Artes/cultura
24/10/2022 às 06:30•3 min de leitura
A violência contra os professores se tornou uma epidemia no mundo. A American Psychological Association Classroom Violence Directed Against Teachers Task Force descobriu através de um levantamento que 44% professores da rede de ensino nos Estados Unidos relatam ter sido agredidos fisicamente por alunos.
Mais da metade dos professores pesquisados sofreram destruição dos bens pessoais pelos alunos (como computador, carro ou celular), enquanto 75% dos docentes disseram que já foram assediados verbalmente por um aluno de alguma forma.
Entre a gama de ataques estão: chutar, bater, morder, empurrar, cuspir, receber gritos, ameaças de mortes, ser perseguido e assediado fora da escola, ser ridicularizado, sofrer com falsos rumores e até ser roubado.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fez uma pesquisa com mais de 100 mil professores, e constatou que o Brasil ocupa o primeiro lugar do ranking mundial como o país que mais pratica violência contra professores.
(Fonte: APP Sindicato/Reprodução)
Mais de 12% dos docentes pesquisados afirmaram que já sofreram algum tipo de agressão verbal ou intimidação de alunos dentro e fora da sala de aula. O Sindicato dos Professores de São Paulo divulgou que cerca de 50% dos docentes pesquisados relataram algum tipo de agressão.
Em 21 de agosto de 2017, o caso da professora Márcia Friggi, docente do Centro de Educação de Jovens e Adultos em Indaial, município de Santa Catarina, chocou o país pela crueldade do ataque que sofreu. Em fotos que viralizaram nas redes sociais, ela expôs seu rosto completamente deformado pelos ferimentos a socos desferidos por um aluno de 15 anos.
Os números fornecidos pela Secretaria de Estados e Segurança Pública (SESP) indicam quase 200 crimes cometidos mensalmente em escolas públicas e privadas.
Márcia Friggi. (Fonte: Facebook/Veja/Reprodução)
Apesar de a violência ao docente ser uma preocupação internacional, a liderança do Brasil no ranking – onde o salário médio dos professores é inferior ao das 37 nações pesquisadas, conforme o estudo da OCDE –, reflete a desvalorização sistemática e sucateamento da educação no Brasil.
E para Sandra Tosta, professora de pós-graduação em educação da PUC Minas e doutora em antropologia social, o excesso de violência está totalmente vinculado ao ponto de desvalorização tanto material quanto social e simbólico dos professores.
“O professor é um profissional que está em extinção, principalmente aqueles da educação básica. Digo que a gente está vivendo um apagão de professores, e essa ausência não é só por conta do salário, é também uma desistência pelo tanto que ele é desvalorizado e agredido”, disse ela.
(Fonte: Paulo Pinto/Fotos Públicas)
Diminuiu no Brasil o tamanho das turmas na educação básica, tanto no ensino fundamental como no médio. Entre 2013 e 2019, caiu de 23 para 20 alunos por turma no fundamental, e de 28 a 26 estudantes no ensino médio.
As mulheres dominam a educação básica, chegando a ocupar 88% dos cargos em salas de aula da educação infantil, porém na educação superior seguem mal representadas, com apenas 46% delas em postos de trabalho em 2019.
Tosta ressalta que, cada vez mais, o curso menos procurado em vestibulares são os que formam professores. E isso coincide com a pesquisa da OCDE, visto que apenas 12,6% dos docentes acreditam que exista uma valorização da profissão pela sociedade, deixando o Brasil entre os 10 últimos no ranking de satisfação dos professores.
(Fonte: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo/Reprodução)
Apesar de a violência cometida contra os professores fazer parte de uma estrutura social em que a desvalorização sistemática da profissão, tanto do Estado quanto da sociedade, fomenta os atos, também acontece muito como reflexo do ambiente onde o aluno está inserido.
Pensando em criar uma cultura escolar de conciliação e um ambiente de trabalho seguro para os professores, o Projeto de Lei elaborado sob a supervisão dos professores Dr. Ivan Dias Motta e Dra. Andréa Lago foi apresentado como um instrumento de enfrentamento à violência escolar em nível federal, estadual e municipal; protegendo o interesse dos docentes do sistema público ou do privado.
Como disse Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), "já passou da hora de a sociedade se questionar o que está por trás de toda essa violência".