Imagem de Zoom dysmorphia: como videochamadas criaram um distúrbio de imagem no megacurioso

Com o excesso de reuniões online, você passou a se questionar sobre a saúde de sua aparência?

<head></head><body>O <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/116547-hikikomori-o-fenomeno-japones-que-ja-afeta-pessoas-no-mundo-todo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">isolamento social</a> instaurado em 2020 como medida de segurança para controlar a propagação do coronavírus, que se tornou um caso de pandemia, desconstruiu vários aspectos da vida de um cidadão, inclusive as dinâmicas de trabalho.O home office se tornou a única maneira que empresas encontraram para continuar operando, portanto, o tempo de tela, um antigo vilão da sociedade contemporânea, como reflexo do tempo gasto online, aumentou exponencialmente. Um estudo da Lenstore indicou que 75% da população, entre 16 e 24 anos, estão passando mais tempo em seus telefones, enquanto 45% aumentaram a quantidade de tempo nos computadores.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01081833491022.jpg" alt="(Fonte: Henry Ford Health/Reprodução)">(Fonte: Henry Ford Health/Reprodução)De acordo com Bhavin Shah, optometrista comportamental, olhar para essas telas pode ter um impacto na visão embaçada transitória, aumento da necessidade de usar óculos, no desconforto dos olhos e no desempenho no próprio trabalho.Para além dos efeitos físicos e associação ao aumento do estresse, níveis baixos de motivação e muito sentimento de solidão –, o tempo excessivo de tela desencadeou um novo fenômeno chamado Zoom dysmorphia.<h2>"Piores do que o normal"</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01082013156023.jpg" alt="(Fonte: PureWow/Reprodução)">(Fonte: PureWow/Reprodução)Essa "dismorfia do Zoom" foi apelidada pela médica dermatologista e professora da Harvard Medical School, Dr. Shadi Kouroush, para categorizar os efeitos causados por passarmos tempo demais nos vendo por vídeo durante videochamadas, o que pode ter resultado em um colapso de como percebemos nossa própria imagem.Quando as clínicas reabriram em 2021, Kouroush notou um aumento nos pedidos de consultas relacionadas a problemas com a aparência, sendo que muitas pessoas se queixavam de que estavam visualmente "piores do que o normal".A maioria dos pacientes questionados sobre o motivo de estarem procurando um tratamento dermatológico responderam que se ver muito por câmera durante o trabalho os fez perceber como sua aparência não parecia adequada o suficiente.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01082130619028.jpg" alt="(Fonte: Oxygenetix/Reprodução)">(Fonte: Oxygenetix/Reprodução)O resultado direto do excesso de tempo diante das câmeras, em reuniões de equipe todos os dias, distorceu a autoimagem das pessoas, que passaram a se preocupar com a flacidez da pele ao redor do pescoço e bochechas; com o tamanho e a forma do nariz; ou com a palidez de sua pele. Portanto, a busca incansável por intervenções estéticas, desde aplicação de Botox até cirurgias plásticas, se tornou a única alternativa possível.Essa resposta coincidiu com os avisos feitos por vários especialistas, como a Dra. Katharine Philips, psiquiatra do Hospital Presbiteriano de Nova York, que alertou sobre a possibilidade de aumento da dismorfia corporal naqueles que já eram afetados e naqueles em risco, sobretudo porque as redes sociais, começando pelo Snapchat, já havia catapultado essa dismorfia com seus filtros que alteram drasticamente vários aspectos da imagem de uma pessoa – o que piorou com a criação do Instagram Stories. Ela apontou que uma simples foto nas redes pode ser um gatilho imenso para essas pessoas, e que ser obrigada a se olhar por várias horas e se perceber, é ainda pior.<h2>O falso reflexo</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01082245168031.jpg" alt="(Fonte: The Kit/Reprodução)">(Fonte: The Kit/Reprodução)“As pessoas não estão olhando para um reflexo verdadeiro de si mesmas. Elas não percebem que é um espelho distorcido”, ressaltou a Dr. Kourosh, em entrevista ao The Guardian, lembrando que os fatores como ângulo e o quão perto a pessoa pode estar da câmera mascaram e distorcem a nossa aparência.A preocupação envolvendo a Zoom dysmorphia entre os especialistas depois do estudo de Kouroush, aumentou porque o fenômeno não está recuando, apesar do fim da pandemia pelo mundo. Os pacientes continuam procurando médicos e dermatologistas com demandas irreais e não naturais, tendo como base fotos de celebridades recortadas de uma revista, como se procedimentos estéticos fossem uma tendência banal.Uma pesquisa publicada no International Journal of Women’s Dermatology, feita com um grupo de 7 mil pessoas, descobriu que 71% delas estavam ansiosas ou estressadas com o retorno às atividades presenciais, e quase 64% procuraram um tratamento mental devido às cicatrizes deixadas pela pandemia. Três em cada dez pessoas disseram que investiriam em sua aparência como estratégia de enfrentamento para lidar com o trabalho presencial, com ganho de peso, descoloração da pele, rugas e acne entre as preocupações principais da lista – tudo exacerbado pela quantidade de tempo gasto em chamadas do Zoom, FaceTime, Google Meet ou Teams.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01082351498036.jpg" alt="(Fonte: Quartz/Reprodução)">(Fonte: Quartz/Reprodução)Mesmo antes das reuniões online, os psicólogos descobriram que as pessoas que se olhavam no espelho se tornavam mais autoconscientes. A diferença é que a tela de um celular ou computador, distorcida pela lente de uma câmera, está muito longe de ser nosso real reflexo, principalmente quando nossos rostos não estão relaxados.Para resolver o problema, alguns passos podem ser adotados e incentivados para reduzir o risco da Zoom dysmorphia, como melhorar a qualidade da imagem online com o uso de ring lights, câmeras de maior resolução e a escolha de um ângulo adequado que limitam a distorção.No entanto, essas medidas são consideradas apenas práticas e paliativas. A psicóloga e conselheira Alaokika Bharwani encoraja que as pessoas evitem repetir pensamentos negativos sobre sua imagem diante de uma câmera e se concentrem na qualidade de seu trabalho e em apreciar outros aspectos da vida.A conscientização mundial sobre essa dismorfia é fundamental para que as vítimas possam enxergar que não são as únicas, e que, geralmente, não há nada de errado com sua aparência.</body>

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Zoom dysmorphia: como videochamadas criaram um distúrbio de imagem

Imagem de Por que o racismo não é considerado uma doença mental? no megacurioso

Você acha que declarando o racismo como doença mental ajudaria a combatê-lo?

