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Em 19 de setembro de 1910, o caso de Thomas Jennings entrava para a história dos EUA

Na madrugada de 19 de setembro de 1910, o afro-americano Thomas Jennings, que estava em liberdade condicional h&aacute; pouco mais de 1 m&ecirc;s, disparou 3 tiros no peito de Clarence Hiller, morador do bairro de South Side, em Chicago (EUA).
O epis&oacute;dio aconteceu ap&oacute;s a v&iacute;tima ser acordada pelo barulho que Jennings fez ao tentar invadir sua casa. Naquela &eacute;poca, a vizinhan&ccedil;a sofria com a "onda" de assaltos e crimes que aconteciam a qualquer hora do dia, mas principalmente durante a madrugada.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07210242624015.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os homens se envolveram em uma luta corpo a corpo antes de Jennings sacar um rev&oacute;lver e simplesmente encerrar o conflito com os disparos, abandonando o Hiller agonizando em meio a quantidade de sangue que lhe escapava pelos buracos causados pelos tiros.
Apesar de Jennings estar de m&atilde;os vazias quando foi parado a pouco mais de 800 metros da cena do crime, foram suas impress&otilde;es digitais em uma grade rec&eacute;m-pintada que ele usou para se i&ccedil;ar atrav&eacute;s de uma janela na casa da v&iacute;tima que o condenou &mdash; isso tamb&eacute;m foi respons&aacute;vel por revolucionar a hist&oacute;ria em v&aacute;rios aspectos.
<h2>A evid&ecirc;ncia</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Chicago Tribune&nbsp;" data-fonte-url="https://www.chicagotribune.com/resizer/8tLx9OY0BVBdbQlE6UsceftYepM=/1200x0/right/middle/arc-anglerfish-arc2-prod-tronc.s3.amazonaws.com/public/A64YBLI7UZFIFFGH4ZI4VDRD3Y.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07210314890016.jpg" alt="(Fonte: Chicago Tribune/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Chicago Tribune/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A pol&iacute;cia fotografou e recortou um peda&ccedil;o da grade para tentar apresentar como prova de que Jennings era o criminoso que tirou a vida de Clarence Hiller, o qual deixou esposa e filha desamparadas.
A promotoria do tribunal de Chicago tentou provar um crime, pela primeira vez na hist&oacute;ria dos Estados Unidos, tendo impress&otilde;es digitais como evid&ecirc;ncia. A defesa do r&eacute;u, no entanto, colocou v&aacute;rios obst&aacute;culos na implementa&ccedil;&atilde;o das digitais no processo, uma delas foi questionar se a t&eacute;cnica rudimentar poderia ser legalmente apresentada ao tribunal.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;San Antonio Report&nbsp;" data-fonte-url="https://www.chicagotribune.com/resizer/8tLx9OY0BVBdbQlE6UsceftYepM=/1200x0/right/middle/arc-anglerfish-arc2-prod-tronc.s3.amazonaws.com/public/A64YBLI7UZFIFFGH4ZI4VDRD3Y.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07210424734017.jpg" alt="(Fonte: San Antonio Report/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: San Antonio Report/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em uma tentativa de provar que as impress&otilde;es digitais poderiam ser iguais para tentar refutar a teoria, os advogados de Jennings solicitaram impress&otilde;es do p&uacute;blico. O advogado de defesa W. G Anderson se candidatou ao teste. Ele foi desbancado em frente ao j&uacute;ri quando suas impress&otilde;es ficaram vis&iacute;veis em um peda&ccedil;o de papel que havia tocado.
Sendo assim, o j&uacute;ri votou unanimemente pela condena&ccedil;&atilde;o de Jennings, que recebeu a pena de morte, sendo enforcado logo em seguida.
Contudo, n&atilde;o ficou claro o quanto o papel da ra&ccedil;a do r&eacute;u teve relev&acirc;ncia em seu julgamento. Isso porque todo homem negro era visto como um criminoso naquela &eacute;poca e ficou dif&iacute;cil de imaginar se um j&uacute;ri branco n&atilde;o seria mais c&eacute;tico em rela&ccedil;&atilde;o a um r&eacute;u branco que fosse tentado ser incriminado com uma t&eacute;cnica desconhecida.
<h2>Tentando provar a ra&ccedil;a</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;TimeToast&nbsp;" data-fonte-url="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT2xg8V6wSzab9oxJwR5bQr5vxATukg9TbxQs7NSgB8pZt6DgJp4-ZEAvNeQHiz1RdwT5s&amp;usqp=CAU"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07211007937018.jpg" alt="(Fonte: TimeToast/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: TimeToast/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A hip&oacute;tese partiu do princ&iacute;pio de que o pr&oacute;prio europeu Francis Galton, que escreveu um livro no final de 1880 em que consta o primeiro sistema de classifica&ccedil;&atilde;o de impress&otilde;es digitais, fez toda a determina&ccedil;&atilde;o da t&eacute;cnica baseada em cren&ccedil;as raciais pseudocient&iacute;ficas. Em seu livro Impress&otilde;es Digitais, Galton escreveu que &ldquo;parecia razo&aacute;vel esperar encontrar diferen&ccedil;a racial nas marcas dos dedos&rdquo;.
Para a jornalista Ava Kofman, que escreveu um artigo para o jornal The Public Domain Review, o pensamento de Galton e sua busca pela ci&ecirc;ncia das impress&otilde;es digitais combinava com a ideologia colonialista da &eacute;poca, visto que os europeus introduziram-nas para distinguirem os povos extraeuropeus que teriam digitais "indecifr&aacute;veis". E, ainda, Galton se envolveu na quantifica&ccedil;&atilde;o das diferen&ccedil;as raciais, inventando medi&ccedil;&otilde;es num&eacute;ricas pseudocient&iacute;ficas para categorizar os humanos por ra&ccedil;a, refor&ccedil;ando sua cruzada racista.
No final das contas, a pol&iacute;cia e a intelig&ecirc;ncia dos EUA apenas imitaram os europeus quando come&ccedil;aram a reunir impress&otilde;es digitais para fins de identifica&ccedil;&atilde;o no in&iacute;cio do s&eacute;culo XX. A t&eacute;cnica surgiu em solo norte-americano pela 1&ordf; vez durante a Feira Mundial de 1904, em St. Louis, quando agentes da Scotland Yard (pol&iacute;cia metropolitana de Londres) fizeram uma exposi&ccedil;&atilde;o para demonstrar a t&eacute;cnica que estava se tornando popular nos tribunais brit&acirc;nicos.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07211156672019.jpg" alt="(Fonte: History Daily/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: History Daily/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Conforme o&nbsp;Chicago Tribune, foi a partir do caso Jennings que a Suprema Corte de Illinois passou a inserir as impress&otilde;es digitais como base suficiente para um veredito de morte por enforcamento.
No entanto, o grau de subjetividade e a potencial margem para erro, por menor que seja, ainda &eacute; assunto debatido h&aacute; mais de 1 s&eacute;culo desde que ocorreu o caso. Em 2004, as t&eacute;cnicas de impress&atilde;o digital foram alvo de debate quando um advogado chamado Brandon Mayfield foi preso ap&oacute;s uma correspond&ecirc;ncia equivocada de uma impress&atilde;o digital parcial coletada de um trem onde aconteceu um ataque terrorista em Madri.
Apesar de o Departamento Federal de Investiga&ccedil;&atilde;o (FBI) ter-se desculpado publicamente, o caso colocou em pauta se outros erros n&atilde;o passaram despercebidos ao longo de milhares de processos, fomentando a mente daqueles que contestam a infalibilidade da t&eacute;cnica.

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Quando impressões digitais se tornaram prova em tribunais?

