Imagem de Como foi decidido o fim da Corrida Espacial? no megacurioso

Os Estados Unidos não queriam mais continuar perdendo

Em 1950, foi o contexto da <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119421-aos-10-anos-samantha-smith-tentou-acabar-com-a-guerra-fria.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Guerra Fria&nbsp;</a>que impulsionou a selvagem Corrida Espacial entre os Estados Unidos (EUA) e a Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica (URSS). Est&aacute; enganado quem acredita que a disputa era apenas sobre pesquisa cient&iacute;fica, engenhosidade tecnol&oacute;gica e recursos econ&ocirc;micos. Esses eram apenas os 3 pilares que sustentavam o prop&oacute;sito principal: a corrida armamentista.
Impulsionado pelos desdobramentos da <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/112268-entenda-como-comecou-a-segunda-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Segunda Guerra Mundial</a>, os programas espaciais americanos e sovi&eacute;ticos nunca foram puramente sobre ci&ecirc;ncia, os rivais usaram suas pesquisas para desenvolverem a capacidade de produ&ccedil;&atilde;o de m&iacute;sseis bal&iacute;sticos intercontinentais e sat&eacute;lites espi&otilde;es, em uma &eacute;poca em que qualquer agulha poderia arrebentar "a bolha de tens&atilde;o" entre os pa&iacute;ses.&nbsp;&ldquo;Os empreendimentos cient&iacute;ficos espaciais n&atilde;o s&atilde;o separ&aacute;veis dos militares, nunca foram&rdquo;, definiu o astrof&iacute;sico Neil deGrasse Tyson.
<h2>Em 1&deg; lugar</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14164537979274.jpg" alt="Explos&atilde;o do sat&eacute;lite Vanguard. (Fonte: Air and Space Museum/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Explos&atilde;o do sat&eacute;lite Vanguard. (Fonte: Air and Space Museum/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Independentemente do prop&oacute;sito principal, qual das pot&ecirc;ncias de fato ganhou a Corrida Espacial?
De acordo com a professora Jennifer Frost, da Universidade Auckland, os sovi&eacute;ticos ganharam dos americanos no quesito &ldquo;capacidade de voo&rdquo;. Em 1957, a URSS lan&ccedil;ou o bem-sucedido sat&eacute;lite <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/104201-sputnik-o-primeiro-satelite-artificial-completa-60-anos-de-seu-lancamento.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Sputnik 1</a>&nbsp;em &oacute;rbita terrestre; em 1959, pousou a Luna 2, a 1&ordf; nave espacial a atingir a superf&iacute;cie da Lua; em 1961, mandou Yuri Gagarin para o espa&ccedil;o pela 1&ordf; vez na hist&oacute;ria; em 1963, a 1&ordf; mulher, Valentina Tereshkova; e, em 1965, ocorreu a 1&ordf; caminhada espacial com Alexei Leonov.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;TimeToast&nbsp;" data-fonte-url="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRA_rRxmEqvhUn_q0Hfq3-d7cNm6F5hBdCi_qg44Re5vfLLvC1W4U-XU3J5RQALB_3T1b4&amp;usqp=CAU"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15073858095000.jpg" alt="Sat&eacute;lite Sputinik 1. (Fonte: TimeToast/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Sat&eacute;lite Sputinik 1. (Fonte: TimeToast/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Essa sucess&atilde;o de &ldquo;primeiros&rdquo; causou uma grande crise de confian&ccedil;a nos EUA, sobretudo ap&oacute;s o fracasso em rede nacional do lan&ccedil;amento do sat&eacute;lite Vanguard 1. A partir dessa humilha&ccedil;&atilde;o foi que os americanos criaram a Administra&ccedil;&atilde;o Nacional do Espa&ccedil;o e da Aeron&aacute;utica (NASA), com a determina&ccedil;&atilde;o de "virar o jogo" na corrida espacial.
&ldquo;Os americanos sentiam que estavam em uma corrida, e a natureza de uma corrida &eacute; que, uma vez que voc&ecirc; pensa que ganhou, voc&ecirc; tende a parar&rdquo;, apontou Piers Bizoney, o coautor de Starman, uma biografia de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118352-o-voo-de-yuri-gagarin-60-anos-do-primeiro-homem-no-espaco.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Yuri Gagarin</a>.
<h2>O aperto de m&atilde;o</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15074231314001.jpg" alt="(Fonte: The Mirror/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: The Mirror/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Enquanto os sovi&eacute;ticos visavam estabelecer um poderio, inclusive uma base lunar e outras fontes de pesquisa, os americanos apenas queriam ganhar algo para poder encerrar uma disputa que amea&ccedil;ava o ego deles.
O fato de n&atilde;o ser uma democracia permitiu que a URSS gastasse mais dinheiro e organizasse os talentos de sua popula&ccedil;&atilde;o de uma forma que os americanos n&atilde;o conseguiram fazer, considerando que os pol&iacute;ticos e a m&iacute;dia perderam o interesse no programa lunar assim que <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115361-videos-da-missao-apollo-11-na-lua-sao-restaurados-por-ia-veja.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Neil Armstrong</a> cravou a bandeira norte-americana na Lua.
A confirma&ccedil;&atilde;o disso &eacute; que o <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114132-apollo-13-50-anos-da-missao-que-deixou-a-terra-sem-folego.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Programa Apollo</a> continuou at&eacute; 1972, com 12 astronautas pousando na superf&iacute;cie lunar, mas sem a exalta&ccedil;&atilde;o governamental. Eles j&aacute; haviam-se cansado, portanto n&atilde;o demorou para o programa ser descartado.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15074506954002.jpg" alt="Yuri Gagarin. (Fonte: Terra/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Yuri Gagarin. (Fonte: Terra/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
No final das contas, foi o presidente <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/119678-o-misterio-da-ligacao-recebida-antes-do-assassinato-de-kennedy.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">John F. Kennedy</a> que estabeleceu o fim da corrida espacial quando declarou ao Congresso, em maio de 1961, que "tinha a inten&ccedil;&atilde;o de vencer" ao colocar um homem na Lua at&eacute; o final daquela d&eacute;cada, diante da afronta que foi ver Gagarin orbitar pela Terra com sucesso.
Al&eacute;m disso, Kennedy tamb&eacute;m sofreu com a press&atilde;o popular, visto que eram destinados bilh&otilde;es de d&oacute;lares para alimentar a m&aacute;quina da corrida espacial, aumentando os &iacute;ndices de pobreza e desigualdade econ&ocirc;mica no pa&iacute;s. Ent&atilde;o, era preciso parar.
Em 20 de julho de 1969, quando Armstrong e Buzz Aldrin colocaram os p&eacute;s na Lua, as chances sovi&eacute;ticas j&aacute; haviam acabado 17 dias antes, quando fracassaram no teste do pr&oacute;prio foguete lunar, nomeado N1, que foi lan&ccedil;ado de uma base no Cazaquist&atilde;o. Ent&atilde;o, foi encerrado o programa em agosto de 1974, ap&oacute;s 5 tentativas frustradas que jamais foram anunciadas.
Para alguns historiadores, a disputa s&oacute; foi realmente encerrada com a diplomacia entre as 2 superpot&ecirc;ncias, em 15 de julho de 1975, durante a miss&atilde;o conjunta e simb&oacute;lica Apollo-Soyuz, selada com um aperto de m&atilde;os entre os comandantes.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.211Z

