Imagem de A grande "Guerra dos Ovos" causou quase uma extinção na Califórnia no megacurioso

Quando a Corrida do Ouro nos EUA acabou, começou uma bem pior

Entre 1848 e 1855, mais de 300 mil pessoas buscando fazer fortuna com ouro migraram do mundo todo para a Calif&oacute;rnia, indo em dire&ccedil;&atilde;o &agrave; serraria Sutter&rsquo;s Mill (em Serra Nevada), onde o propriet&aacute;rio Joh Sutte havia encontrado ouro e dado in&iacute;cio &agrave; Grande Corrida do Ouro.
Os navios que tomaram conta da ba&iacute;a de S&atilde;o Francisco despejaram milhares de empres&aacute;rios, oper&aacute;rios, ladr&otilde;es e civis. Como consequ&ecirc;ncia direta, em 2 anos a cidade se tornou a que mais crescia no mundo, com uma popula&ccedil;&atilde;o que foi de 800 para mais de 20 mil pessoas.
No entanto, a falta de preparo para abarcar tanta gente prejudicou a ind&uacute;stria agr&iacute;cola da regi&atilde;o. Os trabalhadores do ramo n&atilde;o conseguiam acompanhar o afluxo de famintos, gerando escassez e aumento astron&ocirc;mico nos pre&ccedil;os dos alimentos.
<h2>A ilha dos mortos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09194355055442.jpg" alt="(Fonte: History 101/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: History 101/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 1857, quando o "furac&atilde;o" de homens famintos terminou de devastar S&atilde;o Francisco, a cidade come&ccedil;ou a sofrer com a perda do b&aacute;sico: os ovos de galinha. O rescaldo da Corrida do Ouro foi t&atilde;o impactante que o pre&ccedil;o dos ovos chegou a custar US$ 30 a unidade.
Ap&oacute;s anos falando em ouro, o assunto principal havia-se tornado os ovos. Para obt&ecirc;-los, as pessoas foram longe, mais do que deveriam, como fez o farmac&ecirc;utico Dr. Robinson, visando fazer fortuna extraindo ovos do &uacute;nico local que havia: as Ilhas Farallon.
Localizada a cerca de 40 quil&ocirc;metros da ponte Golden Gate, a cadeia de ilhotas &eacute; um local in&oacute;spito para os seres humanos, mas um santu&aacute;rio para p&aacute;ssaros marinhos e mam&iacute;feros. A tribo Miwok que habitava o norte da Calif&oacute;rnia, perto da costa, chamava o local de &ldquo;Ilhas dos Mortos&rdquo;.
Mas os cidad&atilde;os famintos de S&atilde;o Francisco s&oacute; tinham interesse no fato de a ilha hospedar a maior col&ocirc;nia de nidifica&ccedil;&atilde;o de aves marinhas dos Estados Unidos. A cada primavera, milhares de p&aacute;ssaros desciam nas ilhas proibidas e cobriam seus penhascos com ovos de todos os tamanhos.
<h2>A gan&acirc;ncia dos eggers</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Amusing Planet&nbsp;" data-fonte-url="https://2.bp.blogspot.com/-QqgpEsO9ChI/XUG8HwQjDnI/AAAAAAAAhEs/rfGRWebxuPky27M94MVEe_kQbPGIZQHjQCLcBGAs/s1600/farallon-egg-wars-5.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09194449492443.jpg" alt="(Fonte: Amusing Planet/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Amusing Planet/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 1849, Robinson e seus homens tiveram que escalar rochas cobertas de guano, penhascos &iacute;ngremes &agrave; beira-mar e lutar contra gaivotas vorazes que tentavam proteger seus ninhos. Muitas pessoas morreram durante a tentativa, tanto na caravana feita pelo farmac&ecirc;utico como nas que vieram logo depois dele, &aacute;vidas por se alimentarem e tamb&eacute;m venderem mais do que os US$ 3 mil que o homem faturou.
Os eggers, como foram chamados os famintos aventureiros, buscavam todos os tipos de ovo, mas principalmente os ovos de murre. Isso porque eles s&atilde;o t&atilde;o comest&iacute;veis quanto os de galinha, mas s&atilde;o bem maiores.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09194553414444.jpg" alt="(Fonte: NPR/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: NPR/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Entre 1849 e 1896, cerca de 14 milh&otilde;es de ovos de murre foram enviados para S&atilde;o Francisco em um sacrif&iacute;cio anual e cont&iacute;nuo dos eggers&nbsp;para alimentar os bolsos dos empres&aacute;rios. A guerra come&ccedil;ou de fato quando o mercado cresceu fora de controle e os empres&aacute;rios tiveram que prestar servi&ccedil;o &agrave; Pacific Egg Company, uma empresa fundada por seis homens que navegaram para a ilha em 1851 e se declararam propriet&aacute;rios por direito de posse.
Em um contexto em que os ovos de murre eram vendidos por US$ 1 a d&uacute;zia, e a ind&uacute;stria da ca&ccedil;a tornou-se altamente lucrativa, o monop&oacute;lio foi contestado pelos eggers rivais. Em 1859, o governo federal se apropriou das ilhas para fazer um farol, aumentando os conflitos e causando uma luta brutal pelo poder do local.
<h2>A guerra pelos ovos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09194653445445.jpg" alt="(Fonte: NPR/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: NPR/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A Grande Guerra dos Ovos causou brigas mortais entre gangues, envolvendo granadas, facadas e tiroteios pelo poderio das ilhas e da ind&uacute;stria dos ovos de murre, mas o conflito n&atilde;o se limitou apenas ao territ&oacute;rio farallones.
Os barcos que transportavam os ovos eram saqueados regularmente ou at&eacute; mesmo detonados pela guerrilha rival para causar preju&iacute;zos e colocar mais medo no oponente. Os tribunais de S&atilde;o Francisco foram inundados por casos de homic&iacute;dio, atentados, roubos, invas&atilde;o de propriedade e danos.
As autoridades locais imploraram por uma interven&ccedil;&atilde;o federal, mas os burocratas distantes subestimaram o n&iacute;vel de viol&ecirc;ncia que a guerra havia alcan&ccedil;ado. Em 1859, os guardi&otilde;es do farol foram expulsos sob amea&ccedil;as. Em maio do ano seguinte, uma multid&atilde;o armada assumiu o controle das ilhas definitivamente.
O governo s&oacute; entrou em a&ccedil;&atilde;o ap&oacute;s uma noite de guerra, em 3 de junho de 1863, entre pescadores e empregados armados da Pacific Egg Company, deixando mortos e feridos. No entanto, em vez de proibir o com&eacute;rcio, foi concedido &agrave; empresa o monop&oacute;lio de vendas, permitindo a devasta&ccedil;&atilde;o sistem&aacute;tica das col&ocirc;nias de aves marinhas.&nbsp;
Em 1879, a empresa tamb&eacute;m passou a transformar focas e le&otilde;es-marinhos em &oacute;leo, um processo desprez&iacute;vel para render ton&eacute;is de gordura fervente, que polu&iacute;a o ar e enchia as montanhas de carca&ccedil;as.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09194819556446.png" alt="(Fonte: Islapedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Islapedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os anos amargos de explora&ccedil;&atilde;o da vida selvagem, que morreu mais do que os exploradores famintos, foi encerrado apenas 30 anos depois, em 23 de maio de 1881, quando os militares dos Estados Unidos expulsaram &agrave; for&ccedil;a a Pacific Egg Company das ilhas.
Isso n&atilde;o impediu, por&eacute;m, que os pescadores continuassem a invadir o local de maneira independente, principalmente durante o ver&atilde;o. A peregrina&ccedil;&atilde;o s&oacute; caiu no in&iacute;cio do s&eacute;culo XX, quando uma ind&uacute;stria av&iacute;cola de criadores de galinhas foi estabelecida em Petaluma, a 61 quil&ocirc;metros ao norte de S&atilde;o Francisco, diminuindo a demanda por ovos de murre.
O interesse mudou de foco, mas quem pagou por anos de pilhagem n&atilde;o regulamentada foi a popula&ccedil;&atilde;o de aves da ilha, que chegou a cair de 400 mil para 60 mil em 4 d&eacute;cadas de explora&ccedil;&atilde;o. A quantidade de ovos produzida por ano caiu de 500 mil, em 1854, para apenas pouco mais de 90 mil em 1896.