Em 25 de maio de 2020, o mundo foi sufocado com <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119470-simbolos-escravagistas-por-que-so-nos-importamos-com-os-dos-outros.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">George Floyd,</a> um afro-americano de 45 anos assassinado por um policial branco que, por 8 minutos e 46 segundos, se manteve ajoelhado sobre o pesco&ccedil;o dele.
O crime, que aconteceu em Minneapolis, Estados Unidos, provocou um levante de indigna&ccedil;&atilde;o global, lan&ccedil;ando luz para a viol&ecirc;ncia policial motivada pelo <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/122761-racismo-ambiental-a-pratica-que-destroi-o-planeta-e-a-vida-das-minorias.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">racismo</a> estrutural que devasta principalmente os bairros perif&eacute;ricos do pa&iacute;s desde o in&iacute;cio do s&eacute;culo XVIII. A organiza&ccedil;&atilde;o Mapping Police Violence, que monitora os tiroteios policiais, levantou que a pol&iacute;cia americana atirou e matou pelo menos 1.055 pessoas em 2021, das quais os negros configuram 27% das mortes, mostrando como o movimento Black Lives Matter, infelizmente, teve pouco efeito na coibi&ccedil;&atilde;o do problema.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01072446474002.jpg" alt="(Fonte: History/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: History/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Ano passado, Christopher A. Wray, diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), afirmou que a <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119104-asa-earl-carter-o-supremacista-branco-que-virou-indigena.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">supremacia branca&nbsp;</a>dos EUA &eacute; um problema maior do que o jihadismo e enalteceu a necessidade de um projeto de lei para lidar com o aumento da viol&ecirc;ncia da extrema direita.
Visto que ofensas, ataques de todos os tipos e viol&ecirc;ncia racial aumentaram exponencialmente desde o crime envolvendo Floyd no pa&iacute;s, foi renovada a quest&atilde;o de saber se o&nbsp;racismo pode ser tratado como uma doen&ccedil;a mental.
<h2>Educando uma mente</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01072714648003.jpg" alt="(Fonte: Coursera/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Coursera/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Com a morte de Floyd e o movimento Black Lives Matter, foi resgatado uma entrevista de 1992 da educadora Jane Elliot, conhecida por ensinar seus alunos sobre o preconceito, no programa The Oprah Winfrey Show, sugerindo que o racismo seria fruto de uma doen&ccedil;a mental.
&ldquo;O racismo &eacute; uma doen&ccedil;a mental. Se voc&ecirc; julga outras pessoas pela cor de sua pele, pela quantidade de um produto qu&iacute;mico em sua pele, voc&ecirc; tem um problema mental. Voc&ecirc; n&atilde;o est&aacute; lidando bem com a realidade&rdquo;, disse ela, sendo aplaudida efusivamente por membros da plateia do emblem&aacute;tico programa da televis&atilde;o norte-americana.
De l&aacute; para c&aacute;, as pesquisas no Google por "racismo &eacute; uma doen&ccedil;a mental?" atingiram um n&iacute;vel nunca visto nos &uacute;ltimos 10 anos, com o trecho da entrevista da educadora sendo postado incansavelmente nas redes sociais, especialmente no Twitter.
<iframe width="853" height="480" src="https://www.youtube.com/embed/ms4NJx0wwXM?start=0" frameborder="0" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe>
Apesar de ser um sentimento que muitas pessoas compartilham sobre aqueles que odeiam outros indiv&iacute;duos apenas por sua etnia, a cren&ccedil;a de que o c&eacute;rebro dessa pessoa n&atilde;o est&aacute; funcionando de maneira correta n&atilde;o &eacute; o pensamento ideal para se ter sobre a estrutura e as origens do racismo na sociedade.
O poderio m&eacute;dico &eacute; o primeiro a se opor a essa compara&ccedil;&atilde;o e ressaltar o qu&atilde;o preocupante &eacute; disseminar esse tipo de ideia, sobretudo nos tempos virais da internet. Isso porque o racismo funciona, em linhas muito b&aacute;sicas, como uma escolha, enquanto os transtornos mentais, de depress&atilde;o a esquizofrenia, n&atilde;o s&atilde;o.&nbsp;
Chamar o racismo de doen&ccedil;a mental apenas deslegitima a hist&oacute;ria de como ele aconteceu no mundo, enquanto refor&ccedil;a o estigma ao redor das doen&ccedil;as mentais, aumentando a pr&aacute;tica de usar a linguagem da sa&uacute;de mental de maneira depreciativa.
<h2>Um estado de terror</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01073117028004.jpg" alt="(Fonte: PWHS/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: PWHS/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar de Elliot ter mencionado o racismo como doen&ccedil;a mental em 1990, esse impulso para defini-lo como tal veio de profissionais de sa&uacute;de mental, datando da d&eacute;cada de 1960, quando um grupo proeminente de psiquiatras negros solicitou &agrave; Associa&ccedil;&atilde;o Psiqui&aacute;trica Americana (APA) que adicionasse "intoler&acirc;ncia extrema" ao Manual Diagn&oacute;stico e Estat&iacute;stico de Transtornos Mentais, mais conhecido como DSM.
A peti&ccedil;&atilde;o foi rejeitada porque a APA enxergou o racismo como algo "muito comum" para ser considerado uma doen&ccedil;a. Al&eacute;m disso, para ser enquadrado como uma doen&ccedil;a, era preciso que desviasse do pensamento ou comportamento t&iacute;pico e causasse uma perturba&ccedil;&atilde;o e ang&uacute;stia na vida de um indiv&iacute;duo. A APA alegou que o racismo era t&atilde;o difundido que se tornava uma quest&atilde;o cultural, n&atilde;o uma psicopatologia.
No entanto, n&atilde;o era muito dif&iacute;cil entender o motivo de pessoas, como o psiquiatra negro Alvin Poussaint, n&atilde;o compreenderem como os brancos achavam comum o racismo.&nbsp;
&ldquo;Era algo que estava sempre presente e parecia um estado de terror. Eu senti que era como um dist&uacute;rbio mental, porque voc&ecirc; n&atilde;o conseguia argumentar com as pessoas sobre isso&rdquo;, concluiu ele, quando viajou &agrave; Jackson, no Mississippi, EUA, em 1965, para fornecer tratamento de sa&uacute;de mental aos trabalhadores e dessegregar os hospitais.
De maneira geral, entender o motivo de pessoas terem pensamentos t&atilde;o racistas ou mostrarem dificuldade em enxergar como esse preconceito n&atilde;o faz sentido, &eacute; necess&aacute;rio acompanhar a ideia de que o racismo existe em um espectro, que alcan&ccedil;a desde cren&ccedil;as racistas extremas e crimes de &oacute;dio, at&eacute; os preconceitos que todos os brancos precisam enfrentar. Del&iacute;rios envolvendo ra&ccedil;a tamb&eacute;m podem ser um sintoma de transtornos psic&oacute;ticos, e sua coloca&ccedil;&atilde;o no DSM n&atilde;o est&aacute; em debate nesse aspecto.
<h2>O que &eacute; bom e o que &eacute; justo</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01073241645005.jpg" alt="(Fonte: History/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: History/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Poussaint fazia uma distin&ccedil;&atilde;o clara entre o racismo cotidiano e o extremo, este que ele achava que deveria ser classificado como um <a href="https://www.megacurioso.com.br/saude-bem-estar/121452-conheca-6-transtornos-mentais-dos-mais-assustadores.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">transtorno mental</a>, porque significava que algu&eacute;m havia sido t&atilde;o consumido pelo &oacute;dio a ponto de querer matar. Para ele, isso estava al&eacute;m do normal.
&ldquo;Algumas pessoas que se op&otilde;em ao fato de ser chamado de transtorno mental dizem: &lsquo;Bem, &eacute; apenas um comportamento aprendido&rsquo;. &Eacute; um comportamento aprendido querer exterminar as pessoas por causa da cor da pele?&rdquo;, argumentou ele.
Desse modo, enquadrando o racismo como uma doen&ccedil;a mental empurraria o problema para os brancos, que deveriam reconhecer que h&aacute; algo de errado na maneira como eles pensam e sentem, aliviando os negros da sensa&ccedil;&atilde;o de que, se pudessem agir de maneira diferente, os brancos deixariam de ser racistas contra eles.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01073453262006.jpg" alt="(Fonte: The New Yorker/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The New Yorker/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Professor de psiquiatria da Universidade Emory e coautor do livro Are Racists Crazy?, Sander Gilman diz que o desejo de considerar o racismo como uma doen&ccedil;a mental vem da vontade de coloc&aacute;-lo fora do escopo do comportamento humano t&iacute;pico, quando, na verdade, ele n&atilde;o est&aacute;.
Seria um belo argumento, segundo ele, porque significaria que pessoas normais nunca deveriam matar, por exemplo, pessoas em <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/121183-auschwitz-o-que-aconteceu-la-apos-a-segunda-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Auschwitz</a>, quando, na realidade, elas faziam isso de maneira regular. Eles haviam desumanizado tanto as v&iacute;timas que n&atilde;o as viam mais como seres humanos. Isso n&atilde;o era doen&ccedil;a mental, apenas o mau em sua pura forma, porque as pessoas podiam fazer escolhas.&nbsp;
Sander ressalta que, s&oacute; quando come&ccedil;amos a falar sobre atividade "normal", isso ent&atilde;o inclui atos ruins. Em outras palavras, o 'normal' n&atilde;o &eacute; sin&ocirc;nimo de "bom" ou "justo", ainda que desejamos que seja assim.
<h2>A ra&ccedil;a como distin&ccedil;&atilde;o</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01073604309007.jpg" alt="(Fonte: Ferris State University/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Ferris State University/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Oriundo de uma verdadeira constru&ccedil;&atilde;o social, o pr&oacute;prio termo &ldquo;ra&ccedil;a&rdquo; foi cunhado em um espectro de preconceito para descrever e categorizar pessoas em v&aacute;rios grupos sociais com base em caracter&iacute;sticas como cor da pele, caracter&iacute;sticas f&iacute;sicas e heredi&ecirc;ncia gen&eacute;tica.
O conceito de ra&ccedil;a como entendemos hoje, evoluiu com a forma&ccedil;&atilde;o dos Estados Unidos e sempre esteve ligado &agrave; evolu&ccedil;&atilde;o dos termos "branco" e "escravo", usados pelos europeus colonizadores nos idos anos de 1500. Eles foram os respons&aacute;veis por trazerem essas palavras para a Am&eacute;rica do Norte e, ainda que naquela &eacute;poca n&atilde;o carregassem o significado que t&ecirc;m hoje, adquiriram ideais diferentes atrav&eacute;s das necessidades da sociedade americana em desenvolvimento.
Fil&oacute;sofos e naturalistas do Iluminismo Europeu, baseado nas ideias do racioc&iacute;nio secular, estudo cient&iacute;fico, e racionalidade em oposi&ccedil;&atilde;o &agrave;s compreens&otilde;es religiosas baseadas na f&eacute; do mundo &ndash;, categorizaram o mundo de novo com cren&ccedil;as que evolu&iacute;ram a partir do final do s&eacute;culo XVII e floresceram ao longo do final do s&eacute;culo XVIII, argumentando que haviam leis naturais que governavam o mundo e os seres humanos.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01073817883010.jpg" alt="(Fonte: Centro de Mem&oacute;ria Sindical/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Centro de Mem&oacute;ria Sindical/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os s&eacute;culos apresentaram uma falsa no&ccedil;&atilde;o de que os brancos eram mais inteligentes, capazes e humanos do que as pessoas n&atilde;o brancas, e isso passou a se tornar cada vez mais aceito, inclusive justificou a institui&ccedil;&atilde;o da <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/122417-a-escravidao-ainda-existe-no-brasil.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">escravid&atilde;o dos africanos</a>.
Foi s&oacute; em meados da d&eacute;cada de 1660, nas col&ocirc;nias americanas, que o termo "branco" foi colocado em oposi&ccedil;&atilde;o &agrave; "ra&ccedil;a" e "escravo", categorizando os colonos europeus como pessoas hierarquicamente acima daqueles que n&atilde;o se pareciam com eles.
As inven&ccedil;&otilde;es sociais conseguiram unir o branco atribu&iacute;do apenas ao anglo-sax&atilde;o e &agrave;s mulheres da elite que n&atilde;o tomavam sol, a um status de superioridade e poder; desapropriando e marginalizando os povos nativos e escravizando de maneira permanente ao longo de v&aacute;rias gera&ccedil;&otilde;es a maioria dos povos descendentes de africanos.
Assim, a cultura americana se desenvolveu como sociedade e economia tendo como base as ideias de ra&ccedil;a e racismo.
<h2>O problema da Am&eacute;rica</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01074138618012.jpg" alt="(Fonte: Howard Law Library/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Howard Law Library/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Ap&oacute;s 6 de dezembro de 1865, depois que a 13&ordf; Emenda da Constitui&ccedil;&atilde;o Americana aboliu a escravid&atilde;o nos EUA, o racismo como o conhecemos, com base no &oacute;dio, apenas cresceu de maneira desenfreada, se instalando em todos os pilares da sociedade. Apesar de a lei ter coibido a pr&aacute;tica de cultivar pessoas negras como escravos, a<a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119020-ruby-bridges-a-garotinha-que-enfrentou-a-segregacao-racial-dos-eua.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">&nbsp;segrega&ccedil;&atilde;o racial</a> que predominou na maior parte do sul americano atrav&eacute;s das Leis de Jim Crow, marginalizavam os negros a fim de mant&ecirc;-los no submundo da sociedade como se fossem selvagens.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/11/01/01074337854013.jpg" alt="(Fonte: Post New Groups/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Post New Groups/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar dos progressos, a segrega&ccedil;&atilde;o permaneceu no pa&iacute;s at&eacute; o Movimento dos Direitos Civis acontecer, atingindo seu &aacute;pice na d&eacute;cada de 1960.
&ldquo;O racismo &eacute; um sistema de vantagem baseado na ra&ccedil;a. &Eacute; uma hierarquia. &Eacute; uma pandemia. O racismo est&aacute; t&atilde;o profundamente enraizado nas mentes dos EUA e na sociedade que &eacute; praticamente imposs&iacute;vel escapar dele&rdquo;, disse Steven O. Roberts, diretor do Laborat&oacute;rio de Conceitos Sociais, parte do departamento de psicologia, na Escola de Humanidades e Ci&ecirc;ncias da Universidade de Stanford.
Portanto, no final das contas, a pergunta que fica &eacute;: declarar o racismo como uma doen&ccedil;a tornaria o mundo um local menos racista ou s&oacute; faria dele pior?

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Por que o racismo não é considerado uma doença mental?

Imagem de Karoshi: os japoneses realmente morrem de tanto trabalhar? no megacurioso

Existe a ideia de que o Japão é a nação que mais trabalha no mundo, mas isso é estatisticamente verdade?