Como foi decidido o fim da Corrida Espacial?

Imagem de Hákarl: a repugnante iguaria islandesa venenosa e apodrecida no megacurioso

Além de tudo isso, o prato típico tem gosto de urina. Encararia?

Se voc&ecirc; quer conhecer bem um pa&iacute;s ou uma regi&atilde;o, a culin&aacute;ria &eacute; considerada o melhor caminho para se aproximar de aspectos culturais. Isso, porque experimentar um prato t&iacute;pico da Coreia do Sul, como o petisco de bicho-da-seda (Beondegi), pode ser uma verdadeira aventura.
&Eacute; em virtude de pratos como esse que iguarias de outros pa&iacute;ses tornaram-se sin&ocirc;nimo de estranheza, pelo menos na maioria das vezes, principalmente quando se trata de algo inesperado, como tar&acirc;ntulas fritas do Camboja ou olhos de atum do Jap&atilde;o.
Mas imagine comer algo altamente podre, com cheiro de urina e potencial venenoso? O h&aacute;karl, um prato nacional da Isl&acirc;ndia, significa literalmente &ldquo;tubar&atilde;o podre&rdquo; em island&ecirc;s, preparado com carne do tubar&atilde;o-da-Groenl&acirc;ndia.
<h2>Na hist&oacute;ria</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20192608168443.jpg" alt="(Fonte: GreenMe/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: GreenMe/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em seu livro Kitchen Confidential: Adventures in the Culinary Underbelly, o chef Anthony Bourdain (1956-2018) descreveu a iguaria como &ldquo;a pior coisa e a mais nojenta" que ele comeu na vida. At&eacute; mesmo aqueles que t&ecirc;m um pouco mais de experi&ecirc;ncia comendo h&aacute;karl o descrevem como desagrad&aacute;vel, pois o cheiro e o sabor se assemelham &agrave; am&ocirc;nia com podrid&atilde;o.
O h&aacute;karl surgiu quando os primeiros residentes islandeses se estabeleceram na ilha s&eacute;culos atr&aacute;s, ent&atilde;o suas op&ccedil;&otilde;es de alimenta&ccedil;&atilde;o eram limitadas, sobretudo em temperaturas muito baixas. Os povos precisavam de algo grande e que os sustentassem por mais tempo, em vez de ficarem ca&ccedil;ando peixes no gelo longe do calor de fogueiras.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20192656261444.jpg" alt="(Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A sa&iacute;da foi se aproveitar do Somniosus microcephalus, mais conhecido como tubar&atilde;o-da-Groenl&acirc;ndia. Abundante em &aacute;guas geladas e considerado um dos maiores do mundo, chegando a medir 6,5 metros de comprimento, ele era a fonte perfeita de alimento. Contudo, o &uacute;nico problema &eacute; que sua carne cont&eacute;m altos n&iacute;veis de &aacute;cido &uacute;rico e &oacute;xido de trimetilamina, dois compostos que atuam como anticongelantes naturais para proteger o tubar&atilde;o das &aacute;guas do &Aacute;rtico.
Os produtos qu&iacute;micos s&atilde;o t&atilde;o concentrados que algumas mordidas na carne n&atilde;o curada s&atilde;o suficientes para provocar efeitos semelhantes aos de uma embriaguez extrema no ser humano e causar sua morte. Mas os islandeses daqueles tempos n&atilde;o se preocuparam com isso e, em vez de procurarem uma fonte alternativa de alimento, resolveram encontrar uma maneira de tornar o tubar&atilde;o comest&iacute;vel.
<h2>O preparo</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20192834886448.jpg" alt="(Fonte: Taringa!/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Taringa!/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Com um m&eacute;todo bastante incomum de purifica&ccedil;&atilde;o e preserva&ccedil;&atilde;o muito usado pelos Vikings, os islandeses matavam o tubar&atilde;o e depois o decapitavam &mdash; visto que a cabe&ccedil;a n&atilde;o serve como comida. Depois, o cad&aacute;ver do animal era jogado em um buraco raso na areia, e pedras eram depositadas sobre ele com o objetivo de extrair os l&iacute;quidos da carca&ccedil;a.
L&aacute; ele permanecia de 6 a 12 semanas, fermentando em meio aos pr&oacute;prios fluidos corporais que o tornam t&atilde;o venenoso. Esse processo &eacute; feito at&eacute; hoje dessa forma, ainda que de maneira menos primitiva.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Atlas Obscura&nbsp;" data-fonte-url="https://assets.atlasobscura.com/media/W1siZiIsIjIwMTcvMTEvMTMvMTcvNDEvNTgvMTdkMTYwNjktMzc0Zi00ZDQ0LThlOGEtYTUxMmViMjYyN2I0L2ZpbGUuanBnIl0sWyJwIiwiY29udmVydCIsIiJdLFsicCIsImNvbnZlcnQiLCItcXVhbGl0eSA4MSAtYXV0by1vcmllbnQiXSxbInAiLCJ0aHVtYiIsIjc4MHg1MjAjIl1d/file.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20193323605449.jpg" alt="(Fonte: Atlas Obscura/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Atlas Obscura/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Por fim, o tubar&atilde;o &eacute; exumado, cortado em tiras e colocado em uma cabana especial para secar por 2 a 4 meses &mdash; isso mesmo, voc&ecirc; n&atilde;o leu errado. Os fabricantes de h&aacute;karl sabem que a carne est&aacute; pronta apenas pelo cheiro. Outra maneira de concluir que a iguaria est&aacute; finalizada &eacute; quando o lanho da carne do peixe adquire uma camada externa amarronzada, literalmente uma crosta apodrecida que &eacute; removida antes do consumo.
Ent&atilde;o, o h&aacute;karl &eacute; servido em cubos e ingerido com c&aacute;lices de aguardente local, denominada Brennivin. Para aqueles que nunca provaram, &eacute; aconselhado tapar o nariz no primeiro peda&ccedil;o (e nos seguintes, se aguentar, &eacute; claro) para evitar v&ocirc;mitos devido ao cheiro putrefato.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.676Z

