Estilo de vida
19/03/2021 às 08:00•2 min de leitura
A covid-19 fez mais uma vítima na cidade de Porto Velho, em Rondônia, nesta última quinta-feira (17). Com idade estimada entre 86 e 90 anos, Aruká Juma estava internado há um mês devido ao agravamento da doença causada pelo vírus Sars-CoV-2. Conhecido por ser o último ancião vivo do povo Juma, Aruká deixou para trás três filhas, 11 netos, bisnetos e amigos.
Ele havia apresentado os primeiros sintomas de covid-19 no começo de janeiro, quando ficou internado em Humaitá, no Amazonas, por alguns dias. No dia 26 de janeiro, voltou a ser internado e finalmente foi transferido para o Hospital de Campanha de Porto Velho no dia 2 de fevereiro, onde faleceria 15 dias mais tarde.
(Fonte: Gabriel Uchida/Kanindé/Amazônia Real)
A história de Aruká Juma foi marcada por uma trajetória de superação. Em 1964, ele foi um dos sete sobreviventes do massacre no rio Assuã, que deixou mais de 60 pessoas mortas em um dos episódios mais tristes da história da tribo. Na época, o território indígena foi atacado por comerciantes de Tapauá interessados na sorva e na castanha cultivadas na região.
O ancião também foi responsável por conquistar o reconhecimento de suas terras e tornou-se um verdadeiro símbolo de luta entre os povos indígenas do Amazonas no fim dos anos 1990. Antes dos consecutivos ataques que dizimaram os Juma, estima-se que o povo possuía cerca de 15 mil indivíduos no século XVIII.
A expansão extrativista pelo Brasil foi quem trouxe muita violência para as tribos locais. Então, o que antes era uma comunidade extensa acabou sendo reduzido a dezenas de indivíduos na década de 1960. Em 2002, Aruká já era o último homem sobrevivente dos Juma, falantes de Tupi-Kagwahiva.
(Fonte: Gabriel Uchida/Kanindé/Amazônia Real)
Em nota oficial, diversas instituições de proteção às comunidades indígenas, como a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), se pronunciaram cobrando atitudes do governo brasileiro para proteger as populações em risco.
“A Coiab e Apib avisaram que os povos indígenas de recente contato estavam em extremo risco. O último homem sobrevivente do povo Juma está morto. Novamente, o governo brasileiro se mostrou criminosamente omisso e incompetente. O governo assassinou Aruká”, dizia o documento.
Em 1988, os Juma foram movidos para o território dos Uru-Eu-Wau-Wau, onde as filhas de Aruká se casaram e tiveram filhos. Além do ancião, outros sete membros dos Juma contraíram o novo coronavírus, mas estão em estado de recuperação.