<head></head><body>Ouvir que todo o brasileiro vive na praia ou achar que todo norte-americano tem tendência à obesidade pelo consumo de fast food – são ideais que compõe um vilão social muito grande: os estereótipos culturais.Um dos países mais estigmatizado perante o mundo é o Japão, principalmente nos Estados Unidos, onde se concentra a segunda maior comunidade japonesa fora do país, e também onde o <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120981-como-o-racismo-se-manifestou-em-palavras-ao-longo-do-tempo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">preconceito</a> possui raízes profundas.Uma pesquisa feita pelo STAATUS Index mostrou que entre todos os outros grupos raciais nos EUA, os asiático-americanos são os menos propensos a se sentirem pertencentes ao país ou são aceitos, mesmo que tenham nascido nele. Em números, apenas 29% deles e 33% dos afro-americanos concordam plenamente que sentem que pertencem e são aceitos pela nação.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204518326009.jpg" alt="(Fonte: Wall Street Journal/Reprodução)">(Fonte: Wall Street Journal/Reprodução)Apesar disso, a maioria dos norte-americanos diz desconhecer o sentimento anti-asiático no país, mas reforçam o estereótipo de que os asiáticos tem uma "dificuldade sistemática" em sentir que não pertencem aos EUA. O estudo também mostra que os americanos ainda enxergam os asiático-americanos como "minoria modelo" e "excessivamente inteligentes e trabalhadores".Foi o estereótipo unido ao racismo, por exemplo, de que os asiáticos estavam roubando o espaço e o trabalho dos nativos por serem considerados mais "eficientes", que fez o então presidente dos EUA, Chester Arthur, assinar a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/122321-por-que-a-ideia-de-sonho-americano-nao-existe-mais.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Lei de Exclusão Chinesa de 1882</a>, proibindo a <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/123091-fragata-valk-os-judeus-expulsos-do-brasil-ajudaram-a-fundar-nova-york.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">imigração</a> com base na raça e classe no país.Mais de nove em cada dez americano associam "trabalhar duro" aos japoneses. Mas os japoneses são mesmo obcecados pelo trabalho?<h2>O trabalho digna o homem</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204652183010.jpg" alt="(Fonte: Japão em Foco/Reprodução)">(Fonte: Japão em Foco/Reprodução)O trabalho duro como parte da ética de um cidadão japonês pode ser rastreado desde o início da década de 1920, quando o país atravessava um período de rápida industrialização e militarização, o que não demorou muito para emergir no cenário econômico como uma grande potência global.E isso não diminuiu nem mesmo após as catástrofes da <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/112268-entenda-como-comecou-a-segunda-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Segunda Guerra Mundial</a>, principalmente tendo que reconstruir o país das cinzas após a queda de <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119302-taramae-e-matsuo-duas-sobreviventes-de-hiroshima-e-nagasaki.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Little Boy&nbsp;e&nbsp;Fat Man</a> em Hiroshima e Nagasaki. Além disso, o governo também teve que pagar reparações de guerra aos Aliados ocidentais, o que significava ter que colocar uma enorme porcentagem de sua população em prática, resultando em mais trabalho.Um complexo militar-industrial robusto e uma cultura de produção extremamente organizada fizeram as empresas japonesas competirem na frente global, e isso foi aproveitado pelo Estado tanto para se reerguer economicamente quanto para incutir na mente do cidadão de que trabalhar para empresas era a verdadeira marca de excelência de um japonês – ainda que isso significasse a exaustão física e mental.As novas gerações foram criadas ouvindo que seu objetivo era se tornar um empresário que demonstrasse lealdade ao seu trabalho. Essa ideia criou um sistema educacional brutalmente competitivo no Japão.<h2>Morrendo de trabalhar</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204742919011.jpg" alt="(Fonte: IAFOR/Reprodução)">(Fonte: IAFOR/Reprodução)Em outubro de 1973, o mundo enfrentou uma crise petrolífera desencadeada pelos membros da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo, que proclamaram um embargo petrolífero direcionado às nações que eram vistas como apoiadores de Israel durante a Guerra do Yom Kippur.Uma vez que o Japão importava 90% de seu petróleo do Oriente Médio, a economia sofreu uma derrocada imensa, a mais grave desde os desdobramentos que levaram à Segunda Guerra Mundial, quando o governo tinha os Estados Unidos como o maior fornecedor da commodity, sobretudo porque aconteceu bem na época da situação inflacionária após o Choque Nixon de 1971.A maneira que os japoneses encontraram de se recuperar da crise foi mudando sua estrutura industrial, impactando diretamente as políticas de trabalho, ou seja, fazendo muitas pessoas terem que trabalhar de maneira exaustiva – o que levou muitos à morte.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204923339012.jpg" alt="(Fonte: Sora News 24/Reprodução)">(Fonte: Sora News 24/Reprodução)Foi em meio a esse cenário caótico e desesperador que o Japão cunhou a palavra karoshi, que literalmente significa "morte por excesso de trabalho". Essa era a realidade de muitos trabalhadores no Japão de 1973 que, geralmente, morriam por insuficiência cardíaca, derrame, ou suicídio, por não aguentarem as jornadas de 60 ou até 70 horas semanais.Apesar de a economia japonesa ter se reerguido após a crise, esse padrão laboral apenas expandiu, sobretudo em função do número de trabalhadores irregulares no Japão, que aumentou de 10% em 1990 para 40%.Quando o sociólogo Junko Kitanaka, da Universidade de Keio, apresentou seu trabalho acadêmico na Europa e na América do Norte sobre o karoshi&nbsp;japonês, trazendo a público o fenômeno sociocultural do Japão, ele revelou que os estrangeiros não entenderam a mentalidade das pessoas por trás desse comportamento.<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Japan Times&nbsp;" data-fonte-url="https://www.japantimes.co.jp/news/2016/01/08/national/social-issues/japanese-pay-least-attention-owed-vacation-days-think-work-holiday-expedia-poll/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30205050999013.jpg" alt="(Fonte: Japan Times/Reprodução)">(Fonte: Japan Times/Reprodução)Décadas depois, o&nbsp;karoshi já não se tornou uma ideia tão estranha assim para o mundo, principalmente com a maneira como a pandemia desencadeou preocupações generalizadas sobre o custo físico e psicológico do estresse prolongado, privação de sono e isolamento social.Em junho de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho publicaram um estudo mostrando que 745 mil pessoas morreram em 2016 de acidente vascular cerebral e doença cardíaca isquêmica como resultado direto de terem trabalhado pelo menos 55 horas por semana, indicando que o&nbsp;karoshi, ainda que de maneira indireta, se tornou um problema de saúde mundial. Uma verdadeira pandemia.<h2>O Japão de hoje</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30205139129014.jpg" alt="(Fonte: The Povertist/Reprodução)">(Fonte: The Povertist/Reprodução)Na década de 1980, os funcionários japoneses de grandes empresas trabalhavam em média 46 horas semanais, sendo 5 dias por semana e dois domingos extras por mês. Isso significava que por ano as pessoas trabalhavam 2.097 horas, o que era muito maior em comparação com outros países desenvolvidos, como na França, onde o empregado médio trabalhava 1.702 horas anuais.Depois que o karoshi&nbsp;se tornou público e o país passou a ser duramente criticado na frente global, os sindicatos se sentiram ainda mais validados para exigirem mudanças, tendo a redução das horas como objetivo principal. Em 1995, o empregado médio japonês já trabalhava 1.884 horas por ano, e em 2009, a média caiu para 1.714.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30205233657015.jpg" alt="(Fonte: Christian Science Monitor/Reprodução)">(Fonte: Christian Science Monitor/Reprodução)A pesquisa de 2020 da OCDE mostrou que a média anual de horas trabalhadas no Japão foi de 1.644, incluindo o trabalho regular em tempo integral, bem como as horas extras remuneradas e não remuneradas em todos os cargos. Isso colocou o país na posição 14º dos 37 países que mais trabalham no mundo, abaixo de nações como os Estados Unidos, que tiveram 1.779 horas totais.Ainda assim, pelo menos uma vez por ano, manchetes de karoshi ganham a imprensa japonesa. Isso ainda acontece porque certos grupos de funcionários regulares de grandes corporações são mais propensos a fazerem horas extras devido a uma mistura de práticas culturais e expectativa social, que colocam muita pressão nos empregados para que doem tudo de si – incluindo a própria vida.</body>

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Karoshi: os japoneses realmente morrem de tanto trabalhar?

Imagem de Como culparam os asiáticos pela Peste Bubônica em São Francisco no megacurioso

Por que as pessoas têm o costume de culpar os asiáticos pelas epidemias que acontecem pelo mundo?

<head></head><body>A <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118567-a-era-das-pandemias-sera-essa-a-nossa-realidade.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">pandemia do coronavírus</a>, que começou em março de 2020 e recolheu cidadãos do mundo todo para suas casas, temendo a doença devastadora que já matou mais de 6 milhões depois de quase 3 anos –, despertou um sentimento antigo, mas que nunca foi embora: o ódio aos asiáticos.Pessoas gritando “você tem o vírus chinês, volte para o seu país” se tornou algo comum na internet e depois pelas ruas dos Estados Unidos, onde se concentra uma das maiores comunidades asiáticas do mundo. Os asiático-americanos foram coagidos em transportes ou locais públicos, perseguidos, insultados e até fisicamente agredidos.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30203803219002.jpg" alt="(Fonte: The New York Times/Reprodução)">(Fonte: The New York Times/Reprodução)Só em 2021, a Stop AAPI Hate, uma coalização que rastreia incidentes de violência e assédio contra asiático-americanos e habitantes das ilhas do Pacífico nos EUA, relatou quase 3.800 casos de discriminação em 2020.Esse discurso de que os asiáticos são os responsáveis pelas epidemias que devastaram a humanidade, é uma tradição de ódio pelo mundo, inclusive nos EUA, onde isso acontece desde o início do século XIX.<h2>O paciente zero</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30203902260003.jpg" alt="(Fonte: Literary Hub/Reprodução)">(Fonte: Literary Hub/Reprodução)Em 6 de março de 1900, Wong Chut King, um imigrante chinês vendedor de madeira, foi o primeiro caso diagnosticado de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/122440-a-peste-bubonica-criou-a-maior-disputa-cientifica-da-historia.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">peste bubônica</a> nos EUA, em Chinatown, São Francisco, o mundo já conhecia a taxa de destruição da doença: cerca de 75 a 200 milhões de pessoas, entre 1347 e 1351 na Europa.Depois de lá, a peste reapareceu de maneira esporádica, primeiro, no final da década de 1870 no centro-sul da China, então em um surto em 1893 que matou milhares de pessoas em Cantão, se espalhando ao longo de rios e rotas de vapor.Antes de chegar em Wong Chut King, no final do século XIX, a doença foi identificada em um imigrante chinês nas ilhas havaianas, alcançando São Francisco por uma rota comercial regular.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30203948640004.jpg" alt="(Fonte: SFGATE/Reprodução)">(Fonte: SFGATE/Reprodução)No início de 1900, a cidade californiana era suja, superlotada e corrupta – herança da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119907-a-grande-guerra-dos-ovos-causou-quase-uma-extincao-na-california.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Corrida do Ouro de 1848</a>, que aumentou a população mais de 25 vezes, trazendo todo o tipo de pessoa para a cidade, inclusive os vigaristas. Cerca de 16% da população de São Francisco era chinesa e se concentrou no bairro de Chinatown, formando a segunda maior comunidade do mundo.Apesar de a mão de obra dos imigrantes chineses ter sido responsável, por exemplo, por 90% da força de trabalho que construiu a ferrovia transcontinental, em 1882, eles enfrentaram a<a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119899-yamei-kin-a-chinesa-que-revolucionou-a-america-com-a-soja-e-o-tofu.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">&nbsp;Lei de Exclusão Chinesa</a>, que reprimiu fortemente a imigração e os sentenciou a um distrito congestionado e altamente pobre da cidade, com edifícios de madeira esculpidos em espaços minúsculos.<h2>A praga em Chinatown</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204034024005.jpg" alt="(Fonte: Wall Street Journal/Reprodução)">(Fonte: Wall Street Journal/Reprodução)O primeiro caso da peste estremeceu a sociedade e autoridades de São Francisco, que colocou Chinatown em quarentena rapidamente, e inflamou o sentimento anti-asiático que já acompanhava a cultura norte-americano.Como <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/122185-como-as-colonias-da-lepra-destruiram-as-vidas-de-milhares-de-pessoas.htm#:~:text=As%20col%C3%B4nias%20da%20dor&amp;text=O%20Lepros%C3%A1rio%20de%20Kalaupapa%2C%20fundado,para%20leprosos%20no%20territ%C3%B3rio%20americano." rel="noopener noreferrer" target="_blank">leprosos</a>, os chineses foram isolados no distrito sem acesso até mesmo à comida, consequentemente causando uma derrota dos negócios locais porque muitos cozinheiros e faxineiros moravam em Chinatown. As autoridades iniciaram uma brigada para fumigar a área, e o destacamento anti-infecção do governo saqueou casas, queimou pertences dos moradores, e marretou lojas em um esforço para tentar livrar a área da doença.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204122765006.jpg" alt="(Fonte: Science History Institute/Reprodução)">(Fonte: Science History Institute/Reprodução)Os 20 mil moradores de Chinatown ainda foram submetidos a uma <a href="https://www.megacurioso.com.br/saude-bem-estar/122271-bayer-ja-vendeu-medicamentos-contaminados-com-virus-hiv.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">vacina bruta</a> com diversos efeitos laterais, incluindo dores horríveis pelo corpo e dormência persistente. No entanto, os nativos de São Francisco não receberam nada, nem sequer foram alertados sob medidas de proteção ou segurança, porque para o governo estava claro: o problema eram os chineses.Essa ideia se apoiava em um estereótipo clássico difundido através dos séculos que os imigrantes são "sujos", e as autoridades locais da cidade enlouqueceram quando ouviram sobre supostos navios da peste chegando de portos asiáticos, entendendo que a doença se espalharia diretamente a partir de locais superlotados, como Chinatown, onde havia uma alta concentração de imigrantes pobres.<h2>O ódio antigo</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204230556007.jpg" alt="(Fonte: Colorlines/Reprodução)">(Fonte: Colorlines/Reprodução)“Então, quando a praga aconteceu, reabasteceu, aumentou e intensificou os sentimentos anti-chineses”, disse Jonathan H.X. Lee, professor de estudos asiático-americanos na San Francisco State University.Enquanto jornais apresentavam caricaturas anti-asiáticas e os norte-americanos brancos praticavam violência contra os asiático-americanos pelas ruas, em 1901, o médico Rupert Blue, aos 32 anos, responsável por fundar o moderno Sistema de Saúde Pública dos Estados Unidos –, rastreou as origens da praga em pulgas que se alimentavam de ratos infectados e se uniam a humanos em busca de sangue fresco, e descobriu que o fim do surto aconteceria através da imposição de técnicas básicas de higiene e controle de doenças.As autoridades de saúde limparam o lixo da cidade para manter os ratos afastados, entraram em casas, clubes, igrejas e outros locais para conscientizar sobre como as pessoas deveriam fazer o descarte do lixo em lixeiras de metal com tampas.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30204322035008.jpg" alt="(Fonte: Today/Reprodução)">(Fonte: Today/Reprodução)Foi assim que São Francisco conseguiu chegar ao último caso diagnosticado de peste bubônica em 1908, após 120 mortes registradas ao longo de 8 anos. Para Marilyn Chase, escritora de&nbsp;The Barbary Plague, the Black Death in Victorian San Francisco, o que aconteceu na cidade foi uma espécie de mini conto de moralidade.“Gostamos de pensar que fizemos um grande progresso e somos uma sociedade mais esclarecida. No entanto, epidemias e pandemias ameaçam essa linha tênue de esclarecimento científico e humanismo, justiça social e progresso, se não tomarmos cuidado. Então ainda temos muito a aprender”, escreveu ela.</body>