Hákarl: a repugnante iguaria islandesa venenosa e apodrecida

Imagem de Segundo inventor, spray de pimenta não era para ser usado como arma no megacurioso

Até hoje Kamran Loghman, especialista em guerra e armamento, reinvindica o uso equivocado de sua invenção

Alguns <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119826-bioterrorismo-qual-a-sua-origem.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">agentes qu&iacute;micos</a> t&ecirc;m sido usados h&aacute; s&eacute;culos para desarmar ou incapacitar oponentes sem precisar mat&aacute;-los, e o conhecido spray&nbsp;de pimenta &eacute; um exemplo disso.
Na China Antiga, os chineses colocavam pimenta caiena mo&iacute;da em pap&eacute;is de arroz e jogavam no rosto de seus inimigos em combate, bem como os ninjas japoneses. Durante o reinado do Imp&eacute;rio Tukagawa, no Jap&atilde;o, a pol&iacute;cia usou como meio de tortura o metsubishi, um instrumento cheio de pimenta esfarelada.
Cada agente qu&iacute;mico foi usado para uma finalidade ao longo da hist&oacute;ria: o g&aacute;s lacrimog&ecirc;neo foi criado em 1870 na Alemanha, e durante a <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119011-as-tropas-britanicas-sofreram-com-as-ists-na-primeira-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Primeira Guerra Mundial</a> foi massivamente produzido para ser usado contra os pr&oacute;prios alem&atilde;es; no final da d&eacute;cada de 1990, o mesmo componente j&aacute; havia sido conciliado com o spray&nbsp;de pimenta, inventado por Kamran Loghman, e difundido pelo meio policial.
<h2>Queimando</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20191912527435.jpg" alt="(Fonte: Shouse Law/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Shouse Law/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O ingrediente ativo do spray de pimenta &eacute; a capsaicina, derivada das plantas do g&ecirc;nero Capsicum, cujas variedades de frutos s&atilde;o conhecidos por existirem doces (como os piment&otilde;es) e extremamente picantes, como as pimentas em geral.
Para obter a oleorresina capsaicina (OC), que nada mais &eacute; do que a secre&ccedil;&atilde;o dos frutos, &eacute; necess&aacute;rio que o Capsicum seja mo&iacute;do para que, finalmente, a capsaicina seja extra&iacute;da usando um solvente org&acirc;nico, como o etanol. Ap&oacute;s evaporado o solvente, o que resta &eacute; a oleorresina que, uma vez suspensa em &aacute;gua por um emulsificante, como o propilenoglicol, &eacute; ent&atilde;o pressurizada para fazer um spray de pimenta em aerossol.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Emp&oacute;rio Figueira&nbsp;" data-fonte-url="https://www.emporiofigueira.com.br/media/catalog/product/cache/1/image/800x/9df78eab33525d08d6e5fb8d27136e95/p/i/pimenta_caiena_cayena_01_-correta.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20192025824437.jpg" alt="(Fonte: Emp&oacute;rio Figueira/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Emp&oacute;rio Figueira/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O agente inflamat&oacute;rio do spray de pimenta causa dor imediata ao fechar os olhos, e seus efeitos dependem da quantidade disparada, mas, em m&eacute;dia, costuma durar cerca de 30 minutos. Sua intensidade varia de um fabricante para o outro, dependendo dos 6 tipos de capsaicinoides usados para causar diferentes n&iacute;veis de irrita&ccedil;&atilde;o.
<h2>Uso leviano</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20192227699439.jpg" alt="(Fonte: New York Magazine/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: New York Magazine/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Kamran Loghman trabalhou com o Departamento Federal de Investiga&ccedil;&atilde;o (FBI) durante a d&eacute;cada de 1980 como um especialista em guerra e armamento, contratado para criar um spray de pimenta para ser usado como m&eacute;todo de defesa.
Em 10 anos, ele treinou e certificou pessoalmente at&eacute; 4 mil policiais no uso do spray&nbsp;de pimenta e nunca disse a um deles para us&aacute;-lo em manifestantes n&atilde;o violentos ou qualquer outro tipo de pessoa como arma de repress&atilde;o e silenciamento.
Contudo, Loghman viu sua inven&ccedil;&atilde;o ser mal usada e da pior maneira durante os protestes n&atilde;o violentos no campus da Universidade da Calif&oacute;rnia, em que policiais pulverizaram spray de pimenta em manifestantes pac&iacute;ficos que estavam sentados no ch&atilde;o.
Em entrevista ao Democracy Now!, o especialista denunciou a maneira como sua cria&ccedil;&atilde;o estava sendo utilizada, condenando a pr&aacute;tica como sendo &ldquo;fora do comum, e n&atilde;o de acordo com qualquer treinamento ou pol&iacute;tica de qualquer departamento que eu conhe&ccedil;a&rdquo;.&nbsp;
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The New York Times&nbsp;" data-fonte-url="https://static01.nyt.com/images/2011/11/23/us/23pepper2/23pepper2-articleLarge.jpg?quality=75&amp;auto=webp&amp;disable=upscale"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20192141699438.jpg" alt="Dorli Rainey. (Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Dorli Rainey. (Fonte: The New York Times/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
&ldquo;Eu fiquei chocado. Sinto que &eacute; meu dever c&iacute;vico explicar ao p&uacute;blico que n&atilde;o &eacute; para isso que o spray de pimenta foi desenvolvido&rdquo;, ressaltou Loghman. Em entrevista ao HuffPost Rise, ele compartilhou que, usado corretamente, o spray n&atilde;o era uma forma de ataque, apenas de defesa de um perigo iminente.&nbsp;&ldquo;O objetivo &eacute; reduzir as les&otilde;es. &Eacute; usado para prevenir problemas, e n&atilde;o para calar, punir ou controlar as pessoas&rdquo;, ressaltou ele.
Infelizmente, ningu&eacute;m ouviu Loghman, e fotos como a de Dorli Rainey, uma senhora de 84 anos que ficou com o rosto deformado ap&oacute;s receber um jato de spray de pimenta durante os protestos "Ocupe Wall Street" no final de 2011, continua sendo o retrato da ressignifica&ccedil;&atilde;o maligna de sua inven&ccedil;&atilde;o.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.567Z

