Yamei Kin: a chinesa que revolucionou a América com a soja e o tofu

14/09/2021 às 06:303 min de leitura

Nascida em 1864, na cidade de Ningbo (China), Yamei Kin ficou órfã aos 2 anos, durante a epidemia de cólera que devastou o mundo. Em seguida, ela foi adotada pelos missionários americanos Divie Bethune McCartee e Juana M. Knight McCartee, que a encorajaram a usar seu nome de batismo e a aprender inglês, francês e japonês.

Em 1885, Yamei se formou em Medicina no Women’s Medical College, em Nova York, tornando-se a primeira mulher chinesa a receber um diploma de médica nos Estados Unidos (EUA), tendo a presença do cônsul chinês em sua formatura.

Foi em 1917 que ela foi recrutada e enviada à sua terra natal pelo governo dos Estados Unidos para estudar e aplicar um produto ainda desconhecido pelos norte-americanos: a soja.

Fazendo história

(Fonte: The New York Times/Reprodução)(Fonte: The New York Times/Reprodução)

Aos poucos, Yamei conquistou seu lugar tanto na sociedade americana, tornando-se uma mulher de grande influência, quanto no cenário médico da época. Em 1903, ela já havia-se tornado uma espécie de nutricionista das celebridades ao indicar o tofu e outros produtos de soja como alternativas nutritivas à carne, exigindo menos recursos para serem produzidos.

"A mulher estava muitas décadas à frente de seu tempo em termos de promoção do tofu para o público americano", escreveu Matthew Roth em Feijão Mágico: A Ascensão da Soja na América. 

Foi o próprio Departamento de Química do Departamento de Agricultura dos EUA que viu a pesquisa de Yamei sobre os estudos da soja como parte de um esforço para desenvolver novas fontes de proteína para os soldados americanos durante o horror da Primeira Guerra Mundial.

(Fonte: Sears/Reprodução)(Fonte: Sears/Reprodução)

Em seu laboratório em Nova York, Yamei testou sua invenção, o queijo de soja chinês, apresentando as sementes de soja ao Departamento de Indústria de Plantas, tendo uma de suas receitas incluídas no estudo mercante The Soubean, publicado em 1910 por William J. Morse e Charles V. Piper — ambos funcionários do Departamento de Agricultura.

Durante o desenvolvimento dos substitutos meritórios, com a escassez de carne vermelha, trigo e óleos vegetais, a repórter Sarah McDougal, do San Antonio Light, definiu o trabalho de Yamei como "quieto, rápido e delicado".

Segundo McDougal, todos no local estavam prontos para "torcer pela soja", conforme a mulher desempenhava seu trabalho meticuloso. Os químicos de outros laboratórios apareceram para testemunhar Yamei levar o tofu para a mesa de jantar como prato principal.

A revolucionária

(Fonte: Plantte/Reprodução)(Fonte: Plantte/Reprodução)

“Os americanos não sabem como usar a soja. Ela deve ser transformada em algo atraente, senão eles não a aceitarão. Deve ter um gosto bom, e isso pode ser feito” declarou Yamei, então com 50 anos, ao The New York Times, pouco antes de partir para sua missão na China.

No ano seguinte, McDougal escreveu: "Em uma mesa comprida, havia uma fileira de potes de vidro cheios do que pareciam fatias de queijo branco. Era queijo de soja. Um frasco estava cheio de uma pasta acastanhada. Era soja".

Yamei Kin morreu em março de 1934, aos 70 anos, em Pequim, e infelizmente não viveu para ver a soja se tornar um produto popular na sociedade americana, tampouco o impacto completo de sua defesa ao tofu nos EUA.

Contudo, a mulher se tornou notável também por romper a imagem do contexto da Lei de Exclusão Chinesa de 1882, em que era proibido qualquer imigração da China, e da política turbulenta com a queda da dinastia Qing, em 1912.

Exclusão chinesa na América. (Fonte: The New York Times/Reprodução)Exclusão chinesa na América. (Fonte: The New York Times/Reprodução)

“O fato de ela aparecer em tantos lugares foi muito ressonante”, apontou a historiadora Madeleine Y. Hsu, da Universidade do Texas e pesquisadora da migração entre a China e os EUA no final do século XIX.

No livro My Sister China, o autor tcheco Jaroslav Prusek, que conheceu Yamei na década de 1930, cita que trabalhadores nas ruas a insultavam com frequência e, por isso, ela dizia que suas colegas de classe não gostavam de sua presença.

Yamei Kin também se consagrou com a imagem de uma mulher de grande personalidade e ambição que se reinventou "a serviço de seu próprio sucesso" – provavelmente seu traço mais americano.

No entanto, como ressaltou a professora de História Mae M. Ngai, da Universidade de Columbia, Yamei fez parte deu uma elite transnacional isenta de lei, que tinha como alvo os trabalhadores chineses no país. Inclusive, ela chegou a receber uma carta de Theodore Roosevelt lamentando por não poder torná-la cidadã americana — mas os americanos já a consideravam cidadã o suficiente.

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