Artes/cultura
30/07/2018 às 09:30•6 min de leitura
O lançamento de filmes de super-herói sempre está envolto em expectativas por parte dos fãs, que querem ver seus personagens preferidos retratados da forma que acham adequada. Isso leva a grandes discussões sobre quais filmes realmente são bons e quais fazem jus à história original. No entanto, mesmo sucessos de bilheteria do gênero não costumam figurar entre indicados a premiações do cinema, o que não significa que não recebam atenção por parte da crítica especializada.
Apesar das controvérsias, é inquestionável a oferta de filmes de super-herói aos quais o público tem acesso atualmente, representando uma mudança na indústria cinematográfica, que abraçou o gênero com especial entusiasmo nos últimos dez anos.
Assim, 2018 é um marco em relação a uma nova forma de compreender os filmes de super-herói, que começou a ser alterada com o lançamento de obras como o primeiro Homem de Ferro e Batman: O cavaleiro das trevas, ambos com estreia em 2008. O segundo, em especial, representa uma mudança significativa para tais filmes, trazendo uma atmosfera sombria e elementos de suspense para a história, alcançando grande sucesso de público e de crítica.
Durante esses dez anos, as avaliações positivas não ficaram restritas aos filmes mencionados acima. O cenário também foi alterado, com espaço para maior diversidade dos heróis. Relembre quais são nove filmes de super-herói aclamados pela crítica desde 2008.
Quando o primeiro filme foi lançado, Homem de Ferro não era exatamente um dos super-heróis mais conhecidos da Marvel. Na realidade, uma das funções da obra foi justamente apresentá-lo ao grande público, ao mesmo tempo em que marca a estreia do Universo Cinematográfico Marvel (MCU).
O filme faturou aproximadamente US$ 585 milhões (mais de R$ 2 bi) e tem a marca de 94% de aprovação no Rotten Tomatoes. A boa avaliação dos críticos se deve não apenas à qualidade dos efeitos especiais, mas também às características do personagem principal. Isso fica evidente na resenha da revista Wired, publicada na época que o filme estreou nos cinemas: “Homem de Ferro tem muitas coisas acontecendo no meio dos efeitos especiais. O principal de tudo é que mostra senso de humor”.
Homem de Ferro chegaria a ser indicado para o Oscar nas categorias de Edição de Som e Efeitos Visuais.
É provável que o maior motivo do sucesso de Batman: O cavaleiro das trevas seja as escolhas sobre como contar a história, que pode até mesmo ser considerada um suspense policial no qual está presente um super-herói, diante de suas diferenças em relação a outros filmes do gênero.
Lançado em julho de 2008, poucos meses após a estreia de Homem de Ferro, o filme foi dirigido por Cristopher Nolan e tem como elemento fundamental a atuação de Heath Ledger como o vilão Coringa. O ator recebeu, postumamente, diversos prêmios pelo papel, dentre eles o Oscar e Globo de Ouro. Já Batman: O cavaleiro das trevas recebeu oito indicações ao Oscar, tendo ganhado o de Edição de Som.
Com 94% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes e arrecadação de US$ 1 bi (o equivalente a quase R$ 3,7 bi), mais um elemento que diferencia Batman: O cavaleiro das trevas de outros filmes de super-herói é que propõe um encerramento em si mesmo. Ao contrário de outras franquias, como as da Marvel, o que aconteceu naquele filme não reverberou em outras histórias.
Um dos filmes em que o Homem-Aranha é interpretado por Tobey Maguire foi indicado a três categorias do Oscar, saindo vencedor em Efeitos Visuais. A principal inovação da obra é utilizar a cidade como cenário para a história, com várias cenas de lutas entre o herói e o vilão, Dr. Octopus.
O antagonista é, inclusive, um dos pontos elogiados pela crítica. A avaliação do jornal New York Times, feita à época do lançamento, argumenta que o filme é melhor que o anterior e superior à maioria dos outros filmes baseados em histórias em quadrinhos. “Tem um vilão mais credível (e mais assustador) e uma história mais original e abrangente”.
Homem-Aranha 2 faturou US$ 783,8 mi (aproximadamente R$ 3 bi) e tem 93% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes.
Após alguns anos sem filmes de super-herói muito impactantes, a Marvel lança Os Vingadores em 2012. Pela primeira vez, são reunidos diversos personagens que possuem suas próprias histórias – e franquias – em um só filme. É o início da era dos universos, na qual os acontecimentos e os personagens não estão mais presos somente às próprias histórias, mas também vinculados a um contexto mais amplo.
Outros estúdios tentaram aplicar a fórmula de Os Vingadores, como a Warner Bros. e seu Liga da Justiça, lançado no ano passado. No entanto, parece que quem tem se dado bem mesmo com a proposta de colocar vários super-heróis em um mesmo filme é a Marvel, que também fez isso em outras obras, como Capitão América: Guerra Civil, a ser comentada abaixo.
Os Vingadores chegou a ser indicado ao Oscar de Efeitos Visuais e tem 92% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes. A crítica da revista New Yorker diz que o filme parece Natal para os fãs. “Todos os seus personagens favoritos estão ali, tão brilhantes e sedutores como presentes debaixo da árvore”. A fórmula de Vingadores funcionou, tanto que já existem três filmes da franquia.