Segundo inventor, spray de pimenta não era para ser usado como arma

Imagem de As doentias regras contratuais de Hollywood em 1930 no megacurioso

A indústria construiu e destruiu os próprios artistas

Quando a adapta&ccedil;&atilde;o cinematogr&aacute;fica do livro O Conde de Monte Cristo, escrito por Alexandre Dumas (1802-1870), surgiu nas telas de cinema em 1908, era o nascimento de Hollywood. A partir desse momento, foi apenas um caminho de ascend&ecirc;ncia cont&iacute;nua at&eacute; que essa ind&uacute;stria de fazer filmes se tornasse refer&ecirc;ncia mundial, principalmente durante os &ldquo;anos dourados&rdquo; da d&eacute;cada de 1930.
Com uma franquia de est&uacute;dios na Calif&oacute;rnia, come&ccedil;ando em Sunset Boulevard (Los Angeles), Hollywood fabricou produ&ccedil;&otilde;es, mas tamb&eacute;m grandes e not&oacute;rios artistas consumidos pelos "ossos do of&iacute;cio".
Da mesma maneira que figuras como Eddie Mannix (1891-1963), da MGM Studios, se esfor&ccedil;aram para encobrir qualquer esc&acirc;ndalo, os artistas foram submetidos a cl&aacute;usulas contratuais que poderiam destru&iacute;-los.
<h2>Perda de identidade</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15075926041003.jpg" alt="Rita Hayworth. (Fonte: Metropoles/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Rita Hayworth. (Fonte: Metropoles/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Al&eacute;m da falta de controle sobre em quais pap&eacute;is atuariam e da impossibilidade de escolherem romper contratos, os profissionais n&atilde;o tinham identidade alguma. Assim que assinavam seus nomes nos documentos, os artistas deixavam de existir, quase literalmente. Isso aconteceu com Natalie Wood (1938-1981),&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/117333-casa-de-marilyn-monroe-foi-de-paraiso-a-inferno-em-apenas-6-meses.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Marilyn Monroe</a> (1926-1962) e Judy Garland (1922-1969), por exemplo, mulheres que tiveram seus nomes alterados para se distanciarem de suas origens.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15080141166005.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Famosa por interpretar Gilda no filme de 1946, Rita Hayworth (1918-1987) nasceu Margarita Cansino, filha de pai espanhol e m&atilde;e irlandesa-americana. A atriz foi for&ccedil;ada a mudar seu nome para ter um apelo mais anglo-sax&atilde;o, al&eacute;m de passar por uma transforma&ccedil;&atilde;o para eliminar tra&ccedil;os de sua etnia, como o sotaque.
Mas quest&otilde;es &eacute;tnicas n&atilde;o foram os &uacute;nicos motivos pelos quais atores tiveram que mudar de nome. A pol&ecirc;mica&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/114645-bette-e-joan-a-mais-lendaria-rixa-de-hollywood.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Joan Crawford</a> (190?-1977), nascida Lucille LeSueur, teve que trocar seu nome de batismo porque um executivo da MGM disse que o sobrenome soava como &ldquo;esgoto&rdquo; (sewer em ingl&ecirc;s).
<h2>Of&iacute;cio para poucos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15080302994006.jpg" alt="Shirley Temple jovem. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Shirley Temple jovem. (Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apesar do apelo visual que <a href="https://www.megacurioso.com.br/lendas-urbanas/69457-5-lendas-urbanas-sinistras-relacionadas-com-hollywood.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Hollywood</a>&nbsp;sempre enalteceu em seus atores e atrizes, ter um rostinho bonito n&atilde;o era o suficiente. Em seu livro Child Star, a lend&aacute;ria <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/114365-shirley-temple-foi-o-retrato-da-exploracao-infantil-pela-fama.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Shirley Temple</a> (1928-2004), v&iacute;tima de d&eacute;cadas de abusos psicol&oacute;gicos e f&iacute;sicos desde sua estreia infantil na ind&uacute;stria, deixou isso bem claro.
Em 1930, a m&atilde;e de Temple ouviu que a jovem precisava de aulas de atua&ccedil;&atilde;o para que pudesse "destravar" o potencial que havia nela, pois n&atilde;o podiam arriscar tudo por sua beleza e seu carisma naturais.
Esse processo de treinamento acontecia logo ap&oacute;s a assinatura do contrato, como se deu com Ava Gardner (1922-1990), indicada ao Oscar, que ouviu de um dos produtores que estiveram em sua primeira audi&ccedil;&atilde;o que ela n&atilde;o podia atuar. A estrela de Mogombo tamb&eacute;m foi submetida a diversas aulas de canto para se livrar de seu sotaque sulista e se enquadrar no padr&atilde;o hollywoodiano de mulheres.
<h2>Vida falsa e danos psicol&oacute;gicos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15080456900008.jpg" alt="Joan Crawford. (Fonte: Jornal do Dia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Joan Crawford. (Fonte: Jornal do Dia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Apagar um nome, tra&ccedil;os &eacute;tnicos falados ou f&iacute;sicos era apenas o come&ccedil;o para o departamento de Publicidade dos est&uacute;dios, respons&aacute;vel por inventar hist&oacute;rias da vida pregressa de suas estrelas.
