Ciência
23/07/2018 às 10:36•5 min de leitura
Bem, estamos a dois filmes do final da terceira fase e, vamos dizer, do encerramento do primeiro grande arco do Universo Cinematográfico Marvel (ou MCU, em inglês). Quando “Vingadores 4” chegar aos cinemas, em maio do ano que vem, teremos 22 longas-metragens e dezenas de super-heróis, de figurões como Capitão América e Homem-Aranha a personagens que saíram do anonimato para ganhar força no cinema, a exemplo de Peter Quill e Shuri. E os vilões? Bem, historicamente, esse não é o forte da Casa das Ideias nas telonas.
Nos quadrinhos, os personagens da Marvel, diferente dos da DC, por exemplo, são mais como humanos querendo ser deuses — enquanto os da rival são ao contrário. Assim, eles são muito mais falíveis e suscetíveis a erros mundanos e menos ligados aos ícones e legados — até visualmente vemos isso: a DC constrói mais símbolos, enquanto a Marvel explora melhor as cores.
Na Marvel, não é Gotham City, mas sim Nova York; não se trata de Coast City, mas sim Los Angeles; e por aí vai. Essa pegada mais “pés no chão” é o que tem dirigido seu universo nos cinemas — ainda que o cantinho cósmico tenha sido mostrado com certa generosidade. Portanto, dá para notar que esses primeiros 10 anos serviram mais para estabelecer seu tom, suas principais peças, suas propostas, seus heróis e conceitos.
Algum sacrifício teve que ser feito e, nesse caso, foram os vilões que pagaram a conta. Ainda assim, é possível sair desse período com um saldo positivo e selecionar 10 dos melhores antagonistas do MCU — ah, sim, aqui deixamos de fora as séries de TV:
A interpretação com voz e trejeitos de James Spader injetou um pouco mais de “alma” ao personagem. Porém, suas motivações um tanto quanto confusas, assim como seu destino no final do filme, tornaram sua presença menos valiosa do que deveria ser. Sua maior contribuição foi oferecer linhas de narrativa para Tony Stark, Bruce Banner, Visão e tudo o que aconteceu em “Capitão América: Guerra Civil”.
Com Hank Pym em evidência em “Homem-Formiga e a Vespa”, quem sabe um dia ainda não vejamos uma versão do “Pymtron” ou algo parecido, de forma que ele realmente possa ser uma ameaça mais complexa e menos esquecível?
Bem, para você ver como os vilões do MCU não têm o mesmo peso que os heróis, em “Capitão América: Guerra Civil” o Barão Zemo, que é um rival de primeira linha de Steve Rogers, ficou em segundo plano. A ameaça na verdade foi o grupo liderado por Tony Stark. No final das contas, isso foi uma boa escolha.
Ao dividir os fãs em “Team Stark” e “Team Cap”, a narrativa pôde explorar melhor cada integrante e rendeu uma motivação que explica muito bem a razão pela qual os heróis da Terra, tão poderosos, perderam para Thanos. Afinal, os Vingadores tiveram amargas derrotas quando sua Santa Trindade — Capitão América, Thor e Homem de Ferro — esteve "de mal", o que, acreditem, tem acontecido com muito mais frequência nos últimos 20 anos.
Porém, quando unidos, os Vingadores são imbatíveis. E se não fosse a cisão criada pelo “Stark vilão” de “Guerra Civil”, não teríamos uma conclusão tão interessante em “Vingadores 4”.
Vamos combinar que já deu termos apenas vilões que são apenas cópias genéricas dos heróis, incluindo habilidades e limitações semelhantes, certo? Isso nós vimos bem em “O Incrível Hulk", com o Abominável; e em “Homem-Formiga”, na investida do Jaqueta Amarela. Uma das qualidades de Kevin Feige, que é quem dá as cartas no MCU, é mudar de ideia, voltar atrás, evoluir ou se adaptar ao observar a reação dos fãs.
A reformulação de Ghost para o cinema ficou boa e se encaixou bem no cantinho do Homem-Formiga, trazendo uma antagonista com motivações compreensíveis ao olhar do grande público. Sua busca na trama faz com que ela não seja apenas “a pessoa terrível que tem que existir no filme para um herói brilhar”.
