Tocofobia: o medo extremo e paralisante de engravidar

01/09/2023 às 14:003 min de leitura

Dor é algo subjetivo e pode variar de pessoa para pessoa, mas alguns acreditam que isso não se aplica à dor do parto. Durante o processo de dar à luz, o corpo da mulher é naturalmente espremido para que o bebê nasça da melhor e mais segura forma possível. O colo do útero amolece e abre, com o órgão se contraindo para empurrar o bebê para fora, causando as temidas contrações, enquanto o canal vaginal se estica para permitir a saída da criança.

É verdade que todo mundo pode lidar com um certo nível de dor, mas realmente cada um reage de maneira diferente. Ou seja, apesar do que dizem, isso significa que o trabalho de parto será diferente. No entanto, nada impede que essa movimentação toda gere uma tensão e ansiedade imensa na mulher antes, durante e até mesmo depois da gravidez.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

A premiada atriz britânica Helen Mirren compartilhou, em 2007, durante uma entrevista a um jornalista australiano, que decidiu nunca ter filhos devido a um vídeo explícito de parto mostrado a ela no início da adolescência, quando frequentava uma escola católica. A atriz falou que o filme causou o desmaio de dois meninos de 13 anos, que tiveram que ser carregados para fora da sala de aula. Foi ali que ela percebeu que não conseguiria ter filho e esse sentimento não mudou ao longo da vida adulta, apesar de ela ainda sofrer com a decisão.

Mirren não está sozinha. Cerca de 15% a 22% das mulheres em todo o mundo sentem medo em relação ao processo de parto em algum momento da gravidez, segundo o UTSouthwestern Medical Center. Não existem estatísticas sobre uma ansiedade patológica durante a gravidez e o parto.

Estudos feitos na Austrália e na Grã-Bretanha descobriram que 6% das mulheres grávidas relataram um medo incapacitante de ter filhos, enquanto 13% das mulheres que ainda não estão grávidas adiam ou evitam completamente por medo da gravidez.

Isso se chama tocofobia, o medo de engravidar.

O medo paralisante

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

A condição foi estudada pela primeira vez em Paris, em 1858, mas só foi introduzida na literatura médica nos anos 2000, quando foi classificada no The British Journal of Psychiatry. Antes disso, porém, já existiam diversos estudos sobre esse medo patológico do parto, embora fossem descritos como um "desconforto" das gestantes e considerado natural para um evento tão "desconhecido e doloroso".

Mas a tocofobia não é só um medo, podendo fazer uma mulher evitar a ideia de ter um filho, por mais que queira. Atualmente, a condição é classificada como primária e secundária. 

A tocofobia primária é o medo mórbido do parto em uma mulher que não teve nenhuma experiência anterior com a gravidez. Os sintomas podem começar na adolescência, como foi com Helen Mirren, ou no início da vida adulta. Embora em alguns casos as relações sexuais possam ser normais, o uso em excesso de vários métodos contraceptivos para impedir a gravidez chegam a causar graves problemas hormonais. Normalmente, esse comportamento acompanha ansiedade e picos de depressão.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

A secundária, no entanto, acontece após um evento obstétrico traumático em uma gravidez. Contudo, também pode surgir após um parto normal, aborto espontâneo, casos de bebês natimortos, interrupção da gravidez, pressão para um parto vaginal sem complicações, desconhecimento na probabilidade de complicações ou excesso de conhecimento sobre experiências ruins de outras pessoas. Só é menos comum que a tocofobia seja associada a um caso de depressão pré-natal ou pós-natal.

“Todas as pessoas que eu conhecia e que estavam grávidas, mal podiam esperar para dar à luz, e eu não entendia o motivo de eu não ter esse instinto maternal”, revelou Julia Jurgs, que deu à luz sua filha, Charlie, em 2020, em entrevista à ABC News.

O fundo do poço

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Em entrevista à Women’s Health, Charlotte, mãe e moradora de Surrey, em Londres, testemunhou um tipo de tocofobia muito mais agressiva do que a americana Julia Jurgs. Seu medo do parto começou quando ainda estava na escola primária, depois que assistiu a um vídeo gráfico de uma mulher dando à luz.

“Ao longo da minha gravidez, tive muitos pensamentos intrusivos sobre aborto e comecei a temer para onde esses pensamentos me levariam. Pensei em me jogar escada abaixo várias vezes, e cheguei a acordar no meio da noite após sonhar que estava fazendo um aborto”, confessou ela à revista.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

De acordo com a psicóloga Anouska Longley, pessoas que sofrem de um quadro acentuado de tocofobia tendem a ter crises de ansiedade agudas apenas de encontrar com uma pessoa grávida ou ouvir alguém falar sobre gravidez. E isso está muito além do que se espera em termos de medo e ansiedade normais em relação ao parto.

Claire Marshall, enfermeira especialista em saúde mental perinatal, membro honorária da Universidade de Hull e responsável por uma pesquisa pioneira sobre a tocofobia –, já se deparou com casos de mulheres que engravidaram e ficaram tão estressadas que pediram a interrupção da gravidez ou até se suicidaram no processo.

Encontrando ajuda

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

As mulheres que sofrem com a tocofobia precisam ser encaminhadas à sessões de Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), que ajuda a identificar os aspectos da condição que estão alimentando a fobia. Educação em saúde, grupos de gestantes e arte terapia também são medidas que reconhecidamente reduzem a tocofobia.

Segundo José Paulo de Siqueira Guida, médico obstetra do Caism (Hospital da Mulher da Unicamp), a medicação é a segunda frente no tratamento para a condição. Acaba se fazendo necessária para casos em que a psicoterapia não está sendo suficiente. Os antidepressivos ajudam ao equilibrar as substâncias químicas cerebrais responsáveis pela regulação do humor, também impedindo a proliferação de pensamentos intrusos.

Apesar disso, ainda há muito caminho até que os profissionais de saúde consigam identificar quando as preocupações padrão sobre a gravidez se desviam de um patamar esperado para níveis problemáticos que podem colocar em risco a saúde mental da mulher.

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