Estilo de vida
28/01/2015 às 07:04•2 min de leitura
Imagine que por alguma razão você acabe ficando perdido em uma ilha— parecida com esta — repleta de coelhos, mas muito precária. Apesar de não contar com muitos recursos para poder matar a fome, você não entra em pânico imediatamente, pois sabe que conta com uma população enorme de pequenos mamíferos para devorar até que alguém o encontre. Mesmo que isso leve um bom tempo, afinal, sabe como são os coelhos...
Entretanto, não se engane, porque uma dieta baseada apenas nesses animais pode matar você de fome! Isso mesmo, caro leitor. De acordo com Kristin Lovett do site Knowledge Nuts, o consumo exclusivo da carne de coelho pode provocar uma condição conhecida como “rabbit starvation” — ou “inanição do coelho” em tradução livre —, que resulta em uma grave intoxicação por excesso de proteína.
Embora a carne de coelho não seja tão popular como a de frango, porco ou vaca — sem falar que nem todos conseguem se imaginar devorando um desses bichinhos fofos —, esses animais estão entre as fontes de comida mais populosas do mundo. Contudo, sua carne é quase completamente desprovida de gordura, e essa substância, ao contrário do que muitos pensam, é vital para a nossa sobrevivência, já que é transformada em energia pelo organismo.
Foto clicada após o resgate dos sobreviventes da expedição de Adolphus Greely
Esse estranho efeito relacionado com a carne de coelho foi primeiramente percebido por aventureiros e exploradores que viajavam ao norte do Ártico. Como o deslocamento nessa região era — e ainda é! — difícil por conta das duras condições do ambiente, os viajantes costumavam abrir mão de carregar suprimentos para caçar coelhos e lebres, que são abundantes por lá. Péssima ideia...
Um caso famoso de exploradores que se deram mal com isso de não transportar víveres foi o da expedição de Adolphus Greely ao norte da Groelândia. Em 1884, de 25 integrantes, apenas seis homens foram resgatados com vida. Os 19 que pereceram durante a viagem — que teve duração de dois anos — morreram de inanição, apesar da abundante quantidade de carne de lebres árticas que consumiram durante o tempo em que estiveram na região.
Quando alguém se alimenta exclusivamente de carne de coelho e nada mais, esse indivíduo logo começa a sofrer de sintomas como dores de cabeça, diarreia, desconforto e, curiosamente, fome — acompanhada da vontade insaciável de consumir alimentos gordurosos.
No caso dos exploradores do Ártico, sem qualquer gordura na dieta para ser convertida em energia — e calor —, seus organismos começaram a queimar a gordura que já tinham armazenadas em seus corpos rapidamente para mantê-los aquecidos. Apesar de a situação ser temporária, os exploradores provavelmente nem se deram conta de que estavam morrendo de inanição até ser tarde demais.
Além disso, existe outra explicação para a “inanição do coelho”: a metabolização de proteínas pelo fígado produz uma série de substâncias — como a ureia, a amônia e aminoácidos — que precisam ser processadas pelo organismo e eliminadas. Entretanto, o fígado apenas consegue metabolizar uma determinada quantidade de proteínas por dia, e o alto consumo de carne pode levar à intoxicação por excesso dessas substâncias na corrente sanguínea e, eventualmente, à morte.
Vale destacar que, apesar de a morte de fome provocada pelo consumo de coelho ou lebre ser a mais conhecida, esse tipo de inanição pode ser provocada pela ingestão exclusiva de qualquer tipo de carne magra e desprovida de muitos nutrientes, como é o caso da rena, animal que também faz parte da dieta dos esquimós.