Para domar El Niño, incas e chimús faziam sacrifícios humanos

10/07/2023 às 02:002 min de leitura

Você deve ter ouvido falar do fenômeno El Niño recentemente. Trata-se de um fenômeno meteorológico que resulta no aquecimento anormal das águas do Pacífico. Suas causas ainda são desconhecidas dos cientistas. Contudo, sabemos que o El Niño atrapalha a vida da humanidade há milênios.

Uma das pistas da convivência dos humanos com esse fenômeno climático é trágica e mostra como o povo chimú, no que hoje conhecemos como Peru, tentou desesperadamente acabar com as chuvas fortes que atingiam o seu vilarejo.

Sem entender o que estava acontecendo e acreditando que as chuvas ocorriam por causa da ira dos deuses, os sacerdotes chimús decidiram oferecer crianças em sacrifício.

Sacrifícios de crianças no Peru

Ossada de criança chimú encontrada no Peru. Reprodução: AFPOssada de criança chimú encontrada no Peru. Reprodução: AFP

Em 2019, arqueólogos encontraram 227 corpos na cidade costeira de Huanchaco, distante cerca de 600 km da capital do país, Lima. A análise do solo no qual estavam enterradas as crianças mostrou características de lama.

Isso indica que chovia forte quando os jovens foram sacrificados. É a partir dessa informação que a hipótese de o clima ser a motivação dos assassinatos ganha força.

Desde a descoberta dessa ossada, o sacrifício das crianças chimús se tornou o maior sacrifício infantil já conhecido. Anos antes, outros 200 corpos de crianças foram encontrados em outras regiões do território peruano.

Ainda segundo análises dos antropólogos, as mortes devem ter ocorrido há mais de 500 anos.

O povo chimú teve o seu apogeu entre os anos de 1200 e 1400. Depois disso, eles teriam sido dominados pelos incas, que, depois, foram dominados pelos espanhóis.

Esses sacrifícios teriam sido feitos em culto do deus Shi, que era associado à Lua. Ao contrário dos incas que adoravam ao Sol, os chimús   acreditavam que a Lua representava uma divindade mais poderosa.

Em 2022, mais corpos foram encontrados

No ano passado, pesquisadores encontraram mais 76 tumbas na cidade de Huanchaco. Novamente, eram corpos de crianças mortas em sacrifícios religiosos do antigo povo chimú.

"Ficamos surpresos que, à medida que íamos escavando de 10 a 20 centímetros, mais e mais restos iam saindo. Nos demos conta de que eram crianças. Os sacrifícios podem ser por eventos de falta de chuva, secas, [problemas] políticos, ou guerras. Há várias hipóteses que estamos investigando", disse o arqueólogo Luis Flores à AFP.

Ao todo, os pesquisadores já encontraram mais de 300 corpos de crianças com idades entre 5 e 14 anos, todas pertencentes ao antigo povo chimú.

Incas também faziam sacrifícios humanos

Analisando as montanhas do Peru e da Argentina, arqueólogos já encontraram restos mortais de pessoas que foram provavelmente oferecidas como sacrifício. Ao contrário dos chimús, que queriam acabar com as chuvas, os incas costumavam recorrer aos sacrifícios para se protegerem dos vulcões.

Após a dominação espanhola, os sacrifícios aos antigos deuses andinos acabaram, o que não significou o fim da violência em nome de uma fé, uma vez que séculos depois, pessoas foram assassinadas em nome da Inquisição.

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