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Como culparam os asiáticos pela Peste Bubônica em São Francisco

Imagem de Shein: como a moda fast fashion fatura às custas do trabalho escravo no megacurioso

Sob condições análogas à escravidão, pessoas chegam a costurar até 500 peças de vestuário por 20 centavos cada

<head></head><body>A palavra <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120176-fast-fashion-por-que-a-moda-rapida-e-um-problema.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">fast fashion</a> pode parecer estranha para você ou até mesmo desconhecida, porém, se é alguém que não viveu em baixo de uma pedra nos últimos anos, provavelmente já ouviu falar na Shein, a gigante varejista chinesa que vende roupas e acessórios online por preços acessíveis.Apesar de ter alcançado todas as idades, a empresa – avaliada em US$ 100 bilhões em abril de 2022, segundo a Bloomberg –, ganhou destaque principalmente entre os jovens, potencializada ainda mais pelas mídias sociais de maior alcance no momento – <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/123178-geracao-z-e-a-obsessao-pela-fama-a-qualquer-custo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">TikTok e Instagram</a>. A popularização se deu por suas peças inspiradas em alta costura e retiradas da última tendência nas passarelas, desfiladas de Maison Margiela a Balenciaga, por preços muito baixos, mesmo no Brasil, com a conversão do dólar e as taxas. Em média, uma pessoa pode gastar R$ 300 em 10 peças de vestuário compradas na Shein.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30184040740019.jpg" alt="Poder 360/Reprodução)">Poder 360/Reprodução)E é o conceito de&nbsp;fast fashion que faz da Shein tão barata. Depois que os processos têxteis foram aprimorados com a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/121277-de-relogios-humanos-a-maquinas-de-banho-3-habitos-curiosos-do-passado.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Revolução Industrial</a> no século XIX, o padrão de produção foi catapultado na década de 1990 com o barateamento tanto da mão de obra quanto da matéria-prima na indústria têxtil, consolidando-se em seu conceito: a produção rápida para o consumo rápido e o descarte rápido. Isso gerou maior rentabilidade para indústria da moda – responsável por movimentar US$ 1,7 trilhões da economia mundial –, gerando empregos e produtos com custo acessível.Pelo outro lado, o fast fashion fez da indústria da moda a segunda mais poluente do mundo, devido à utilização de tinturas de baixa qualidade e tecidos; produtos insolúveis e à base de metais pesados; contribuindo para toneladas de emissões diárias de carbono para a atmosfera; e o aumento substancial de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/120861-nurdles-um-dos-materiais-mais-toxicos-da-terra.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">plástico nos oceanos</a>.Além desses impactos globais que reduzem o percentual de vida do planeta, está também o uso desenfreado da&nbsp;mão de obra escrava na indústria da moda, inclusive pela Shein.<h2>Apenas uma fachada bonita</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30184142762020.jpg" alt="(Fonte: Factual 900/Reprodução)">(Fonte: Factual 900/Reprodução)Em 17 de outubro desse ano, o lançamento do documentário Inside Shein Machine: UNTOLD, produzido pela emissora britânica Channel 4, ganhou a mídia e a internet ao revelar as condições e precarização do trabalho por de trás da vitrine bonita e atraente da Shein.Ao infiltrar o repórter Panyu em uma das fábricas da gigante varejista, em Guangzhou, na China, foi descoberto que os empregados trabalham até 18 horas diárias, costurando, em média, 500 peças de roupa por dia, com direito a apenas uma folga mensal. Eles ganham cerca de R$ 0,20 por peça produzida, sendo que o primeiro pagamento do mês é retido pela empresa.Em caso de erro na produção de alguma peça, as pessoas são penalizadas dois terços do salário diário. Em condições análogas à escravidão, eles trabalham sob circunstâncias que violam as leis trabalhistas chinesas, que prevê, no máximo, 40 horas semanais de trabalho, com teto de 36 horas extras por mês e uma folga semanal, devendo faturar cerca de US$ 4 mil mensal.Entre a tristeza e exaustão, o documentário também capta mulheres lavando os cabelos durante os intervalos do almoço, comendo pequenas porções de comida em tigelas e lutando contra o sono. Nada ironicamente, a maioria dos empregados são <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119450-por-que-as-pessoas-insistem-em-culpar-imigrantes-por-causar-doencas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">imigrantes</a>.Em um e-mail ao site The Business of Fashion, a Shein declarou estar preocupada com as denúncias de trabalho escravo de seus parceiros – visto que o documentário foi feito em uma das fábricas terceirizadas da empresa –, e que estão cientes que isso viola o Código de Conduta acordado por todos os fornecedores da Shein.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30184608984024.jpe" alt="(Fonte: Sourcing Journal/Reprodução)">(Fonte: Sourcing Journal/Reprodução)“Qualquer não-conformidade com este código é tratada rapidamente e encerraremos parcerias que não atendam aos nossos padrões. Solicitamos informações específicas ao Channel 4 para podermos investigar”, complementou a Shein.A resposta totalmente evasiva só adiciona mais uma vírgula em uma série de mistérios envolvendo a marca chinesa, que já existe há 8 anos no mercado, a começar pela sua origem. Não existe nenhum número de telefone ou contato com a imprensa online, sendo que até o nome de seu fundador permanece um enigma total.Tudo o que a Shein construiu nesses 8 anos de mercado foi se apoiando apenas em marketing digital e blogueiros, responsáveis por venderem seus produtos igual água no deserto. O site norte-americano da marca executa um tipo de programa para influenciadores digitais de moda enviando peças para promoção ou publicidade e, dessa forma, alimentar sua relevância digital.<h2>Exploração sem fim</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30184658365025.jpg" alt="(Fonte: Refinery 29/Reprodução)">(Fonte: Refinery 29/Reprodução)Shein é apenas uma parcela – embora bem significativa – no mar do problema que é o conceito de fast fashion, por trás de Zara, H&amp;M, UNIQLO, Gap, Forever 21, Renner, Riachuelo, Primark, e entre outras marcas. O trabalho escravo se tornou, desde o surgimento dessa linha de produção rápida, uma das características principais depois dos impactos ambientais.A Organização Internacional do Trabalho levantou que cerca de 260 milhões de crianças estão empregadas em todo o mundo, das quais 170 milhões estão envolvidas em trabalho infantil realizado abaixo da idade mínima exigida, ou que, devido à sua natureza ou condições prejudiciais, é totalmente considerado inaceitável para uma criança, além de proibido.Apesar de o trabalho infantil ser proibido por lei na maioria dos países, ainda existe em muitas partes mais pobres do mundo, e muitas são recrutadas para trabalho escravo para alimentar a cadeia de suprimentos da moda, fabricando têxteis e roupas para consumidores da Europa à América.A demanda global do fast fashion,&nbsp;apoiada na cultura do consumismo desenfreado, obriga as empresas a encontrarem fontes de mão de obra cada vez mais baratas, e isso envolve imigrantes e crianças, retirados de um plano de fundo socialmente vulnerável.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30184813861026.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodução)">(Fonte: Pinterest/Reprodução)“Há muitas meninas em países, como Índia e Bangladesh, que estão dispostas a trabalhar por preços muito baixos, e são facilmente trazidas para essas indústrias sob falsas promessas de ganhar salários decentes”, disse Sofie Ovaa, coordenadora da campanha Stop Child Labor.Um relatório do Centro de Pesquisa em Corporações Multinacionais (SOMO) e do Comitê da Índia da Holanda (ICN) revelou que existem recrutadores dessas gigantes têxteis no sul da Índia convencendo os pais em áreas rurais extremamente pobres a enviar suas filhas sob falsas promessas de um emprego bem remunerado, acomodação confortável, refeições regulares e oportunidades de terem acesso a um direito básico: educação.No entanto, essas crianças acabam abandonadas em galpões de fábricas, trabalhando por horas a fio, sem acesso ao mundo, mal alimentadas e ganhando centavos por peça produzida, ou, por vezes, nem isso.<h2>Por conta própria</h2><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Emily Elizabeth May&nbsp;" data-fonte-url="https://emilyelizabethmay.com/why-im-quitting-fast-fashion/child-labor-fast-fashion/?utm_source=rss&amp;utm_medium=rss&amp;utm_campaign=child-labor-fast-fashion"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30184931961027.jpg" alt="(Fonte: Emily Elizabeth May/Reprodução)">(Fonte: Emily Elizabeth May/Reprodução)As crianças são consideradas alvos atraentes porque são obedientes como trabalhadoras e fáceis de gerenciar, fazendo passar despercebido o crime que as empresas cometem. Dos 75 milhões de trabalhadores operários na indústria da moda pelo mundo, estima-se que menos de 2% deles ganham um salário digno.É assim que esse comportamento servil se estende para o segundo grupo mais marginalizado no mundo: os imigrantes. As marcas têm como alvo os cidadãos em zonas de convulsões causadas pela guerra, mirando em refugiados sírios, por exemplo.Desesperados por salários, visto que mal conseguem sobreviver, com dívidas a pagar a familiares, agências de recrutamento, corretores ou traficantes –, eles acabam aceitando a má remuneração, principalmente com as políticas rígidas de asilo ou imigração nos países para o qual imigram.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/30/30185039812028.jpg" alt="(Fonte: The Brazilian Report/Reprodução)">(Fonte: The Brazilian Report/Reprodução)O que impede muitos de causar uma revolução diante à exploração desmesurada é a falta de voz, sobretudo, em países que não a exaltam e, pro vezes, tentam calá-la – afinal, poucos estão dispostos a ouvir que seu país é responsável por práticas de escravidão para que você possa continuar adquirindo o básico do consumismo: roupas. Os imigrantes têm medo de serem presos ou deportados, por isso nem se atrevem a deixar as fábricas, que acabam se tornando o seu próprio quarto, aumentando a linha de exploração.Alguns são os casos de trabalhadores que reagem às condições repressivas das indústrias de fast fashion, e vão a público fazer denúncias, como é o caso de refugiados birmaneses na fronteira com a Tailândia, envolvidos em processo judiciais e regularmente fazendo greve contra seus empregados.Em face a esse cenário terrível, é possível que esteja se perguntando onde está a justiça em meio a tudo isso. A resposta está na própria cadeia de suprimentos da moda que, devido a sua complexidade, é difícil para as empresas controlarem todas as etapas da produção. Além disso, não há mecanismos de fiscalização ou controle social, nada de sindicatos que possam ajudar os trabalhadores a lutar por melhores condições.No final das contas, eles estão por conta própria.</body>