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A grande 'Guerra dos Ovos' causou quase uma extinção na Califórnia

Imagem de Guerra Anglo-Zanzibar: o conflito mais rápido da História no megacurioso

Apesar dos minutos que durou, os danos foram imensos

Localizado no Oceano &Iacute;ndico, Zanzibar era um pa&iacute;s insular pr&oacute;ximo &agrave; costa de Tanganica, atualmente parte do territ&oacute;rio da Tanz&acirc;nia. Desde 1698, a ilha esteve sob controle dos sult&otilde;es de Om&atilde;, que expulsaram os colonos portugueses que haviam alegado posse em 1499.
Em 1858, o sult&atilde;o Majid bin Said declarou a ilha independente de Om&atilde;, reconhecida pelo Reino Unido, que dividiu o pa&iacute;s. Foi ent&atilde;o na Cidade de Zanzibar que os sult&otilde;es subsequentes estabeleceram sua capital e sede do governo em um pal&aacute;cio constru&iacute;do com vista para o mar.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/anvisa-08163126302328.jpg" alt="Khalid ibn Barghash. (Fonte: Historic Collection/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Khalid bin Barghash. (Fonte: Historic Collection/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Tudo mudou quando o sult&atilde;o Sayyid Ali morreu, deixando seu &uacute;nico filho Khalid bin Barghash para ascender ao poder em seu lugar. Contudo, o c&ocirc;nsul da Gr&atilde;-Bretanha queria outra pessoa no controle da ilha: Hamad ibn Thuwayn, primo de Khalid, que era mais male&aacute;vel e poderia colaborar com as pol&iacute;ticas e tratados europeus. Khalid era conhecido por ser resistente &agrave;s pol&iacute;ticas territoriais europeias, como a aboli&ccedil;&atilde;o da <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119138-gordon-a-chocante-fotografia-que-expos-a-escravidao-nos-eua.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">escravid&atilde;o</a> e a restaura&ccedil;&atilde;o da economia mercantil.
De qualquer forma, as leis de Zanzibar n&atilde;o determinavam que o poder deveria caminhar de maneira linear e heredit&aacute;ria, portanto os europeus n&atilde;o estavam quebrando nenhum protocolo quando exigiram que outro pretendente ocupasse o cargo de m&aacute;ximo poder.&nbsp;
Mas na cabe&ccedil;a de Khalid, eles estavam.
<h2>A prepara&ccedil;&atilde;o</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Alchetron&nbsp;" data-fonte-url="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT5lNn5V38bfLmZ16jwbVn04XOe6stlRhA5Rz1L4vJx1FAutU4f6VWkIwJvu5Wzg1L9oxI&amp;usqp=CAU"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08163241693331.jpg" alt="(Fonte: Alchetron/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Alchetron/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Khalid permaneceu com a guarda baixa e permitiu que Hamad governasse de maneira pac&iacute;fica por mais de tr&ecirc;s anos, at&eacute; 25 de agosto de 1896, quando ele morreu de repente em seu pal&aacute;cio. Muito embora n&atilde;o haja evid&ecirc;ncias, &eacute; aceit&aacute;vel que Khalid o tenha envenenado, pois n&atilde;o demorou para colocar seu plano massivo de tomada do poder assim que Hamad fechou os olhos.
Horas depois da morte, o homem assumiu a posi&ccedil;&atilde;o de sult&atilde;o, mesmo sem o conhecimento brit&acirc;nico. Quando soube da reviravolta, o diplomata Basil Cave ordenou que Khalid renunciasse, mas esse ignorou-o e come&ccedil;ou a reunir suas tropas em torno do pal&aacute;cio. No final do dia, ele conseguiu uma for&ccedil;a de 2.800 homens, em sua maioria civis, armados com espingardas.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08163609724341.jpg" alt="Basil Cave. (Fonte: Lafayett Org/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Basil Cave. (Fonte: Lafayett Org/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Temendo um ataque, Cave enviou 900 soldados zanzibares sob o comando do tenente Arthur Edward Harrington Raikes do Regimento Wiltshire. Mais de 150 marinheiros foram convocados para evitar confus&atilde;o entre os cidad&atilde;os, bem como proteger o consulado brit&acirc;nico.
Cave continuou enviando avisos a Khalid, ordenando que suas tropas se rendessem e que ele deixasse o pal&aacute;cio, mas o homem seguiu ignorando-o. &Agrave;s 15h daquele dia, ele realizou uma cerim&ocirc;nia em que ascendeu ao poder de maneira ilegal, alertado pelo diplomata brit&acirc;nico que sua atitude constitu&iacute;a um ato de rebeli&atilde;o que poderia fazer o sultanato dele n&atilde;o ser reconhecido mais pelo governo brit&acirc;nico.
<h2>Poucos minutos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08163707662343.jpeg" alt="(Fonte: History of Yesterday/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: History of Yesterday/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O ultimato a Khalid foi emitido no dia seguinte, impondo que ele deixasse de uma vez por todas o pal&aacute;cio at&eacute; &agrave;s 9h de 27 de agosto, sen&atilde;o enfrentaria &ldquo;as mais desastrosas consequ&ecirc;ncias&rdquo;. A resposta de Khalid foi ordenar que todos os barcos n&atilde;o militares deixassem o porto para a guerra que estava a caminho.
&Agrave;s 8h do dia derradeiro, Khalid informou a Cave: &ldquo;N&atilde;o temos inten&ccedil;&atilde;o de i&ccedil;ar nossa bandeira e n&atilde;o acreditamos que voc&ecirc;s abrir&atilde;o fogo contra n&oacute;s&rdquo;. Cave, no entanto, respondeu apenas: &ldquo;N&atilde;o temos nenhum desejo em atirar no pal&aacute;cio, a menos que voc&ecirc; n&atilde;o fa&ccedil;a o que lhe &eacute; dito&rdquo;.
E assim aconteceu, quando o rel&oacute;gio indicou 9h, os navios brit&acirc;nicos bombardearam o pal&aacute;cio. Dois minutos depois, a artilharia de Khalid havia sido destru&iacute;da, bem como a estrutura de madeira do pal&aacute;cio, que desmoronou com 3 mil homens dentro. O sult&atilde;o s&oacute; conseguiu escapar por uma sa&iacute;da nos fundos da constru&ccedil;&atilde;o, deixando seus servos e guerrilheiros para lidarem com as consequ&ecirc;ncias de suas decis&otilde;es.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08163758756344.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
&Agrave;s 9h38, o ataque teve fim quando a bandeira do sult&atilde;o foi puxada, encerrando a guerra mais curta da Hist&oacute;ria. Infelizmente, as baixas foram desproporcionais ao tempo de ataque: mais de 500 pessoas morreram, em meio a centenas de feridos e desabrigados.
Khalid, por sua vez, se refugiou no consulado alem&atilde;o, que conseguiu tir&aacute;-lo do pa&iacute;s em 2 de outubro daquele ano. Ele s&oacute; foi pego pelas tropas brit&acirc;nicas em 1916, durante a <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119011-as-tropas-britanicas-sofreram-com-as-ists-na-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Primeira Guerra Mundial</a>, na invas&atilde;o da &Aacute;frica Oriental. Ele foi exilado em Santa Helena antes de retornar &agrave; &Aacute;frica Oriental e falecer em 1927.
Durante todo o tempo em que o sult&atilde;o permaneceu escondido, o governo brit&acirc;nico conseguiu manter o controle do trono de Zanzibar com seus pretendentes manipul&aacute;veis.

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Guerra Anglo-Zanzibar: o conflito mais rápido da História

Imagem de Como a exploração de ouro no Brasil começou em São Paulo no megacurioso

Bem antes de seguirem para Minas Gerais, os exploradores já reviravam as terras paulistas

