Ciência
21/08/2021 às 04:00•2 min de leitura
Foi em 1850 que o Governo Imperial do Brasil enviou o tenente-coronel Sebastião do Rego Barros para Hamburgo, na Alemanha, a fim de contratar um exército de até 26 mil mercenários e lhes conceder equipamento de fogo para lutar contra os argentinos que ameaçavam a integridade e soberania da região sul do país.
No entanto, a maioria dos estados alemães se opôs ao recrutamento brasileiro, apesar dos 4 anos que o Império oferecia de benefícios para quem se alistasse, como transporte oferecido pelo governo do Brasil, translado e refeições. Ao final do contrato, cada legionário ainda receberia um lote de terras e um prêmio em dinheiro. Foram oferecidas vantagens ainda mais irresistíveis para os oficiais graduados.
Ainda que houvesse rejeição dos alemães, Sebastião havia recebido autorização para agir da maneira que fosse necessária para trazer esses homens, nem que precisasse usar agências de recrutamento clandestinas.
(Fonte: Rodrigo Trespach/Reprodução)
Os mercenários que assinaram o contrato do tenente-coronel foram voluntários recrutados para a guerra alemã contra a Dinamarca e aqueles que haviam participado como atiradores na Revolução de 1848 contra os ideais medievais de Frederico Guilherme IV. Eles eram os "rejeitos" deixados pela desmobilização do Exército da Alemanha quando os conflitos terminaram, abandonados à própria sorte e apenas com um forte treinamento militar.
Eles foram chamados de brummer, que significa algo como "resmungador" em alemão, devido à maneira como reclamavam das condições de vida. Os 1,8 mil soldados chegaram ao Rio de Janeiro na manhã de 21 de junho de 1851, rapidamente encaminhados para a frente de batalha no Sul do Brasil.
Visto existir muita briga entre a tropa, principalmente pela parte dos novatos, os brummers trouxeram muitos problemas para os oficiais brasileiros, contribuindo para a perda de confiança deles e fazendo poucos serem enviados para o combate. E, assim que a guerra acabou, a tropa foi desmobilizada.
(Fonte: Fatos da História/Reprodução)
Somente 450 permaneceram no Brasil até o fim do contrato, os demais desertaram ou faleceram. A maioria deles viajou para o Rio Grande do Sul, atraídos pelos polos alemães e as novas colônias, onde compraram seus lotes de terras.
Por terem um nível educacional superior ao dos colonos alemães da época, eles exerceram muita influência pelos locais onde passaram, trabalhando como diretores de colônias, agrimensores, professores ou agricultores. Em seu rastro, foram estabelecidas sociedades, bibliotecas e clubes, tanto de leitura quanto esportivos — que tiveram um grande impacto na construção e história da sociedade.
(Fonte: Tormento Pabulum/Reprodução)
Em meio às heranças dos brummers, está a Sociedade Ginástica Novo Hamburgo (SGNH), fundada em 11 de julho de 1894 para promover as práticas de exercícios de ginástica em aparelhos e dança. Esses mercenários, que optaram por reconstruir a vida longe de casa, puderam se tornar jornalistas, advogados e até deputados, como aconteceu com Carlos Von Koseritz, que se destacou na defesa dos direitos políticos dos imigrantes.