Ciência
22/02/2022 às 12:05•2 min de leitura
Londres sempre foi vítima das inundações, e os sistemas de esgotos construídos durante a Era Vitoriana — e que prevalecem até hoje — são a prova disso. No entanto, naquela época, a luta era com o descarte e acúmulo de dejetos e lixo que não acompanhavam a metropolização da cidade no ápice da Revolução Industrial.
A modernização não melhorou muito o cenário de Londres, pelo contrário, o colapso climático e o avanço indiscriminado da urbanização contribuíram para o risco de inundações. Afinal de contas, conforme a cidade enfrenta condições climáticas mais extremas, e o desenvolvimento de mais terrenos com estradas e edifícios, a água precisa ir para algum lugar, seja como for.
Mas a quantidade de rios e os sistemas de drenagem — para onde os vitorianos faziam os cursos d’água fluírem — também possuem sua parcela substancial de responsabilidade pelas enchentes. Ainda que a estratégia daquela época tenha funcionado para conter os odores ruins e disponibilizar mais terrenos para construção, o atual adensamento de áreas aliado às mudanças climáticas fez com que a infraestrutura da cidade não suporte grandes quantidades de água.
O resultado disso é que todo o ano, Londres têm entre 1% e 3,3% de chances de inundar. No entanto, graças a alguns mecanismos, nada se comparará com o que aconteceu naquele fatídico dia de 1928.
(Fonte: AccuWeather/Reprodução)
Tudo começou com uma nevasca no Natal de 1927, considerada a mais severa que Londres experimentou em meio século. A cidade ficou coberta com quase 26 centímetros de puro gelo, que permaneceu até o Ano Novo na maioria das regiões.
Os ventos do sul causaram um degelo que aconteceu até que rápido para os parâmetros da metrópole, acompanhado de fortes chuvas. Tudo isso foi derramado no famoso Rio Tâmisa, cujo nível d'água subiu tanto durante a noite de 6 de janeiro de 1928, causando o desabamento da parede do aterro da Ponte Lambeth, em frente ao Museu Tate Britain, nas primeiras horas de 7 de janeiro.
(Fonte: The Guardian/Reprodução)
Não teve como os cidadãos lutarem contra a força e impetuosidade das águas, que encheram ruas e invadiram as casas sem avisar. As pessoas só pensavam em recolher o que sobrara de seus pertences e fugir para terrenos mais altos para observar a água enquanto ela destruía tudo.
À 1h30, os níveis de água em Londres já haviam alcançado 5 metros de altura, o limite das defesas contras inundações.
(Fonte: London Remembers/Reprodução)
Em poucas horas, 4 mil pessoas ficaram totalmente desabrigadas devido ao dilúvio, enquanto 14 morreram em consequência direta das águas. Como esperado, aqueles que viviam em bairros mais pobres foram os mais afetados, visto que as ruas estreitas só propiciaram a inundação.
Conforme aponta uma matéria da época do Sydney Morning Herald, um homem chamado Alfred Harding, que não conseguiu salvar quatro de suas filhas que dormiam em um porão, disse que a água era tão profunda que, embora ele fosse um homem forte, teve que desistir.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Quando o nível da água começou a diminuir, os desabrigados foram impedidos de voltarem para o que sobrara de suas casas porque as águas da enchente estavam contaminadas com alcatrão creosoto.
Aqueles que o fizeram mesmo assim, foram obrigados a lidarem com o olhar de pena das pessoas que passavam pelo subúrbio só para conferirem de perto a tragédia da qual não paravam de noticiar.
Infelizmente, foi necessário a inundação do Mar do Norte de 1953, que causou a morte de mais de 2 mil pessoas, em sua maioria na Holanda, para que o governo londrino investisse na Barreira do Tâmisa, visando evitar desastres daquela magnitude na cidade.