No s&eacute;culo XVIII, o Brasil se tornou o polo central para aqueles que buscavam fazer fortuna na escava&ccedil;&atilde;o de <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119525-em-1700-o-brasil-se-tornou-um-caos-devido-a-exploracao-do-ouro.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">ouro e diamantes em Minas Gerais</a>. Estima-se que foi despachado para Portugal cerca de 530 toneladas do min&eacute;rio at&eacute; 1817, no valor de 54 milh&otilde;es de libras esterlinas na &eacute;poca. No mesmo ano, foram contrabandeados at&eacute; 150 mil quilos de ouro.
Quem queria fazer fortuna rumava direto para Minas Gerais nos anos de 1700. Entretanto, n&atilde;o foi pelo interior do pa&iacute;s que descobriram as primeiras minas de ouro, mas sim na regi&atilde;o de S&atilde;o Paulo, no Pico do Jaragu&aacute;, uma serra com 1.135 metros de altitude, considerada o ponto mais alto da cidade.
Nos arredores do local, foi criado o Parque Estadual do Jaragu&aacute;, que atrai visitantes de todo o Brasil para admirar a beleza da natureza. Por&eacute;m, no s&eacute;culo XVI, o local foi ponto de encontro de exploradores que buscavam o brilho do min&eacute;rio nos pared&otilde;es &iacute;ngremes.
<h2>O come&ccedil;o de tudo</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09195150668447.jpg" alt="(Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Com a funda&ccedil;&atilde;o de <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/117072-praia-de-sao-vicente-foi-atingida-por-um-maremoto-em-1541.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">S&atilde;o Vicente</a>, em 1532, cartas enviadas &agrave; Coroa pelos portugueses e jesu&iacute;tas j&aacute; falavam sobre as itaberabas&nbsp;("pedras que brilham", em tupi) trazidas pelos ind&iacute;genas da Mutinga, local pr&oacute;ximo ao Morro do Jaragu&aacute; em S&atilde;o Paulo.
Em 1562, Br&aacute;s Cubas, fundador da vila de Santos, citou a poss&iacute;vel exist&ecirc;ncia de ouro no vilarejo de Piratininga, a cerca de 30 l&eacute;guas do litoral. Acredita-se que os primeiros exploradores de ouro do Jaragu&aacute; foram os portugueses Afonso Sardinha, o Velho, e seu filho Afonso Sardinha, o Mo&ccedil;o.&nbsp;
Por volta de 1580, eles come&ccedil;aram a explorar as jazidas nos arredores de S&atilde;o Paulo e da Serra da Mantiqueira.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09195404778448.jpg" alt="(Fonte: Volto Logo/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Volto Logo/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 1694, Clemente &Aacute;lvares, sertanista, informou &agrave; C&acirc;mara da Vila de S&atilde;o Paulo que explorava ouro nas regi&otilde;es do Jaragu&aacute; e da Cantareira desde 1592.&nbsp;No s&eacute;culo XVI, toda a regi&atilde;o do Jaragu&aacute; era constitu&iacute;da por pequenos arraiais de minera&ccedil;&atilde;o, em povoados que funcionavam como min&uacute;sculas cidades onde a economia era em torno do ouro.
Desse modo, foi a abund&acirc;ncia do min&eacute;rio descoberto naquela regi&atilde;o da zona norte paulistana que teria motivado as expedi&ccedil;&otilde;es futuras que adentraram no ent&atilde;o denominado &ldquo;sert&atilde;o&rdquo;, com cobi&ccedil;adores revirando os aluvi&otilde;es e contrafortes de Mato Grosso, Goi&aacute;s e Minas Gerais.
<h2>Riquezas profundas</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09195532201449.jpg" alt="(Fonte: Quero Bolsa/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Quero Bolsa/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
No livro de Goulart Reis, As Minas de Ouro e a Forma&ccedil;&atilde;o das Capitanias do Sul, foi feito um levantamento de mais de 150 minas de ouro descobertas a partir de meados do s&eacute;culo XVI, situadas entre S&atilde;o Paulo e o norte de Santa Catarina.
Em outros pontos da capital paulistana, como em Ribeir&atilde;o das Lavras, onde s&eacute;culos depois foi erguido o Aeroporto Internacional de Guarulhos, funcionou um garimpo at&eacute; meados de 1800.
No final do s&eacute;culo XVII, j&aacute; havia tr&ecirc;s casas de fundi&ccedil;&atilde;o nas capitanias do sul: em S&atilde;o Paulo, Iguape e Paranagu&aacute;, fundadas pela Coroa portuguesa e respons&aacute;veis pela cobran&ccedil;a dos impostos &mdash; que foi motivo de revolta durante as explora&ccedil;&otilde;es no interior do Brasil.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09195851717450.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Entre 1600 e 1820, s&oacute; de terras paulistas estima-se que foram extra&iacute;das mais de 4 mil arrobas de ouro &mdash; o que &eacute; considerado bem pouco em compara&ccedil;&atilde;o ao que foi produzido no interior. Contudo, segundo o arque&oacute;logo Paulo Zanettini, acredita-se que muito foi explorado de maneira ilegal, fugindo das taxas da coroa e tamb&eacute;m dos registros oficiais.
Para pesquisadores, como Carlos Cornejo, ainda h&aacute; chance de encontrar ouro na Grande S&atilde;o Paulo, visto que as minas n&atilde;o foram totalmente exauridas. &ldquo;Na &eacute;poca, o ouro era mal explorado, de maneira superficial e rudimentar. O subsolo paulista, com certeza, ainda &eacute; rico&rdquo;, disse Cornejo em entrevista &agrave; BBC Brasil.
E, apesar de ter existido alguma atividade mineradora no Jaragu&aacute; e outras regi&otilde;es de S&atilde;o Paulo, como Itapecerica da Serra, at&eacute; meados da d&eacute;cada de 1950, Reis ressalta que isso n&atilde;o deve despertar a cobi&ccedil;a de eventuais exploradores que resolverem abrir buracos no quintal das pr&oacute;prias casas.

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Como a exploração de ouro no Brasil começou em São Paulo?

Imagem de Batalha de Uruçumirim: a sangrenta fundação do Rio de Janeiro no megacurioso

Constitu&iacute;da por 3 naus, a expedi&ccedil;&atilde;o de Gon&ccedil;alo Coelho partiu de Lisboa em 13 de maio de 1501 com intuito de investigar a rec&eacute;m-descoberta costa do Brasil. Foi com um calend&aacute;rio lit&uacute;rgico que eles come&ccedil;aram a batizar os lugares onde atracavam com nome de santos e do dia em quest&atilde;o.
Em 1&ordm; de janeiro de 1502, o navegador italiano Am&eacute;rico Vesp&uacute;cio chegou &agrave; Ba&iacute;a de Guanabara e a batizou de Rio de Janeiro. O primeiro europeu a pisar em territ&oacute;rio carioca ficou deslumbrado pela paisagem paradis&iacute;aca e tudo o que era abarcado por ela.&nbsp;No entanto, n&atilde;o demorou muito para que aquela beleza toda fosse convertida em um cen&aacute;rio de guerra.
<h2>Anos de luta</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09192445726434.jpg" alt="Dom Manuel I de Portugal. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Dom Manuel I de Portugal. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os portugueses da expedi&ccedil;&atilde;o a servi&ccedil;o de Dom Manuel I de Portugal entraram em guerra quando se encontraram com os mais de 3 mil ind&iacute;genas tamoios que habitavam a regi&atilde;o. E, muito embora eles tivessem conhecimento completo sobre o territ&oacute;rio, eles n&atilde;o resistiram ao genoc&iacute;dio desempenhado pelos colonos.
O Rio de Janeiro como o conhecemos s&oacute; nasceu a partir do que ficou marcado na hist&oacute;ria como a Batalha de Uru&ccedil;umirim, o &uacute;ltimo esfor&ccedil;o dos ind&iacute;genas de reaverem o que os pertencia e resistir contra os portugueses.
Em 1563, o militar portugu&ecirc;s Est&aacute;cio de S&aacute;, sobrinho de Mem de S&aacute; (3&deg; governador-geral do Brasil), desembarcou na Bahia com soldados enviados de Portugal para colaborar no processo de expuls&atilde;o dos franceses e ind&iacute;genas instalados na Ba&iacute;a de Guanabara desde 1555.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09192853695436.jpg" alt="Est&aacute;cio de S&aacute;. (Fonte: Leil&otilde;es Vit&oacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Est&aacute;cio de S&aacute;. (Fonte: Leil&otilde;es Vit&oacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O comandante s&oacute; conseguiu chegar ao destino carioca no ano seguinte, sendo duramente repelido pelos &iacute;ndios tamoios, que encurralaram suas tropas de tal maneira que ele n&atilde;o encontrou outra sa&iacute;da sen&atilde;o desistir de aportar na Guanabara.
Est&aacute;cio de S&aacute; seguiu at&eacute; a Capitania de <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/117072-praia-de-sao-vicente-foi-atingida-por-um-maremoto-em-1541.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">S&atilde;o Vicente</a> em busca de refor&ccedil;os, encontrando apoio dos padres Manuel da N&oacute;brega e Jos&eacute; de Anchieta, por meio da influ&ecirc;ncia que eles tinham na regi&atilde;o.
Em 20 de janeiro de 1565, as tropas de Est&aacute;cio de S&aacute; conseguiram derrubar a resist&ecirc;ncia dos tamoios e empurr&aacute;-los para longe do territ&oacute;rio, como medida provis&oacute;ria, mas aquilo estava longe de acabar.
<h2>O nascimento de uma cidade</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09193123304437.jpg" alt="(Fonte: Reddit/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Reddit/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em 1&deg; de mar&ccedil;o daquele ano, no sop&eacute; do morro do P&atilde;o de A&ccedil;&uacute;car, Est&aacute;cio de S&aacute; deu in&iacute;cio ao empreendimento que tanto sonhava: a constru&ccedil;&atilde;o da cidade de S&atilde;o Sebasti&atilde;o do Rio de Janeiro, dando continuidade ao trabalho de s&oacute; nomear o local que Am&eacute;rico Vesp&uacute;cio teve.
O deslumbramento dele durou t&atilde;o pouco quanto o do compatriota. Seis dias depois, Est&aacute;cio de S&aacute; ergueu as primeiras pali&ccedil;adas para enfrentar os franceses no que se tornou um marco hist&oacute;rico: a fortaleza de S&atilde;o Jo&atilde;o.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09193332070438.jpg" alt="(Fonte: Mundo Tentacular/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Mundo Tentacular/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Naquele dia, foram os tamoios e os franceses que ganharam a luta, por&eacute;m, dias depois, os portugueses sa&iacute;ram vitoriosos. A disputa por territ&oacute;rio seguiu nessa mesma estrutura at&eacute; o in&iacute;cio de 1566, quando Mem de S&aacute; comandou uma esquadra com mais de 200 homens pelo rei de Portugal para ajudar o sobrinho a conquistar definitivamente o Rio de Janeiro.
Em 18 de janeiro de 1567, Mem de S&aacute; e as tropas enfrentaram os tamoios, comandados pelo cacique Aimber&ecirc; e seu genro franc&ecirc;s, Ernesto, em Uru&ccedil;umirim (onde hoje &eacute; compreendida as praias do Flamengo e da Gl&oacute;ria).
<h2>Prosperidade sobre sangue</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09193515789439.gif" alt="(Fonte: Brainly/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Brainly/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A guerra foi catastr&oacute;fica para os ind&iacute;genas, que foram literalmente massacrados pela f&uacute;ria dos colonos portugueses, que mostraram seu poder de domina&ccedil;&atilde;o queimando as aldeias dos tamoios, alvejando-os com flechas ou desintegrando-os no ar com tiros de canh&atilde;o. No processo, Est&aacute;cio de S&aacute; acabou ferido no rosto por uma flecha envenenada dos ind&iacute;genas e morreu no m&ecirc;s seguinte.
As baixas significativas do lado dos portugueses n&atilde;o impediram que os ind&iacute;genas tivessem suas cabe&ccedil;as espetadas em estacas e colocadas ao longo de toda a ba&iacute;a. Aqueles que conseguiram sobreviver &agrave; batalha, fugiram e se estabeleceram na regi&atilde;o serrana da cidade.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09193842554440.jpg" alt="(Fonte: Ensinar Hist&oacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Ensinar Hist&oacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Al&eacute;m de acabar com a popula&ccedil;&atilde;o ind&iacute;gena e estabelecer de vez a constru&ccedil;&atilde;o do Rio, a Batalha de Uru&ccedil;umirim tamb&eacute;m minou os projetos franceses de criar um novo ref&uacute;gio calvinista, idealizado pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegagnon e pelo Conde deColigny.
Sem o sobrinho, Mem de S&aacute; se colocou &agrave; frente do projeto e tomou v&aacute;rias medidas administrativas, como a transfer&ecirc;ncia da sede da cidade para o Morro do Castelo, onde se iniciou o processo de povoa&ccedil;&atilde;o, a nomea&ccedil;&atilde;o de vereadores, tesoureiros e magistrados, bem como o estabelecimento de sesmarias e a doa&ccedil;&atilde;o de terras para o col&eacute;gio dos jesu&iacute;tas.&nbsp;Era a evolu&ccedil;&atilde;o da Cidade Maravilhosa, sob sangue, claro.