Crawford nasceu cercada por mis&eacute;ria, mas a MGM a fez esconder seu passado dizendo &agrave; imprensa que veio de uma fam&iacute;lia de classe alta. O est&uacute;dio tamb&eacute;m afirmava que Garland comia demais, "como uma motorista de caminh&atilde;o", toda vez que ela ganhava peso por conta das gravidezes que escondeu desde seus 19 anos na tentativa de escapar da rede de abortos for&ccedil;ados ministrados pelos est&uacute;dios.
A MGM tomou todas as medidas necess&aacute;rias para preservar a imagem virginal de suas atrizes, casadas ou n&atilde;o. Ter uma vida pr&oacute;pria n&atilde;o estava em seus contratos, ent&atilde;o elas n&atilde;o poderiam reivindicar autonomia. Afinal, o p&uacute;blico queria ver pessoas como Garland, a eterna Dorothy de&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/luxo/80121-sapatos-vermelhos-de-o-magico-de-oz-voltam-para-casa.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">O M&aacute;gico de Oz</a>, segurando um ursinho de pel&uacute;cia, e n&atilde;o um beb&ecirc;. Para os empres&aacute;rios, filhos destru&iacute;am a carreira de uma estrela, principalmente a das mulheres &mdash; visto que os homens poderiam simplesmente n&atilde;o declarar a paternidade.
Os traumas dos abortos n&atilde;o consentidos e as inven&ccedil;&otilde;es destru&iacute;ram o psicol&oacute;gico dessas mulheres, que tamb&eacute;m sofreram por quererem viver 24 horas o personagem inventado para elas, mas tinham que enfrentar a pr&oacute;pria verdade quando n&atilde;o havia um tabloide por perto.
<h2>V&iacute;cio e exaust&atilde;o</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15080731885009.jpeg" alt="(Fonte: Timeline/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Timeline/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Entre 1930 e 1945, Hollywood produziu mais de 7,5 mil filmes em seus est&uacute;dios. Para conseguirem isso, os produtores levaram seus atores &agrave; exaust&atilde;o f&iacute;sica e emocional, j&aacute; que n&atilde;o havia limite em seus contratos para as jornadas de trabalho di&aacute;rias.
Para enfrentarem abatimento e desmaios em horas diante das c&acirc;meras, as estrelas recebiam um "banquete" de todos os tipos de drogas que as mantivessem energizadas. At&eacute; a d&eacute;cada de 1950, segundo o ex-m&eacute;dico da 20th Century Fox, Lee Siegel, todos os atores usavam algum tipo de droga para se manterem funcionando.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15080951103010.jpg" alt="(Fonte: Vanity Fair/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Vanity Fair/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Garland foi um dos exemplos dessa explora&ccedil;&atilde;o. Durante as grava&ccedil;&otilde;es de O M&aacute;gico de Oz, ela s&oacute; folgava 1 dia por semana ap&oacute;s enfrentar turnos de 18 horas di&aacute;rias de canto, dan&ccedil;a e atua&ccedil;&atilde;o. Para aguentar, a atriz foi entupida de c&aacute;psulas de anfetamina, conseguindo dormir apenas altamente medicada devido a tanta qu&iacute;mica em seu organismo.
Garland morreu aos 47 anos em decorr&ecirc;ncia de uma overdose de drogas.
<h2>Cercados</h2>
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Vanity Fair&nbsp;" data-fonte-url="https://media.vanityfair.com/photos/59c16a477d8efc1b5b4f044d/master/w_768,c_limit/most-important-families-in-hollywood-history-ss01.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15181947813431.jpg" alt="(Fonte: Vanity Fair/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Vanity Fair/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Certamente o que contribuiu para a ru&iacute;na de Garland &mdash; a primeira declarada por Hollywood &mdash; foi n&atilde;o poder contar com ningu&eacute;m, nem mesmo com a pr&oacute;pria m&atilde;e, que estava em conluio com os est&uacute;dios.
Assim como todas as outras, a estrela estava cercada por espi&atilde;s camufladas como assistentes pessoais exigidas pelos contratos para acompanh&aacute;-las aonde quer que fossem. Os contratados eram obrigados a fazer relat&oacute;rios sobre suas estrelas para repassar aos est&uacute;dios.
Os artistas n&atilde;o conseguiam fugir desses espi&otilde;es, que eram motoristas particulares, gar&ccedil;ons e at&eacute; zeladores dos condom&iacute;nios onde moravam. Os empres&aacute;rios se certificavam de cerc&aacute;-los de pessoas compradas de tal forma que s&oacute; lhes restava a mais pura solid&atilde;o.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/15/15182143250434.jpg" alt="(Fonte: Judy Garland News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Judy Garland News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Betty Asher, assistente de Garland, a enganou at&eacute; o &uacute;ltimo momento, quando a estrela descobriu que ela mantinha uma planilha detalhada de cada passo. "Lembro-me de chorar por dias depois de descobrir o que ela estava fazendo comigo", revelou Garland em seu livro Get Happy: The Life of Judy Garland.
De fato, todas as estrelas que assinaram com Hollywood tiveram o que os magnatas prometeram: dinheiro, fama, glamour e gl&oacute;ria eterna. A maioria daqueles que viraram horas em est&uacute;dios se tornaram lendas do s&eacute;culo passado e influ&ecirc;ncias hist&oacute;ricas na m&aacute;quina do cinema.
Mas, infelizmente, tiveram sua ingenuidade explorada quando entraram em salas de empres&aacute;rios para assinar contratos que mudariam suas vidas, para o bem ou para o mal.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.175Z