Imagem de Maria Quitéria, a primeira mulher no Exército Brasileiro no megacurioso

Apesar dos padrões da sociedade de 1800, ela quis lutar pela independência do Brasil

Nascida em 27 de julho de 1792, em S&atilde;o Jos&eacute; de Itapororocas (atual Feira de Santana, na Bahia), Maria Quit&eacute;ria de Jesus perdeu a m&atilde;e quando tinha 10 anos, exercendo o papel maternal para seus outros dois irm&atilde;os a partir daquele momento.
Devido &agrave;s obriga&ccedil;&otilde;es como respons&aacute;vel pelas duas crian&ccedil;as, ela teve que deixar a escola para cuidar da casa. Sozinha, Quit&eacute;ria aprendeu a cozinhar, ca&ccedil;ar e pescar, apresentando desde cedo uma habilidade acima do normal no manejo de armas.
No entanto, esse tipo de comportamento que contrariava os padr&otilde;es normativos da sociedade do Brasil, incomodava em grande parte a terceira esposa de seu pai, Maria Rosa de Brito.
Quit&eacute;ria, no entanto, resistiu ao que era imposto pelos costumes e foi ainda mais longe, consagrando-se na Hist&oacute;ria brasileira.
<h2>A decis&atilde;o</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Brasil Escola&nbsp;" data-fonte-url="https://noticiasconcursos.com.br/wp-content/uploads/2021/07/noticiasconcursos.com.br-a-independencia-do-brasil-principais-caracteristicas-independencia-do-brasil-2.jpeg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07190047680012.jpg" alt="Dom Pedro I. (Fonte: Brasil Escola/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Dom Pedro I. (Fonte: Brasil Escola/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Quando <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119811-de-d-pedro-i-a-destruicao-a-saga-da-mumia-kherima-no-brasil.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Dom Pedro I</a> decretou &ldquo;Independ&ecirc;ncia ou morte!&rdquo; &agrave;s margens do Rio Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, o processo da separa&ccedil;&atilde;o da prov&iacute;ncia de Pernambuco do Reino de Portugal j&aacute; havia come&ccedil;ado h&aacute; mais de um ano.
O processo militar regionalizado de expuls&atilde;o das tropas portuguesas do territ&oacute;rio brasileiro foi mais conflituoso e duradouro na Bahia, enquanto o Rio de Janeiro celebrava de maneira praticamente pac&iacute;fica a vit&oacute;ria de D. Pedro I.
Salvador foi o ponto focal onde os colonos portugueses reagiram para manter enclaves lusitanos, mas Feira de Santana resistiu at&eacute; o fim. Foi nesse momento que Quit&eacute;ria decidiu que entraria para a linha de frente da guerra.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Not&iacute;cias e Concursos&nbsp;" data-fonte-url="https://noticiasconcursos.com.br/wp-content/uploads/2021/07/noticiasconcursos.com.br-a-independencia-do-brasil-principais-caracteristicas-independencia-do-brasil-2.jpeg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07185939835011.jpeg" alt="(Fonte: Not&iacute;cias e Concursos/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Not&iacute;cias e Concursos/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Com a proclama&ccedil;&atilde;o da independ&ecirc;ncia, foi instalado o Conselho Interino do Governo da Bahia, cujo objetivo era procurar volunt&aacute;rios para defender o movimento de independ&ecirc;ncia que sofria ataques dos contingentes portugueses.
Quando se deparou com a not&iacute;cia de que sua vila havia recebido a proposta de enviar homens para a luta, Maria Quit&eacute;ria (ent&atilde;o com 30 anos) pediu para que seu pai a deixasse ir.&nbsp;
O homem negou dizendo que &ldquo;Mulheres fiam, tecem e bordam; n&atilde;o v&atilde;o &agrave; guerra&rdquo;, como ressaltou o escritor Brenno Ferraz, em seu livro A Guerra da Independ&ecirc;ncia da Bahia,&nbsp;de&nbsp;1923.
<h2>O disfarce</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07190149430013.jpg" alt="Maria Quit&eacute;ria. (Fonte: InfoEscola/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Maria Quit&eacute;ria. (Fonte: InfoEscola/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Determinada a responder ao chamado para defender a p&aacute;tria que exaltava com tanto entusiasmo e vontade, Quit&eacute;ria recorreu &agrave; irm&atilde;, que lhe apoiou na ideia e emprestou as fardas do marido.
A mulher ent&atilde;o cortou o cabelo bem curto, vestiu a farda militar do cunhado e se apresentou ao Regimento de Artilharia como soldado Medeiros. Os militares n&atilde;o suspeitaram de nada, ent&atilde;o ela foi enviada para compor o Batalh&atilde;o dos Volunt&aacute;rios do Pr&iacute;ncipe, conhecido tamb&eacute;m como Batalh&atilde;o dos Periquitos, lutando de setembro a julho de 1823.
Como soldado Medeiros, Quit&eacute;ria lutou na frente de batalha na foz do Rio Paragua&ccedil;u, com &aacute;gua na altura do peito, atirando e contra-atacando. Contudo, devido ao seu porte f&iacute;sico considerado fr&aacute;gil, apesar de &aacute;gil, ela foi designada para combater na infantaria.
N&atilde;o se sabe exatamente quando foi que o pai, o fazendeiro Gon&ccedil;alo de Almeida, encontrou Maria Quit&eacute;ria em um acampamento militar. Ele a desmascarou na frente de todos, inclusive do major Jos&eacute; Ant&ocirc;nio da Silva e Castro, que ficou surpreso com a revela&ccedil;&atilde;o. No entanto, para surpresa de todos, o major n&atilde;o permitiu a libera&ccedil;&atilde;o da jovem combatente, tampouco a designou para afazeres dom&eacute;sticos da institui&ccedil;&atilde;o.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07190426743014.jpg" alt="(Fonte: AminoApps/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: AminoApps/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Ent&atilde;o Quit&eacute;ria simplesmente assumiu sua identidade e adaptou seu fardamento com adere&ccedil;os femininos, como uma saia por cima da roupa e um penacho no capacete, mesmo que a tornasse um grande alvo para os inimigos por estar t&atilde;o diferente dos demais soldados do batalh&atilde;o.
Maria Quit&eacute;ria havia se tornado um exemplo para outras mulheres que tinham interesse em aderirem &agrave; luta. Quando terminou seu tempo de servi&ccedil;o, voltou para casa e se casou com o agricultor Gabriel Pereira de Brito, com quem teve uma filha.
A rela&ccedil;&atilde;o com seu pai nunca mais foi a mesma. Ap&oacute;s a morte dele, Quit&eacute;ria optou por n&atilde;o exigir o direito a uma pens&atilde;o, apesar de tamb&eacute;m ter se tornado uma mulher vi&uacute;va.
A hero&iacute;na brasileira terminou seus &uacute;ltimos anos com problemas de vis&atilde;o e faleceu em 1853 de causas naturais. Atualmente, ela &eacute; considerada a patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Ex&eacute;rcito brasileiro.

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Maria Quitéria, a primeira mulher no Exército Brasileiro

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Farta de fraldas de pano e calças de borracha, ela teve uma ideia que mudou tudo

Quem poderia imaginar que at&eacute; meados do s&eacute;culo XX as fraldas descart&aacute;veis &mdash; um item t&atilde;o caro e essencial atualmente &mdash; seriam desprezadas por muitas empresas e at&eacute; consideradas pouco atraentes para o mercado?
No final da d&eacute;cada de 1940, uma mulher chamada Marion Donovan decidiu mudar isso. Nascida em South Bend, Indiana (Ohio, EUA), ela sempre teve seu pai, engenheiro e inventor, como o maior apoiador de suas ideias. Quando ainda estava no Ensino Fundamental, Donovan chegou a criar um tipo de p&oacute; de limpeza para os dentes, antes de crescer e se tornar editora em revistas femininas em Nova York.
A ideia revolucion&aacute;ria para as fraldas veio em um momento crucial de sua vida, em um contexto similar ao de Joy Mangano ao desenvolver seu esfreg&atilde;o miraculoso em 1990. Donovan estava casada e morava em Connecticut, tinha-se tornado uma jovem m&atilde;e exausta de trocar len&ccedil;&oacute;is molhados do ber&ccedil;o de seu filho e de v&ecirc;-lo constantemente assado por causa das cal&ccedil;as de borracha que deveriam conter a urina.
<h2>Boater, a revolu&ccedil;&atilde;o</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07185035655007.jpg" alt="Marion Donovan. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Marion Donovan. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em um momento de catarse, a mulher puxou a cortina do chuveiro, cortou-a em peda&ccedil;os e costurou uma capa de pl&aacute;stico semelhante a um envelope estofado &agrave; prova-d&rsquo;&aacute;gua com adesivos em vez de alfinetes. Donovan chamou sua cria&ccedil;&atilde;o de "boater".
Entretanto, assim como Mangano e seu esfreg&atilde;o, Donovan encontrou ainda mais resist&ecirc;ncia dos fabricantes em 1949. Eles diziam que nenhuma mulher iria querer seu produto e que o mercado estava feliz comprando as cal&ccedil;as pl&aacute;sticas para os beb&ecirc;s. Foi ent&atilde;o que, como toda inventora que acredita no potencial de sua cria&ccedil;&atilde;o, ela come&ccedil;ou a fabricar sua fralda por conta pr&oacute;pria.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07185232378008.jpg" alt="(Fonte: Lamelson Center/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Lamelson Center/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Enfrentando todos os riscos, incluindo o de uma sociedade que menosprezava vendedores ambulantes e a possibilidade iminente de fracasso financeiro, Donovan come&ccedil;ou a vender sua fralda boater nas ruas.
Contrariando todas as probabilidades, foi na Saks Fifith Avenue que ela encontrou sucesso instant&acirc;neo. Dois anos depois, Donovan estava vendendo suas patentes para a Keko Corporation por US$ 1 milh&atilde;o.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07185517958009.jpg" alt="(Fonte: Lamelson Center/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Lamelson Center/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Ela at&eacute; pensou em desenvolver uma fralda com papel absorvente e totalmente descart&aacute;vel, mas os executivos n&atilde;o demonstraram interesse por isso na &eacute;poca. Como resultado, eles perderam a chance para a Pampers, que lan&ccedil;ou a primeira linha de fraldas descart&aacute;veis, em 1961.
At&eacute; 4 de novembro de 1998, a data em que descansou em paz, Donovan fez muito pela ind&uacute;stria ao garantir um total de 20 patentes com suas inven&ccedil;&otilde;es que revolucionaram a sociedade.