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Batalha de Uruçumirim: a sangrenta fundação do Rio de Janeiro

Imagem de A conturbada e imunda jornada da corte portuguesa para o Brasil no megacurioso

A verdadeira odisseia de 54 dias foi infernal

Encurralado pelo ex&eacute;rcito franc&ecirc;s do tresloucado <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119827-o-inacreditavel-plano-de-salvar-napoleao-bonaparte-do-exilio.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Napole&atilde;o Bonaparte</a>, em 1807, Dom Jo&atilde;o VI s&oacute; encontrou uma sa&iacute;da para escapar da iminente invas&atilde;o das tropas napole&ocirc;nicas: transferir toda a corte portuguesa para o Brasil.
Naquele chuvoso 29 de novembro de 1807, estima-se que 15 mil pessoas, entre a fam&iacute;lia real e os membros da nobreza (o equivalente a 5% da popula&ccedil;&atilde;o de Portugal na &eacute;poca), se aglomeraram nos cais de Bel&eacute;m para partirem do pa&iacute;s.
A cena, considerada "monumental" pelos historiadores, envolveu uma esquadra portuguesa composta de 19 navios, que se encontrou com a frota brit&acirc;nica de 13 embarca&ccedil;&otilde;es que faria a escolta da corte at&eacute; o Brasil. Eram 32 barcos de guerra e mais de 30 navios mercantes que se prepararam para um acontecimento hist&oacute;rico: a 1&ordf; vez que um soberano portugu&ecirc;s deixaria a Europa para se instalar em um territ&oacute;rio colonial.
<h2>A debandada &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp;&nbsp;</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08155837567302.png" alt="(Fonte: Ensinar Hist&oacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Ensinar Hist&oacute;ria/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O dia foi ca&oacute;tico, principalmente porque D. Jo&atilde;o decidiu em cima da hora que faria a viagem. Milhares de ba&uacute;s com roupas, malas, sacos e engradados com tesouros da corte; obras de arte e objetos de museus; mais de 60 mil livros da Biblioteca Real; e todo o dinheiro do tesouro portugu&ecirc;s dividiram espa&ccedil;o com as pessoas no porto at&eacute; que fossem colocados nos por&otilde;es dos navios ao lado de animais e toneladas de alimentos.
Por volta das 15h, o comandante da Armada Brit&acirc;nica, Sidney Smith, ordenou que 21 tiros de canh&atilde;o fossem disparados, marcando o in&iacute;cio da jornada real em dire&ccedil;&atilde;o ao Rio de Janeiro.
Do Porto de Lisboa, a popula&ccedil;&atilde;o, abandonada pelo pr&iacute;ncipe regente e todas as autoridades, assistiu &agrave; debandada em profundo estado de terror. Levando tudo o que estivesse em m&atilde;os, as pessoas foram deixadas &agrave; pr&oacute;pria sorte para enfrentarem o ex&eacute;rcito do lun&aacute;tico Napole&atilde;o.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08160538348311.jpg" alt="(Fonte: Jornal Cinco/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Jornal Cinco/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A jornada, que durou 54 dias em embarca&ccedil;&otilde;es rudimentares que eram suscet&iacute;veis a qualquer tipo de dano e ataque, foi considerada um inferno &agrave; parte &mdash; praticamente a d&iacute;vida c&aacute;rmica instant&acirc;nea pelo ato de covardia em deixar Portugal para tr&aacute;s em seu pior momento.
Al&eacute;m de suja, a &aacute;gua a bordo dos navios era escassa, assim como a comida, que n&atilde;o passava de carne salgada e um punhado de biscoitos. A falta de condi&ccedil;&otilde;es de preserva&ccedil;&atilde;o adequada dos alimentos causou sua r&aacute;pida contamina&ccedil;&atilde;o por vermes, ainda mais porque os animais embarcados defecavam e urinavam no mesmo espa&ccedil;o onde os alimentos perec&iacute;veis eram mantidos.
Com os navios superlotados, sem espa&ccedil;o para que ningu&eacute;m se acomodasse direito, muitos viajaram com a roupa do corpo at&eacute; que chegassem ao seu destino. Essa falta de higiene alarmante culminou em um surto de piolhos, obrigando as mulheres a raspar a cabe&ccedil;a, inclusive a princesa Carlota Joaquina.
<h2>Imund&iacute;cie por todos os lados</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Conhecimento Cient&iacute;fico&nbsp;" data-fonte-url="https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2019/12/periodo-joanino-historia-desdobramentos-e-transformacoes-no-brasil.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08160746458313.jpg" alt="(Fonte: Conhecimento Cinet&iacute;fico/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Conhecimento Cinet&iacute;fico/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os ratos dominaram os navios, infestando absolutamente todos os cantos por onde passavam, mordendo os viajantes e causando doen&ccedil;as. A alimenta&ccedil;&atilde;o prec&aacute;ria e as contamina&ccedil;&otilde;es tornaram o cen&aacute;rio mais suscet&iacute;vel para dist&uacute;rbios intestinais, fazendo os nobres defecarem nas pr&oacute;prias cal&ccedil;as &mdash; e n&atilde;o podendo troc&aacute;-las durante toda a travessia.
Para piorar a situa&ccedil;&atilde;o, em 8 de dezembro daquele ano, a esquadra portuguesa foi atingida por uma tempestade enquanto se aproximava da Ilha da Madeira. O fen&ocirc;meno natural foi t&atilde;o grande que por pouco n&atilde;o destruiu os navios, deixando mastros e velas retorcidos.
Ao alcan&ccedil;arem a Linha do Equador, depois da tempestade, veio a calmaria, t&atilde;o arrastada que submeteu os portugueses a dias escaldantes e intermin&aacute;veis de sol. Muitos sofreram com casos graves de insola&ccedil;&atilde;o e desidrata&ccedil;&atilde;o.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08160917552314.jpg" alt="(Fonte: Para Onde Ir/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Para Onde Ir/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Fora os estragos, a tormenta atrasou a viagem, visto que a &aacute;rea pela qual passaram era conhecida por ser de navega&ccedil;&atilde;o arriscada pela quantidade de rochedos submersos e tamb&eacute;m dividiu a frota. Portanto, D. Jo&atilde;o decidiu que ancorassem no porto mais pr&oacute;ximo, chegando a Salvador em 22 de janeiro de 1808.
A corte foi recebida pelo carregamento do barco Tr&ecirc;s Cora&ccedil;&otilde;es, um bergantim enviado por Caetano Pinto de Miranda, o ent&atilde;o governador de Pernambuco, para servir um banquete aos portugueses.&nbsp;
Mesmo imundos e fedorentos, n&atilde;o teve um que n&atilde;o comeu at&eacute; passar mal.

