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03/04/2023 às 06:36•2 min de leitura
O filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, que estreou recentemente, é mais uma adaptação do jogo Dungeons & Dragons, o famoso RPG criado em 1974 pelos americanos Gary Gygax e Dave Arneson. Em quase 50 anos de existência, o jogo segue encantando crianças e adultos, mas muita gente não sabe o que aconteceu logo que foi lançado.
O fato é que muitos pais nos anos 1980 ficaram apavorados quando os filhos trouxeram este jogo para casa. Isto porque ele foi associado à violência e ao suicídio de adolescentes por estar supostamente associado a forças demoníacas. É esta história cabulosa que contamos aqui.
Peças do jogo Dungeons & Dragons. (Fonte: Britannica)
Dungeons & Dragons é um RPG (abreviação de role playing game, um tipo de jogo que envolve a interpretação de papéis) que foi lançado pela primeira vez pela empresa Tactical Studies Rules, em 1974.
O jogo, que envolve personagens fantásticos em uma era medieval, logo encantou os adolescentes dos anos 1970 que queriam adentrar num mundo de magia e mistério e escapar de suas realidades. Mas ocorre que muitas vezes isso vinha associado à depressão e a outros sentimentos de isolamento e solidão.
Não demorou muito para que o jogo D&D passasse a ser alvo de pânico social. O evento catalisador foi o desaparecimento de um adolescente chamado James Dallas Egbert III, em 1979. James estudava para ser programador de computador e era uma espécie de prodígio: entrou na faculdade quando tinha apenas 16 anos.
Em 15 de agosto de 1979, ele desapareceu nos túneis de vapor da faculdade onde estudava, em Michigan, deixando para trás um bilhete suicida. Sua família contratou um detetive para procurá-lo, chamado William Dear.
O sujeito descobriu, durante sua investigação, que James Egbert tinha o hábito de jogar Dungeons & Dragons. Isso foi suficiente para que seu sumiço fosse atribuído ao fato de que ele jogava este RPG, que teria o deixado louco e feito que ele perdesse a noção da realidade.
Quando o assunto chegou na mídia, o jogo passou a ser retratado como um corruptor da juventude. Desconsiderava-se então que Egbert tinha vários problemas anteriores com depressão e drogas, e acabou conseguindo concretizar o seu plano suicida no ano seguinte.
(Fonte: Flickr)
De toda forma, o detetive William Dear resolveu rentabilizar essa narrativa e lançou em 1984 um livro chamado The Dungeon Master: The Disappearance of James Dallas Egbert II. Mas ele não foi o único a demonizar os RPGs: em 1981, a escritora Rona Jaffe havia lançado um romance chamado Mazes and Monsters em que difundida o pânico em torno dos jogos de RPG.
A obra contava a história de um jovem que participa de grupos desses jogos e começa a alucinar de que a fantasia é real, e acaba assustando seus amigos e tentando o suicídio. O romance ajudou a difundir o medo sobre estes jogos que surgiam e se tornavam cada vez mais populares entre adolescentes. Inclusive, em 1982, a CBS produziu um filme chamado Mazes and Monsters, estrelado por ninguém menos que Tom Hanks, que ainda era um jovem desconhecido.
Em 1984, mais um ataque. Um autor de quadrinhos religiosos chamado Jack Chick lançou um gibi chamado Dark Dungeons, que mostrava uma jovem seduzida por um feiticeiro mestre de RPG que tenta o levar para o lado do mal. Muitos programas de TV começaram a explorar essa suposta associação de D&D com demonismo, reunindo pais que achavam que seus filhos haviam se matado por causa do jogo.
Quando a empresa fabricante lançou a segunda edição de Advanced Dungeons & Dragons, em 1989, ela tirou todas as menções a demônios ou qualquer coisa que pudesse ser acusada de estímulo ao ocultismo. Já nos anos 1990, os RPGs em geral foram saindo do alvo da mídia quando os videogames começaram a ocupar esse papel no imaginário coletivo.