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Se você usou fraldas mais confortáveis, agradeça à Marion Donovan

Imagem de "Donora Smog": o nevoeiro mortal que deu início às leis ambientais no megacurioso

O incidente destrutivo foi justificado como 'um ato de Deus'

Apesar de escritores como Charles Dickens terem-se beneficiado da tens&atilde;o e do clima que os <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/114800-o-grande-smog-que-matou-milhares-de-pessoas-em-londres.htm#:~:text=O%20'Grande%20Smog'%20que%20matou%20milhares%20de%20pessoas%20em%20Londres,-10%2F06%2F2020&amp;text=Ao%20longo%20de%20mais%20de,atmosfera%20de%20mist%C3%A9rio%20e%20suspense." rel="noopener noreferrer" target="_blank">nevoeiros caracter&iacute;sticos da Londres</a> do s&eacute;culo XIX criavam, eles tamb&eacute;m criticaram sua origem fabril &mdash; um reflexo do apogeu da Revolu&ccedil;&atilde;o Industrial, que trouxe transtornos de ordem p&uacute;blica em uma &eacute;poca que n&atilde;o existiam leis que protegessem o meio ambiente.
Quando uma n&eacute;voa amarelenta cobriu a cidade de Donora, na Pensilv&acirc;nia (EUA), em 26 de outubro de 1948, os cidad&atilde;os enxergaram (ou n&atilde;o) como uma ambienta&ccedil;&atilde;o perfeita &mdash; apesar de curiosa &mdash; para o Halloween que estava se aproximando.
Contudo, n&atilde;o demorou muito para que os cidad&atilde;os come&ccedil;assem a recorrer aos hospitais relatando dificuldades para respirar. Em menos de 1 dia, a cidade norte-americana havia-se tornado uma vers&atilde;o moderna da Londres vitoriana de <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/111057-identidade-de-jack-o-estripador-pode-ter-sido-descoberta.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Jack, o estripador</a>, onde se tornou necess&aacute;rio andar &agrave; luz do dia com uma lanterna em m&atilde;os.
<h2>A chegada</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07183253191000.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A cidade de Donora era apenas uma comunidade agr&iacute;cola a 48 quil&ocirc;metros ao sul de Pittsburgh, aninhada em um vale estreito, antes de a fabricante de a&ccedil;o Carnegie Steel come&ccedil;ar as funda&ccedil;&otilde;es para uma de suas sedes, em 1902.
Em 1908, os mais de 12 fornos de produ&ccedil;&atilde;o proporcionaram &agrave; cidade o maior volume de tr&aacute;fego ferrovi&aacute;rio de carga da regi&atilde;o. V&aacute;rias f&aacute;bricas surgiram nos arredores, como a Donora Zinc Works e a American Steel &amp; Wire Plant &mdash; que, em 1918, pagou sua 1&ordf; multa por danos &agrave; sa&uacute;de como resultado da polui&ccedil;&atilde;o do ar.
Aquele era s&oacute; o come&ccedil;o do futuro nublado da pequena cidade.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07183526207001.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
J&aacute; na d&eacute;cada de 1920, os propriet&aacute;rios de terras e fazendeiros da cidadela de Webster, pr&oacute;ximo &agrave; Donora, entraram com uma a&ccedil;&atilde;o judicial por danos atribu&iacute;dos aos efluentes de fundi&ccedil;&atilde;o que destru&iacute;ram casas e causaram a perda de pomares, safras, gados e solo superficial.
Com o "estourar" da Grande Depress&atilde;o, a Donora Zinc Works enfrentou uma grande a&ccedil;&atilde;o legal dos moradores de Webster por seus fornos causarem danos &agrave; sa&uacute;de. No entanto, apesar disso, foram colocados de lado os planos para atualiza&ccedil;&atilde;o dos fornos para produzirem menos fuma&ccedil;a.
<h2>O grande nevoeiro</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;La Nacion&nbsp;" data-fonte-url="https://resizer.glanacion.com/resizer/PEQ35OcofCGnjIdiftsMIVyZpIU=/768x0/filters:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/lanacionar/2NF32QMVUZB55FV4WW53KQE2Z4.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07183728113002.jpg" alt="(Fonte: La Nacion/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: La Nacion/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Foi na madrugada de s&aacute;bado, em 30 de outubro, por volta das 2h, que aconteceu a primeira morte. Nos dias seguintes, 19 pessoas morreram. Rapidamente, as casas funer&aacute;rias ficaram sem caix&otilde;es, bem como as floriculturas. Os hospitais lotaram com pessoas testemunhando falta de ar e problemas card&iacute;acos. Para essas, os m&eacute;dicos aconselharam que evacuassem a cidade.&nbsp;Se n&atilde;o fosse pela chuva que chegou naquele domingo de Halloween, dissipando o nevoeiro, a lista de v&iacute;timas teria ultrapassado mil pessoas.
Segundo Devra Davis, fundadora do Environmental Health Trust, quando a fuma&ccedil;a que sa&iacute;a das f&aacute;bricas infectou mortalmente a cidade, os primeiros investigadores foram expulsos pelos executivos do local empunhando rev&oacute;lveres.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07183844848003.jpg" alt="(Fonte: The Allegheny Front/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The Allegheny Front/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Naquela &eacute;poca, a maioria dos vereadores ocupava cargos executivos nas usinas, ent&atilde;o qualquer problema com a f&aacute;brica, que os sustentava financeiramente, deveria ser sanado para preservar sua imagem.
Nas semanas que se seguiram ap&oacute;s a passagem do nevoeiro, o Conselho do Borough de Donora e o United Steelworkers apelaram ao governo federal para lan&ccedil;ar uma investiga&ccedil;&atilde;o liderada pelo crescente Servi&ccedil;o de Sa&uacute;de P&uacute;blica dos Estados Unidos.
&ldquo;Por d&eacute;cadas, a polui&ccedil;&atilde;o foi criada por ind&uacute;strias muito poderosas e as investiga&ccedil;&otilde;es do estado foram muito amig&aacute;veis para com elas&rdquo;, ressaltou o historiador&nbsp;Leif Fredrickson, da Universidade de Virginia.
Esse, ent&atilde;o, foi o momento em que os cidad&atilde;os de Donora resolveram colocar um ponto-final naquele comportamento c&iacute;clico das ind&uacute;strias que os matavam a cada dia.
<h2>Jogo de culpa</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07184512035005.webp" alt="(Fonte: Fine Art America/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Fine Art America/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Vinte e cinco investigadores foram enviados para Donora e Webster de modo a realizar pesquisas de sa&uacute;de com os moradores, inspecionar planta&ccedil;&otilde;es e rebanhos, medir as fontes de polui&ccedil;&atilde;o do ar e monitorar a velocidade do vento naquelas condi&ccedil;&otilde;es meteorol&oacute;gicas.
O resultado foi que mais de 5 mil, dos 14 mil habitantes locais, experimentaram sintomas que variavam de moderados a graves devido &agrave; polui&ccedil;&atilde;o causada pela passagem do nevoeiro. Os pulm&otilde;es dos afetados foram comparados aos de sobreviventes da guerra que tiveram contato com g&aacute;s venenoso.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07184608192006.webp" alt="(Fonte: National Geographic/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: National Geographic/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Foi constatado, pelos investigadores, que a American Steel &amp; Wire Plant e a Donora Zinc Works lan&ccedil;aram uma combina&ccedil;&atilde;o de gases t&oacute;xicos, metais pesados e part&iacute;culas finas no ar. O relat&oacute;rio preliminar, divulgado em outubro de 1949, mostrou que os efluentes tiveram seu efeito nocivo potencializado devido a uma invers&atilde;o de temperatura: uma camada de ar frio ficou presa em uma bolha por uma camada de ar quente acima dela, impedindo que a polui&ccedil;&atilde;o dispersasse do vale.
Por&eacute;m, o advogado dos moradores apontou que outras cidades experimentaram o mesmo fen&ocirc;meno, mas sem grande n&uacute;mero de v&iacute;timas. Ele refor&ccedil;ou que havia algo na fuma&ccedil;a das usinas que estava causando aquelas mortes.
<h2>"Um ato de Deus"</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07184204988004.jpg" alt="(Fonte: TimeToast/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: TimeToast/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Ainda assim, as usinas n&atilde;o "pagaram o pre&ccedil;o" por terem causado aquelas mortes e arruinado a sa&uacute;de de milhares de pessoas. Um estudo de 1961 indicou que a taxa de mortalidade por c&acirc;ncer e doen&ccedil;as cardiovasculares em Donora cresceu exponencialmente ap&oacute;s a cat&aacute;strofe. Em defesa, a American Steel &amp; Wire Company alegou que a polui&ccedil;&atilde;o havia sido "um ato de Deus".
Em um triste contexto de &ldquo;alguns males (ou muitos) v&ecirc;m para o bem&rdquo;, a polui&ccedil;&atilde;o mortal de Donora serviu para que Harry S. Truman (ex-presidente dos Estados Unidos) convocasse a 1&ordf; confer&ecirc;ncia nacional sobre polui&ccedil;&atilde;o do ar na d&eacute;cada de 1950. Nisso, o Congresso aprovou a 1&ordf; Lei do Ar Limpo, 13 anos depois, e Richard Nixon deu continuidade a import&acirc;ncia da sa&uacute;de do ar criando a Ag&ecirc;ncia de Prote&ccedil;&atilde;o Ambiental, em 1970.
Apesar de todos os esfor&ccedil;os, nunca nada conseguiu ser totalmente eficaz contra o surgimento de novas tecnologias e a evolu&ccedil;&atilde;o do setor industrial por todo o mundo, assim desastres ambientais continuam acontecendo.