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A conturbada e imunda jornada da corte portuguesa para o Brasil

Imagem de Como teria sido o mundo sem a Primeira Guerra Mundial? no megacurioso

Muito trauma teria sido evitado, mas também muita evolução

Com in&iacute;cio em 28 de julho de 1914 e t&eacute;rmino em 11 de novembro de 1918, a <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/117623-conheca-a-historia-da-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Primeira Guerra Mundial</a> &eacute; considerada o conflito mais mortal de todos os tempos. Estima-se que cerca de 20 milh&otilde;es de soldados foram mortos e 21 milh&otilde;es de pessoas ficaram feridas, das quais 10 milh&otilde;es eram civis.
Os danos causados pelo conflito foram em larga escala. Em &acirc;mbito de sa&uacute;de, a guerra trouxe doen&ccedil;as, como <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119011-as-tropas-britanicas-sofreram-com-as-ists-na-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">IST</a>, e gerou epidemias, como a da <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119391-a-gripe-espanhola-deu-origem-a-organizacao-mundial-da-saude.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">gripe espanhola</a>. Em quest&atilde;o territorial, grandes extens&otilde;es de terra, principalmente na Fran&ccedil;a e na B&eacute;lgica, foram totalmente destru&iacute;das, bem como edif&iacute;cios, pontes e linhas ferrovi&aacute;rias. Os produtos qu&iacute;micos e cartuchos de artilharia causaram danos por muitos anos no solo agr&iacute;cola.
A Alemanha e a Gr&atilde;-Bretanha afundaram economicamente ao gastarem cerca de 60% de seu dinheiro patrocinando a guerra. Como consequ&ecirc;ncia, foi necess&aacute;rio aumentar os impostos, pedir dinheiro para os cidad&atilde;os e at&eacute; imprimir c&eacute;dulas para a compra de armamento.&nbsp;A infla&ccedil;&atilde;o no p&oacute;s-guerra foi inevit&aacute;vel.
<h2>O lado ruim</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09190152366423.jpg" alt="(Fonte: Evening Standard/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Evening Standard/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
As empresas tamb&eacute;m tiveram que fechar porque os propriet&aacute;rios foram recrutados para guerra e alguns deles nunca mais voltaram. Aqueles que conseguiram retornar sofreram de&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119749-testes-de-personalidade-como-surgiram-durante-a-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">traumas deixados pelo conflito</a> e n&atilde;o puderam ser reabilitados para integrar o mercado de trabalho novamente.&nbsp;
Foram fechadas as diversas empresas de artilharia que prosperaram durante todo o per&iacute;odo b&eacute;lico, adicionando mais "uma pedra na sepultura econ&ocirc;mica" desses pa&iacute;ses.
Todos esses danos alcan&ccedil;aram o &acirc;mbito social como uma bomba, reduzindo drasticamente os &iacute;ndices de natalidade, porque milh&otilde;es de jovens morreram em combate. Al&eacute;m disso, houve aumento vertiginoso de desabrigados, migra&ccedil;&atilde;o massiva e mis&eacute;ria em todas as esferas sociais.
Em meio a tanta cat&aacute;strofe, &eacute; inevit&aacute;vel n&atilde;o se perguntar: e se a Primeira Guerra Mundial nunca tivesse existido? Como isso teria sido refletido no futuro da humanidade?
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09190710116428.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Se o arquiduque Francisco Ferdinando n&atilde;o tivesse sido assassinado em 28 de junho de 1914, em Sarajevo, no contexto pol&iacute;tico, a Alemanha nunca teria mandado Vladimir Lenin de volta de seu ex&iacute;lio na Su&iacute;&ccedil;a para desestabilizar a Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica, causando expurgos e liquida&ccedil;&otilde;es.
O Partido Nazista de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/117281-germania-o-plano-de-hitler-de-destruir-a-arquitetura-de-berlim.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Adolf Hitler&nbsp;</a>n&atilde;o se formaria, pelo menos n&atilde;o com a for&ccedil;a que se fez, visto que a mente s&aacute;dica do homem n&atilde;o teria sido expandida pelo sentimento de &oacute;dio em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; rendi&ccedil;&atilde;o da Alemanha e as subsequentes explica&ccedil;&otilde;es antissemitas que levaram a sua derrota. Nisso, certamente o <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/109748-mas-afinal-o-que-e-o-fascismo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">fascismo</a> italiano tamb&eacute;m n&atilde;o aconteceria, visto que foi a Primeira Guerra Mundial que levou <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/118755-domenico-leccisi-o-jornalista-que-roubou-o-cadaver-de-mussolini.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Benito Mussolini</a> a formular as pr&oacute;prias ambi&ccedil;&otilde;es ditatoriais.
O mesmo pode ser dito com rela&ccedil;&atilde;o ao Oriente M&eacute;dio, que n&atilde;o teria sido palco do genoc&iacute;dio arm&ecirc;nio do s&eacute;culo XX nem visto a escultura franco-brit&acirc;nica das atuais fronteiras da regi&atilde;o, resultado do decl&iacute;nio e da derrota do Imp&eacute;rio Otomano.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09191515804429.jpg" alt="(Fonte: MacLeans/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: MacLeans/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119409-pogrom-de-kielce-o-massacre-de-judeus-pelas-maos-dos-poloneses.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">judeus&nbsp;</a>n&atilde;o teriam sido diminu&iacute;dos e massacrados, mas sim prosperado e assumido um grande papel na hist&oacute;ria europeia &mdash; que n&atilde;o teria a ver com c&acirc;maras de g&aacute;s e fornos.
Os Estados Unidos, do alto de seu poder, teriam permanecido mais isolado e menos conectado com o resto do mundo, al&eacute;m de menos tolerante em v&aacute;rios aspectos socioculturais.
<h2>O lado bom</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09191740288430.jpg" alt="(Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Como ressalta o historiador Richard Ned Lebow, professor de teoria pol&iacute;tica internacional da King&rsquo;s College London, uma consequ&ecirc;ncia importante de ambas as guerras mundiais foi a ci&ecirc;ncia e a tecnologia serem aceleradas por meio do apoio governamental &agrave; pesquisa e ao desenvolvimento de armas. Em outras palavras, se hoje existe armas nucleares e computadores, foi porque houve gastos militares para todos os avan&ccedil;os tecnol&oacute;gicos.
Tudo teria levado mais tempo para acontecer, como o desenvolvimento de procedimentos m&eacute;dicos. As doen&ccedil;as fatais, os ossos quebrados, as feridas e as infec&ccedil;&otilde;es virais s&oacute; se tornaram pass&iacute;veis de sobreviv&ecirc;ncia devido ao empenho em tratamentos que surgiram como consequ&ecirc;ncia da guerra. O aprimoramento dos antibi&oacute;ticos teria atrasado tamb&eacute;m, principalmente por n&atilde;o existir uma pressa pela informa&ccedil;&atilde;o para que fossem efetivos.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09191905132431.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Sem um conflito global que requeresse avi&otilde;es, helic&oacute;pteros, foguetes e jatos, uma simples viagem de avi&atilde;o teria sido algo incab&iacute;vel durante anos. Esse reflexo alcan&ccedil;aria principalmente a aus&ecirc;ncia da <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/112268-entenda-como-comecou-a-segunda-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Segunda Guerra Mundial,</a> o marco zero de quando a tecnologia recebeu o maior incentivo da hist&oacute;ria.
No campo social, o mundo teria permanecido bem mais desigual e preconceituoso. Foi com a Primeira Guerra que as mulheres quebraram os paradigmas sociais ao se verem for&ccedil;adas a assumirem escrit&oacute;rios e f&aacute;bricas no lugar dos homens recrutados para o conflito. Foi nesse momento que o mundo come&ccedil;ou a de fato enxergar o potencial das mulheres e lhes conceder mais direitos no p&oacute;s-guerra, incluindo o direito ao voto.
O elitismo tamb&eacute;m sofreu sua derrocada justa como privilegiados da sociedade, com homens e mulheres pobres exigindo voz na forma&ccedil;&atilde;o de seu pa&iacute;s e de um lugar na sociedade do qual tamb&eacute;m faziam parte.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09192050398432.jpg" alt="(Fonte: Britannica/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Britannica/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os Estados Unidos, por exemplo, s&oacute; se transformaram no que &eacute; hoje porque muitos aspectos mudaram para melhor com a segunda metade do s&eacute;culo XX, principalmente no quesito desenvolvimento da toler&acirc;ncia &mdash; apesar de controv&eacute;rsias.
Como toda a linha cronol&oacute;gica da hist&oacute;ria, o passado &eacute; marcado por uma s&eacute;rie de &ldquo;e se?&rdquo; ao longo do caminho. Por&eacute;m, se Francisco Ferdinando tivesse escapado da morte em vez de nem ter sido atacado, ser&aacute; que a Primeira Guerra Mundial n&atilde;o teria acontecido de outra maneira e com consequ&ecirc;ncias ainda piores?

