonte: Ângela Diniz/Arquivo Pessoal)
Na véspera do Ano-Novo de 1977, o casal havia decidido passar o dia na praia para celebrar a data. Após algumas doses de vodca, o comportamento desinibido de Ângela Diniz começou a irritar Doca Street profundamente. O ápice das brigas ocorreu após a socialite ter tentado seduzir a artesã alemã Gabriella Dayer, que passava pelo local anunciando a sua arte.
De volta à residência, Doca decidiu ajudar a embriagada Ângela a tomar banho. Foi então que o conflito entre eles se intensificou, a ponto de a moça destruir toda a mobília de seu banheiro. Esse descontrole teria sido causado em reação às atrocidades proferidas pelo empresário paulistano durante um ataque de ciúmes.
Mais tarde e um pouco mais calma, Ângela decidiu anunciar o fim do relacionamento e pediu ao rapaz que se retirasse do local. Doca Street ainda tentou incessantemente convencê-la de que essa não era sua real vontade, mas ela já estava decidida a se livrar daquele relacionamento abusivo.
(Fonte: Ângela Diniz/Arquivo Pessoal)
Depois de recolher seus pertences, Doca Street preparou-se para ir embora. Porém, quando já estava a alguns quilômetros de distância do local, decidiu que deveria retornar para tentar convencer Ângela mais uma vez de que sua decisão havia sido precipitada.
Quando chegou à casa de praia, o empresário avistou a socialite brasileira sentada próxima à piscina. Após ajoelhar-se e pedir perdão, Street ouviu que, caso quisesse ficar com ela, teria que aceitar o fato de Ângela poder também se relacionar com outros homens e mulheres. Na visão dele, esse comportamento era inaceitável.
Aproveitando-se de que Ângela iria ao banheiro, Doca acompanhou-a pela casa e proferiu a seguinte frase: "se você não vai ser minha, não será de ninguém". Em seguida, atirou quatro vezes contra ela e partiu em disparada, deixando a arma do crime ao lado do corpo desfigurado da vítima.
(Fonte: Estadão/Reprodução)
Após a execução do assassinato, Doca Street fugiu para o sítio de sua mãe no interior de Minas Gerais. No local, a família passou a procurar por advogados que pudessem montar sua defesa. Decidiu-se que o homem se entregaria primeiro à imprensa e não à polícia, alegando legítima defesa da honra por excesso culposo.
O famoso advogado criminalista Evandro Lins e Silva foi quem defendeu Doca Street no primeiro julgamento, realizado em 18 de outubro de 1979. Durante a tese defensiva, Ângela foi mostrada como uma mulher promíscua e, portanto, culpada e merecedora de sua morte.
Como os anos 1970 eram uma época de ainda mais machismo e repressão às mulheres, a defesa foi considerada um sucesso. Doca Street, então, foi condenado a cumprir 2 anos de reclusão com direito à suspensão condicional da pena.
(Fonte: Estadão/Reprodução)
O primeiro julgamento do empresário paulistano gerou um grande rebuliço entre os movimentos feministas no Brasil. Apoiadas pelo slogan "quem ama não mata", com suporte até mesmo do poeta Carlos Drummond de Andrade, um novo julgamento foi designado para novembro de 1981.
Agora sob a tutela do advogado Humberto Telles, dessa vez o júri não interpretou que Doca Street havia agido em legítima defesa da honra. O caso foi julgado como um homicídio doloso qualificado, o que lhe rendeu uma condenação de 15 anos em reclusão, dos quais ele cumpriu apenas 4.
Doca Street faleceu em São Paulo no dia 18 de dezembro de 2020, aos 86 anos de idade. De acordo com sua família, ele sofreu um ataque cardíaco e faleceu a caminho do Hospital Samaritano. Ele deixou para trás três filhos e netos.