As doentias regras contratuais de Hollywood em 1930

Imagem de Cripta da Civilização: a controversa cápsula do tempo no megacurioso

Ela deverá ser aberta só no ano 8113 — isso se sobreviver até lá

Foi em 1936 que o professor, historiador, escritor e ministro presbiteriano Dr. Thornwell Jacobs, ent&atilde;o presidente da Universidade Oglethorpe (Georgia, EUA) teve a ideia de criar uma <a href="https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/36886-8-incriveis-capsulas-do-tempo-que-ainda-estao-fechadas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">c&aacute;psula do tempo</a>. O conceito surgiu para ele depois que ficou chocado com a escassez de informa&ccedil;&otilde;es sobre civiliza&ccedil;&otilde;es antigas, chegando &agrave; conclus&atilde;o de que pessoas no futuro, talvez, tamb&eacute;m se deparassem com o mesmo problema.
Para isso, ent&atilde;o, ele decidiu construir o que chamou de &ldquo;Cripta da Civiliza&ccedil;&atilde;o&rdquo;, com a ajuda de Thomas Kimwood Peters (especialista em microfilme), cujo objetivo seria armazenar um registro abrangente de toda a humanidade daquela &eacute;poca.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20195054626458.jpg" alt="Dr. Thornwell Jacobs. (Fonte: Source/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Dr. Thornwell Jacobs. (Fonte: Source/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Jacobs desceu at&eacute; o por&atilde;o do Phoebe Hearst Hall, na universidade em que era presidente, e montou sua cripta atr&aacute;s de uma porta de a&ccedil;o inoxid&aacute;vel em uma sala impermeabilizada com 6 metros de largura, 3 metros de altura e 3 metros de profundidade.
Entre 1937 e 1940, homens e mulheres colocaram l&aacute; todo o tipo de artefato, outrora modernos, ao lado de 640 mil p&aacute;ginas de livros microfilmados. A cripta s&oacute; deve ser aberta daqui a 6.107 anos, ou seja, em 8113.
<h2>O tempo</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20195201065459.jpg" alt="(Fonte: New Georgia Encyclopedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: New Georgia Encyclopedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
No &aacute;pice da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119180-6888-batalhao-a-unidade-de-mulheres-negras-na-2-guerra-mundial.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Segunda Guerra Mundial</a>, um dos per&iacute;odos mais determinantes para a hist&oacute;ria da humanidade (que poderia terminar a qualquer momento com uma guerra nuclear), Jacobs publicou seu artigo descrevendo sua ideia em criar algo permanente para deixar para as gera&ccedil;&otilde;es futuras em uma edi&ccedil;&atilde;o de 1936 da revista Scientific American. Foi um verdadeiro sucesso.
A empresa Westinghouse Company foi a primeira a demonstrar interesse em construir um cont&ecirc;iner de a&ccedil;o lacrado para o in&iacute;cio da cripta do professor. A empresa foi tamb&eacute;m a respons&aacute;vel por chamar o bunker de &ldquo;c&aacute;psula do tempo&rdquo;, instantaneamente cunhando um termo que eternizou Jacobs como o &ldquo;pai da c&aacute;psula do tempo&rdquo;.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20195318534460.jpeg" alt="(Fonte: Express/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Express/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Todo o ambicioso projeto foi meticulosamente pensado pelo homem, a come&ccedil;ar pelo tempo que ficaria selado embaixo da terra &mdash; Jacobs teria usado como refer&ecirc;ncia o que se pensava ser a data mais antiga registrada no calend&aacute;rio do Antigo Egito, o ano de 4241 a.C.
Em 1936, esse primeiro registro dos eg&iacute;pcios havia completado 6.117 anos, ent&atilde;o o professor definiu que um per&iacute;odo igual a esse deveria se passar at&eacute; que a c&aacute;psula pudesse ser aberta. Com isso, se tudo desse certo e a estrutura n&atilde;o fosse danificada ou destru&iacute;da, a cripta s&oacute; ser&aacute; aberta em 28 de maio de 8113.
<h2>Parte da hist&oacute;ria</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20195440519461.png" alt="(Fonte: Vice/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Vice/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Nas mem&oacute;rias que incluiu em sua c&acirc;mara para deixar como registro, Jacobs deixou claro que sentia &ldquo;uma aguda falta de compreens&atilde;o da vida cotidiana em suas pr&oacute;prias investiga&ccedil;&otilde;es hist&oacute;ricas&rdquo;. Ele disse que, se n&atilde;o fosse por uma cat&aacute;strofe natural, como a erup&ccedil;&atilde;o do <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118189-vesuvio-levou-17-minutos-para-matar-a-populacao-de-pompeia.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Ves&uacute;vio</a>, as gl&oacute;rias de Pompeia e Herculano nunca teriam sido reveladas.
Muito embora Jacobs se mostrasse comprometido com a experimenta&ccedil;&atilde;o e com o pensamento livre de armazenar tudo o que a hist&oacute;ria disse at&eacute; aquele ponto, ele n&atilde;o conseguiu fugir dos dois estigmas que assolavam os Estados Unidos naquela &eacute;poca: o <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119738-a-questionavel-luta-de-albert-einstein-contra-o-racismo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">racismo</a> e o elitismo.
Em suas mem&oacute;rias, o professor deixa claro o sentimento racista quando reflete de maneira triste em como a Proclama&ccedil;&atilde;o de Emancipa&ccedil;&atilde;o de Lincoln libertou &ldquo;4 milh&otilde;es de negros meio-selvagens e lhes concedeu o direito ao voto&rdquo;. Nada disso manchou a fama de sua cripta, um dos projetos de c&aacute;psulas do tempo mais bem documentados, porque os pensamentos do fundador s&oacute; foram digitalizados e disponibilizados online em 2016.
Jacobs nunca teve treinamento como educador. Em sua adolesc&ecirc;ncia, se formou como tip&oacute;grafo e impressor, mais tarde recebendo seu bacharelado e mestrado pela institui&ccedil;&atilde;o fundada por seu pai. Durante o tempo em que passou no Semin&aacute;rio Teol&oacute;gico de Princeton, ele foi ordenado ministro presbiteriano.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/20/20195631957462.jpg" alt="(Fonte: Amusing Planet/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Amusing Planet/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Quando foi empossado no cargo principal da universidade, suas ra&iacute;zes racistas afloraram, visto que em 1916 ele apenas admitia homens brancos no campus, permitindo que mulheres brancas entrassem somente a partir de 1920.
A cripta de Jacos incluiu tudo o que, do ponto de vista apenas dele, pensava ser significativo nas artes, ci&ecirc;ncia, com&eacute;rcio e ind&uacute;stria. Com somente uma boneca negra em meio aos artefatos que deveriam definir a hist&oacute;ria, a tumba n&atilde;o cont&eacute;m nada sobre os afro-americanos no pa&iacute;s.
&ldquo;Voc&ecirc; n&atilde;o pensaria que os negros existiram&rdquo;, disse Paul Hudson, um professor de Hist&oacute;ria da Perimeter College, respons&aacute;vel por redescobrir a cripta em 1970. &ldquo;Teria sido uma hist&oacute;ria mais surpreendente se n&atilde;o fosse assim&rdquo;, pontuou ele.
David Pilfrim, professor de sociologia da Ferris State University, apontou que a cripta pode ter inclu&iacute;do material relacionado a protestos no final dos anos 1930 e a cobertura da vit&oacute;ria do homem negro Jesse Owens nas Olimp&iacute;adas, visto que contribui&ccedil;&otilde;es culturais afro-americana eram ignoradas ou vistas como caricaturadas.
Ainda &eacute; incerto o futuro da cripta, dado que a Universidade Oglethorpe n&atilde;o tem nenhuma obriga&ccedil;&atilde;o legal em mant&ecirc;-la. A institui&ccedil;&atilde;o, inclusive, renega a hist&oacute;ria de sua funda&ccedil;&atilde;o, bem como o legado controverso do pr&oacute;prio Jacobs.
De qualquer forma, historiadores enxergam a influ&ecirc;ncia da Cripta da Civiliza&ccedil;&atilde;o em um futuro bem distante como algo perigoso, apesar de terem a esperan&ccedil;a de que tenhamos abandonado os conceitos de ra&ccedil;a at&eacute; l&aacute;.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.552Z