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Shein: como a moda fast fashion fatura às custas do trabalho escravo

Imagem de Efeito Dunning-Kruger: quando incompetentes se acham inteligentes no megacurioso

O fenômeno indica que as pessoas menos inteligentes são as mais propensas a tentar influenciar os outros, inclusive com informações falsas – e acham que estão certas

Excesso de confian&ccedil;a, falta de reconhecimento de seus pr&oacute;prios erros ou de reconhecer a habilidade e experi&ecirc;ncia genu&iacute;nas de outras pessoas; superestima&ccedil;&atilde;o dos pr&oacute;prios n&iacute;veis de habilidade; supervaloriza&ccedil;&atilde;o da pr&oacute;pria confian&ccedil;a a ponto de preferir fingir ser inteligente ou habilidosa do que arriscar parecer inadequada e perder o prest&iacute;gio.
Esses s&atilde;o alguns sintomas de quem sofre do fen&ocirc;meno conhecido como Efeito Dunning-Kruger, um conceito determinado pelos psic&oacute;logos David Dunning e Justin Kruger, da Universidade de Cornell, em uma pesquisa elaborada em 1999.
O conceito surgiu depois que a dupla testou um grupo de participantes em sua l&oacute;gica, gram&aacute;tica e senso de humor; concluindo que aqueles que demonstraram um desempenho no quartil inferior, classificaram as pr&oacute;prias habilidades muito acima da m&eacute;dia. Os autores do estudo atribu&iacute;ram essa tend&ecirc;ncia a um problema de metacogni&ccedil;&atilde;o &ndash; a capacidade de analisar os pr&oacute;prios pensamentos ou desempenho.
&ldquo;Aqueles com conhecimento limitado em um dom&iacute;nio sofrem um fardo duplo: n&atilde;o apenas chegam a conclus&otilde;es equivocadas e cometem erros lament&aacute;veis, como tamb&eacute;m sua incompet&ecirc;ncia lhes rouba a capacidade de realiza&ccedil;&atilde;o das tarefas&rdquo;, escreveram.
<h2>Os especialistas em nada</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20170011729383.jpg" alt="(Fonte: Sprouts Schools/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Sprouts Schools/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
De maneira pr&aacute;tica, o Efeito Dunning-Kruger funciona da seguinte forma: um grupo de amigos decide aprender algo novo, como ingl&ecirc;s. Em alguns dias, um deles consegue falar de 10 a 15 frases, e fica um pouco desapontado com o pr&oacute;prio progresso, porque acha que deveria ser capaz de falar mais do que isso. Mas para ele, a l&iacute;ngua &eacute; muito simples, e ter um bom dom&iacute;nio sobre ela faz com que ele pense que &eacute; simples para todos e que, portanto, deveria ter feito mais.
Por outro lado, um dos outros aprendeu apenas algumas palavras, e ficou surpreso com seu progresso. Ele n&atilde;o tem o conhecimento e as habilidades para saber o que est&aacute; pronunciando e se est&aacute; usando essas palavras de maneira errada. Ele foi o que menos aprendeu no grupo, por&eacute;m, sua falta de conhecimento o impede de entender os pr&oacute;prios erros.
Al&eacute;m disso, sua falta de acesso &agrave; compara&ccedil;&atilde;o faz com que ele superestime sua capacidade relativa. Sua ignor&acirc;ncia de qu&atilde;o longe os outros chegaram, faz que ele pense que est&aacute; se destacando, mas, na verdade, est&aacute; aprendendo a uma velocidade abaixo da m&eacute;dia.
Segundo o Psychology Today, essa tend&ecirc;ncia pode ocorrer porque obter uma pequena quantidade de conhecimento em uma certa &aacute;rea sobre a qual se desconhecia pode fazer com que as pessoas se sintam subitamente especialistas. Isso se d&aacute; tamb&eacute;m porque se destacar em algo considerado desafiador para si mesmo, pode alcan&ccedil;ar a cren&ccedil;a de que isso &eacute; onde est&atilde;o suas habilidades e talentos.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20170149582387.jpg" alt="(Fonte: Say It Better/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: James Joyce/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O efeito provoca um desapontamento da pessoa com os demais ao seu redor quando seus auto-reconhecidos &ldquo;talentos&rdquo; n&atilde;o s&atilde;o percebidos por eles. Portanto, n&atilde;o &eacute; improv&aacute;vel que a pessoa acredite que mere&ccedil;a tanto uma futura promo&ccedil;&atilde;o no<a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/122106-antitrabalho-conheca-o-movimento-que-nao-para-de-crescer.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">&nbsp;trabalho</a>, por exemplo, e se mostre surpresa a ponto de indigna&ccedil;&atilde;o quando n&atilde;o a recebe.
O estudo de Dunning e Kruger sugeriu que as pessoas incompetentes n&atilde;o demonstram apenas um baixo desempenho, mas tamb&eacute;m s&atilde;o incapazes de avaliar e reconhecer com precis&atilde;o a qualidade do pr&oacute;prio trabalho. E tra&ccedil;os do efeito podem surgir de maneira mais simples, como um aluno que acredita que merecia uma nota muito mais alta em um trabalho que entregou.
<h2>A pol&iacute;tica dos menos inteligentes</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20170253834390.jpg" alt="(Fonte: The Conversation/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Willrow Hood/Shutterstock)
No contexto social, o fen&ocirc;meno se apresenta indicando que os cidad&atilde;os mais desinformados s&atilde;o aqueles mais confiantes. Esse perfil se mostra mais resistente a ser ensinado e carrega uma ignor&acirc;ncia extrema devido a isso, pois acredita que saiba mais. Normalmente, &eacute; comum que essas pessoas disseminem com mais facilidade informa&ccedil;&otilde;es falsas, as famosas&nbsp;fake news.
Ou seja, o efeito Dunning-Kruger se manifesta em sua ess&ecirc;ncia: n&atilde;o na falta de informa&ccedil;&atilde;o, mas na abund&acirc;ncia de desinforma&ccedil;&atilde;o. Quando um indiv&iacute;duo n&atilde;o sabe nada, a informa&ccedil;&atilde;o errada &eacute; sempre a que o leva a pensar que sabe de tudo.
Consequentemente, em n&iacute;vel global ou nacional, esse comportamento evoca consequ&ecirc;ncias perigosas, considerando que o mundo est&aacute; em um per&iacute;odo pol&iacute;tico delicado, sobretudo, ap&oacute;s a <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118567-a-era-das-pandemias-sera-essa-a-nossa-realidade.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">pandemia do coronav&iacute;rus</a>, em que a<a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/123113-a-ciencia-explica-por-que-comprar-e-tao-bom.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">&nbsp;ci&ecirc;ncia</a> foi absorvida por vieses pol&iacute;ticos por muitas pessoas e compartilhada como uma amea&ccedil;a, em vez de salva&ccedil;&atilde;o.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Indian Express&nbsp;" data-fonte-url="https://indianexpress.com/article/opinion/fake-news-in-the-time-of-coronavirus-why-its-time-to-practice-information-hygiene-6349641/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20170415809391.jpg" alt="(Fonte: The Indian Express/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Express Illustration/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em meio a isso, existe um desiquil&iacute;brio de autoconsci&ecirc;ncia muito grande na sociedade. Os menos informados s&atilde;o os que se consideram mais aptos para tentar influenciar a opini&atilde;o dos outros; enquanto os pouco informados se desvinculam das discuss&otilde;es porque n&atilde;o acreditam ser contribuintes dignos para pautas pol&iacute;ticas ou mundiais; e os especialistas, por sua vez, evitam educar o p&uacute;blico, em sua maioria, porque n&atilde;o percebem a raridade de sua experi&ecirc;ncia e a necessidade dela.
Isso nos leva a fala de Charles Darwin em seu&nbsp;A Descend&ecirc;ncia do Homem e Sele&ccedil;&atilde;o em Rela&ccedil;&atilde;o ao Sexo: &ldquo;A ignor&acirc;ncia gera mais confian&ccedil;a do que o conhecimento&rdquo;.

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Efeito Dunning-Kruger: quando incompetentes se acham inteligentes

Imagem de Sobibor: a fuga histórica e mais bem-sucedida de um campo nazista no megacurioso

O local foi feito apenas para exterminar os judeus que, inclusive, foram colocados para assassinar o próprio povo