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Como teria sido o mundo sem a Primeira Guerra Mundial?

Imagem de Gaiola para bebês: a invenção usada pelas mães da década de 1920 no megacurioso

As crianças ficavam suspensas a metros de altura do lado de fora dos edifícios

Foi em seu livro The Care and Feeding of Children, publicado em 1884, que o pediatra norte-americano Luther Emmett Holt falou sobre os benef&iacute;cios de levar os beb&ecirc;s para "tomar um ar", o chamado "arejamento infantil" por ele.
&ldquo;O ar fresco &eacute; necess&aacute;rio para renovar e purificar o sangue, e isso &eacute; importante para a sa&uacute;de e o crescimento da crian&ccedil;a, tanto quanto uma alimenta&ccedil;&atilde;o adequada&rdquo;, escreveu o m&eacute;dico.&nbsp;
Holt tamb&eacute;m falou que a import&acirc;ncia do arejamento criava uma imunidade mais forte, livre de resfriados e infec&ccedil;&otilde;es que os locais n&atilde;o arejados podem proporcionar &agrave;s crian&ccedil;as.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09185412317415.jpg" alt="(Fonte: Good Housekeeping/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Good Housekeeping/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
E ele n&atilde;o estava errado. Um estudo de 2009 publicado no Journal of Environmental Psychology apontou que a exposi&ccedil;&atilde;o regular ao ar fresco &eacute; sin&ocirc;nimo de maior vitalidade, principalmente para os beb&ecirc;s, que dormem melhor durante &agrave; noite, mantendo regulado o rel&oacute;gio biol&oacute;gico.
<h2>Pendurando os beb&ecirc;s</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09185600646416.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Mas, na sociedade da d&eacute;cada de 1920, como uma m&atilde;e da cidade grande conseguiria "arejar" seu filho, sendo que era v&iacute;tima da falta de espa&ccedil;os arborizados, qualidade do ar adequada e espa&ccedil;os menos ex&iacute;guos e claustrof&oacute;bicos do alto de seus apartamentos?
Ainda que assustadora, a sa&iacute;da para essas m&atilde;es desesperadas foi colocar os filhos em gaiolas. Criada em 1922 nos Estados Unidos, cuja patente pertencia a uma mulher chamada Emma Read, cidad&atilde; de Washington, a inven&ccedil;&atilde;o foi amplamente usada pelas m&atilde;es de Nova York e at&eacute; de Londres.
A inven&ccedil;&atilde;o de Read consistia em uma gaiola de ferro e arame com teto inclinado para proteger as crian&ccedil;as de elementos agressivos, como chuva e neve, e deveria ser pendurada do lado de fora dos edif&iacute;cios, como parte da extens&atilde;o da janela de qualquer c&ocirc;modo do apartamento.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/09/09185737303417.webp" alt="(Fonte: El Huffpost/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: El Huffpost/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O interior da engenhoca poderia ou n&atilde;o ser forrado com tecido macio para que o beb&ecirc; pudesse dormir enquanto suspenso a v&aacute;rios metros do ch&atilde;o, seguro apenas por hastes de ferro e alguns parafusos ao redor da esquadria das janelas.
As gaiolas se mostraram extremamente &uacute;teis para as m&atilde;es, que costumavam jogar alguns brinquedos nelas para manter seus filhos ocupados durante todo o dia. A primeira-dama Eleanor Roosevelt foi uma das mulheres que aderiram e amaram a inven&ccedil;&atilde;o, principalmente porque era conhecida por n&atilde;o saber nada sobre cuidar ou alimentar um beb&ecirc;.
No final do s&eacute;culo XX, por&eacute;m, com o aumento das percep&ccedil;&otilde;es em torno da seguran&ccedil;a infantil, as gaiolas para beb&ecirc;s diminu&iacute;ram em popularidade, tamb&eacute;m tendo em vista novos m&eacute;todos de lazer para onde as crian&ccedil;as poderiam ser encaminhadas.&nbsp;Apesar de centenas de perigos que a inven&ccedil;&atilde;o apresentava, n&atilde;o existem registros de les&otilde;es ou fatalidades pelo seu uso.

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Gaiola para bebês: a invenção usada pelas mães da década de 1920

Imagem de Fluidos corporais dos gladiadores já foram usados como cosmético no megacurioso

O suor dos guerreiros era considerado afrodisíaco

Durante o reinado do <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119808-imperio-romano-so-1-a-cada-4-imperadores-morreram-de-causas-naturais.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Imp&eacute;rio Romano</a>, a sociedade cultuou um sentimento confuso pelos gladiadores. Por um lado, eles foram desprezados por serem escravos, treinados sob condi&ccedil;&otilde;es brutais, marginalizados e segredados dos romanos livres, cuja &uacute;nica utilidade era servir como lutadores que forneciam entretenimento aos civis; pelo outro, por&eacute;m, os gladiadores tamb&eacute;m foram admirados, enaltecidos e celebrados &mdash; especialmente os mais bem-sucedidos que conseguiram se livrar da vida c&iacute;clica de "atra&ccedil;&atilde;o de show".&nbsp;
A transi&ccedil;&atilde;o da imagem selvagem de grande for&ccedil;a f&iacute;sica desses lutadores determinou o momento em que a sociedade passou a explorar seus atributos f&iacute;sicos de maneira praticamente religiosa.
<h2>O elixir de gladiador</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Fine Art America&nbsp;" data-fonte-url="https://images.fineartamerica.com/images/artworkimages/mediumlarge/2/ancient-rome-gladiator-fights-in-amphitheater-heinrich-leutemann.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08170128575356.jpg" alt="(Fonte: Fine Art America/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Fine Art America/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Enquanto na modernidade f&atilde;s de celebridades pagam at&eacute; fortunas para obterem algum item pessoal de seu &iacute;dolo, na Roma Antiga as mulheres foram mais longe: elas pagaram para ter um frasco de suor de um gladiador.
A sujeira e o suor acumulados na pele desses homens foi comercializada como o cosm&eacute;tico mais refinado de toda a Roma. Por custar caro a sua extra&ccedil;&atilde;o, esse "elixir" poderia ser adquirido apenas pelas mulheres ricas.
Naquela &eacute;poca, as prostitutas desfilavam com roupas e acess&oacute;rios dos mais belos em seus corpos, portanto as mulheres de classe alta tiveram que encontrar uma maneira natural de suplantar esse n&iacute;vel de beleza.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08170252309358.jpg" alt="Strigil. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Strigil. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O suor, por incr&iacute;vel que pare&ccedil;a, melhorou a hidrata&ccedil;&atilde;o da pele da mulher, bem como sua ilumina&ccedil;&atilde;o, que ganhou um toque natural, tornando o produto o equivalente a um dermocosm&eacute;tico com o triplo de&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119078-acido-hialuronico-o-que-e-e-para-que-serve.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">&aacute;cido hialur&ocirc;nico</a> em sua composi&ccedil;&atilde;o. Dessa forma, elas puderam adicionar o produto ao grupo de perfumes como um dos itens aristocr&aacute;ticos da &eacute;poca.
<h2>O "moletom do guerreiro"</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Pinterest&nbsp;" data-fonte-url="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQU9EBCGFrDrSkp7Vzw3ARHZ2xOvYUhd0oTrYXQvpf1_tPjmpyPDeSUO-XHH2FZxqwFpXQ&amp;usqp=CAU"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08170421387360.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O suor dos gladiadores ficou conhecido como o "moletom do guerreiro". O produto, al&eacute;m de supostamente real&ccedil;ar a beleza feminina, tamb&eacute;m significava status e era sin&ocirc;nimo de orgulho.
Coletado depois que o lutador vencia a guerra, os farmac&ecirc;uticos extraiam o fluido com o estr&iacute;gil, uma ferramenta que servia para raspar o &oacute;leo corporal dos homens, e o armazenava em potes antes de ser vendido.
Muitos romanos usaram o suor como perfume para tentar atrair as mulheres pelo faro e seduzi-las por um suposto "cheiro de vencedor", misturando ervas, plantas e especiarias para incrementar o poder afrodis&iacute;aco de gladiador.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08170512794361.jpg" alt="(Fonte: Harbean House/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Harbean House/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Mas o mercado de beleza n&atilde;o se restringiu apenas ao consumo do suor, ele embarcou em pr&aacute;ticas mais macabras, como o uso de sangue de gladiador. Quanto mais famoso e bem-sucedido fosse o lutador, mais potente se acreditava que o seu sangue ficava. Ap&oacute;s coletado dos ferimentos, o l&iacute;quido era vendido para ser bebido puro ou misturado com vinho.
O sangue tamb&eacute;m foi direcionado em pr&aacute;ticas de cura, principalmente no tratamento de epilepsia &mdash; que ningu&eacute;m sabia o que era. O naturalista romano Pl&iacute;nio, o Velho, descreveu que os pacientes tinham o h&aacute;bito de beber o sangue em goles fartos.&nbsp;At&eacute; hoje resta a d&uacute;vida de a que ponto a ind&uacute;stria de suor de gladiador chegou para se comprometer com seus compradores ass&iacute;duos.

