Artes/cultura
11/05/2015 às 10:40•3 min de leitura
De acordo com as evidências genéticas, os cientistas acreditam que os cães foram uns dos primeiros animais a ser domesticados pelo homem. Isso ocorreu há cerca milhares de anos — algo entre 18,8 mil e 32,1 mil anos —, quando os cachorros se separaram de seus ancestrais, os lobos, e, gradualmente, começaram a conviver com os seres humanos, criando conosco uma relação simbiótica de dependência para sobreviver.
Contudo, os gatos só começaram a “ronronar” para o nosso lado muito mais tarde — entre 9,5 mil e 4 mil anos — e, segundo Alicia Ault do Smithsonian.com, alguns pesquisadores inclusive se perguntam se os bichanos realmente são domesticados. Isso porque, ao contrário dos cães domésticos (Canis familiaris), os gatos (Felis catus) podem viver tranquilamente sem a nossa interferência, muito obrigado!
Basicamente, a domesticação é o processo através do qual determinada espécie desenvolve — ou adquire — certas características fisiológicas, morfológicas e de comportamento devido à interação prolongada com os humanos, e esses traços vão sendo passados de uma geração a outra.
No entanto, conforme explicou Alicia, são poucas as diferenças que separam os gatos domésticos dos seus parentes mais próximos, os gatos-bravos (Felis silvestres), e existe um debate entre os cientistas a respeito se os bichanos que temos em casa não deveriam ser classificados de “semidomesticados”.
Algumas das principais evidências do convívio entre gatos e humanos são as antigas pinturas egípcias — de cerca de 4 mil anos — que retratam esses animais com seus “donos”, assim como a existência de inúmeras múmias, estátuas e objetos sagrados relacionados com esses bichos. Além disso, a descoberta de uma sepultura de cerca de 9 mil anos em Chipre contendo um humano acompanhado de um gato aponta para um provável contato.
Já com respeito às evidências mais antigas da relação entre homens e gatos como possíveis “colegas” data de cerca de 5,3 mil anos atrás. A análise de fósseis de roedores, humanos e felinos descobertos na China apontaram que os três se alimentavam de grãos — com os gatos petiscando ratos se tivessem oportunidade.
No entanto, os humanos também costumavam guardar os grãos em recipientes de cerâmica, o que indica que eles provavelmente tentavam evitar que os roedores atacassem os alimentos. Assim, os arqueólogos especulam que é provável que os antigos chineses tenham começado a encorajar os gatos a ficar por perto para caçar os ratos — e o bichanos, que são bem espertinhos, talvez tenham visto alguma vantagem nisso.
A questão, conforme apontam alguns pesquisadores, é que com base nas que acabamos de descrever, fica determinar se a relativa domesticação dos gatos é resultado da intervenção humana ou de seu próprio interesse.
Para tentar determinar quando os gatos começaram a tolerar a companhia das pessoas, pesquisadores de várias instituições mapearam o genoma de uma gata doméstica — da raça abissínio — e o compararam com o genoma dos gatos-bravos, com o de um tigre, o de uma vaca, de um cão e o de um ser humano.
A análise confirmou que, conforme os cientistas já sabiam, o genoma dos Felis catus e dos Felis silvestres é bastante parecido. Contudo, comparado com o material genético dos tigres, os gatos domésticos apresentam algumas diferenças comportamentais que os tornam mais propensos a se aproximar e interagir com seres humanos, assim como a buscar recompensas.
Curiosamente, as mesmas sequências genéticas estão começando a surgir em animais como coelhos e cavalos, assim como em outros bichos domesticados. E, segundo acreditam os cientistas, isso não se deve à evolução, mas aos efeitos da interação com os seres humanos.
No caso dos cães, por exemplo, desde a sua domesticação, os humanos foram selecionando determinadas qualidades — como proteção, capacidade de pastoreio etc. — nos animais que, depois de gerações e gerações, deram origem às cerca de 400 raças que conhecemos atualmente. Contudo, a nossa interferência foi dramaticamente menor nos gatos, o que se reflete no reduzido número de raças (entre 38 e 45).
Segundo os cientistas, a maior parte da intervenção humana no desenvolvimento de raças de gatos se limitou quase que exclusivamente a conseguir pelagens de determinada cores ou com alguns padrões específicos. O resultado disso foi que os bichanos mantiveram algumas de suas habilidades de caça, o que os torna menos dependentes de nós para conseguir comida — ao contrário dos cães que, graças à nossa intromissão, dificilmente conseguem sobreviver sozinhos na natureza.