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'Donora Smog': o nevoeiro mortal que deu início às leis ambientais

Imagem de Em 1895, as pessoas temeram que livros transmitissem doenças no megacurioso

Porém, havia muito mais por trás desse medo repentino

Antes de l&iacute;deres ditadores temerem os livros, a popula&ccedil;&atilde;o fez isso primeiro.&nbsp;Em 12 de setembro de 1895, quando morreu de tuberculose um homem chamado Jessie Allan, bibliotec&aacute;rio na Biblioteca P&uacute;blica de Omaha (Nebraska, EUA), as pessoas come&ccedil;aram a cogitar a possibilidade de que o trabalhador tivesse encontrado seu fim porque algum livro teria transmitido a doen&ccedil;a a ele.
Chamado de "grande medo do livro", esse frenesi de que livros de bibliotecas pudessem espalhar doen&ccedil;as mortais foi totalmente esquecido no decorrer da hist&oacute;ria.
De acordo com a&nbsp;professora Annika Mann, autora de Reading Contagion: The Hazards of Reading in the Age of Point, o p&acirc;nico surgiu a partir do entendimento p&uacute;blico em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s causas de doen&ccedil;as, por exemplo no que se refere a germes. Isso aconteceu logo ap&oacute;s a divis&atilde;o do bacilo de Koch e foi em uma &eacute;poca na qual os Estados Unidos e a Gr&atilde;-Bretanha sofriam com epidemias de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118126-tuberculose-o-que-e-quais-sao-os-sintomas-ela-tem-cura.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">tuberculose</a>, <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119438-a-controversa-origem-da-vacina-da-variola.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">var&iacute;ola</a> e escarlatina.
Por&eacute;m, havia muito mais por tr&aacute;s desse medo repentino.
<h2>Histeria coletiva</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08161503005317.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A possibilidade de&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/nojento/89391-voce-sabe-quais-bacterias-e-possivel-encontrar-em-livros-de-biblioteca.htm" target="_blank" title="Voc&ecirc; sabe quais bact&eacute;rias &eacute; poss&iacute;vel encontrar em livros de biblioteca?">livros contaminados</a> passando de m&atilde;o em m&atilde;o se tornou uma fonte significativa de ansiedade, tanto para as pessoas como para as bibliotecas p&uacute;blicas, que enfrentavam um momento significativo no pa&iacute;s: a ascens&atilde;o da dissemina&ccedil;&atilde;o de livros por meio de uma rede p&uacute;blica e compartilhada.
Al&eacute;m de contrair qualquer doen&ccedil;a apenas pelos res&iacute;duos infectados deixados na capa de um livro, tamb&eacute;m foi cultuada a ideia de que o simples ato de abri-lo trazia doen&ccedil;a pela inala&ccedil;&atilde;o da poeira que havia nos exemplares.
Tanto nos Estados Unidos (EUA) quanto na Gr&atilde;-Bretanha, "o grande medo do livro" atingiu seu &aacute;pice em 1879, quando v&aacute;rios m&eacute;dicos passaram a considerar os livros como potencial fonte de dissemina&ccedil;&atilde;o de doen&ccedil;as.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08161951068321.jpg" alt="(Fonte: NPR/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: NPR/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Na Gr&atilde;-Bretanha, a Lei de Sa&uacute;de P&uacute;blica de 1875 n&atilde;o proibia o empr&eacute;stimo de livros, mas previa que fossem banidos trapos de roupas de cama ou outros objetos que tivessem sido expostos &agrave; contamina&ccedil;&atilde;o. At&eacute; 1907, a lei foi atualizada para incluir explicitamente os livros como vetores de doen&ccedil;as infecciosas.
&ldquo;Se qualquer pessoa souber que est&aacute; sofrendo de uma doen&ccedil;a infecciosa, ela n&atilde;o deve pegar nenhum livro, usar ou fazer com que qualquer livro seja retirado para seu uso em qualquer biblioteca p&uacute;blica ou circulante&rdquo;, ficou previsto na Se&ccedil;&atilde;o 59 da Emenda das Leis de Sa&uacute;de P&uacute;blica da Gr&atilde;-Bretanha.
Nos EUA, no entanto, as legisla&ccedil;&otilde;es agiram apenas em &acirc;mbito estadual, afastando ainda mais as pessoas das bibliotecas.
<h2>O medo irracional</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08162231225324.png" alt="(Fonte: World Digital Library/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: World Digital Library/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Temendo que as bibliotecas definhassem at&eacute; <a href="https://www.megacurioso.com.br/literatura/37114-a-biblioteca-dos-livros-que-nunca-foram-escritos.htm" target="_blank" title="A biblioteca dos livros que nunca foram escritos">deixarem de existir</a>, os bibliotec&aacute;rios tiveram que inovar os m&eacute;todos de higieniza&ccedil;&atilde;o de livros. Eles tentaram mant&ecirc;-los em vapor de cristais de &aacute;cido carb&oacute;lico aquecido em um forno e esterilizaram-nos por meio de solu&ccedil;&atilde;o de formalde&iacute;do, ainda que fosse prejudicial &agrave; conserva&ccedil;&atilde;o dos livros.&nbsp;
Um estudo em Dresden, na Alemanha, revelou que as p&aacute;ginas de livros sujas geravam mais micr&oacute;bios ao serem esfregadas com os dedos molhados. Para provar isso, William R. Reinick exp&ocirc;s 40 cobaias a p&aacute;ginas de livros supostamente contaminadas. Segundo seus resultados, todas as pessoas morreram ap&oacute;s o teste.
Ent&atilde;o o frenesi adquiriu car&aacute;ter de fobia, sobretudo com a press&atilde;o que a m&iacute;dia fazia veiculando cada vez mais mat&eacute;rias que colocavam os livros como "fontes de cont&aacute;gio", mesmo que algumas delas, como a de 29 de junho de 1879 do&nbsp;Chicago Daily Tribune, tenha mencionado que as chances de contrair doen&ccedil;as a partir de livros eram muito pequenas &mdash; ainda que n&atilde;o pudessem ser totalmente descartadas.
J&aacute; o Ohio Democrat&nbsp;fez declara&ccedil;&otilde;es irrespons&aacute;veis, como dizer que a escarlatina foi espalhada pelas bibliotecas ao terem livros tirados delas para entreter os pacientes nos hospitais.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08162645334326.jpg" alt="(Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 1900, em meio ao caos que a histeria coletiva causou, surgiu uma t&aacute;tica derradeira para frear qualquer transmiss&atilde;o: os livros infectados deveriam ser&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/113374-o-que-foi-grande-queima-de-livros-feita-pelos-nazistas.htm" target="_blank" title="O que foi a grande queima de livros feita pelos nazistas?">queimados</a> e n&atilde;o devolvidos. Ent&atilde;o, assim foi feito nos EUA e na Gr&atilde;-Bretanha sob recomenda&ccedil;&otilde;es m&eacute;dicas.
Demorou para que as pessoas se questionassem do risco de cont&aacute;gio, se era real ou se n&atilde;o passava de um "efeito em manada". Os brit&acirc;nicos come&ccedil;aram a experimentar se perguntar disso conforme os m&eacute;dicos e os professores de higiene relatavam que n&atilde;o havia quase nenhuma possibilidade de contrair doen&ccedil;as por meio de um livro.
Para os historiadores, contudo, o que de fato aconteceu foi uma histeria coletiva em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; avers&atilde;o do conceito crescente da exist&ecirc;ncia de bibliotecas p&uacute;blicas. Tantos os americanos quanto brit&acirc;nicos temiam que esses locais facilitassem o acesso aos livros considerados "obscenos" ou "subversivos".&nbsp;
Al&eacute;m disso, os "oponentes do sistema de bibliotecas p&uacute;blicas", como denomina Mann, ajudaram a ati&ccedil;ar o medo do que os livros poderiam espalhar &mdash; mas que estava mais dentro deles do que fora de suas p&aacute;ginas.

