Ciência
24/11/2023 às 03:00•2 min de leitura
Quem caminha pelo Grande Deserto do Mar de Areia, que se estende por uma área de 72 mil km2 que liga o Egito e a Líbia, pode acabar se deparando com algo curioso: pedaços de vidro amarelo espalhados pela paisagem arenosa.
O estranho vidro foi descrito pela primeira vez em um artigo científico em 1933 e é conhecido pelo nome de "vidro do deserto da Líbia". O material é altamente valorizado por colecionadores de minerais, que apreciam muito sua beleza e relativa raridade. Porém, desde que foi descoberto pela primeira vez, cientistas tentam descobrir sua origem. Agora, décadas depois, existem indícios de que o vidro amarelo tenha uma origem extraterrestre.
(Fonte: GettyImages)
A origem do vidro amarelo no deserto africano tem sido objeto de debate entre cientistas há quase um século. Alguns sugeriram que eles poderiam ser de vulcões da Lua, enquanto outros propõem que seja o produto da queda de raios na região. Existem teorias que também sugerem que seja resultado de processos sedimentares ou hidrotérmicos.
Porém, graças à tecnologia avançada de microscopia, pesquisadores agora acreditam ter uma resposta. Juntamente com investigadores de centros científicos da Alemanha, Egito e Marrocos, a pesquisadora Elizaveta Kovaleva identificou que o vidro amarelo no deserto da Líbia é, na verdade, originário do impacto de um meteorito na superfície da Terra.
Como as colisões espaciais são um processo primário no Sistema Solar, à medida que os planetas e seus satélites naturais se acumulam através dos asteroides e planetas embrionários, eles acabam colidindo uns com os outros. Esses impactos, por sua vez, ajudaram o nosso planeta a se formar e permitiram a formação de um minério tão curioso como esse.
(Fonte: Elizaveta Kovaleva/Divulgação)
Em 1996, pesquisadores determinaram que o vidro amarelo tinha cerca de 29 milhões de anos. Um estudo posterior também sugeriu que o material de origem era composto de grãos de quartzo, revestidos com uma mistura de minerais argilosos e óxidos de ferro e titânio.
Porém, a idade proposta era mais antiga do que o material de origem correspondente a área relevante do deserto do Grande Mar de Areia. Para sanar essa dúvida, o estudo recente coletou dois pedaços de vidro na Líbia para serem analisados com uma técnica de microscopia eletrônica de transmissão (TEM) de última geração.
Através dessa análise, os investigadores constataram que esse mineral só poderia se formar em altas temperaturas entre 2.250 °C e 2.700 °C. Tais condições de pressão e temperatura fornecem a prova da origem do impacto do meteorito no vidro, uma vez que essas condições só podem ser obtidas na crosta terrestre pelo impacto de um meteorito ou pela explosão de uma bomba atômica.
Caso a descoberta esteja correta, isso também significa que a cratera onde o meteorito atingiu o planeta deve estar em algum lugar próximo. Contudo, nenhuma cratera conhecida mais próxima possui o diâmetro equivalente ao que teria causado essa mistura química. Logo, os pesquisadores agora terão que resolver esse novo mistério para validar suas teorias.