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Fluidos corporais dos gladiadores já foram usados como cosmético

Imagem de Yamei Kin: a chinesa que revolucionou a América com a soja e o tofu no megacurioso

A médica de origem 'inimiga' conquistou seu lugar na sociedade norte-americana de 1900

Nascida em 1864, na cidade de Ningbo (China), Yamei Kin ficou &oacute;rf&atilde; aos 2 anos, durante a epidemia de <a href="https://www.megacurioso.com.br/saude-bem-estar/119553-o-medico-que-descobriu-como-a-colera-contaminava-as-pessoas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">c&oacute;lera</a> que devastou o mundo. Em seguida, ela foi adotada pelos mission&aacute;rios americanos Divie Bethune McCartee e Juana M. Knight McCartee, que a encorajaram a usar seu nome de batismo e a aprender ingl&ecirc;s, franc&ecirc;s e japon&ecirc;s.
Em 1885, Yamei se formou em Medicina no Women&rsquo;s Medical College, em Nova York, tornando-se a primeira mulher chinesa a receber um diploma de m&eacute;dica nos Estados Unidos (EUA), tendo a presen&ccedil;a do c&ocirc;nsul chin&ecirc;s em sua formatura.
Foi em 1917 que ela foi recrutada e enviada &agrave; sua terra natal pelo governo dos Estados Unidos para estudar e aplicar um produto ainda desconhecido pelos norte-americanos: a soja.
<h2>Fazendo hist&oacute;ria</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08164429803345.jpg" alt="(Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Aos poucos, Yamei conquistou seu lugar tanto na sociedade americana, tornando-se uma mulher de grande influ&ecirc;ncia, quanto no cen&aacute;rio m&eacute;dico da &eacute;poca. Em 1903, ela j&aacute; havia-se tornado uma esp&eacute;cie de nutricionista das celebridades ao indicar o tofu e outros produtos de soja como alternativas nutritivas &agrave; carne, exigindo menos recursos para serem produzidos.
"A mulher estava muitas d&eacute;cadas &agrave; frente de seu tempo em termos de promo&ccedil;&atilde;o do tofu para o p&uacute;blico americano", escreveu Matthew Roth em Feij&atilde;o M&aacute;gico: A Ascens&atilde;o da Soja na Am&eacute;rica.&nbsp;
Foi o pr&oacute;prio Departamento de Qu&iacute;mica do Departamento de Agricultura dos EUA que viu a pesquisa de Yamei sobre os estudos da soja como parte de um esfor&ccedil;o para desenvolver novas fontes de prote&iacute;na para os soldados americanos durante o horror da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/117623-conheca-a-historia-da-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Primeira Guerra Mundial</a>.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08165339323351.jpg" alt="(Fonte: Sears/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Sears/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em seu laborat&oacute;rio em Nova York, Yamei testou sua inven&ccedil;&atilde;o, o queijo de soja chin&ecirc;s, apresentando as sementes de soja ao Departamento de Ind&uacute;stria de Plantas, tendo uma de suas receitas inclu&iacute;das no estudo mercante The Soubean, publicado em 1910 por William J. Morse e Charles V. Piper &mdash; ambos funcion&aacute;rios do Departamento de Agricultura.
Durante o desenvolvimento dos substitutos merit&oacute;rios, com a escassez de carne vermelha, trigo e &oacute;leos vegetais, a rep&oacute;rter Sarah McDougal, do San Antonio Light, definiu o trabalho de Yamei como "quieto, r&aacute;pido e delicado".
Segundo McDougal, todos no local estavam prontos para "torcer pela soja", conforme a mulher desempenhava seu trabalho meticuloso. Os qu&iacute;micos de outros laborat&oacute;rios apareceram para testemunhar Yamei levar o tofu para a mesa de jantar como prato principal.
<h2>A revolucion&aacute;ria</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08165602512352.jpg" alt="(Fonte: Plantte/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Plantte/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
&ldquo;Os americanos n&atilde;o sabem como usar a soja. Ela deve ser transformada em algo atraente, sen&atilde;o eles n&atilde;o a aceitar&atilde;o. Deve ter um gosto bom, e isso pode ser feito&rdquo; declarou Yamei, ent&atilde;o com 50 anos, ao The New York Times, pouco antes de partir para sua miss&atilde;o na China.
No ano seguinte, McDougal escreveu: "Em uma mesa comprida, havia uma fileira de potes de vidro cheios do que pareciam fatias de queijo branco. Era queijo de soja. Um frasco estava cheio de uma pasta acastanhada. Era soja".
Yamei Kin&nbsp;morreu em mar&ccedil;o de 1934, aos 70 anos, em Pequim, e infelizmente n&atilde;o viveu para ver a soja se tornar um produto popular na sociedade americana, tampouco o impacto completo de sua defesa ao tofu nos EUA.
Contudo, a mulher se tornou not&aacute;vel tamb&eacute;m por romper a imagem do contexto da Lei de Exclus&atilde;o Chinesa de 1882, em que era proibido qualquer imigra&ccedil;&atilde;o da China, e da pol&iacute;tica turbulenta com a queda da dinastia Qing, em 1912.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The New York Times&nbsp;" data-fonte-url="https://static01.nyt.com/images/2018/05/29/arts/29exclusion/29exclusion-articleLarge.jpg?quality=75&amp;auto=webp&amp;disable=upscale"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/08/08165812950353.jpg" alt="Exclus&atilde;o chinesa na Am&eacute;rica. (Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Exclus&atilde;o chinesa na Am&eacute;rica. (Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
&ldquo;O fato de ela aparecer em tantos lugares foi muito ressonante&rdquo;, apontou a historiadora Madeleine Y. Hsu, da Universidade do Texas e pesquisadora da migra&ccedil;&atilde;o entre a China e os EUA no final do s&eacute;culo XIX.
No livro My Sister China, o autor tcheco Jaroslav Prusek, que conheceu Yamei na d&eacute;cada de 1930, cita que trabalhadores nas ruas a insultavam com frequ&ecirc;ncia e, por isso, ela dizia que suas colegas de classe n&atilde;o gostavam de sua presen&ccedil;a.
Yamei Kin tamb&eacute;m se consagrou com a imagem de uma mulher de grande personalidade e ambi&ccedil;&atilde;o que se reinventou "a servi&ccedil;o de seu pr&oacute;prio sucesso" &ndash; provavelmente seu tra&ccedil;o mais americano.
No entanto, como ressaltou a professora de Hist&oacute;ria Mae M. Ngai, da Universidade de Columbia, Yamei fez parte deu uma elite transnacional isenta de lei, que tinha como alvo os trabalhadores chineses no pa&iacute;s. Inclusive, ela chegou a receber uma carta de Theodore Roosevelt lamentando por n&atilde;o poder torn&aacute;-la cidad&atilde; americana &mdash; mas os americanos j&aacute; a consideravam cidad&atilde; o suficiente.

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Yamei Kin: a chinesa que revolucionou a América com a soja e o tofu

Imagem de Em 1820, engenheiros decidiram construir um túnel sob o Rio Tâmisa no megacurioso

