Estilo de vida
08/06/2021 às 04:00•2 min de leitura
Se você já sofreu bullying por não gostar de brócolis, chegou a hora dos humilhados serem exaltados. Uma pesquisa recém-publicada na revista médica JAMA Network Open aponta que pessoas muito sensíveis a sabores amargos têm maior proteção contra o coronavírus.
Segundo o estudo feito em Louisiana, nos Estados Unidos, esse poder é um privilégio dos chamados superdegustadores, categoria criada nos anos 1990 pela psicóloga Linda Bartoshuk para se referir aos 25% da população com paladar mais potente que o dos meros mortais.
A pesquisadora dividiu os outros 75% entre não degustadores (25% que quase não percebem certos sabores amargos) e degustadores (50% que notam o amargor, mas não ao ponto de achá-lo desagradável).
Foi a partir dessa categorização que o rinologista Henry Barham, do Centro Médico Geral Baton Rouge, resolveu testar as correlações entre coronavírus e paladar sensível.
Barham e sua equipe avaliaram mais de 1,9 mil adultos. Menos de 6% dos superdegustadores do grupo testaram positivo para o Sars-CoV-2. Em contrapartida, os não degustadores, além de terem sido muito mais propensos que os demais a apresentarem a doença, também passaram mais tempo com os sintomas e demandaram mais internações.
Mas o que pode estar por trás disso? Bem, vamos lá: a ciência explica que os gostos são identificados pelos chamados receptores gustativos. Um deles é o tipo 2, responsável por sentir os sabores amargos. Ele é composto por um grupo de mais de 70 genes chamado T2R.
Entre esses genes, está o T2R38. Para quem não se lembra das aulas de genética, os genes produzem proteínas que desempenham funções específicas no organismo. As proteínas sintetizadas pelo T2R38 podem levar a uma menor tolerância à feniltiocarbamida e à propiltiouracila, presentes em vegetais amargos, como brócolis e repolho.
É por isso que quem possui muitas dessas proteínas tem mais chances de sofrer com pólipos no cólon, problema ligado à menor ingestão de vegetais amargos. Ao mesmo tempo, essa substância, também encontrada nas células epiteliais que revestem o nariz e o trato respiratório superior, pode responder a patógenos invasores e proteger de doenças.
Para Barham, sua pesquisa deve aprimorar a delimitação do grupo de risco da covid-19 e ajudar a entender, por exemplo, por que crianças são menos suscetíveis ao coronavírus, já que o número de receptores gustativos cai conforme se envelhece.
Apesar dos dados do estudo serem plausíveis, não há um consenso sobre sua interpretação. Danielle Reed, por exemplo, que integrou a equipe do estudo, mas não quis assinar o trabalho, diz ter ressalvas com relação à pesquisa por entender que muitas pessoas podem ter sido categorizadas incorretamente como não degustadoras após terem a perda geral do paladar, comum em casos de coronavírus.
Barham concorda que mais dados sejam necessários agora e pretende apostar em testes para investigar não só a correlação do paladar com a covid-19, mas também com outras doenças infecciosas, como a influenza.
De qualquer forma, não perca a chance de mandar essa matéria para seus amigos. Em vez de enjoado, você pode ter sido alçado ao título de superdegustador.