<head></head><body>Desde que o <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/121561-campo-de-concentracao-uma-historia-muito-anterior-a-auschwitz.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">campo de concentração</a> Dachau foi aberto, em 22 de março de 1933, cinco anos antes de <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/115756-o-homem-que-comecou-a-guerra-o-incidente-de-gleiwitz.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Adolf Hitler invadir a Polônia</a> e estabelecer o início da Segunda Guerra Mundial, houve mais de mil campos de extermínios, dos quais Aushwitz-Birkenau foi o maior de todos. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas foram confinadas nessas instalações.Independentemente do tamanho dos campos, além das câmaras de gás, alojamentos e crematório, eles possuíam uma estrutura em comum: a de guarnição. Todas as instalações foram construídas com altos muros de tijolos aparentes, grossas cercas de arame farpado e normalmente 5 torres de guarda com oficiais da SS fortemente armados.Funcionando como uma alternativa redundante de segurança, o Wachbattalion, ou Batalhão de Guardas, operava como uma autoridade externa dos campos, e fazia parte de uma unidade da SS. Eles eram responsáveis por vigiarem as torres e patrulhar as cercas do perímetro do acampamento. Durante uma emergência, como uma revolta dos prisioneiros ou tentativas de fuga em massa, eles eram acionados para dar suporte.A concentração de guardas em um campo poderia variar, mas em <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/121183-auschwitz-o-que-aconteceu-la-apos-a-segunda-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Auschwitz</a>, por exemplo, 700 homens patrulhavam a instalação em 1941, depois esse número cresceu para 2 mil em junho do ano seguinte, então para 3 mil em abril de 1944, e para 3.300 homens em agosto de 1944. Em janeiro de 1945, pouco antes da libertação do campo, haviam 4.480 homens da SS trabalhando na segurança do local.Apesar de toda essa proteção, houve alguns episódios de fugas bem-sucedidas ao longo da história dos campos de concentração, sendo a fuga de Sobibor a mais emblemática e arriscada de todas.<h2>Os 600 de Sobibor</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20145026124219.jpg" alt="(Fonte: Wikimedia Commons)">(Fonte: Wikimedia Commons)Muito diferente de Treblinka ou Belzec, o campo de concentração de Sobibor foi construído para simplesmente matar todos os que eram enviados para lá, não mantê-los para algum tipo de trabalho forçado. Estabelecido em maio de 1942, perto da fronteira oriental da Polônia – na floresta da aldeia de Zlobek Duzy, na região ocupada pelos alemães –, a instalação foi erguida como parte da Operação Reinhard, arquitetada por Reinhard Haydrich, o famoso <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/121500-hitler-tinha-planos-de-aniquilar-a-etnia-polonesa-em-ate-20-anos.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">plano de exterminação dos poloneses judeus</a>, considerado o pilar central do Holocausto.Criar o campo no meio da floresta foi uma estratégia para mantê-lo o mais escondido o possível dos olhos de todos, inclusive muitas árvores foram plantadas ao longo de seu perímetro, com cercas de arames farpado e um campo minado servindo como complemento para essa segurança estrutural.Sobibor foi administrado pelos alemães e austríacos, com prisioneiros de guerra soviéticos como guardas adicionais para o controle da segurança. Todos os dias, vagões de trens literalmente amontoados de judeus chegavam às portas do campo para que essas pessoas fossem despidas de seus pertences e roupas, e enviadas diretamente às <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119296-zyklon-b-o-gas-mortal-usado-por-hitler-para-exterminar-os-judeus.htm#:~:text=Zyklon%20B%3A%20o%20g%C3%A1s%20mortal%20usado%20por%20Hitler%20para%20exterminar%20os%20judeus,-07%2F07%2F2021&amp;text=Descoberto%20no%20final%20do%20s%C3%A9culo,de%20%C3%A1rvores%20c%C3%ADtricas%20na%20Calif%C3%B3rnia." rel="noopener noreferrer" target="_blank">câmaras de gás</a> do local.Ao longo de 18 meses de operação, Sobibor gaseou entre 170 a 250 mil judeus, e quem ajudou nesse processo foram os Sonderkommandos – prisioneiros judeus selecionados para assassinar o próprio povo.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20145141149221.jpg" alt="(Fonte: Britannica/Reprodução)">(Fonte: Britannica/Reprodução)A vida desses cerca de 600 trabalhadores escravos foi tão miserável quanto a daqueles que encontraram seu fim nas câmaras. Trabalhando todos os dias da semana, das 6h às 18h, com apenas uma pequena pausa para o almoço, a tarefa daqueles designados à unidade Lager III era remover os cadáveres gaseados das câmaras, esfregar sangue e excrementos do chão das instalações e cremar os corpos.Para isso, eles foram tratados de forma diferente dos demais, recebendo melhores rações, acomodações e acesso a luxos, como remédios e cigarros trazidos para os campos pelas vítimas. Apesar desses benefícios, inclusive o de viver, os Sonderkommandos dessa área viviam isolados dos demais presos e eram assassinados periodicamente pelos oficiais da SS por conhecerem os segredos mais sujos do genocídio e dos nazistas. Nada se sabe sobre suas vidas ou experiências, uma vez que nenhum desses presos sobreviveu.Já no Lager II, onde ficavam os Sonderkommandos sem habilidades especiais, era desempenhado uma variedade de outras tarefas, como vasculhar as bagagens das vítimas e reembalar itens valiosos que serviriam como presentes de "caridade" para civis alemães. Aqueles que não se suicidaram no processo fazendo esse tipo de trabalho, formaram uma espécie de resistência que avariava objetos ou roupas para impedir que se tornassem doação dos nazistas e reforçasse uma falsa imagem de benevolência.O Lager II também designava para a brigada ferroviária, responsável por receber os novos prisioneiros que seriam gaseados. Os mais jovens trabalhavam também como putzers, limpando para os oficiais e atendendo as suas necessidades. Uma das tarefas mais humilhantes da unidade era a de barbeiro, que cortava os cabelos das mulheres a caminho das câmaras de gás. Geralmente, os homens jovens eram encarregados para essa função, em uma tentativa nazistas de humilhar tanto eles quanto as mulheres nuas.<h2>A dança da morte</h2><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Washington Post&nbsp;" data-fonte-url="https://www.washingtonpost.com/world/europe/photos-of-nazis-at-sobibor-killing-center-are-the-first-of-their-kind/2020/01/27/829f7c52-4114-11ea-99c7-1dfd4241a2fe_story.html"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20145255905222.jpg" alt="(Fonte: U.S. Holocaust Memorial Museum)">(Fonte: U.S. Holocaust Memorial Museum)Na primavera de 1943, à medida que as câmaras de gás de Sobibor começaram a ser usadas com menos frequência devido à baixa no número de judeus enviados para o campo, surgiu a hipótese de que aquele seria o fim da instalação — o que significava que todos os Sonderkommandos e demais escravos seriam mortos. Da necessidade, foi formado um comitê clandestino para encontrar uma maneira de fugir antes que fosse tarde demais.Esse objetivo se uniu à necessidade esmagadora de escapar do campo de extermínio, devido ao contexto perturbador de convivência que o local havia alcançado, como declarou a sobrevivente Selma Engel a um grupo de alunos da Guilford High School, em 1995.“Os nazistas sempre tinham algo sádico para nós”, disse ela que, aos 21 anos, sobreviveu à fome trabalhando na brigada ferroviária de Sobibor, resgatando latas de sardinha das bagagens das vítimas que seriam mortas.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20145512556224.jpg" alt="Leon Feldhendler. (Fonte: Wikiwand)">Leon Feldhendler. (Fonte: Wikiwand)Os oficiais da SS costumavam fazer uma fogueira para queimar os corpos dos judeus e obrigavam os prisioneiros a se reunirem e tocar instrumentos enquanto os demais eram forçados a literalmente dançar à luz das chamas, sentindo o vapor de pele estorricada do seu povo. Foi assim que Selma conheceu Chaim, seu esposo, um soldado polonês de 27 anos.Liderados por Leon Feldhendler, o comitê de fuga considerou várias opções, como a construção de um túnel sob a cerca e o campo minado do acampamento. Essa falta de um plano consistente se dava pela necessidade de manter o comitê sigiloso, entre sete judeus no máximo, devido às traições anteriores e ameaças de punições coletivas.Isso só mudou em 22 de setembro daquele ano, quando vinte prisioneiros de guerra judeus do Exército Vermelho chegaram a Sobibor para se juntarem ao corpo de Sonderkommandos. Nesse comboio estava Alexander Percherky, um compositor e comissário político que lideraria a revolta ao integrar o comitê.Foi o russo que teve a ideia para a fuga, que aconteceria em duas etapas: na primeira, que deveria acontecer uma hora antes do toque de recolher, os prisioneiros atrairiam os oficias da SS para alguns locais isolados pelo campo e os matariam. A segunda fase começaria depois que os presos fossem reunidos no pátio do Lager I e seria anunciado que a SS havia ordenado um destacamento especial de trabalho na floresta fora do campo, e todo o grupo marcharia para a liberdade pelo portão da frente. Se os vigias achassem a movimentação estranha, eles não poderiam confirmar suas suspeitas, visto que os oficiais estariam mortos.<h2>A marcha da liberdade</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20145631578225.jpg" alt="(Fonte: Auschwitz Exhibition/Yad Vashem)">(Fonte: Auschwitz Exhibition/Yad Vashem)A revolta começou como planejado, às 16h, com o pôr do sol já no horizonte de Sobibor, em 14 de outubro de 1943, assim que membros da resistência pegaram suas armas rudimentares e atraíram os oficiais. A partir desse momento, a cada 6 minutos um nazista foi morto pela resistência. Selma Engel foi uma das pessoas que teve o prazer de esfaquear um soldado no peito por várias vezes e esconder seu corpo.A única coisa que saiu errada no plano foi o assassinato do oficial Kurt Beckmann, que não teve o corpo escondido pelos prisioneiros. Às 17h, quando os Sonderkommandos marchavam pelo pátio principal rumo à liberdade, um guarda ucraniano descobriu o cadáver de Beckmann e soou o alarme.Foi nesse momento que a ideia de fugir pelos portões foi abandonada, então a alternativa era invadir as cercas. Alguns fizeram isso, enquanto outros atacavam os guardas, que retaliaram atirando na multidão de prisioneiros em fuga.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20145801533226.jpg" alt="Alexander Pechersky. (Fonte: Tablet Magazine/Reprodução)">Alexander Pechersky. (Fonte: Tablet Magazine/Reprodução)O desespero fez muitos morrerem nas cercas ou no campo minado. Dos 600 que deveriam escapar, apenas metade dos judeus alcançaram a floresta, embora 100 deles tenham sido recapturados nas buscas que se seguiram, e apenas 50 deles tenha sobrevivido até o final da Segunda Guerra Mundial, como foi o caso de Selma Engel.A mulher e seu esposo foram abrigados por fazendeiros poloneses e viveram de casa em casa para evitar serem recapturados, andando pela floresta à noite e se escondendo durante o dia. Assim foi até que o Hitler caísse.E no final das contas, Feldhendler estava certo sobre suas suspeitas de que Sobibor seria desativada quando os trens cheios de judeus pararam de chegar. Afinal, Heinrich Himmler havia cumprido sua promessa a Hitler de que tornaria a Polônia livre de todos os judeus, portanto, aquele campo já não era mais necessário.Logo após o escândalo da fuga, Sobibor foi desmantelada e os prisoneiros restantes assassinados. Tudo o que sobrou da instalação foi uma grande clareira com as cinzas dos poços de cremação, um lugar conhecido como Caminho para o Céu — um nome bonito para um destino dolorido de uma realidade amarga.</body>

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Sobibor: a fuga histórica e mais bem-sucedida de um campo nazista

Imagem de Por que os japoneses estão vivendo em apartamentos de até 8 m²? no megacurioso

Apesar de a tendência dos micros apartamentos ter se popularizado entre os jovens, é um problema social grande

