Ciência
29/03/2021 às 10:30•2 min de leitura
Como lidaremos nesta matéria com altas doses de paranoia e insanidade, iniciaremos com um fato real: o meganavio Ever Given, que estava encalhado no Canal de Suez no Egito desde a última quarta-feira (24), foi reflutuado e liberado por equipes de resgate na manhã de hoje (29), por volta das 10h (horário de Brasília).
No entanto, a partir do momento em que ocorreu o incidente, que teoricamente poderia comprometer as cadeias de abastecimento globais, os apoiadores da organização QAnon começaram a espalhar, pela internet, teorias da conspiração segundo as quais o navio era operado pela ex-primeira-dama dos EUA, Hillary Clinton, e transportava uma carga de escravas sexuais infantis.
QAnon é um movimento criado a partir de uma grande teoria da conspiração: os seus seguidores acreditam que uma cabala (tradição mística judaica) secreta, composta por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais, dirige uma grande rede global de tráfico sexual de crianças. Essa rede satânica estaria conspirando contra o ex-presidente Donald Trump, para implantar um plano de dominação mundial.
Fonte: Brendan Smialowski/AFP
Como todo bom seguidor do QAnon sabe, o “estado profundo”, plano sinistro de dominação mundial, era orquestrado pela ex-primeira-dama, que possuía um serviço secreto chamado Evergreen (mesmo nome da empresa que utiliza o navio porta-contêineres), e que concorreu na corrida presidencial com Trump em 2016.
Mas as coincidências não param por aí, afirmam os apoiadores do QAnon. O indicativo no navio encalhado tinha a inscrição “H3RC”, que são praticamente as iniciais de Hillary Diane Rodham Clinton. A teoria se espalhou como um rastilho de pólvora no Telegram e no Gab, as novas preferidas dos manifestantes, após serem expulsos das redes sociais convencionais.
O movimento nas redes foi tão intenso que a PolitiFact, empresa especializada em detecção de fake News associada ao Facebook, veio a público através de seu porta-voz Daniel Funke, esclarecer que “não há evidências de que o navio Evergreen preso no Canal de Suez esteja relacionado a uma operação de tráfico de pessoas dirigida por Hillary Clinton”.
Fonte: PerthNow/Reprodução
Após o desmentido oficial, os seguidores do QAnon não se deram por vencidos e, como o navio continuava encalhado, reformataram a teoria: a capitã do navio seria, na verdade, Monica Lewinsky, ativista que, durante o governo do presidente Bill Clinton, manteve com ele um breve relacionamento sexual quando era estagiária na Casa Branca.
Para comprovar a teoria, publicaram uma foto de Marwa Elselehdar, a primeira mulher egípcia a comandar um navio (que, por sinal, não é o Ever Given). Além disso, divulgaram outra evidência robusta: um pênis gigantesco formado pela rota que o navio traçou no meio do mar Vermelho.
- navio evergreen parando o canal de suez
— Thiago Mota (@tlmota) March 27, 2021
- caminhão evergreen parando trânsito na china
a evergreen tentando destruir o capitalismo é meu espírito animal pic.twitter.com/M3w5Iu3rZX
Depois que um porta-voz do site de rastreamento de navios vaselfinder.com também veio a público desmentir a teoria do pênis gigante, um post com mais de 7 mil visualizações no Telegram explicou a “verdade”: teriam sido eles próprios, os seguidores do QAnon, que hackearam o enorme navio e o fizeram encalhar.
Porém, enquanto explicavam como os Chapéus Brancos haviam assumido o controle do navio de escravas sexuais, uma nova foto tomou conta das redes sociais no sábado (27): um caminhão enorme bateu em uma avenida de grande movimento da cidade de Nanjing, na China, interrompendo o tráfego. Não há data na foto, mas o horário é 9h55. E o nome da empresa transportadora é... Evergreen. Lá vem mais história!