O filme arrecadou aproximadamente US$ 2 bi em bilheteria (o equivalente a R$ 7,47 bi).
Com uma trilha sonora sensacional e personagens muito carismáticos (ainda que não exatamente alinhados ao modelo tradicional de herói), Guardiões da Galáxia é um filme com características diferentes de outras histórias de super-herói. Ao brincar com as próprias expectativas da audiência, a obra é divertida e acaba por estabelecer transitar quase no terreno da sátira.
Trazendo alguns elementos clássicos em ficções, como terráqueos defendendo a terra de extraterrestres, a obra tem o senso de humor como um de seus pontos fortes. Os personagens alienígenas também são importantes para a história, seja desempenhando papeis relevantes para que as coisas aconteçam, trazendo alívio cômico ou fazendo com que o espectador se conecte com eles.
A irreverência do filme é um de seus pontos fortes, como identificado pela crítica do jornal Los Angeles Times. “Abençoado com uma alma solta e anárquica de filme B, que encoraja você a aproveitar até mesmo quando você não está tão certo do que está acontecendo, o desajeitado Guardiões é irreverente de uma forma que pode lembrar o primeiro Star Wars”.
Guardiões da Galáxia tem 91% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes e arrecadou US$ 773,3 mi (quase R$ 2,9 bi).
O filme tem seu ponto forte ao colocar dois super-heróis importantes duelando, Capitão América e Homem de Ferro. Com a presença de outros personagens de peso, como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro, é quase um filme dos Vingadores. Os acontecimentos do filme, inclusive, são referenciados em Vingadores: Guerra Infinita.
O nível de drama e dos conflitos que se desenvolvem em Capitão América: Guerra Civil também o diferenciam de outros filmes de super-herói. A ação ainda está lá, mas há outros elementos, permitindo que os personagens sejam explorados de formas novas. Isso é uma mudança até mesmo em relação a outros filmes estrelados pelo Capitão América.
Com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, Capitão América: Guerra Civil foi avaliado pela revista Variety como uma extravagância de herói versus herói, sendo “o mais maduro e substancial filme que o Universo Cinematográfico Marvel lançou até agora”. A obra arrecadou US$ 1,15 bi (aproximadamente R$ 4,3 bi).
Logan talvez seja o filme de super-herói mais bem-sucedido em se aproximar da atmosfera apresentada em Batman: O cavaleiro das trevas. A obra recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de Roteiro Adaptado, algo inédito até então para filmes de super-herói.
Marcando a despedida do ator Hugh Jackman do papel de Wolverine, Logan representa o fim do arco do personagem, ainda que ela possa continuar em outros filmes da franquia X-Men. A obra arrecadou US$ 619 mi (aproximadamente R$ 2,3 bi) e tem uma aprovação de 93% no Rotten Tomatoes.
Os personagens secundários desempenham função importante em Logan. É o caso de Laura (Dafne Keen) e Professor Xavier (Patrick Stewart). De acordo com a crítica da revista The Atlantic, as atuações de Jackman e de Stewart são o motivo pelo qual o filme funciona, porque não parece apenas um exercício barato de violência e porque a subversão que faz dos filmes de super-herói típicos parece orgânica.
O primeiro filme de super-herói estrelado por uma mulher tem uma relevância por si só, já que entra diretamente na disputa em um cenário tradicionalmente masculino e pouco diverso.
Mulher-Maravilha não parece ser um filme feito para dialogar com outras obras da DC, já que não evoca tantas referências ao universo no qual está inserido. Isso representa uma diferença significativa em relação a boa parte dos filmes de super-herói lançados atualmente. Talvez represente, também, outra estratégia por parte da Warner Bros., que não tem alcançado tanto sucesso em filmes estrelados em conjunto por personagens que possuem sua própria franquia.
A obra tem 92% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes e arrecadou US$ 821,9 mi (aproximadamente R$ 3 bi). Além das cenas de ação, outro elemento de sucesso de Mulher-Maravilha são as problemáticas abordadas pelo filme. A crítica do jornal New York Observer diz que “Mulher-Maravilha abrange questões de poder feminino e a necessidade de transformar ódio em amor, guerra em paz”.
Mais um filme que traz ao público um super-herói diverso, Pantera Negra tem um elenco prioritariamente negro. Com atuações consistentes e personagens complexos, a obra apresenta à audiência o mundo de Wakanda, altamente tecnológico e desenvolvido – com grande importância das mulheres para sua prosperidade.
Pantera Negra é o filme da Marvel mais bem avaliado no Rotten Tomatoes, com 97% de avaliações positivas. O sucesso se explica não apenas pela história em si, mas também pelo movimento gerado ao redor do filme, que traz ao gênero de super-heróis pessoas que normalmente não se veem representadas nestes produtos.
A obra superou a marca de US$ 1,3 bi de arrecadação (o que equivale a quase R$ 5 bi), indicando o apelo, tanto comercial e cultural, de filmes que diversifiquem os personagens representados. A crítica da revista The Atlantic afirma que é possível questionar se Pantera Negra é o melhor filme dos Estúdios Marvel, mas “é, de longe, o que mais provoca reflexões”. Evidência disso foram as discussões que o filme suscitou em diferentes locais, evidenciando o papel que blockbusters também podem desempenhar ao jogar luz sobre certos problemas.
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