Devido &agrave;s pol&iacute;ticas habitacionais muito desreguladas do Jap&atilde;o, o n&uacute;mero de moradias apenas cresceu ao longo do tempo, garantindo que a demanda habitacional n&atilde;o ultrapassasse a oferta habitacional, mantendo os pre&ccedil;os baixos em compara&ccedil;&atilde;o a outros pa&iacute;ses.
Muito diferente das demais na&ccedil;&otilde;es, as moradias japonesas perdem o valor ao longo do tempo, se tornando praticamente um lixo em 20 e 30 anos ap&oacute;s constru&iacute;das. Tanto que, se algu&eacute;m deix&aacute;-las antes desse prazo, ela ser&aacute; demolida em favor do terreno, este sim com alto valor, exatamente pela falta de espa&ccedil;o no pa&iacute;s.
<span data-fonte="(Fonte: Carl Court/Getty Images)" data-fonte-url="https://www.gettyimages.com.br/detail/foto-jornalistica/people-pass-along-ameyoko-shopping-street-as-they-do-foto-jornalistica/1237470513" class="img-fc"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/25/fonte-carl-court-getty-images-25180940052552.jpg" alt="Fonte: Carl Court/Getty Images" />(Fonte: Carl Court/Getty Images)
Contudo, al&eacute;m de quest&otilde;es culturais, esse curto per&iacute;odo de vida da habita&ccedil;&atilde;o no Jap&atilde;o coexiste com a constante amea&ccedil;a de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118142-terremoto-o-que-e-as-suas-causas-e-como-e-medido.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">terremotos&nbsp;</a>e <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/120027-tsunami-no-brasil-isso-ja-aconteceu-em-1755.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">tsunamis</a>, tamb&eacute;m respons&aacute;vel por mitigar os pre&ccedil;os e fomentar um mercado onde as constru&ccedil;&otilde;es s&atilde;o erguidas de maneira r&aacute;pida e muito barata.
Apesar de fazer delas as mais econ&ocirc;micas do mundo, como determinou a Organiza&ccedil;&atilde;o para Coopera&ccedil;&atilde;o e Desenvolvimento Econ&ocirc;mico (OCDE), os japoneses ainda gastam, em m&eacute;dia, 22% de sua renda total em moradia.
Esses tr&ecirc;s fatores combinados deram origem a uma nova tend&ecirc;ncia: os micros apartamentos japoneses, que podem ter at&eacute; 8 metros quadrados.
<h2>Vivendo em uma caixa de sapatos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20151545326242.jpg" alt="(Fonte: The Japan Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Ryusei Takahashi/The Japan Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Viver em apartamentos que parecem uma caixa de sapatos se tornou muito mais do que um estilo de vida, mas uma necessidade no Jap&atilde;o. T&oacute;quio, por exemplo, possui os im&oacute;veis mais caros do mundo em sua &aacute;rea metropolitana, e tamb&eacute;m o t&iacute;tulo de polo em micro acomoda&ccedil;&otilde;es.
Essas habita&ccedil;&otilde;es ficaram conhecidas como "quartos de tr&ecirc;s tatames", devido &agrave; quantidade de tapetes japoneses de tamanho padr&atilde;o que podem cobrir o espa&ccedil;o. Elas se tornaram uma febre t&atilde;o grande que a qualidade de vida, aos poucos, est&aacute; se transformando em um luxo at&eacute; mesmo quando o quesito &eacute; morar com o m&iacute;nimo de dignidade, &agrave; medida que empresas imobili&aacute;rias que adaptam ou lan&ccedil;am esses empreendimentos est&atilde;o cada vez mais diminuindo os metros quadrados.
&Eacute; o que a incorporada imobili&aacute;ria Spilytus t&ecirc;m feito desde 2015, investindo em acomoda&ccedil;&otilde;es min&uacute;sculas nos lugares mais badalados da capital japonesa, como Harajuku e Nakameguro, colocando-as perto de metr&ocirc;s, chamando mais ainda a aten&ccedil;&atilde;o dos jovens. Atualmente, a empresa opera 100 pr&eacute;dios com esse tipo de apartamento, onde moram mais de 1.500 pessoas.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20151657171245.jpg" alt="(Fonte: Sora News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Spilytus.co/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O atrativo da vizinhan&ccedil;a, que inclui restaurantes, caf&eacute;s e lojas de grife, parece valer o pre&ccedil;o de as pessoas terem que espremer em 8 metros quadrados um frigobar, uma m&aacute;quina de lavar, uma mesa de trabalho e a cama &ndash; que fica suspensa para n&atilde;o ocupar o espa&ccedil;o do piso. E para tentar ganhar um atrativo visual, a empresa moderniza as instala&ccedil;&otilde;es com um estilo elegante, colocando pisos e paredes brancas imaculadas com arranjos eficientes para que o locat&aacute;rio tenha maior facilidade para encaixar sua mob&iacute;lia.
Associado a esses benef&iacute;cios, as taxas iniciais m&iacute;nimas e a falta de um cal&ccedil;&atilde;o &ndash; pagamento n&atilde;o reembols&aacute;vel ao propriet&aacute;rio equivalente a tr&ecirc;s meses de aluguel &ndash;, desperta o interesse dos moradores, dos quais mais de dois ter&ccedil;os est&atilde;o na faixa dos 20 anos. No Jap&atilde;o, eles ganham em m&eacute;dia cerca de US$ 17 a US$ 20 mil por ano, o equivalente a US$ 1.500 mil por m&ecirc;s, sendo que 22% dessa renda j&aacute; &eacute; direcionada ao aluguel.
<h2>Uma estrutura de vida diferente</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20151924258250.jpg" alt="(Fonte: Japan Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte:&nbsp;Ryusei Takahashi/The Japan Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Para os brasileiros, por exemplo, que tem uma vis&atilde;o completamente diferente de uma casa, a realidade japonesa pode parecer algo absurdo. Diferente de n&oacute;s, n&atilde;o faz parte da cultura oriental convidar, tampouco hospedar, pessoas em sua casa, sendo que quase um ter&ccedil;o dos japoneses dizem que nunca receberam amigos, segundo uma pesquisa da Growth From Knowledge.
Fora isso, a sociedade japonesa, dos jovens aos idosos, trabalham 40 horas semanais, e dormem em m&eacute;dia 6 horas por noite &ndash; e isso varia muito entre as empresas, sobretudo no sistema fabril. Portanto, para muitos, a casa se torna um local apenas de descanso, e n&atilde;o para onde eles voltam ap&oacute;s um dia estressante e intenso de trabalho para praticar o autocuidado como maneira de relaxar.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20152043035253.jpg" alt="(Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Noriko Hayashi/The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Ainda pensando na realidade dos jovens, eles est&atilde;o mais propensos a comer fora, geralmente em lojas de conveni&ecirc;ncia, onde pegam refei&ccedil;&otilde;es prontas e consomem em uma bancada no canto da loja. Depois eles tomam banho em banheiros p&uacute;blicos, voltam para a casa e dormem. Alguns deles, como &eacute; o caso de Yugo Kinoshita, de 19 anos, que &eacute; estudante universit&aacute;rio e trabalha meio per&iacute;odo montando tigelas de carne em um restaurante de rede &ndash; preenchendo seus dias com muito estudo da faculdade e saindo com os amigos. Em meio a isso, a casa se tornou apenas um local para dormir e estudar.
&ldquo;Eu n&atilde;o moraria em nenhum outro lugar&rdquo;, disse ele, que mora em uma unidade Spilytus em T&oacute;quio, em uma entrevista ao Japan Times.
<h2>A ideia em meio &agrave; necessidade</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20152140308255.jpg" alt="Nakama Keisuke. (Fonte: Mainichi/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Nakama Keisuke. (Fonte: Mainichi/Akira Iida/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os micros apartamentos japoneses surgiram a partir das experi&ecirc;ncias cotidianas de Nakama Keisuke, o presidente da empresa Spilytus. Quando mais jovem, ele trabalhava dia e noite, pegando o primeiro trem para o trabalho e o &uacute;ltimo para casa, levando mais de uma hora se deslocando para seu destino.
Na &eacute;poca, o escrit&oacute;rio onde trabalhava ficava na movimentada regi&atilde;o de Shinjuku, onde considerou alugar um apartamento, mas os pre&ccedil;os n&atilde;o eram inferiores a 100 mil ienes, o equivalente a R$ 3 mil na cota&ccedil;&atilde;o atual. Haviam acomoda&ccedil;&otilde;es mais baratas, por&eacute;m praticamente abandonadas de t&atilde;o antigas, com piso mofado e instala&ccedil;&otilde;es combinadas de banheiro e toalete &ndash; um padr&atilde;o antigo japon&ecirc;s, que coloca o banheiro em um quarto separado do chuveiro.
Tudo o que Keisuke queria era um apartamento barato, moderno, perto do trabalho ou de uma esta&ccedil;&atilde;o de metr&ocirc;, independente do tamanho, afinal, ele passava pouco tempo em casa. Foi assim que o empres&aacute;rio chegou na ideia do Ququri &ndash; os micros apartamentos.&nbsp;
Keisuke, agora com 35 anos, apresentou um modelo de neg&oacute;cios para fornecer o maior n&uacute;mero poss&iacute;vel de quartos em um lote limitado, e o atrativo da ideia simplesmente vendeu.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20152337316258.jpg" alt="(Fonte: HR Asia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Alamy)
Em 2020, a At Home Co., uma empresa de servi&ccedil;os de informa&ccedil;&otilde;es imobili&aacute;rias, perguntou a 414 trabalhadores japoneses na faixa dos 20 anos sobre o tamanho ideal de uma casa onde uma pessoa adulta poderia viver feliz. O resultado da pesquisa indicou que 53,4% dos entrevistados responderam que poderiam viver felizes em um espa&ccedil;o de 20 metros quadrados ou menor.
Segundo o plano b&aacute;sico para habita&ccedil;&atilde;o e padr&otilde;es de vida do governo japon&ecirc;s, o tamanho ideal para um ambiente de vida saud&aacute;vel &eacute; de 25 metros quadrados para uma pessoa adulta.
De qualquer forma, isso parece n&atilde;o importar, pois a realidade da sociedade japonesa, em face ao aumento cont&iacute;nuo dos altos pre&ccedil;os dos im&oacute;veis nas regi&otilde;es centrais da capital, caminha em dire&ccedil;&atilde;o a um futuro em que se conformar em viver em uma caixa de sapatos ser&aacute; mais que um investimento, tend&ecirc;ncia ou estilo de vida &ndash; mas a &uacute;nica alternativa.

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Por que os japoneses estão vivendo em apartamentos de até 8 m²?

Imagem de A longa trajetória da consolidação do voto no Brasil no megacurioso

Até alcançar a reputação de hoje, o sistema de voto no país foi manipulativo, excludente e corrupto

