A obsessão da medicina do século XIX pelas sanguessugas

25/12/2021 às 12:002 min de leitura

Entre todos os métodos de cura para doenças que já foram utilizados na história da medicina, a sangria terapêutica foi a mais amplamente disseminada — e uma das mais antigas, com raízes desde o Egito Antigo. A princípio, a prática começou como um ritual de fundo místico, depois acabou adquirindo caráter doutrinador para justificação da prática até chegar no campo médico.

Muito diferente de hoje, que a sangria ainda é feita com a finalidade de extrair algumas substâncias do corpo através da coleta do sangue, como em uma doação, nos anos 1800 era feita por sanguessugas. 

Os anelídeos de águas estagnadas, represas e lagos eram colocados pelo corpo do paciente para que suas ventosas pudessem sugar o seu sangue, podendo extrair entre 10 e 15 ml cada.

A era da obsessão

(Fonte: Ranker/Reprodução)(Fonte: Ranker/Reprodução)

A prática foi considerada uma revolução na medicina, principalmente devido a sua eficácia, causando uma verdadeira obsessão por sanguessugas pelo mundo. No início do século, o comércio dos animais constituía uma das atividades mais lucrativas, principalmente na Europa. Só a França, em 1833, chegou a importar 40 milhões de sanguessugas para tratamento das mais diversas enfermidades.

Esse boom aconteceu por culpa do médico francês François-Joseph-Victor-Broussais (1772-1838), que alegou que a maioria das doenças era fruto de inflamação local e poderia ser curada através de sangria. Portanto, a extração descontrolada de sangue se tornou uma solução abrangente — e nada eficiente — para todas as doenças possíveis.

Sanguessugas foram enviadas da Alemanha para a América aos montes, enquanto a Inglaterra levava tudo da França para abastecer seus estoques, pois o que havia no próprio país já não era mais o suficiente com a alta demanda.

(Fonte: Science History Institute/Reprodução)(Fonte: Science History Institute/Reprodução)

Geralmente, os coletores de sanguessugas eram cidadãos pobres, em sua maioria mulheres, que entravam em lagos, pântanos e rios tendo as próprias pernas como isca. Eles precisavam deixar os animais chuparem seu sangue por pelo menos 20 minutos antes de puxá-los da água, pois era mais fácil capturá-los quando estavam inchados de sangue. 

A ferida aberta servia de atrativo para os demais, facilitando a coleta, mas dificultando a vida do coletor. Muitos acabavam contraindo doenças graves devido à quantidade de perda de sangue no final de um dia árduo de trabalho.

O declínio da prática                                 

(Fonte: Britannica/Reprodução)(Fonte: Britannica/Reprodução)

Então, de repente, o modismo de usar sanguessuga simplesmente saiu de moda, principalmente devido ao quão caro se tornou seu transporte. Até 1970, a população da espécie hirudo medicinais, a única que realmente suga sangue humano, diminuiu tanto que foi considerada extinta por vários anos.

As sanguessugas ainda são usadas de maneira medicinal para tratar casos muito específicos até hoje, tendo o Food and Drug Administration (FDA) aprovado como dispositivo médico em 2004. Mas, muito diferente de dois séculos atrás, as sanguessugas usadas atualmente são cultivadas, em vez de coletadas da natureza.

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