Ciência
01/07/2015 às 13:37•3 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar em alguma teoria da conspiração. Algumas delas são bem famosas, tipo as que dizem que o homem nunca foi para a Lua de verdade, ou que Elvis não morreu, ou ainda que a fluoretação da água na verdade é uma forma de o governo controlar a mente das pessoas.
Uma dessas teorias, no entanto, chama bastante atenção: ela fala sobre as "Chemtrails", ou trilhas químicas, e é referente aos rastros deixados pelos aviões depois de atingirem uma certa altitude.
O nome dessa teoria é uma adaptação de "Contrail", ou trilhas de condensação, que é o termo real que explica o fenômeno do aparecimento dessas linhas em decorrência do vapor-d’água das turbinas dos aviões.
Segundo os conspiradores, essas trilhas de condensação deixadas pelos aviões seriam, na verdade, elementos químicos dispersados a mando do governo norte-americano para controlar o clima ou até mesmo a mente das pessoas. O flúor, no final das contas, não estava sozinho!
Os boatos começaram a aparecer na metade da década de 90, quando a Força Aérea dos Estados Unidos publicou uma matéria especulando sobre como, no futuro, a manipulação do clima poderia ser utilizada como uma nova arma em combates militares. Foi o suficiente para que os conspiracionistas começassem a olhar mais para o céu e ficassem intrigados com o que viam.
A base das argumentações que sustenta a teoria é de que, supostamente, as trilhas de condensação deveriam ser curtas e não deveriam durar tanto tempo. Ignorando completamente o fato de a formação e a dissipação de uma trilha de condensação estarem relacionadas à temperatura e à umidade, essa duração prolongada, segundo os conspiracionistas, só pode ser fruto de elementos químicos nocivos.
Além disso, muitos alegam que passam mal após ver as marcas deixadas no céu, com problemas que vão desde simples complicações respiratórias leves até conjuntivite. Isso basta para que diversas pessoas acreditem que os aviões estão, de fato, nos saturando com sabe-se lá o quê.
Um usuário que comentou em uma matéria a respeito do assunto no site The Vane disse o seguinte: "Tudo o que sei é que há algum tempo eu vi aviões deixando trilhas químicas sobre a região de Portland durante uma semana. Eram de seis a oito linhas paralelas que cruzavam o céu. Uma semana depois e toda a minha família estava resfriada e com conjuntivite. [...] Agora aparece um post no site para dizer que nada disso existe. Coincidência?".
Talvez possa não ser coincidência, mas como outra pessoa respondeu a esse comentário, os fatos de que a conjuntivite é altamente contagiosa e as pessoas dificilmente lavam as mãos com frequência não podem ser deixados de lado.
Esses supostos elementos químicos dissipados pelos aviões serviriam para refletir os raios solares, com o objetivo de combater o aquecimento global – o que, convenhamos, não seria tão mal assim.
Porém, outros grupos alegam que na verdade essas substâncias servem para testes de controle de clima – exatamente como o especulado pelo material da Força Aérea –, suportado pelo HAARP, o projeto militar dos Estados Unidos que visava compreender melhor a ionosfera (e que também foi vítima de uma teoria da conspiração).
Para "provar" a teoria, algumas pessoas utilizaram também uma foto que mostra o interior de um Boeing 747 repleto de barris interligados – um banquete para quem tem fome de conspiração – e que estariam cheios de substâncias tóxicas.
A empresa divulgou diversas fotos iguais depois, explicando que esse é um sistema feito para simular o peso dos passageiros em diferentes lugares dentro da aeronave (o que afeta o centro de gravidade). E o que tinha dentro dos barris? Água.
Em 2007, um jornalista chamado Jim Marrs apareceu em uma reportagem em um canal norte-americano dizendo que uma área abaixo de uma suposta trilha química continha níveis estratosféricos de bário: 6,8 partes por milhão, três vezes acima do limite recomendado no país.
Uma análise mais detalhada desse resultado, porém, mostrou que o equipamento de medição foi utilizado de forma errada e que o valor foi aumentado em 100 vezes, ou seja, os níveis na verdade estavam (bem) dentro do limite.
Além disso, diversas fotos e vídeos são usados por quem acredita na teoria, mas a explicação é sempre a mesma: as trilhas e marcas são resultado do vapor de água condensando em altas altitudes ou então de situações climáticas bem específicas, com temperaturas baixas e alta umidade.
Então não precisa se preocupar e também não adianta ficar borrifando vinagre por aí: as "chemtrails" não existem – pelo menos até onde conseguimos provar.