<head></head><body>Em um período de extrema polarização política e de turbulências sociais, as eleições de 2022 repetiram o momento de transformação que aconteceu em 2018, quando Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PL) ascenderam às pesquisas de voto com discursos fortemente opostos para a presidência da República, dividindo o país.Esse ano, com o embate entre Luís Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro pela presidência, as eleições 2022 se tornaram a maior da história do Brasil em volume de pessoas aptas a votar – um contingente de 9,1 milhões a mais comparado a 2018, quando eram 147,3 milhões de eleitores inscritos na Justiça Federal.Mais do que nunca, o ato de votar constitui mais que um dever ou direito, mas um compromisso político consigo e também com os 212 milhões de habitantes do país. Apesar disso, poucos falam ou pouco se sabe sobre a história do voto no Brasil, um poder-dever tão importante para a sociedade.<h2>O poder na mão de quem tinha poder</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20150258040228.jpg" alt="(Fonte: Museo Histórico Nacional/Reprodução)">(Fonte: Museo Histórico Nacional/Reprodução)Falar de voto é voltar 490 anos no passado do Brasil, aterrissando no período de 1532, passada a fase em que os portugueses se estabeleceram e flertaram de maneira amigável com os indígenas, iniciando o processo <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/123067-como-era-a-vida-da-mulher-no-brasil-colonial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">furioso de colonização</a>.Com este, em 23 de janeiro daquele ano, surgiu a primeira eleição para a Câmara Municipal de São Vicente, a primeira vila inaugurada pelos portugueses no Brasil, que estabeleceram a eleição para eleger indiretamente os oficiais do Conselho Municipal.A partir desse momento, o ato de votar se tornou comum para determinar representantes locais, de Juiz de paz a vereadores, e só foi desempenhado por grandes donos de terras e proprietários de <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120203-e-se-a-escravidao-nao-tivesse-existido.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">escravos</a> – ou seja, o voto era censitário, isto é, apenas uma parcela da população tinha direito.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20150352874230.jpg" alt="(Fonte: Wikimedia Commons)">(Fonte: Wikimedia Commons)Em 1821, votar ainda era restrito ao âmbito municipal, não existiam <a href="https://www.megacurioso.com.br/politica/99236-conheca-a-origem-dos-termos-esquerda-e-direita-na-politica.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">partidos políticos</a> e o voto era aberto. Isso só caiu com a <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/122889-200-anos-da-independencia-do-brasil-toda-a-historia.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Independência do Brasil</a> e o surgimento da Constituição de 1824, que vigorou durante a fase imperial do Brasil, e estabeleceu uma estrutura política em três níveis – municipal, província e governo central.As eleições foram realizadas indiretamente para cargos na Câmara de Deputados, Senado, Assembleias Provinciais; e diretamente para Câmaras Municipais e Juízes de Paz. Apenas cidadãos com um mínimo de renda podiam exercer o direito ao voto, o que ficava entre 100 mil-réis anuais para ser votante, e 200 mil-réis anuais para ser eleitor.Sem foto, o título de eleitor surgiu em algum momento de 1881, o que levou a muitas fraudes e mazelas, que já eram facilitadas pela organização eleitoral e política. E essa estrutura, que vigorou até meados de 1889, quando terminou o período imperial do Estado, se apoiou em muito nas transformações mundiais que mostraram que o processo eleitoral brasileiro era algo fundamental para manter a política organizada.<h2>O cabresto</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20150544360231.jpg" alt="(Fonte: Sérgio Motcha/ArtStation/Reprodução)">(Fonte: Sérgio Motcha/ArtStation/Reprodução)A partir da Proclamação da República, seguida pelo início do presidencialismo, o voto elegeu pela primeira vez um civil para presidiar o Brasil, o advogado Prudente de Morais, em 1894, tendo Manuel Vitorino Pereira como vice-presidente.Vale ressaltar que antes de Morais, em 1889, Deodoro da Fonseca ascendeu ao cargo federal sem o voto direto, renunciando dois anos depois e sendo sucedido por Floriano Peixoto, em 1891, que permaneceu no cargo até que Morais ganhasse as eleições com votos.E apesar desse feito creditado ao voto, ter Morais como presidente não significava um desejo da maioria dos brasileiros, visto que o poder de voto ainda se concentrava na mão de poucos. Os menores de 21 anos, as mulheres, analfabetos, mendigos, soldados rasos, indígenas e integrantes do clero eram proibidos de votar – e eles configuravam uma parcela grande e importante da sociedade.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20150854497233.jpg" alt="Prudente de Morais. (Fonte: Wikimedia Commons)">Prudente de Morais. (Fonte: Wikimedia Commons)Entre 1889 e 1930, durante a denominada República Velha, a prática sociopolítica do coronelismo dominou o período, quando os chamados coronéis que exerciam o poder local sobre as camadas sociais inferiores se valeram do voto de cabresto a fim de garantir votos em troca de favores das esferas políticas locais, estaduais e federais.Uma vez que não existia uma Justiça Eleitoral independente e idônea, práticas de coerção como essa eram comuns, fazendo das eleições um processo totalmente unilateral e corrupto que beneficiava quem soubesse jogar o jogo da política. Para vencer, foi usado de todo o tipo de tramoia, como ressuscitar nomes de pessoas mortas ou inventá-los. Foi assim que apenas aquele que tinha cartas na manga permaneceu no poder.<h2>Da opressão à liberdade</h2><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20151008876234.jpg" alt="(Fonte: Evandro Teixeira/Reprodução)">(Fonte: Evandro Teixeira/Reprodução)A <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/121169-getulio-vargas-a-vida-do-polemico-presidente-brasileiro.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Era Vargas</a>, que predominou de 1930 a 1945, foi caracterizada por um período de progressos e transformações políticas, sociais e econômicas fundamentais para o processo eleitoral no Brasil, principalmente com a inclusão da instituição do voto das mulheres e do voto secreto. Além disso, com a criação do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais para supervisionarem o processo, as eleições se encaminhavam, finalmente, para algo mais amplo e limpo – pelo menos no quesito de votos.Com o fim do Estado Novo, em 1945, em que as eleições foram suspensas, foi o momento de maior experiência democrática do país, com as mulheres podendo então votar para presidente e os analfabetos também adquirindo seu direito.O <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/118211-ditadura-militar-como-e-por-que-aconteceu-o-golpe-de-1964.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Golpe de 1964,</a> que instaurou a Ditadura Militar por 20 derradeiros anos no Brasil, limitou as eleições a apenas alguns cargos, mas não ocorreu nenhuma eleição direta para Presidência da República. Isso só voltou a acontecer a partir de 1984, quando o país atravessou um longo processo de redemocratização após o movimento pelas Diretas Já.<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20151130485235.jpg" alt="(Fonte: Roberto Jayme/TSE)">(Fonte: Roberto Jayme/TSE)No ano seguinte, com a morte de Tancredo Neves, que não conseguiu ser empossado como presidente a tempo, José Sarney no cargo de vice ascendeu como o primeiro presidente civil depois de 20 anos, e promulgou a nova Constituição Federal.Seu governo iniciou uma nova era tanto para o Brasil quanto para o processo eleitoral, consolidando o voto universal e secreto, e garantindo a idoneidade das eleições de maneira ampla, principalmente com a criação das urnas eletrônicas, em 1996, e do trabalho das Justiças Eleitorais.Desde então, o Brasil se tornou dono do quarto maior eleitorado do mundo, e um modelo no processo de votação e nas eleições para as demais nações.</body>

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A longa trajetória da consolidação do voto no Brasil

Imagem de Brasil é o país mais violento contra os professores no megacurioso

Além da desvalorização da sociedade e do Estado, os professores são vítimas recorrentes de ataques em salas de aula

A viol&ecirc;ncia contra os professores se tornou uma epidemia no mundo. A American Psychological Association Classroom Violence Directed Against Teachers Task Force descobriu atrav&eacute;s de um levantamento que 44% professores da rede de ensino nos Estados Unidos relatam ter sido agredidos fisicamente por alunos.
Mais da metade dos professores pesquisados sofreram destrui&ccedil;&atilde;o dos bens pessoais pelos alunos (como computador, carro ou celular), enquanto 75% dos docentes disseram que j&aacute; foram assediados verbalmente por um aluno de alguma forma.
Entre a gama de ataques est&atilde;o: chutar, bater, morder, empurrar, cuspir, receber gritos, amea&ccedil;as de mortes, ser perseguido e assediado fora da escola, ser ridicularizado, sofrer com falsos rumores e at&eacute; ser roubado.
A Organiza&ccedil;&atilde;o para a Coopera&ccedil;&atilde;o e Desenvolvimento Econ&ocirc;mico (OCDE) fez uma pesquisa com mais de 100 mil professores, e constatou que o Brasil ocupa o primeiro lugar do ranking mundial como o pa&iacute;s que mais pratica viol&ecirc;ncia contra professores.
<h2>A desvaloriza&ccedil;&atilde;o sem fim</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20161359100334.jpg" alt="(Fonte: APP Sindicato/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: APP Sindicato/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Mais de 12% dos docentes pesquisados afirmaram que j&aacute; sofreram algum tipo de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/121926-novo-tratamento-contra-abusos-domesticos-mostra-se-promissor.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">agress&atilde;o&nbsp;</a>verbal ou intimida&ccedil;&atilde;o de alunos dentro e fora da sala de aula. O Sindicato dos Professores de S&atilde;o Paulo divulgou que cerca de 50% dos docentes pesquisados relataram algum tipo de agress&atilde;o.
Em 21 de agosto de 2017, o caso da professora M&aacute;rcia Friggi, docente do Centro de Educa&ccedil;&atilde;o de Jovens e Adultos em Indaial, munic&iacute;pio de Santa Catarina, chocou o pa&iacute;s pela crueldade do ataque que sofreu. Em fotos que viralizaram nas redes sociais, ela exp&ocirc;s seu rosto completamente deformado pelos ferimentos a socos desferidos por um aluno de 15 anos.
Os n&uacute;meros fornecidos pela Secretaria de Estados e Seguran&ccedil;a P&uacute;blica (SESP) indicam quase 200 crimes cometidos mensalmente em escolas p&uacute;blicas e privadas.
<img src="http://mega.ibxk.com.br/img_forte.jpg" data-img-original="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/24/facebook-veja-reproducao-24111227873090.jpg" onclick="img-original" />M&aacute;rcia Friggi. (Fonte: Facebook/Veja/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar de a viol&ecirc;ncia ao docente ser uma preocupa&ccedil;&atilde;o internacional, a lideran&ccedil;a do Brasil no ranking &ndash; onde o sal&aacute;rio m&eacute;dio dos professores &eacute; inferior ao das 37 na&ccedil;&otilde;es pesquisadas, conforme o estudo da OCDE &ndash;, reflete a desvaloriza&ccedil;&atilde;o sistem&aacute;tica e sucateamento da <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/122192-educacao-5-aspectos-da-escola-que-mudaram-em-100-anos.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">educa&ccedil;&atilde;o</a> no Brasil.
E para Sandra Tosta, professora de p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em educa&ccedil;&atilde;o da PUC Minas e doutora em antropologia social, o excesso de viol&ecirc;ncia est&aacute; totalmente vinculado ao ponto de desvaloriza&ccedil;&atilde;o tanto material quanto social e simb&oacute;lico dos professores.
&ldquo;O professor &eacute; um profissional que est&aacute; em extin&ccedil;&atilde;o, principalmente aqueles da educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica. Digo que a gente est&aacute; vivendo um apag&atilde;o de professores, e essa aus&ecirc;ncia n&atilde;o &eacute; s&oacute; por conta do sal&aacute;rio, &eacute; tamb&eacute;m uma desist&ecirc;ncia pelo tanto que ele &eacute; desvalorizado e agredido&rdquo;, disse ela.
<h2>Um problema urgente</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20161606441337.jpg" alt="(Fonte: Fiquem Sabendo/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Paulo Pinto/Fotos P&uacute;blicas)
Diminuiu no Brasil o tamanho das turmas na educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, tanto no ensino fundamental como no m&eacute;dio. Entre 2013 e 2019, caiu de 23 para 20 alunos por turma no fundamental, e de 28 a 26 estudantes no ensino m&eacute;dio.
As mulheres dominam a educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, chegando a ocupar 88% dos cargos em salas de aula da educa&ccedil;&atilde;o infantil, por&eacute;m na educa&ccedil;&atilde;o superior seguem mal representadas, com apenas 46% delas em postos de trabalho em 2019.
Tosta ressalta que, cada vez mais, o curso menos procurado em vestibulares s&atilde;o os que formam professores. E isso coincide com a pesquisa da OCDE, visto que apenas 12,6% dos docentes acreditam que exista uma valoriza&ccedil;&atilde;o da profiss&atilde;o pela sociedade, deixando o Brasil entre os 10 &uacute;ltimos no ranking de satisfa&ccedil;&atilde;o dos professores.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Gazeta do Povo&nbsp;" data-fonte-url="https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/professores-brasileiros-tem-salario-adequado-e-beneficios-acima-da-media-diz-banco-mundial-55q5psmovxd15fvbyru24rgwb/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2022/10/20/20220909790003.jpg" alt="(Fonte: Gazeta do Povo/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar de a viol&ecirc;ncia cometida contra os professores fazer parte de uma estrutura social em que a desvaloriza&ccedil;&atilde;o sistem&aacute;tica da profiss&atilde;o, tanto do Estado quanto da sociedade, fomenta os atos, tamb&eacute;m acontece muito como reflexo do ambiente onde o aluno est&aacute; inserido.
Pensando em criar uma cultura escolar de concilia&ccedil;&atilde;o e um ambiente de trabalho seguro para os professores, o Projeto de Lei elaborado sob a supervis&atilde;o dos professores Dr. Ivan Dias Motta e Dra. Andr&eacute;a Lago foi apresentado como um instrumento de enfrentamento &agrave; viol&ecirc;ncia escolar em n&iacute;vel federal, estadual e municipal; protegendo o interesse dos docentes do sistema p&uacute;blico ou do privado.
Como disse Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de S&atilde;o Paulo), "j&aacute; passou da hora de a sociedade se questionar o que est&aacute; por tr&aacute;s de toda essa viol&ecirc;ncia".

Julio Cezar de Araujo