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Em 1895, as pessoas temiam que livros transmitissem doenças

Imagem de Bioterrorismo: qual a sua origem? no megacurioso

O temor real é de que patógenos modificados possam causar devastação em uma guerra biológica no nosso século

Estima-se que no s&eacute;culo XX mais de 500 milh&otilde;es de pessoas morreram de doen&ccedil;as infecciosas, das quais dezenas de milhares foram devido a algum ato deliberado de bioterrorismo.
As armas biol&oacute;gicas s&atilde;o compostas de micro-organismos (como bact&eacute;rias, v&iacute;rus ou fungos) e toxinas (compostos t&oacute;xicos produzidos a partir de micro-organismos) encontrados na natureza que podem ser usados para matar ou ferir as pessoas.
A <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119180-6888-batalhao-a-unidade-de-mulheres-negras-na-2-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Segunda Guerra Mundial</a> fez crescer a busca das na&ccedil;&otilde;es por algum tipo de pat&oacute;geno que pudesse garantir vantagem durante o conflito, com um poder destrutivo ainda maior, por&eacute;m os atos de guerra biol&oacute;gica e qu&iacute;mica s&atilde;o seculares.
<h2>Na Antiguidade</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/27/27133220408161.jpg" alt="(Fonte: Lapham's Quarterly/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Lapham's Quarterly/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar de a tecnologia ter desempenhado um papel importante na cria&ccedil;&atilde;o dessas armas de destrui&ccedil;&atilde;o, que mataram pessoas e infectaram territ&oacute;rios por anos, as tentativas de usar agentes biol&oacute;gicos surgiu na Antiguidade.
Em 400 a.C, os arqueiros citas infectavam suas flechas mergulhando-as em corpos em decomposi&ccedil;&atilde;o ou misturando sangue com esterco para atingir seus inimigos e adoent&aacute;-los. Os persas, gregos e romanos de 300 a.C listaram os animais que poderiam ser usados para contaminar po&ccedil;os e outras fontes de &aacute;gua &mdash; a t&aacute;tica secular conhecida como &ldquo;<a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119259-envenenar-o-poco-a-tatica-de-guerra-usada-pelo-estado-islamico.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">envenenar o po&ccedil;o</a>&rdquo;.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/27/27133445955162.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Durante a Batalha de Eurimedon, em 190 a.C, o estadista cartagin&ecirc;s An&iacute;bal Barca conquistou a vit&oacute;ria naval sobre o Rei Eumenes I de P&eacute;rgamo atirando contra os navios inimigos em vasos de barro cheios de cobras venenosas. Ele foi o respons&aacute;vel por mostrar que o uso de armas biol&oacute;gicas nem sempre &eacute; atrav&eacute;s da manipula&ccedil;&atilde;o de algum micro-organismo ou toxina de maneira direta, mas sim que o oponente seja atacado por qualquer coisa que cause sua morte por doen&ccedil;a.
O imperador do sacro imp&eacute;rio romano-germ&acirc;nico Frederico I usou os cad&aacute;veres em decomposi&ccedil;&atilde;o avan&ccedil;ada dos soldados para envenenar po&ccedil;os durante a Batalha de Tortona, no s&eacute;culo XII.&nbsp;
No cerco de Kaffa, no s&eacute;culo XIV, as for&ccedil;as t&aacute;rtaras arremessaram os corpos infectados pela <a href="https://www.megacurioso.com.br/saude-bem-estar/119389-esqueleto-de-5-mil-anos-seria-de-vitima-de-peste-bubonica.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">peste bub&ocirc;nica</a> na cidade, em uma tentativa de causar uma <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118178-quais-sao-as-diferencas-entre-pandemia-epidemia-e-surto.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">epidemia</a>. Algo parecido aconteceu durante a guerra francesa e indiana no s&eacute;culo XVIII, quando as for&ccedil;as brit&acirc;nicas sob a lideran&ccedil;a de Sir. Jeffrey Amherst deram cobertores usados por v&iacute;timas da <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119438-a-controversa-origem-da-vacina-da-variola.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">var&iacute;ola</a> aos nativos americanos para tentar dizim&aacute;-los.
<h2>Na modernidade</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/27/27133806877164.jpg" alt="(Fonte: Boxden/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Boxden/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 1887, o cientista Louis Pasteur e <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118126-tuberculose-o-que-e-quais-sao-os-sintomas-ela-tem-cura.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Robert Koch</a>, um dos fundadores da microbiologia e respons&aacute;vel pela compreens&atilde;o da epidemiologia das doen&ccedil;as transmiss&iacute;veis, abriram a Funda&ccedil;&atilde;o Pasteur. O centro de microbiologia ofereceu novas perspectivas para os interessados em <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/115506-a-operacao-cherry-blossoms-at-night-destruiria-os-eua-em-1945.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">armas biol&oacute;gicas</a> porque permitiu que os agentes fossem projetados de forma racional.
O perigo de sua pesquisa, e como ela poderia ser usada para atentados biol&oacute;gicos em larga escala, resultou na Declara&ccedil;&atilde;o de Bruxelas de 1874 e na Conven&ccedil;&atilde;o de Haia em 1899, que proibiram o uso de armas de cunho envenenador. No entanto, nenhum dos tratados continham meios de controle, portanto n&atilde;o impediram os pa&iacute;ses de desenvolverem suas armas.
Com o in&iacute;cio da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119011-as-tropas-britanicas-sofreram-com-as-ists-na-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Primeira Guerra Mundial</a>, o ex&eacute;rcito alem&atilde;o desenvolveu antraz, mormo, c&oacute;lera e fungo do trigo para uso em ataques biol&oacute;gicos; chegando a espalhar, supostamente, a Peste em S&atilde;o Petersburgo, na R&uacute;ssia.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;UCL&nbsp;" data-fonte-url="https://www.ucl.ac.uk/mathematical-physical-sciences/sites/mathematical_physical_sciences/files/styles/large_image/public/maps1521a_7.jpeg?itok=bXx6bMh6"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/27/27133916127165.jpeg" alt="(Fonte: UCL/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: UCL/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Para tentar barrar o desenvolvimento acelerado, a Conven&ccedil;&atilde;o de Genebra de 1925 foi assinada por 108 na&ccedil;&otilde;es, determinando o primeiro acordo multilateral que estendeu a proibi&ccedil;&atilde;o de agentes qu&iacute;micos ou biol&oacute;gicos durante a guerra. No entanto, mais uma vez o m&eacute;todo de verifica&ccedil;&atilde;o n&atilde;o foi considerado.
Entre 1935 e 1945, a <a href="https://www.megacurioso.com.br/guerras/98159-unidade-731-a-crueldade-humana-nao-tem-limites.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Unidade 731</a>, estabelecida na Manch&uacute;ria pelo Jap&atilde;o, exp&ocirc;s mais de 3 mil v&iacute;timas &agrave; Peste, ao antraz, &agrave; s&iacute;filis e a outros agentes na tentativa de aprimor&aacute;-los para sintetizar uma bomba.
Imediatamente em 1942, os Estados Unidos entraram para a corrida biol&oacute;gica ao instaurar o Servi&ccedil;o de Pesquisa de Guerra, em que cientistas investigaram o antraz e toxina botul&iacute;nica para uso, estocando-os em junho de 1944 em caso de retalia&ccedil;&atilde;o das for&ccedil;as alem&atilde;s.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/27/27134028049168.jpg" alt="(Fonte: History Collection/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: History Collection/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Mas eles n&atilde;o pararam por a&iacute;. Entre as d&eacute;cadas de 1950 e 1960, o governo americano liberou em popula&ccedil;&otilde;es de v&aacute;rias cidades organismos considerados &ldquo;inofensivos&rdquo;, visando estudar a escala de contamina&ccedil;&atilde;o &mdash; como fizeram na <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/118986-operacao-drop-kick-os-testes-do-exercito-para-espalhar-doencas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Opera&ccedil;&atilde;o Drop Kick</a>.
O g&aacute;s cloro causou les&atilde;o pulmonar; o g&aacute;s mostarda resultou em bolhas pela pele; o g&aacute;s sarin agiu no sistema nervoso das v&iacute;timas e as fizeram sangrar at&eacute; &agrave; morte; o <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/110989-agente-laranja-usado-durante-a-guerra-do-vietna-ainda-gera-contaminacao.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Agente Laranja</a> causou muta&ccedil;&atilde;o gen&eacute;tica severa na Guerra do Vietn&atilde;; a ricina, subst&acirc;ncia extra&iacute;da da mamona, colapsou os &oacute;rg&atilde;os das v&iacute;timas em tr&ecirc;s dias.
Esses agentes foram explorados e usados em uma &eacute;poca em que n&atilde;o tem como comparar com o atual conhecimento da biologia. Portanto, o temor real &eacute; de que pat&oacute;genos modificados possam causar devasta&ccedil;&atilde;o em uma guerra biol&oacute;gica no nosso s&eacute;culo.