Cripta da Civilização: a controversa cápsula do tempo

Imagem de Thomas Jefferson e sua contraditória relação com a escravidão no megacurioso

O então presidente norte-americano tinha um discurso abolicionista, mas chegou a ter 600 escravos em vida

&ldquo;Consideramos essas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens s&atilde;o criados iguais&rdquo;, disse <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119640-a-reliquia-historica-americana-encontrada-por-2-garotos.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Thomas Jefferson</a> na Declara&ccedil;&atilde;o da Independ&ecirc;ncia dos Estados Unidos, escrita em 1776 durante o in&iacute;cio da Revolu&ccedil;&atilde;o Americana.
Muitos cidad&atilde;os interpretaram essa cita&ccedil;&atilde;o como se ela tratasse dos direitos individuais, quando, na verdade, ela se refere aos colonos americanos e o desejo de viver em uma na&ccedil;&atilde;o livre.
Contudo, isso n&atilde;o impediu que surgisse a d&uacute;vida: os negros escravizados pertenciam a esse contexto? Jefferson ficou conhecido por falar muito sobre combater a escravid&atilde;o, por&eacute;m seus esfor&ccedil;os nunca foram al&eacute;m disso.
<h2>Comportamento controverso</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/18/18153416643000.jpg" alt="Thomas Jefferson. (Fonte: Top List/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Thomas Jefferson. (Fonte: Top List/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Publicamente, ao longo de sua vida, o ent&atilde;o presidente sempre classificou o sistema da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119943-cais-do-valongo-a-vitrine-da-escravidao-no-rio-de-janeiro.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">escravid&atilde;o</a> como uma &ldquo;deprava&ccedil;&atilde;o moral&rdquo; e &ldquo;uma mancha hedionda na hist&oacute;ria americana&rdquo;, contr&aacute;ria &agrave;s leis da natureza que decretavam a liberdade individual igualit&aacute;ria, representando uma amea&ccedil;a &agrave; sobreviv&ecirc;ncia daquela nova na&ccedil;&atilde;o.
Jefferson refor&ccedil;ou esse pensamento em seu livro Notes On the State of Virginia, escrevendo que a escravid&atilde;o seria uma ru&iacute;na para ambos os lados, tanto para os negros quanto para os brancos.
No entanto, na mesma obra ele entra em contradi&ccedil;&atilde;o, provando seu pensamento racista e escravagista inerentes, ao dizer suspeitar que os negros de fato eram inferiores que os brancos, chegando a instalar um rel&oacute;gio sem o ponteiro dos minutos em sua fazenda porque acreditava que um rel&oacute;gio inteiro seria muito complexo para seus escravizados.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/18/18153637112001.jpg" alt="(Fonte: BBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: BBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Tamb&eacute;m havia o detalhe de que todo seu discurso abolicionista despencava quando alcan&ccedil;ava o fato que Jefferson tamb&eacute;m era dono de escravizados que, inclusive, foram respons&aacute;veis por deix&aacute;-lo ainda mais rico.
Em Monticello, sua fazenda e pal&aacute;cio na Virg&iacute;nia, o presidente chegou a ter cerca de 600 escravizados em vida, dos quais 175 foram herdados de seu pai. Ao todo, 130 trabalhavam diariamente em suas planta&ccedil;&otilde;es, e Jefferson garantia que eles dessem o melhor de si.
<h2>A hipocrisia branca</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/18/18153939674002.jpg" alt="Sally Hemings. (Fonte: Hamilton Wiki/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Sally Hemings. (Fonte: Hamilton Wiki/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
As mulheres escravizadas eram consideradas bens valiosos para Jefferson, por isso que ele violentou sexualmente v&aacute;rias delas, proibidas por lei de recusar os avan&ccedil;os sexuais de seus propriet&aacute;rios.
Entre tantos casos de viol&ecirc;ncia, o mais famoso foi o de Sally Hemings, filha do sogro de Jefferson com outra escravizada, enviada a Paris aos 14 anos para servir como bab&aacute; de suas filhas. Foi nesse per&iacute;odo que ela ficou gr&aacute;vida pela primeira vez. Hemings teve 6 filhos ao longo de sua vida, e um exame de DNA realizado em 1998, em um de seus descendentes, confirmou que Thomas Jefferson engravidou a jovem.
No final das contas, Jefferson sempre cumpriu seu papel de diplomata que dizia advogar para &ldquo;todos os homens do territ&oacute;rio americano&rdquo;, visando construir o pa&iacute;s &ldquo;mais livre do continente&rdquo;.&nbsp;
Em sua defesa, entre 1778 e 1784, ele at&eacute; elaborou legisla&ccedil;&otilde;es que esperava que resultassem na aboli&ccedil;&atilde;o da escravid&atilde;o. Por&eacute;m, ele sempre sustentou a decis&atilde;o de que a emancipa&ccedil;&atilde;o teria que ser um processo democr&aacute;tico decidido por todos, ou seja, pelos brancos escravocratas.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/18/18154158549005.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Quanto mais Jefferson defendeu a aboli&ccedil;&atilde;o e n&atilde;o fez nada para mudar seu estado, ela se tornou cada vez mais arraigada. Entre 1790 e 1830, a popula&ccedil;&atilde;o escravizada em Virg&iacute;nia foi de 292 mil para 469 mil.
O presidente at&eacute; tentou erodir a escravid&atilde;o entre os virginianos ao desencorajar o cultivo de safras que dependiam do trabalho escravo, como as do tabaco, introduzindo safras de trigo, a&ccedil;&uacute;car, arroz de gr&atilde;o curtos, oliveiras e uvas para vinhos; que, teoricamente, dependeriam de pouco ou nenhum trabalho escravo.
Em 1800, a &ldquo;mercadoria&rdquo; mais lucrativa do Estado j&aacute; n&atilde;o era mais as terras e colheitas, e sim os escravizados.
A cren&ccedil;a de Thomas Jefferson em acabar com a escravid&atilde;o nunca mudou, e seu plano gradual de emancipa&ccedil;&atilde;o, pensando em melhorar o sistema aos poucos at&eacute; que erradicasse o problema, foi usado como argumento para sua perpetua&ccedil;&atilde;o.
Ap&oacute;s sua morte, os defensores do sistema alegaram que, se a escravid&atilde;o pudesse ser melhorada, ent&atilde;o a aboli&ccedil;&atilde;o seria desnecess&aacute;ria.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.529Z