Enganavam-se os propriet&aacute;rios das cargas que viajavam milhares de quil&ocirc;metros, sobrevivendo a todo o tipo de avaria que os navios pudessem causar, e achavam que elas estariam a salvo depois que aportavam na Londres do s&eacute;culo XIX.&nbsp;As encomendas ainda precisavam atravessar uma cidade que se tornou a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119273-o-primeiro-semaforo-instalado-em-londres-no-sec-xix-trouxe-caos.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">mais populosa do mundo na &eacute;poca</a>, enfrentando o engarrafamento de centenas de cavalos particulares e de bois empurrando carro&ccedil;as pesadas de entregas.&nbsp;At&eacute; que em 1820, a Londres se tornou oficialmente intransit&aacute;vel e, para o orgulho londrino, aquilo era um absurdo.
<h2>Indo por baixo</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07204758376008.jpg" alt="Richard Trevithick. (Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Richard Trevithick. (Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A iniciativa privada dispensou a constru&ccedil;&atilde;o de outra ponte, visto que ela impediria o acesso de barcos a vela ao porto de Londres, ent&atilde;o os empres&aacute;rios voltaram sua aten&ccedil;&atilde;o para <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/114891-o-grande-fedor-de-1858-que-quase-intoxicou-londres.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">o f&eacute;tido Rio T&acirc;misa</a>. Por que n&atilde;o construir um t&uacute;nel? Dessa forma, eles seriam beneficiados pela agilidade nas entregas e pelo desafogamento do fluxo, bem como poderiam lucrar gerenciando um sistema de ped&aacute;gio. Al&eacute;m disso, o boom da Revolu&ccedil;&atilde;o Industrial estava a favor deles, com a alta demanda de carv&atilde;o, bem como os m&eacute;todos de trabalho e explora&ccedil;&atilde;o primitivos.
Os engenheiros, que nunca haviam constru&iacute;do um t&uacute;nel sob um rio importante, deparam-se com v&aacute;rios empecilhos: ao norte, Londres foi constru&iacute;da sobre um leito s&oacute;lido de argila; ao sul e leste, por&eacute;m, havia camadas mais profundas de areia com &aacute;gua, cascalho, lodo, &aacute;rvores petrificadas e destro&ccedil;os de antigos leitos, ou seja, o resultado era um solo semil&iacute;quido e, em profundidade, muito pressurizado, podendo explodir a qualquer momento.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07204951177009.jpg" alt="(Fonte: Pixels/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pixels/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Richard Trevithick, o engenheiro-chefe do projeto do primeiro t&uacute;nel, teve que elaborar a constru&ccedil;&atilde;o sem metade dos recursos de tuneliza&ccedil;&atilde;o que existem atualmente. Portanto, ele aproveitou a energia do vapor para produzir o primeiro motor a vapor de alta press&atilde;o do mundo, que o ajudaria a cavar sob o T&acirc;misa.
No entanto, ele n&atilde;o demorou para perceber que n&atilde;o seria uma tarefa f&aacute;cil. Quando os homens de Trevithick alcan&ccedil;aram o rio, o rascunho de t&uacute;nel deles tinha apenas 1 metro e meio de altura por 1 metro de largura, com &aacute;gua de esgoto vazando sem parar.
<h2>As toupeiras</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Research Gate&nbsp;" data-fonte-url="https://www.researchgate.net/profile/Andrew-Cushing-2/publication/328812901/figure/fig2/AS:690828238397445@1541717695868/Construction-of-the-Tower-Subway-Using-a-Barlow-Greathead-Shield-London-Transport-Museum.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07205151369010.jpg" alt="(Fonte: Research Gate/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Research Gate/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Com a morte pairando sobre suas cabe&ccedil;as de maneira quase literal, os mineiros trabalharam com o aux&iacute;lio apenas de picaretas naquele espa&ccedil;o ex&iacute;guo de terra encharcada. Eles operavam em tr&ecirc;s: enquanto um homem cavava, o segundo removia a lama e o outro escorava as paredes com peda&ccedil;os de madeira.
Eles trabalhavam em turnos de 6 horas di&aacute;rias, tendo que lidar com o frio e o calor, sem conseguirem ficar em p&eacute; ou se esticarem, tendo que regular a respira&ccedil;&atilde;o de t&atilde;o mal ventilado que o t&uacute;nel era &mdash; sem contar o fedor que arrancava tudo o que eles tinham no est&ocirc;mago.
Em janeiro de 1808, eles j&aacute; estavam a cerca de 40 metros da margem do T&acirc;misa, e Trevithick acreditava que o projeto estaria pronto em 2 semanas, quando tudo come&ccedil;ou a desmoronar.
Os mineiros atingiram areia movedi&ccedil;a e &aacute;gua em tanta quantidade que foi imposs&iacute;vel impedir que o solo enlameado n&atilde;o se alagasse t&atilde;o rapidamente, quase sufocando-os. Ent&atilde;o, eles conseguiram fugir instantes antes do dil&uacute;vio.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07205319432011.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Imaginando que os oper&aacute;rios houvessem acertado uma depress&atilde;o no leito do T&acirc;misa, o engenheiro providenciou sacos de argila para serem lan&ccedil;ados aos montes no leito do rio, em uma tentativa de estancar o vazamento. A medida deu certo apenas por alguns dias at&eacute; que voltasse a encher de &aacute;gua.
Dessa vez, por&eacute;m, a Thames Archway Company, cansada de gastar dinheiro e ter seus funcion&aacute;rios doentes devido &agrave; exposi&ccedil;&atilde;o &agrave; &aacute;gua do rio, interrompeu a obra.
<h2>A cria&ccedil;&atilde;o de Brunel</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Wikipedia&nbsp;" data-fonte-url="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d8/Sir_Marc_Isambard_Brunel_by_James_Northcote.jpg/1200px-Sir_Marc_Isambard_Brunel_by_James_Northcote.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07205407714012.jpg" alt="Marc Brunel. (Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Marc Brunel. (Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em uma &eacute;poca em que as &uacute;nicas m&aacute;quinas usadas nas minas eram bombas, foi o engenheiro Marc Brunel quem percebeu que, para o t&uacute;nel dar certo, seria necess&aacute;ria uma m&aacute;quina para abrir caminho, impedir o colapso do teto e das paredes, como tamb&eacute;m remover a areia ou &aacute;gua no processo.
Dessa forma, ele criou a tuneladora-escudo, que tem sido usada nos &uacute;ltimos 180 anos para a constru&ccedil;&atilde;o segura e eficaz de t&uacute;neis. Sua precursora consistia em uma grade de arma&ccedil;&otilde;es de ferro que era pressionada contra a face do t&uacute;nel e apoiada em um conjunto de pranchas horizontais de madeira, denominadas "pranchas de estacas", que evitariam o colapso das paredes. As molduras foram divididas em 36 se&ccedil;&otilde;es, cada qual com 1 metro de largura e quase 2 metros de altura, dispostas uma sobre a outra em 3 n&iacute;veis.
A m&aacute;quina de Brunel tinha 6 metros de altura, com um escudo coberto por placas de ferro que formavam um teto sobre os mineiros enquanto eles trabalhavam. Em vez de removerem uma por&ccedil;&atilde;o de terra exposta, eles removiam uma placa de estaca por vez e abriam uma portinhola em forma de caixa de correio em uma profundidade predeterminada.&nbsp;
Quando os mineiros em uma se&ccedil;&atilde;o terminavam de escavar toda a terra atr&aacute;s dessas t&aacute;buas, as estruturas poderiam ser puxadas e a m&aacute;quina se moveria com seguran&ccedil;a enquanto os pedreiros iam escorando com tijolos o t&uacute;nel rec&eacute;m-exposto.
<h2>Cavando hist&oacute;ria</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07205537184013.jpg" alt="(Fonte: Science Photo Library/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Science Photo Library/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar de a m&aacute;quina ser revolucion&aacute;ria, Brunel n&atilde;o tinha a tecnologia nem dinheiro o suficiente para vencer o leito l&iacute;quido sob o Rio T&acirc;misa. Muitos mineiros que continuaram na obra foram envenenados pela &aacute;gua polu&iacute;da e contra&iacute;ram doen&ccedil;as (desde diarreia at&eacute; cegueira tempor&aacute;ria).
Em uma &uacute;ltima tentativa de salvar o projeto, o engenheiro despejou mais de 20 mil metros c&uacute;bicos de sacos de argila no T&acirc;misa nas partes em que o leito havia cedido e prejudicado seu t&uacute;nel. O trabalho demorou 4 meses para ficar pronto, mas ele conseguiu abrir o t&uacute;nel para acontecer um banquete para 50 convidados.
Mais tarde, milhares de visitantes puderam entrar no t&uacute;nel sob o T&acirc;misa, que mais parecia um po&ccedil;o. A not&iacute;cia se espalhou pelo mundo, com pessoas de v&aacute;rios pa&iacute;ses chegando a Londres para testemunhar a cria&ccedil;&atilde;o fara&ocirc;nica.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/07/07205650513014.jpg" alt="(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Isso durou at&eacute; 12 de janeiro de 1828, quando o t&uacute;nel foi fechado ap&oacute;s outra torrente de &aacute;gua inund&aacute;-lo e causar a morte de 6 mineiros.
Sete anos mais tarde, Brunel e seu apoiadores conseguiram convencer o governo a emprestar 246 mil euros para que o projeto "de import&acirc;ncia nacional" fosse conclu&iacute;do. O t&uacute;nel s&oacute; surgiu no bairro Wapping, em 13 de agosto de 1841, ap&oacute;s 6 anos de trabalho ininterrupto, em uma luta de 16 anos e 2 meses ao todo.
O t&uacute;nel acabou se tornando um local de vendedores ambulantes e sem-tetos &agrave; noite, em vez de servir para encurtar o trabalho log&iacute;stico do porto de Londres. O local foi comprado pela East London Railway em 1869 para facilitar o transporte de trens a vapor.
Atualmente, o t&uacute;nel sob o T&acirc;misa faz parte da rede de metr&ocirc; de Londres, em homenagem aos esfor&ccedil;os de Trevithick e Brunel.

Julio Cezar de Araujo