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Bioterrorismo: qual a sua origem?

Imagem de Canibalismo na Europa: de prática heroica a bárbara no megacurioso

Até hoje o Velho Continente nega suas origens 'selvagens'

Um dos tabus mais sagrados e controversos da humanidade, a pr&aacute;tica do canibalismo, hoje est&aacute; associado &agrave; viol&ecirc;ncia, &agrave; loucura e a uma imagem man&iacute;aca. Por&eacute;m, durante a Idade M&eacute;dia, a pr&aacute;tica j&aacute; foi celebrada por sua suposta ferocidade e utilidade.
No romance Ricardo Cora&ccedil;&atilde;o de Le&atilde;o, um relato ficcional da vida do rei da Inglaterra Ricardo I, a comida que o monarca precisaria para se recuperar quando adoecesse seria a carne de porco. Com os rumores de que os sarracenos (&aacute;rabes e mu&ccedil;ulmanos) tinham gosto de porco, seus homens cozinharam e alimentaram-no com carne humana sem ele saber.
Ao exigir a cabe&ccedil;a do porco que acabou de comer, os cozinheiros apareceram com uma cabe&ccedil;a humana, e a rea&ccedil;&atilde;o de Ricardo I foi rir. Al&eacute;m do triunfo crist&atilde;o sobre esse povo considerado b&aacute;rbaro e desviado, o rei disse que seus homens n&atilde;o passariam mais fome.&nbsp;De repente, a pr&aacute;tica canibal se tornou um costume em sua casa &mdash; e tamb&eacute;m uma obriga&ccedil;&atilde;o.
<h2>Na Antiguidade</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26211438762015.jpg" alt="(Fonte: Spiegel/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Spiegel/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em novembro de 1098, as tropas do conde Raimundo VI de Toulouse tomaram a cidade s&iacute;ria de M&rsquo;arra em um cerco sangrento que empilhou centenas de cad&aacute;veres de sarracenos. Para manter a cidade protegida, ele deixou um contingente de soldados que sofreram com a falta de abastecimento na regi&atilde;o montanhosa.&nbsp;
Com comida insuficiente, os crist&atilde;os comeram com gosto os corpos apodrecidos dos sarracenos jogados nos p&acirc;ntanos h&aacute; 2 ou 3 semanas. Al&eacute;m disso, os homens rasgaram os cad&aacute;veres em busca de besantes (moedas de ouro) escondidas nas entranhas.
Esse comportamento manchou a hist&oacute;ria da Primeira Cruzada, que deveria ser um "grande &eacute;pico europeu" comemorado pela sociedade como a "vit&oacute;ria crist&atilde;", por&eacute;m eles precisaram lidar com a atitude controversa dos soldados em M&rsquo;arra.&nbsp;
Naquela &eacute;poca, o canibalismo n&atilde;o se encaixava mais na autoimagem cultuada pelos europeus, que consideravam canibais as bruxas, os judeus, os selvagens, os orientais e os pag&atilde;os &mdash; muito diferente do que enxergavam na &eacute;poca medieval, em que os her&oacute;is militares canibais eram vistos como "grandes avatares de for&ccedil;a".
Indo mais longe em como o canibalismo tem participa&ccedil;&atilde;o antiga na hist&oacute;ria da Europa, em um artigo da Science, de 1999, paleontologistas franceses relataram que ossos de 100 mil anos de 6 v&iacute;timas de neandertais, encontrados em uma caverna chamada Moula-Guercy, foram quebrados por outros primitivos para extrair a medula e o c&eacute;rebro. Al&eacute;m disso, marcas de ferramentas na mand&iacute;bula e no f&ecirc;mur sugeriram que a carne da l&iacute;ngua e da coxa foram cortadas para consumo.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26211552387016.jpg" alt="(Fonte: Open Democracy/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Open Democracy/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Na &uacute;ltima d&eacute;cada, os pesquisadores relataram outras evid&ecirc;ncias de que os neandertais continuaram comendo uns aos outros at&eacute; pouco antes de sua extin&ccedil;&atilde;o. Na caverna El Sidr&oacute;n, na Espanha, paleont&oacute;logos descobriram que uma fam&iacute;lia de 12 pessoas foi desmembrada, esfolada e depois comida por outros neandertais h&aacute; 50 mil anos.
Segundo o historiador Jay Rubenstain, da Universidade do Tennessee, muitos documentos religiosos e hist&oacute;ricos do s&eacute;culo XI indicam que o canibalismo j&aacute; era uma pr&aacute;tica comum na modernidade, principalmente nos mercados ingleses de carne durante tempos de fome extrema na Europa.
Desse modo, chegando ao s&eacute;culo XVI, comer gente n&atilde;o fazia apenas parte do extenso hist&oacute;rico europeu, mas tamb&eacute;m se tornou comum na Medicina.
<h2>Na modernidade</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Horror Bazar&nbsp;" data-fonte-url="https://1.bp.blogspot.com/-_TKp5BZHg1E/X3Bk8_isxRI/AAAAAAAAAe4/Y-Cg71CepKo8z3jtZZGNhkQbBi_SUl_kQCLcBGAsYHQ/s971/armin-meiwes-762686.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26211719606017.jpeg" alt="(Fonte: Horror Bazar/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Horror Bazar/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Na virada do s&eacute;culo XXI, em 2001, o t&eacute;cnico em inform&aacute;tica&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/bizarro/42161-conheca-um-canibal-superpolemico-e-saiba-que-gosto-tem-a-carne-humana.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Armin Meiwes</a>, morador solit&aacute;rio do norte da Alemanha, fez um an&uacute;ncio online: ele queria participar de um ato sexual em que o homem solicitado deveria estar disposto a ser morto e comido.
A 320 quil&ocirc;metros de Berlim, um engenheiro chamado Bernd Brandes atendeu ao chamado de Meiwes e viajou at&eacute; sua casa na fazenda. Tudo foi documentado em um v&iacute;deo sangrento encontrado pela pol&iacute;cia, envolvendo a participa&ccedil;&atilde;o consensual de Brandes no jantar canibal do come&ccedil;o ao fim.
Em uma &eacute;poca em que o mundo fervia com os recentes casos de Andrei Chikatilo e <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/117982-7-serial-killers-que-foram-assassinados-na-prisao.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Jeffrey Dahmer</a>, o canibalismo chocou o p&uacute;blico alem&atilde;o, levando a um problema judicial para os promotores que queriam acusar Meiwes de um crime.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Caixa de Pesadelos&nbsp;" data-fonte-url="https://static.wixstatic.com/media/a27d24_dda02f89b49e426184722833d4854916~mv2.jpeg/v1/fill/w_620,h_407,al_c,q_90/a27d24_dda02f89b49e426184722833d4854916~mv2.jpeg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26211805200018.jpeg" alt="(Fonte: Caixa de Pesadelos/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Caixa de Pesadelos/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
No entanto, a pr&aacute;tica n&atilde;o &eacute; tipificada ilegal no extenso c&oacute;digo penal alem&atilde;o, visto que, at&eacute; aquele caso, as leis contra homic&iacute;dio eram suficientes para cobrir o canibalismo. Se Brandes ofereceu a pr&oacute;pria vida, como Meiwes poderia ser acusado de assassinato?
Por causa disso, o t&eacute;cnico de inform&aacute;tica foi considerado culpado por suic&iacute;dio assistido e condenado a 8 anos de pris&atilde;o. Contudo, a senten&ccedil;a foi revogada pelo clamor p&uacute;blico e midi&aacute;tico, que levou a um novo julgamento em que Meiwes foi considerado culpado de matar por prazer sexual, recebendo pris&atilde;o perp&eacute;tua.
Talvez o canibalismo seja um dos poucos aspectos no imagin&aacute;rio popular em que o eurocentrismo n&atilde;o fala mais alto, isso porque a palavra entrou pela primeira vez na l&iacute;ngua inglesa no s&eacute;culo XVI por meio dos colonizadores espanh&oacute;is que descreveram o que eles viram os povos ind&iacute;genas das ilhas caribenhas fazer.

