Ciência
28/04/2023 às 04:00•3 min de leitura
Os 37 milhões de habitantes de Marrocos estão intrigados com o sumiço do rei Mohammed VI. No ano passado, o líder máximo ficou fora da nação árabe por 200 dias sem uma explicação plausível para o desaparecimento, de acordo com estimativas de um ex-funcionário da corte real. Em meio a uma crise iminente, a população procura as razões para a ausência de seu rei.
As notícias são de que Mohammed VI está exilado na França, vivendo em uma mansão perto da Torre Eiffel e um castelo nas colinas de Betz. Mesmo lá, ele parece ter dificuldades em escapar da vigilância constante. Frequentemente, seus chips de telefone são mudados por medo de ser ouvido e os endereços de encontros são mudados no último minuto.
Isolado, o rei não compareceu a importantes eventos internacionais, incluindo o funeral da rainha Elizabeth II, a cúpula da Liga Árabe e os jogos do Marrocos na Copa do Qatar, que consagrou a seleção nacional como a quarta melhor do mundo. Nem mesmo quando o primeiro-ministro espanhol visitou Rabat no início de 2023, o rei não estava presente.
Parlamento marroquino é eleito democraticamente, mas pode ser dissolvido por decreto real. (Fonte: Wikimedia/Pilecka/Reprodução)
O governo marroquino é uma monarquia constitucional, onde a figura real seja apenas simbólica. Apesar disso, a palavra final sobre as disputas entre as facções políticas rivais é dada por Mohammed VI, uma influência que começou ainda no século VIII, após os árabes dominaram o Norte da África e instituírem o islamismo na região.
Quando a primavera árabe eclodiu, algumas mudanças foram feitas na Constituição de Marrocos, dando mais poder aos funcionários eleitos. Ainda assim, o monarca continuou tendo poderes ditatoriais, sendo o chefe das Forças Armadas e a autoridade judicial mais poderosa. Se quiser, ele pode fechar o congresso apenas por decreto.
Rei Mohammed VI gostava de farra, mas ficou sério quando assumiu o trono. (Fonte: Reinado de Marrocos/Divulgação)
O rei marroquino Mohammed VI teve uma infância rigorosa e exigente, ditada pelo seu pai, Hassan II. Sua escola foi construída especialmente dentro do palácio, com um grupo de 12 colegas escolhidos a dedo e o dia começava com uma hora diária de recitação do Alcorão.
O ambiente opressor talvez tenha feito com que ele buscasse refúgio na cultura ocidental. Uma de suas músicas favoritas era "Breakfast in America", do grupo de rock inglês Supertramp. Quando concluiu o mestrado em direito público em Rabat, foi estagiar oficialmente na Comissão Europeia. Entretanto, era mais facilmente encontrado nos bares e boates da Europa.
Quando Hassan II morreu, Mohammed VI parecia destinado a se tornar um rei modernizador e enérgico. Ele demitiu altos funcionários e reformou o código legal islâmico, tornando mais fácil para as mulheres se divorciarem de seus maridos. Logo, passou a se envolver mais na política e se tornou um monarca mais autocrático.
A amizade com os irmãos Azaitar seria o motivo do "desaparecimento" do Rei Mohammed VI. (Fonte: Reino de Marrocos/Divulgação)
Tudo parece ter começado a mudar em 2018, quando foram divulgadas fotos do rei segurando um cinturão do campeonato de MMA. O troféu pertencia a Abu Azaitar, um kickboxer que já cumpriu pena de prisão na Alemanha. Desde então, a amizade entre o lutador e a família real cresceu, o que pode ser acompanhado pelas publicações no Instagram.
Azaitar e seus três irmãos passaram a ser considerados treinadores especiais do rei, que estava acima do peso, sofria de asma e tinha problemas pulmonares. Uma academia foi instalada dentro do palácio e a aparência de Mohammed VI melhorou substancialmente, mas o rei se tornou cada vez mais ausente em eventos oficiais.
Em agradecimento, Azaitar e seus irmãos receberam uma série de regalias, como enterrar a própria mãe no palácio em Tânger, uso de aviões militares, empréstimos de carros e uma carta branca para fazer praticamente qualquer coisa dentro do ambiente palaciano.
O Marrocos passa por mais um período de protestos e instabilidade. (Fonte: Wikimedia/Magharebia/Reprodução)
A ausência do rei está sendo sentida. A situação em Marrocos está instável, com cortes no fornecimento de energia e alimentos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o que fez a inflação disparar. Embora o governo tenha lançado um programa de apoio que inclui subsídios para produtos básicos, os pobres marroquinos ainda sofrem para pagar as contas.
Nas ruas, milhares de marroquinos protestaram no final do ano passado contra o “despotismo” e o alto custo de vida. Uma longa estiagem está encarecendo os alimentos e gerando mais contentamento, o que deve provocar novos protestos. Apesar da situação na nação árabe, o rei e seus amigos parecem ter saído para passear na praia.
A elite conservadora de Marrocos tenta diminuir a influência de Azaitar sobre o reinado, mas sem sucesso. A abdicação, embora não seja abertamente defendida pela população, tem sido cogitada. Os sucessores mais prováveis ao trono são o filho do rei, Hassan, que tem apenas 19 anos, e seu irmão mais novo, Rachid.