Ciência
01/09/2018 às 03:00•3 min de leitura
Aos 12 anos, Tatyana “Tanya” Nikolayevna Savicheva começou a fazer suas anotações antes mesmo de Anne Frank. Elas tinham praticamente a mesma idade e o motivo que as levava a escrever era o mesmo: relatar os terrores da guerra que acontecia diante de seus olhos.
Enquanto o diário de Anne Frank traz relatos dramáticos e foi publicado em todo o mundo, o diário de Tanya Savicheva se resume apenas a algumas anotações breves e diretas sobre a morte de seus parentes. Mas uma prova da importância do caderno – que foi encontrado pouco depois de sua morte – é que ele foi apresentado como documento nos julgamentos de Nuremberg.
Atualmente, o diário de Tanya Savicheva faz parte do acervo do Museu de História de São Petersburgo (como pode ser visto nos primeiros minutos do vídeo abaixo) e uma cópia dele se encontra no Memorial do Cemitério de Piskaryovskoye, onde estão enterradas milhares de pessoas que morreram durante o Cerco a Leningrado (1941 - 1944).
Originalmente, o caderno em que a pequena Tanya fazia suas anotações pertencia a Nina, uma de suas irmãs que desapareceu durante a guerra e nunca mais voltou. Com o sumiço da filha, Mariya Ignatievna Savicheva deu o caderno de Nina à Tanya.
Com uma caligrafia infantil e trêmula, que perdia cada vez mais força por causa da fome e da condição de vida que se instalava, Tanya registrou – com poucas palavras e de forma direta – o dia e o horário em que cada um de seus parentes mais próximos veio a falecer.
A maneira carinhosa com que ela se refere às pessoas e a frieza com que anota os fatos nos permite imaginar a dimensão do terror e do sofrimento pelo qual a menina passava. Em ordem cronológica, as anotações encontradas eram as seguintes:
Memorial reproduz as páginas do diário de Tanya Savicheva na Estrada da Vida, na Rússia. Fonte da imagem: Reprodução/Poezhaika
Depois de ficar sozinha no mundo, Tanya foi encontrada por brigadas especiais que fizeram buscas nas casas do entorno de Leningrado (atual São Petersburgo). A menina estava extremamente abatida. Junto com mais 140 crianças no mesmo estado, Tanya foi levada para Shakti, um vilarejo da região.
A população ajudou as crianças como podia e, em pouco tempo, muitas delas começaram a melhorar. Mas Tanya não. Os médicos trabalharam na recuperação da menina por dois anos, mas não conseguiam reverter seu quadro, que era marcado por tremores e fortes dores de cabeça. Tanya Savicheva faleceu de tuberculose no dia 1º de julho de 1944, com 14 anos.
O que a menina russa nunca soube é que nem todos os Savichevs haviam morrido. Sua irmã Nina foi retirada da linha de frente e salva. Quando ela finalmente voltou para casa, em 1945, encontrou o diário da irmã – que um dia havia sido seu – em meio a ruínas. Mikhail, outro irmão de Tanya, também havia sobrevivido depois de sofrer vários ferimentos causados pela guerra.
Tanya Savicheva acabou se tornando uma representante de todos os inocentes que morreram no Cerco a Leningrado. Em sua homenagem, existe um memorial na Estrada da Vida – que é um local onde muitos soviéticos morreram e hoje é considerado um Patrimônio da Humanidade pela ONU. Ainda, a jovem garota ganhou uma música chamada “A Balada de Tanya Savicheva”, que fala sobre o amor e a memória que ficaram registrados no diário da menina russa.
*Publicado originalmente em 24/02/2014.
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