Artes/cultura
15/09/2021 às 04:00•3 min de leitura
Com início em 28 de julho de 1914 e término em 11 de novembro de 1918, a Primeira Guerra Mundial é considerada o conflito mais mortal de todos os tempos. Estima-se que cerca de 20 milhões de soldados foram mortos e 21 milhões de pessoas ficaram feridas, das quais 10 milhões eram civis.
Os danos causados pelo conflito foram em larga escala. Em âmbito de saúde, a guerra trouxe doenças, como IST, e gerou epidemias, como a da gripe espanhola. Em questão territorial, grandes extensões de terra, principalmente na França e na Bélgica, foram totalmente destruídas, bem como edifícios, pontes e linhas ferroviárias. Os produtos químicos e cartuchos de artilharia causaram danos por muitos anos no solo agrícola.
A Alemanha e a Grã-Bretanha afundaram economicamente ao gastarem cerca de 60% de seu dinheiro patrocinando a guerra. Como consequência, foi necessário aumentar os impostos, pedir dinheiro para os cidadãos e até imprimir cédulas para a compra de armamento. A inflação no pós-guerra foi inevitável.
(Fonte: Evening Standard/Reprodução)
As empresas também tiveram que fechar porque os proprietários foram recrutados para guerra e alguns deles nunca mais voltaram. Aqueles que conseguiram retornar sofreram de traumas deixados pelo conflito e não puderam ser reabilitados para integrar o mercado de trabalho novamente.
Foram fechadas as diversas empresas de artilharia que prosperaram durante todo o período bélico, adicionando mais "uma pedra na sepultura econômica" desses países.
Todos esses danos alcançaram o âmbito social como uma bomba, reduzindo drasticamente os índices de natalidade, porque milhões de jovens morreram em combate. Além disso, houve aumento vertiginoso de desabrigados, migração massiva e miséria em todas as esferas sociais.
Em meio a tanta catástrofe, é inevitável não se perguntar: e se a Primeira Guerra Mundial nunca tivesse existido? Como isso teria sido refletido no futuro da humanidade?
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Se o arquiduque Francisco Ferdinando não tivesse sido assassinado em 28 de junho de 1914, em Sarajevo, no contexto político, a Alemanha nunca teria mandado Vladimir Lenin de volta de seu exílio na Suíça para desestabilizar a União Soviética, causando expurgos e liquidações.
O Partido Nazista de Adolf Hitler não se formaria, pelo menos não com a força que se fez, visto que a mente sádica do homem não teria sido expandida pelo sentimento de ódio em relação à rendição da Alemanha e as subsequentes explicações antissemitas que levaram a sua derrota. Nisso, certamente o fascismo italiano também não aconteceria, visto que foi a Primeira Guerra Mundial que levou Benito Mussolini a formular as próprias ambições ditatoriais.
O mesmo pode ser dito com relação ao Oriente Médio, que não teria sido palco do genocídio armênio do século XX nem visto a escultura franco-britânica das atuais fronteiras da região, resultado do declínio e da derrota do Império Otomano.
(Fonte: MacLeans/Reprodução)
Os judeus não teriam sido diminuídos e massacrados, mas sim prosperado e assumido um grande papel na história europeia — que não teria a ver com câmaras de gás e fornos.
Os Estados Unidos, do alto de seu poder, teriam permanecido mais isolado e menos conectado com o resto do mundo, além de menos tolerante em vários aspectos socioculturais.
(Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Como ressalta o historiador Richard Ned Lebow, professor de teoria política internacional da King’s College London, uma consequência importante de ambas as guerras mundiais foi a ciência e a tecnologia serem aceleradas por meio do apoio governamental à pesquisa e ao desenvolvimento de armas. Em outras palavras, se hoje existe armas nucleares e computadores, foi porque houve gastos militares para todos os avanços tecnológicos.
Tudo teria levado mais tempo para acontecer, como o desenvolvimento de procedimentos médicos. As doenças fatais, os ossos quebrados, as feridas e as infecções virais só se tornaram passíveis de sobrevivência devido ao empenho em tratamentos que surgiram como consequência da guerra. O aprimoramento dos antibióticos teria atrasado também, principalmente por não existir uma pressa pela informação para que fossem efetivos.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Sem um conflito global que requeresse aviões, helicópteros, foguetes e jatos, uma simples viagem de avião teria sido algo incabível durante anos. Esse reflexo alcançaria principalmente a ausência da Segunda Guerra Mundial, o marco zero de quando a tecnologia recebeu o maior incentivo da história.
No campo social, o mundo teria permanecido bem mais desigual e preconceituoso. Foi com a Primeira Guerra que as mulheres quebraram os paradigmas sociais ao se verem forçadas a assumirem escritórios e fábricas no lugar dos homens recrutados para o conflito. Foi nesse momento que o mundo começou a de fato enxergar o potencial das mulheres e lhes conceder mais direitos no pós-guerra, incluindo o direito ao voto.
O elitismo também sofreu sua derrocada justa como privilegiados da sociedade, com homens e mulheres pobres exigindo voz na formação de seu país e de um lugar na sociedade do qual também faziam parte.
(Fonte: Britannica/Reprodução)
Os Estados Unidos, por exemplo, só se transformaram no que é hoje porque muitos aspectos mudaram para melhor com a segunda metade do século XX, principalmente no quesito desenvolvimento da tolerância — apesar de controvérsias.
Como toda a linha cronológica da história, o passado é marcado por uma série de “e se?” ao longo do caminho. Porém, se Francisco Ferdinando tivesse escapado da morte em vez de nem ter sido atacado, será que a Primeira Guerra Mundial não teria acontecido de outra maneira e com consequências ainda piores?