Descubra o segredo existente em músicas tocadas ao contrário

Naturalmente procuramos padrões em tudo, o tempo todo. Tudo fica melhor quando existe uma teoria da conspiração tentando nos mostrar “verdades escondidas”, tornando o assunto ainda mais interessante.

O mito de que músicas tocadas ao contrário revelariam mensagens subliminares já foi explorado de todas as formas, desde programas de televisão até o YouTube, mas isso não passa de uma bela peça pregada pelo nosso cérebro.

No Brasil e no mundo

O boato de que Paul McCartney morreu em 1969 gerou muita repercussão e teorias sobre como os outros integrantes do grupo tentavam esconder o fato do mundo, ao mesmo tempo que “homenageavam” o colega morto. Analistas diziam que mensagens na capa de discos eram claríssimas, além das faixas que, quando tocadas ao contrário, deixavam o acontecimento explícito.

No vídeo acima, retirado de uma música dos Beatles tocada ao contrário, é possível ouvir alguém falando “Paul está morto, saudades dele” repetidamente. Após o início desses boatos, músicas de outras bandas começaram a ser analisadas, revelando outras “mensagens”.

Essa não é uma exclusividade internacional. Diversas músicas da Xuxa já foram analisadas e, segundo quem acredita, ficou mais que provado o pacto que ela teria com o diabo. Aproveitando essa tendência, Humberto Gessinger colocou intencionalmente uma mensagem na música “Ilusão de ótica” dos Engenheiros do Hawaii. Quem procurava mensagens satânicas acabou se deparando apenas com letras mais diretas e uma continuação da própria música, que você pode ouvir abaixo.

O próprio nome da música já deixa clara a intenção, mas a identificação de sons, que inicialmente não fazem sentido algum, tem explicação científica.

Cérebro espertinho

Conseguimos ouvir “mensagens” quando músicas são tocadas ao contrário pois nosso cérebro sempre procura reconhecer padrões no que ouvimos. Um estudo, realizado em 2006, demonstrou que nós não escutamos a fala como um simples som, mas sim como um conjunto de informações que precisam ser processadas.

Por isso, ao ouvir qualquer coisa semelhante a uma pessoa falando, naturalmente categorizamos o som como algo especial e então, através do contexto e de conhecimentos previamente adquiridos, deciframos a mensagem.

Uma música tocada ao contrário deveria ser reconhecida apenas como sons sem sentido, mas ao esperar ouvir uma mensagem fazemos com que nosso cérebro se esforce e consiga identificar alguma coisa. Outra pesquisa, realizada em 1981, analisou especificamente a questão de sabermos que existe uma mensagem ou não em determinado som.

Nela, a gravação de uma pessoa lendo frases aleatórias foi alterada artificialmente, eliminando qualquer evidência de que aquele som um dia foi uma mensagem, deixando apenas algumas frequências originais. Metade dos participantes precisou ouvir o áudio e identificar o que era aquilo, sem informações prévias do que seria. Neste grupo, a maioria disse que eram sons de filmes de ficção científica ou animais chorando.

Os mesmo registros foram reproduzidos para outro grupo, mas agora com a informação de que ouviriam uma frase produzida por computador. Com isso, dois terços dos participantes conseguiu identificar pelo menos algumas palavras corretamente, enquanto um terço transcreveu todas as palavras corretamente.

Isso mostra como nosso cérebro é capaz de analisar informações de uma forma extremamente eficiente, função que se desenvolveu ao longo de anos de evolução. Em momentos de tensão, dificilmente é possível falar pausadamente e de forma clara, tornando o reconhecimento de sentenças algo vital para a sobrevivência humana. A tecnologia pode ter facilitado muito a comunicação, mas dificilmente mensagens de textos substituirão uma boa e velha conversa. 

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