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Canibalismo na Europa: de prática heroica a bárbara

Imagem de De D. Pedro I à destruição: a saga da múmia Kherima no Brasil no megacurioso

O cadáver secular permanece sendo um mistério

Pouco se sabe sobre a trajet&oacute;ria em vida da Princesa do Sol, mais conhecida como Princesa Kherima, uma mulher que viveu na regi&atilde;o de Tebas durante o Per&iacute;odo Romano, entre os s&eacute;culos I e III.
Estima-se que ela tinha por volta de 18 e 20 anos quando foi mumificada, e a causa da morte &eacute; indeterminada, bem como todas as informa&ccedil;&otilde;es sobre sua vida &mdash; incluindo seu nome.
Por outro lado, o que tornou Kherima t&atilde;o rara foi seu processo de mumifica&ccedil;&atilde;o. Muito diferente da pr&aacute;tica eg&iacute;pcia de envelopar as m&uacute;mias com tecidos de linho, a jovem teve cada membro enfaixado individualmente, at&eacute; o entorno dos dedos de seus p&eacute;s e m&atilde;os, com faixas pintadas e decoradas com representa&ccedil;&otilde;es de s&iacute;mbolos m&iacute;sticos &mdash; alguns dos quais nunca foram decifrados.
Kherima estava entre as oito m&uacute;mias preparadas dessa forma na Hist&oacute;ria, todas datadas da mesma &eacute;poca e provenientes do mesmo s&iacute;tio arqueol&oacute;gico onde ela foi encontrada.
<h2>A saga da princesa</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25175006596426.jpg" alt="(Fonte: Curiosidades Nota 10/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Curiosidades Nota 10/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em meados de 1826, a m&uacute;mia Kherima chegou ao Brasil atrav&eacute;s de Nicolau Fiengo, um italiano considerado um &ldquo;comerciante de antiguidades&rdquo;. Com ele, tamb&eacute;m entraram no pa&iacute;s uma cole&ccedil;&atilde;o eg&iacute;pcia do explorador Giovanni Battista, respons&aacute;vel pelas escava&ccedil;&otilde;es da Necr&oacute;pole de Tebas e do Templo de Carnaque.
Foi em um leil&atilde;o no Rio de Janeiro que a princesa Kherima encontrou seu novo possessor: <a href="https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/35662-exumacao-do-corpo-de-d-pedro-i-traz-mais-detalhes-a-historia-do-brasil.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Dom Pedro I</a>. No mesmo ano, o imperador a doou ao Museu Nacional, localizado na regi&atilde;o central da cidade, fundado em 1818.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25175107065427.jpg" alt="(Fonte: BBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: BBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Foi ao longo da d&eacute;cada de 1960, quando foi permitido erguer a tampa de vidro da redoma do leito de Kherima e tocar em seu corpo mumificado, que surgiram as hist&oacute;rias macabras. A mais famosa, por&eacute;m, era de que a pessoa que encostasse em Kherima era arrebatada por um transe.
Aqueles que vivenciaram a experi&ecirc;ncia alegam que a m&uacute;mia era uma integrante da realeza eg&iacute;pcia que morreu esfaqueada quando ainda era virgem. Com o aumento do frenesi ao redor dessas lendas, um professor da Sociedade de Amigos do Museu Nacional, chamado Victor Stawiarski, passou a dar aulas de egiptologia na mesma sala onde ficava Kherima. Ele ministrou cursos com a participa&ccedil;&atilde;o de m&eacute;diuns e hipn&oacute;logos, que s&oacute; serviram para refor&ccedil;ar o mist&eacute;rio ao redor do cad&aacute;ver.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25175250097428.jpeg" alt="(Fonte: Vice/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Vice/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A princesa Kherima desapareceu com todos seus mist&eacute;rios em meio &agrave;s chamas durante o devastador inc&ecirc;ndio de 2 de setembro de 2018 que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, considerado o maior antro de Hist&oacute;ria Natural e Antropologia da Am&eacute;rica Latina.

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De D. Pedro I à destruição: a saga da múmia Kherima no Brasil

Imagem de O inacreditável plano de salvar Napoleão Bonaparte do exílio no megacurioso

A trama ousada e incabível teve um protagonista: um submarino

A partir de 21 de novembro de 1806,&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/118093-napoleao-e-josefina-uma-historia-de-amor-conturbada.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Napole&atilde;o Bonaparte</a> deu in&iacute;cio ao &aacute;pice de seu poder ao instaurar o Bloqueio Continental, visando afetar a economia inglesa, j&aacute; que a Fran&ccedil;a n&atilde;o havia conseguido invadir o Reino Unido.
Todos os pa&iacute;ses europeus que n&atilde;o obedecessem ao bloqueio seriam invadidos pelas tropas francesas, como foi o caso de Portugal no final do ano seguinte ao estabelecimento da medida. J&aacute; em 1812, quando a R&uacute;ssia rompeu o bloqueio, Napole&atilde;o mobilizou um ex&eacute;rcito composto de aproximadamente 600 mil soldados e deu in&iacute;cio &agrave; Campanha da R&uacute;ssia, com o intuito de derrub&aacute;-la.&nbsp;No entanto, em um rev&eacute;s estrondoso, aquele foi o in&iacute;cio do fim do estadista franc&ecirc;s.
<h2>Da ascens&atilde;o &agrave; queda &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp;&nbsp;</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26210137824009.jpg" alt="(Fonte: Brasil Escola/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Brasil Escola/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Quando o ex&eacute;rcito de Napole&atilde;o mingou com os ataques surpresas das tropas russas, definhando em meio a doen&ccedil;as, ao frio mortal e &agrave; fome generalizada, o homem n&atilde;o viu outra sa&iacute;da sen&atilde;o abdicar ao trono da Fran&ccedil;a. Isso ocorreu em abril de 1814, com a Guerra da Sexta Coliga&ccedil;&atilde;o contra seu poder.
Derrotado, Napole&atilde;o foi enviado para ex&iacute;lio na Ilha de Elba, pr&oacute;ximo &agrave; costa da Fran&ccedil;a, no Mar Mediterr&acirc;neo, onde ele n&atilde;o permaneceu por muito tempo. Em 26 de fevereiro do ano seguinte, aproveitando a brecha na aus&ecirc;ncia dos navios brit&acirc;nicos e franceses que faziam guarda ao redor da ilha, Napole&atilde;o escapou com a ajuda de seus homens e rumou em dire&ccedil;&atilde;o &agrave; costa francesa.&nbsp;O retorno triunfal dele em 20 de mar&ccedil;o de 1815 marcou o in&iacute;cio do emblem&aacute;tico per&iacute;odo do governo de 100 dias.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26210400230010.jpg" alt="(Fonte: Toda Mat&eacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Toda Mat&eacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 18 de junho do mesmo ano, o in&iacute;cio da Batalha de Waterloo marcou o fim derradeiro e definitivo do controle de Napole&atilde;o Bonaparte, que fugiu do campo de batalha ainda &agrave; noite ap&oacute;s seu ex&eacute;rcito ser derrotado novamente.
Ele retornou a Paris, mas ficou apenas alguns dias na posse de seu trono antes de abdicar novamente, em 24 de junho, e voltar para o ex&iacute;lio. Dessa vez, por&eacute;m, na distante Ilha de Santa Helena, localizada no Atl&acirc;ntico sul, h&aacute; mais de 2 mil quil&ocirc;metros de qualquer peda&ccedil;o de terra.&nbsp;Com refor&ccedil;o redobrado, era praticamente imposs&iacute;vel qualquer tipo de resgate de suas pot&ecirc;ncias fi&eacute;is, mas isso n&atilde;o significa que eles n&atilde;o tentaram.
<h2>Eagle: a aposta</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26210545699011.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Desde os 12 anos, Tom Johnson levava uma vida de crimes, tendo escapado mais de 2 vezes da pris&atilde;o ao longo de sua carreira criminosa. Ele fez sua vida contrabandeando mercadorias para fora da Europa, o que violava v&aacute;rias proibi&ccedil;&otilde;es da Inglaterra e da Fran&ccedil;a.
Em 1835, o livro Cenas e Hist&oacute;rias de um Cl&eacute;rigo em D&iacute;vida&nbsp;foi publicado relatando as experi&ecirc;ncias de seus autores na pris&atilde;o. Foi nele que um autor desconhecido alegou ter encontrado Johnson, que declarou ter recebido uma oferta de 20 mil libras esterlinas para resgatar Napole&atilde;o Bonaparte usando um submarino.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26210751871013.jpg" alt="&nbsp;Tom Johnson. (Fonte: Wikiwand/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />&nbsp;Tom Johnson. (Fonte: Wikiwand/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Entre 1793 e 1797, durante a Primeira Rep&uacute;blica Francesa, Napole&atilde;o pediu ao inventor Robert Fulton que criasse um submarino. Ele apresentou ao estadista uma embarca&ccedil;&atilde;o com quase 7 metros de comprimento, feita de ferro e coberta com placas de cobre e leme para controle vertical, o que permitia a 4 passageiros ficarem submersos por at&eacute; 6 horas. No entanto, o projeto n&atilde;o agradou o monarca, que cortou o patroc&iacute;nio de Fulton em 1804.
Foi provavelmente nele que Johnson se inspirou para encomendar o pr&oacute;prio submarino. Apelidado de Eagle, ele teria 114 toneladas, 26 metros de comprimento e seria impulsionado por 2 motores a vapor, al&eacute;m disso seria acompanhado de um submarino menor, o Etna, com 12 metros de comprimento. Ambas as embarca&ccedil;&otilde;es levariam 30 marinheiros e 20 torpedos, que estariam prontos para atirar caso houvesse a aproxima&ccedil;&atilde;o de qualquer navio inimigo.
<h2>Um plano bizarro</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Smithsonian&nbsp;" data-fonte-url="https://thumbs-prod.si-cdn.com/Tz_OsyP4w9mc3SbmJsuIe6LfsTE=/fit-in/1072x0/https://public-media.si-cdn.com/filer/f5/69/f5692178-c008-49d9-848a-ad154a611b78/42-63937700.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/26/26211009059014.jpg" alt="(Fonte: The Smithsonian/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The Smithsonian/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O livro n&atilde;o falava como o submarino deveria chegar &agrave; long&iacute;nqua Santa Helena, tampouco se aguentaria a jornada embaixo da &aacute;gua, mas, quando chegasse, os homens deveriam baixar Napole&atilde;o por meio de uma cadeira dentro de uma redoma at&eacute; o submarino menor antes de ser transferido para o Eagle.
O plano era t&atilde;o insano que era imposs&iacute;vel, n&atilde;o s&oacute; pela log&iacute;stica rid&iacute;cula, mas tamb&eacute;m pelo local ser fortemente protegido com centenas de guardas. Eles n&atilde;o seriam p&aacute;reos para um poder de fogo t&atilde;o grande.
Quando soube da trama mirabolante, Napole&atilde;o se recusou a participar. Assim, ele encontrou seu fim na ilha, em 5 de maio de 1821.&nbsp;Quanto a Johnson, ele deixou a pris&atilde;o e recebeu uma pens&atilde;o polpuda da Marinha Real, encerrando a vida de maneira confort&aacute;vel.

