Monges Marinhos: a mitologia das criaturas religiosas do século XVI

13/12/2021 às 02:003 min de leitura

Em meio a mitologia das sereias, existem os monges marinhos, uma teoria que surgiu em meados do século XVI. A ideia apareceu em um momento em que o embate entre o protestantismo contra o catolicismo estava começando a se tornar uma briga ferrenha, com o sacroimperador romano indo à guerra para tentar forçar as áreas protestantes da Europa voltar ao "redil".

Foi nesse contexto religioso caótico que, em 1553, o naturalista francês Pierre Belon descreveu, pela 1ª vez, uma criatura que teria aparecido em uma praia em algum lugar nos arredores de Copenhague, capital da Dinamarca.

Os conflitos começaram já nos registros feitos por Belon, em que ele alega em notas de rodapé que não viu a criatura, apenas ouviu falar sobre ela. Por isso, existe a possibilidade de que, na verdade, ela tenha sido vista nas águas de Oresund, o estreito que separa a Suécia da Dinamarca, sendo realmente encontrada só anos antes, entre 1545 e 1550.

A origem caótica

(Fonte: Ranker/Reprodução)(Fonte: Ranker/Reprodução)

O primeiro esboço de Belon descreveu a criatura como um monge do mar completo, igual a qualquer outro encontrado em mosteiros, porém com um detalhe perturbador: nadadeiras e escamas.

Guillaume Rondelet, outro naturalista francês, acrescentou, no ano seguinte, a publicação de Belon, que o monge tinha 2,5 metros de altura, 1 nadadeira caudal grande e outras 2 no meio do corpo.

Essas descrições foram o suficiente para causar um frenesi na sociedade quando as obras de ambos os estudiosos foram traduzidas, copiadas e distribuídas pelo continente. Quem era esse monge do mar? Que tipo de ser ele era?

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Em seu texto, Rondelet deixava claro o quão bizarro soava toda aquela história, mas afirmava que sua fonte estava além de qualquer reprovação. Isso porque ele teria obtido as informações de Marguerite de Navarra, a esposa do rei de Navarra e irmã do rei francês Francisco I, que, por sua vez, havia recebido informação do Rei Cristiano III da Dinamarca, após um mensageiro dele ter visto a criatura em questão.

Entretanto, nenhum dos escritores acima foram os primeiros a falar sobre o monge marinho. Albertus Magnus — conhecido como "Albert, o Grande" — viveu na Idade Média e nasceu por volta de 1200; ele foi muitas coisas, mas principalmente zoólogo. Foi na obra De Animalibus que ele descreveu uma criatura exatamente igual ao monge marinho, acrescentando que o peixe de pele branca parecia um pouco mais humano do que animal, atraindo viajantes para poder devorá-los nas profundezas do mar.

A trama

(Fonte: Tumgir/Reprodução)(Fonte: Tumgir/Reprodução)

Em 2005, os pesquisadores da Freswater Biological Association, da Universidade de St. Andrews, tentaram descobrir em qual animal aquático o monge do mar poderia ter sido inspirado.

O zoólogo Japetus Steenstrup, em 1855, alegou ter certeza de que o monge do mar era algum tipo de lula gigante que deu nome à espécie Architeuthis manachus, dizendo que o manto do monge lembrava a cabeça do animal, a coloração que parecia escamosa e os tentáculos poderiam ter sido confundidos com braços e pernas — além da possibilidade distinta de que uma lula poderia ter vivido alguns dias fora da água. No entanto, nem todos os pesquisadores ao longo dos séculos se convenceram disso, visto que é certo que as lulas gigantes não vivem na região onde o monge foi visto.

As outras teorias apresentadas foram a de um tubarão-anjo, um tamboril, uma morsa e vários tipos diferentes de foca. Mas, no final das contas, os pesquisadores não conseguiram chegar à conclusão de onde o monge do mar pode ter surgido, permanecendo um enigma até hoje.

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Por outro lado, o cinismo religioso pode ter sido a grande chave para a mitologia dos monges marinhos, visto que sua origem aconteceu bem durante um período religioso conflituoso que foi proveitoso, principalmente, para o rei Cristiano III. Em 1536, ele confiscou todas as terras que não pertenciam à igreja e se colocou no comando da nova igreja luterana do país, respondendo a todos de que lado estava definitivamente.

Porém, ao fazer isso, o rei enfrentou um problema sério: acabou precisando que outras nações vissem sua nova Dinamarca como uma nação, um governo e uma aristocracia legítimos e contínuos. Os estudiosos da Biblioteca Edward Worth acreditam que Cristiano III enviou uma descrição desse monge marinho para a França com o intuito de elevar o perfil da Dinamarca. 

Sem coincidência nenhuma, na época em que os relatos sobre a criatura se espalharam pela sociedade, a Dinamarca já havia firmado uma forte aliança com os franceses. Diante desse cenário, alguns historiadores sugerem também que os monges marinhos eram animais híbridos do clero, como o asno papal, usados para apontar a corrupção e os problemas da igreja católica como propaganda para encorajar a reforma e a conversão ao protestantismo. 

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