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18/07/2014 às 05:08•2 min de leitura
A ideia de que usamos apenas 10% da capacidade de nosso cérebro está mais do que enraizada, mas será que isso é realmente verdade? Não, não é. Um audiobook chamado “Welcome to Your Brain”, algo como “Bem vindo ao seu Cérebro”, produzido pelo neurocientista da Universidade de Princeton, Sam Wang, defende a ideia de que a indústria de autoajuda pode ser uma das responsáveis pela propagação desse conceito.
Nos anos de 1990, o famoso pensador da área da Psicologia, William James, defendeu a ideia de que nós, humanos, não temos usado toda a capacidade de nosso cérebro. Essa mesma linha de raciocínio foi retomada depois pelo escritor Dale Carnegie em seu livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”.
A verdade é que essa afirmação é falha em vários sentidos. É o mesmo que dizer que do 1,4 kg do seu cérebro somente 140 g funcionam, sendo que, na realidade, seu cérebro inteiro trabalha o tempo todo. Ele é um órgão cheio de neurônios e de células que o fazem funcionar muito bem, obrigada.
O professor de neurociência da Universidade de Nova York, Joe LeDoux, acredita que às vezes o resultado de uma ressonância magnética, que indica as áreas do cérebro em maior atividade, pode fazer com que as pessoas acreditem que só as áreas assinaladas estão trabalhando, o que justificaria a teoria dos 10%, ainda que erroneamente, afinal não é porque uma área está mais ativa que as outras se desligam.
Imagine que você está assistindo a um filme enquanto seu cérebro é monitorado por uma máquina de ressonância magnética. Obviamente, as áreas cerebrais relacionadas à visão e à audição estariam trabalhando mais, mas seu cérebro ainda estaria garantindo que sua mão pegue uma porção de pipoca e leve até a sua boca e, claro, ele ainda estaria controlando outras funções do seu corpo.
É normal que, vendo as imagens do seu cérebro durante o filme, você imagine que as partes em destaque, aquelas responsáveis pela visão e pela audição – e que, olha só, correspondem a um pouco menos do que 10% da sua atividade cerebral –, são as que estão funcionando mais e que o restante do cérebro está mais lento, mas isso não é verdade de forma alguma!
Esses aparelhos de ressonância magnética fazem justamente uma busca pelas áreas cerebrais em atividade mais intensa em um determinado momento, o que não significa que as outras partes não estejam funcionando. Durante todo o dia, dependendo de cada estímulo recebido, essas áreas variam.
É preciso entender que certas áreas cerebrais são mais bem capacitadas a lidar com diferentes tipos de tarefas. É por isso que resolver um problema matemático exige o trabalho de determinada área, enquanto que escrever um poema ativa uma região diferente. A questão não é, portanto, quantitativa.
Nosso cérebro é um órgão capaz de realizar inúmeras tarefas ao mesmo tempo. Enquanto você lê este texto seu campo de visão está em alta, mas sua mão consegue mexer no mouse ou na tela do seu tablet sem maiores dificuldades. Tudo isso enquanto você balança seus pés no ritmo da música que ouve agora. Ao mesmo tempo, nós esperamos, você respira e seu coração continua batendo.
O mito dos 10% pegou porque, sejamos honestos, o cérebro humano é o órgão mais complexo de todos e, se você não está acostumado a estudá-lo, fica relativamente fácil acreditar em uma frase explicativa e simples sobre ele e sair por aí repetindo o que “aprendeu”.
Tanto a psicologia quanto a neurociência são áreas de estudo que não estão completas. Não se sabe tudo, ainda, a respeito do cérebro humano, e é se aproveitando disso que muitos não cientistas fazem afirmações descabidas. No caso do mito dos 10%, uma informação errada que acabou se perpetuando. Pelo menos agora você sabe que é capaz, sim, de usar toda a sua capacidade cerebral. Já pode respirar aliviado!