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O inacreditável plano de salvar Napoleão Bonaparte do exílio

Imagem de Paul Aussaresses: o torturador convidado pela Ditadura Militar no megacurioso

O objetivo do ex-general no Brasil foi tão doentio quanto sua carreira

Quando tinha por volta de 27 anos, Paul Aussaresses, nascido em Saint-Paul-Cap-de-Joux (Fran&ccedil;a), se ofereceu como volunt&aacute;rio para os servi&ccedil;os especiais da Fran&ccedil;a Livre durante o terror da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119180-6888-batalhao-a-unidade-de-mulheres-negras-na-2-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Segunda Guerra Mundial</a>. Nos p&oacute;s-guerra, ele foi respons&aacute;vel por ajudar na forma&ccedil;&atilde;o do 11&ordm; Batalh&atilde;o de Choque, conhecido por ser o bra&ccedil;o armado da ag&ecirc;ncia francesa&nbsp;Service de Documentation Ext&eacute;rieure et de Contre-Espionnage (SDECE) de contraespionagem.
Foi em 1957 que Aussaresses fez seu nome entrar para os anais obscuros da hist&oacute;ria, quando o general Jacques Massu, comandante da 11&ordf; Divis&atilde;o Francesa Paraquedista na Arg&eacute;lia, ordenou que o homem voasse para o pa&iacute;s e liderasse a Frente de Liberta&ccedil;&atilde;o Nacional, popularmente conhecida como Esquadr&atilde;o da Morte.
Entre 1954 e 1962, a&nbsp;Arg&eacute;lia lutou por sua independ&ecirc;ncia para se libertar do dom&iacute;nio colonial franc&ecirc;s, caracterizado por guerrilha urbana, terrorismo e, de ambos os lados, tortura. Ao longo do conflito, a Fran&ccedil;a declarou veementemente que n&atilde;o havia torturado qualquer pessoa no pa&iacute;s, por&eacute;m censurou jornais, livros e filmes que diziam o contr&aacute;rio.
O sigilo oficial manteve o assunto e suas discuss&otilde;es sobre as atrocidades francesas silenciadas at&eacute; 2000.
<h2>O monstro</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25174106186420.jpg" alt="(Fonte: Coronel Von Rohault/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Coronel Von Rohault/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 23 de novembro de 2000, o ex-general Aussaresses, em entrevista ao&nbsp;Le Monde, disse que tortura e assassinato eram rotina e um comportamento considerado tolerado pela lideran&ccedil;a francesa, visto como a maneira mais r&aacute;pida de obter informa&ccedil;&otilde;es sobre as atividades guerrilheiras.
Chocando o mundo inteiro, principalmente seu pa&iacute;s e a Arg&eacute;lia, o ex-general afirmou que n&atilde;o carregava qualquer arrependimento de todas as atrocidades que fez em nome de sua p&aacute;tria. Com ar enfatuado, Aussaresses disse que orquestrou torturas e desaparecimentos de envolvidos para encobrir assassinatos e conduziu execu&ccedil;&otilde;es.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25174356093423.jpg" alt="(Fonte: Documenting Reality/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Documenting Reality/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em seu livro Servi&ccedil;os Especiais &ndash; Arg&eacute;lia 1955-1957, Meu Testemunho sobre a Tortura, lan&ccedil;ado 1 ano ap&oacute;s a mat&eacute;ria, Aussaresses explicou que cultivou muito a guerra psicol&oacute;gica nos lugares que foram necess&aacute;rios, como durante a Guerra da Indochina. &ldquo;Eu preparava meus homens para realizarem opera&ccedil;&otilde;es clandestinas, coloca&ccedil;&atilde;o de bombas, a&ccedil;&otilde;es de sabotagem e elimina&ccedil;&atilde;o de inimigos&rdquo;, escreveu.
Na d&eacute;cada de 1960, Aussaresses deu palestras para as For&ccedil;as Especiais dos Estados Unidos, em Fort Bragg (Carolina do Norte), falando sobre as t&eacute;cnicas que usou na Guerra de Independ&ecirc;ncia Argelina para que pudessem ser reaplicadas em opera&ccedil;&otilde;es de contrainsurg&ecirc;ncia durante a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119223-fragging-o-ato-de-matar-os-proprios-companheiros-de-guerra.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Guerra do Vietn&atilde;</a>.
<h2>O deslumbre</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25174541468424.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Considerado um dos oficiais franceses mais capacitados em m&eacute;todos de contrainsurg&ecirc;ncia, em 11 de setembro de 1973 Aussaresses desembarcou em Bras&iacute;lia em meio &agrave; <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119063-ditadura-militar-no-brasil-6-mentiras-contadas-sobre-o-regime.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">ditadura militar</a> instaurada pelo <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119477-lincoln-gordon-embaixador-americano-contribuiu-para-o-golpe-de-1964.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Golpe de 1964</a>. O motivo de sua presen&ccedil;a j&aacute; era algo a se esperar: ensinar aos militares brasileiros seus m&eacute;todos "anticomunistas" de tortura para serem aplicados nos presos pol&iacute;ticos para coleta de informa&ccedil;&otilde;es que fossem &uacute;teis ao governo.
Em um de seus livros, Aussaresses deixou claro que os militares brasileiros se mantiveram em constante contato com o governo franc&ecirc;s para que ele soubesse como estava o andamento da aplica&ccedil;&atilde;o das pr&aacute;ticas de a&ccedil;&otilde;es violentas e brutais durante a ditadura no pa&iacute;s.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Washington Post&nbsp;" data-fonte-url="https://img.washingtonpost.com/rf/image_480w/2010-2019/WashingtonPost/2013/12/04/Obituaries/Images/Merlin_332678.jpg?uuid=SbPZEl0MEeOVwhNiPrKw4Q"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/08/25/25174636358425.webp" alt="(Fonte: The Washington Post/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The Washington Post/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O torturador endossou cada morte durante o per&iacute;odo obscuro do Brasil da d&eacute;cada de 1960, visto que n&atilde;o acreditava que as v&iacute;timas pudessem ser soltas ap&oacute;s serem torturadas. Em 3 de dezembro de 2013, aos 95 anos, Paul Aussaresses carregou para seu t&uacute;mulo inglorioso sua ideia de consci&ecirc;ncia limpa &mdash; j&aacute; que nunca se arrependeu.

Julio Cezar de Araujo