Paul Aussaresses: o torturador convidado pela ditadura militar

06/09/2021 às 09:302 min de leitura

Quando tinha por volta de 27 anos, Paul Aussaresses, nascido em Saint-Paul-Cap-de-Joux (França), se ofereceu como voluntário para os serviços especiais da França Livre durante o terror da Segunda Guerra Mundial. Nos pós-guerra, ele foi responsável por ajudar na formação do 11º Batalhão de Choque, conhecido por ser o braço armado da agência francesa Service de Documentation Extérieure et de Contre-Espionnage (SDECE) de contraespionagem.

Foi em 1957 que Aussaresses fez seu nome entrar para os anais obscuros da história, quando o general Jacques Massu, comandante da 11ª Divisão Francesa Paraquedista na Argélia, ordenou que o homem voasse para o país e liderasse a Frente de Libertação Nacional, popularmente conhecida como Esquadrão da Morte.

Entre 1954 e 1962, a Argélia lutou por sua independência para se libertar do domínio colonial francês, caracterizado por guerrilha urbana, terrorismo e, de ambos os lados, tortura. Ao longo do conflito, a França declarou veementemente que não havia torturado qualquer pessoa no país, porém censurou jornais, livros e filmes que diziam o contrário.

O sigilo oficial manteve o assunto e suas discussões sobre as atrocidades francesas silenciadas até 2000.

O monstro

(Fonte: Coronel Von Rohault/Reprodução)(Fonte: Coronel Von Rohault/Reprodução)

Em 23 de novembro de 2000, o ex-general Aussaresses, em entrevista ao Le Monde, disse que tortura e assassinato eram rotina e um comportamento considerado tolerado pela liderança francesa, visto como a maneira mais rápida de obter informações sobre as atividades guerrilheiras.

Chocando o mundo inteiro, principalmente seu país e a Argélia, o ex-general afirmou que não carregava qualquer arrependimento de todas as atrocidades que fez em nome de sua pátria. Com ar enfatuado, Aussaresses disse que orquestrou torturas e desaparecimentos de envolvidos para encobrir assassinatos e conduziu execuções.

(Fonte: Documenting Reality/Reprodução)(Fonte: Documenting Reality/Reprodução)

Em seu livro Serviços Especiais – Argélia 1955-1957, Meu Testemunho sobre a Tortura, lançado 1 ano após a matéria, Aussaresses explicou que cultivou muito a guerra psicológica nos lugares que foram necessários, como durante a Guerra da Indochina. “Eu preparava meus homens para realizarem operações clandestinas, colocação de bombas, ações de sabotagem e eliminação de inimigos”, escreveu.

Na década de 1960, Aussaresses deu palestras para as Forças Especiais dos Estados Unidos, em Fort Bragg (Carolina do Norte), falando sobre as técnicas que usou na Guerra de Independência Argelina para que pudessem ser reaplicadas em operações de contrainsurgência durante a Guerra do Vietnã.

O deslumbre

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Considerado um dos oficiais franceses mais capacitados em métodos de contrainsurgência, em 11 de setembro de 1973 Aussaresses desembarcou em Brasília em meio à ditadura militar instaurada pelo Golpe de 1964. O motivo de sua presença já era algo a se esperar: ensinar aos militares brasileiros seus métodos "anticomunistas" de tortura para serem aplicados nos presos políticos para coleta de informações que fossem úteis ao governo.

Em um de seus livros, Aussaresses deixou claro que os militares brasileiros se mantiveram em constante contato com o governo francês para que ele soubesse como estava o andamento da aplicação das práticas de ações violentas e brutais durante a ditadura no país.

(Fonte: The Washington Post/Reprodução)(Fonte: The Washington Post/Reprodução)

O torturador endossou cada morte durante o período obscuro do Brasil da década de 1960, visto que não acreditava que as vítimas pudessem ser soltas após serem torturadas. Em 3 de dezembro de 2013, aos 95 anos, Paul Aussaresses carregou para seu túmulo inglorioso sua ideia de consciência limpa — já que nunca se arrependeu.

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