Ciência
04/05/2018 às 04:58•2 min de leitura
Registros fotográficos da natureza geram imagens impressionantes, mas podem ser um tanto quanto difíceis de se obter. Animais selvagens não são como cães, que ficam hipnotizados olhando fixamente para um petisco, então o clique no momento exato é essencial, com a possibilidade de uma oportunidade perdida não acontecer novamente tão cedo.
Foto vencedora do prêmio, até a denúncia
Essa imagem foi uma das vencedoras do prêmio Fotógrafo do Ano de Vida Selvagem, de 2017. Ela foi registrada pelo brasileiro Marcio Cabral e realmente é impressionante. Numa noite de céu claro e estrelado, um tamanduá se alimenta em um cupinzeiro, onde vaga-lumes colocam seus ovos. Tudo parece tão perfeito e poético, não fosse por um detalhe: o tamanduá na verdade é empalhado.
Através de uma denúncia anônima, enviada ao Museu de História Natural de Londres – responsável pela premiação –, iniciou-se uma análise mais aprofundada sobre o animal na foto. A acusação foi de que no parque existe um tamanduá empalhado muito semelhante, exposto em uma área de apoio aos turistas.
Foto do animal empalhado na natureza, enviada como prova da fraude
Para a análise, foram recrutados dois especialistas em mamíferos e um especialista em taxidermia do próprio museu, assim como pesquisadores sul-americanos de tamanduás. A conclusão foi de que, realmente, o animal da foto é idêntico ao que existe empalhado no centro de visitantes. Segundo comunicado do museu à imprensa, “cinco cientistas, trabalhando independentemente, concluíram que existem elementos na postura do animal, morfologia, tufos de pelos levantados e padrões de pelagem no pescoço e na cabeça que são similares demais para que sejam dois animais distintos”.
Foto registrada no Parque Nacional das Emas
As regras da premiação são bem claras: não é permitido enganar o observador da imagem ou tentar adulterar a realidade da natureza. Diante disso, o prêmio de Cabral foi cancelado, pois a foto tinha sido inscrita na categoria “animais em seu ambiente natural”.
O fotógrafo não concordou com a análise, alegando que levou aproximadamente 3 anos para conseguir capturar a imagem. Ele chegou até mesmo a conceder declarações, explicando que esperou dias até que as chuvas passassem e o céu limpasse para que pudesse ter as condições perfeitas para o registro. Segundo ele, o tamanduá apareceu repentinamente e ficou na posição tempo suficiente para que a foto de longa exposição fosse registrada.
Marcio Cabral também concedeu uma entrevista à BBC News, tentando explicar a situação. Ele disse que no dia da foto o parque estava em funcionamento, e chamaria a atenção de todos a movimentação de um animal empalhado pelo local. Quando questionado sobre outras fotos, em que o tamanduá pudesse aparecer em diferentes posições, antes ou depois do registro oficial, ele diz que tudo foi muito rápido, e só houve tempo para o registro de longa exposição (30 segundos, segundo ele).
Essa foto chocante, denunciando a morte de rinocerontes por motivos comerciais, ganhou o prêmio após a polêmica
Mesmo com todas as alegações do fotógrafo, ele teve sua imagem retirada da premiação e foi banido de qualquer concurso futuro promovido pela instituição. Apesar de tudo, Cabral ainda planeja voltar ao parque para buscar evidências de que sua foto é real.