Ainda que o Grandmaster não tenha sido o vilão principal de “Thor: Ragnarok”, Jeff Goldblum elevou a categoria de esquisitice no MCU, no melhor sentido que isso te trouxer à mente. Ele manteve aquele ar de ameaça e, ao mesmo tempo, “no final é tudo apenas um filme”.
Ainda que seja cruel, seu comportamento exótico, desajeitado e engraçado o torna uma das figuras inesquecíveis nesses 10 anos.
Todo o drama shakespeariano que o primeiro “Thor” buscava voltou com a briga entre irmãos de “Thor: Ragnarok” — aliás, todo grande conflito mitológico precisa de uma tragédia familiar. Eis que Hela não somente trouxe uma inimiga formidável, capaz de rivalizar com os poderes do Deus do Trovão (e até de destruir o Mjolnir), como também agregou mais estofo para a Asgard dos cinemas.
A contundente interpretação de Cate Blanchett fez de Hela um ponto de entrada para entender que os deuses também matam, e seus grandes reinos e tesouros são conquistados ao custo dos corpos dos seus oponentes.
Ainda que não tenha tido assim tanto tempo de tela quanto gostaríamos e aparecido de forma muito discreta em “Vingadores: Guerra Infinita”, o Caveira Vermelha é o mais incrível inimigo criado pelo próprio homem na Marvel Comics. A ausência de humanidade e suas origens ligadas ao Nazismo tornam sua figura ainda mais ameaçadora — especialmente com a imposição de voz e obstinação de Hugo Weaving.
Tomara que ele apareça mais vezes no futuro, pois é um dos alicerces do que é considerado o Mal na Casa das Ideias.
O Adrian Toomes de Michael Keaton tem a cara dos vilões do Homem-Aranha: são movidos por tragédias pessoais, mas, sem a presença de uma figura como o Tio Ben, usam suas vantagens para cometer crimes.
O ódio pelos super-heróis tem uma razão bastante palatável para a audiência, e a atuação de Keaton é convincente o suficiente para que vejamos mais dele no futuro. Aliás, uma sequência no final do longa deixa espaço para isso.
Como dá para notar nos títulos acima, Loki está creditado aqui apenas nas aparições em que realmente fez jus à sua principal característica: ser dissimulado para conseguir o que quer. O Deus da Trapaça deixou de ser um esnobe imortal para se tornar um anti-herói carismático na pele de Tom Hiddleston.
Sua interpretação até mesmo mudou o rumo do personagem nos quadrinhos, e a presença em vários filmes só confirmam o fato de que Loki se tornou um vilão tão querido que precisou mostrar um pouco mais de seu lado “bonzinho”, para termos mais de Hiddleston nas telonas. Quem acompanha a atual fase da Marvel Comics sabe que, ainda que Loki tenha certa compaixão, continua sendo um inimigo terrível — melhor tê-lo do seu lado.
Aqui, o antagonista de T’challa não quer exatamente destruir o planeta ou a população, nem nada assim gratuitamente. Killmonger busca o que foi tirado por direito, além de respostas sobre as razões pelas quais seu próprio povo se virou contra ele.
Ao concentrar o foco nas motivações por trás das ações do antagonista na bela interpretação de Michael B. Jordan, Ryan Coogler construiu um dos mais complexos vilões do MCU. Não à toa, mesmo quando o Pantera Negra o vence, o gosto é amargo, de derrota.
As motivações e a versão inicial de Thanos — que muitos consideram um plágio de Darkseid — chegam a ser ridículas quando comparadas à sua adaptação para o MCU. Mesmo em suas aparições iniciais nas telonas, era muito mais caricato e apenas “um vilão que quer fazer vilanias”.
Ao longo do trajeto, Thanos foi ganhando em densidade, e “Vingadores: Guerra Infinita” torna o Titã Louco de Josh Brolin uma criatura com ambições destrutivas quase poéticas. Seu comportamento contemplativo, sua determinação em conquistar seu objetivo e sua incrível força física e mental o colocam no patamar de um dos mais formidáveis vilões do cinema — comparável a Darth Vader.
Pouquíssimos seres no universo Marvel conseguem usar a Manopla do Infinito e manusear duas ou mais Pedras do Infinito ao mesmo tempo. Bem, Thanos usou todas simultaneamente para dizimar metade do MCU.
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