Thomas Jefferson e sua contraditória relação com a escravidão

Imagem de Projeto Manhattan: cientistas injetaram plutônio em pacientes no megacurioso

Em 24 de mar&ccedil;o de 1945, um homem negro chamado Ebb Cade, ent&atilde;o com 53 anos, trabalhava para a construtora Oak Ridge quando sofreu um acidente de carro que resultou em fraturas graves em seus bra&ccedil;os e pernas, levando-o para sua hospitaliza&ccedil;&atilde;o no Oak Ridge Army Hospital.
Em 10 de abril do mesmo ano, seu m&eacute;dico recebeu a ordem de Wright Langham, chefe da Divis&atilde;o de Sa&uacute;de do Laborat&oacute;rio do <a href="https://www.megacurioso.com.br/polemica/22160-top-secret-eua-criaram-cidade-para-desenvolver-bomba-atomica-nos-anos-40.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Projeto Manhattan&nbsp;</a>dos Estados Unidos, para que Cade recebesse uma inje&ccedil;&atilde;o de 5 microgramas de plut&ocirc;nio sem seu consentimento.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/17/17214958176001.jpg" alt="Wright Langham. (Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Wright Langham. (Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Cade n&atilde;o fazia ideia, mas era o paciente zero do plano de estudo idealizado pela equipe do m&eacute;dico radiologista Stafford Warren para fazer experimenta&ccedil;&atilde;o humana, visando obter estudos acerca dos impactos e efeitos que os envolvidos no Projeto Manhattan enfrentavam ao trabalhar com elementos nocivos, como plut&ocirc;nio e ur&acirc;nio, durante o desenvolvimento de uma <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115935-castle-bravo-a-maior-bomba-nuclear-ja-detonada-pelos-eua.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">bomba at&ocirc;mica</a>.
Foi em 1942 que os l&iacute;deres do programa estabeleceram a Divis&atilde;o de Sa&uacute;de, visando estudar maneiras de proteger os trabalhadores da exposi&ccedil;&atilde;o &agrave; radia&ccedil;&atilde;o, estudar doses de toler&acirc;ncia e planejar m&eacute;todos de tratamento.
<h2>O experimento</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/17/17215055240002.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em laborat&oacute;rios em Chicago, Berkley e Rochester, os cientistas realizaram testes de exposi&ccedil;&atilde;o &agrave; radia&ccedil;&atilde;o em animais de todas as maneiras poss&iacute;veis, at&eacute; extinguir suas possibilidades. Quando acreditaram que os dados n&atilde;o eram suficientes para determinar as diretrizes da radia&ccedil;&atilde;o, conclu&iacute;ram que era o momento para os testes em humanos.
Entre abril de 1945 e julho de 1947, em hospitais afiliados ao Projeto Manhattan em Nova York, Tennessee, Chicago e S&atilde;o Francisco; 18 pessoas foram injetadas com plut&ocirc;nio, outras seis com ur&acirc;nio, mais cinco com pol&ocirc;nio, e pelo menos uma com amer&iacute;cio.
Cada uma teve sua finalidade experimental, e o teste com plut&ocirc;nio, por exemplo, tentou determinar atrav&eacute;s de fezes e urina qual a quantidade de material radioativo que permanecia no corpo de um indiv&iacute;duo exposto e por quanto tempo.
Considerado um dos processos mais complexos de serem analisados, ap&oacute;s as amostras serem coletadas das v&iacute;timas, elas sofriam um processo de secamento, em que eram convertidas em cinzas e finalmente dissolvidas em &aacute;cido.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;C-SPAN&nbsp;" data-fonte-url="https://ximage.c-spanvideo.org/eyJidWNrZXQiOiJwaWN0dXJlcy5jLXNwYW52aWRlby5vcmciLCJrZXkiOiJGaWxlc1wvNmRjXC8zNDY1MS01Mzg3MS0xLmpwZyIsImVkaXRzIjp7InJlc2l6ZSI6eyJmaXQiOiJjb3ZlciIsImhlaWdodCI6MTgyLCJ3aWR0aCI6MzIwfX19"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/17/17225855488003.jpg" alt="Eileen Welsome. (Fonte: C-SPAN/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />Eileen Welsome. (Fonte: C-SPAN/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Demorou at&eacute; 1993 para que a jornalista Eileen Welsome publicasse uma expos&eacute; no The Albuquerque Tribune sobre os experimentos em humanos realizados durante a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119421-aos-10-anos-samantha-smith-tentou-acabar-com-a-guerra-fria.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Guerra Fria</a>, que ficaram sob alto sigilo governamental por anos.
A mat&eacute;ria, que recebeu o Pr&ecirc;mio Pulitzer de Jornalismo, come&ccedil;ou a ser elaborada por Welsome pouco depois de 1987, quando ela descobriu um arquivo de documentos governamentais rec&eacute;m-desclassificados enquanto trabalhava como rep&oacute;rter j&uacute;nior no jornal de sua cidade.&nbsp;
A mulher descobriu que as cobaias de Langham n&atilde;o s&oacute; foram injetadas com plut&ocirc;nio como tamb&eacute;m receberam amputa&ccedil;&otilde;es e extra&ccedil;&otilde;es m&uacute;ltiplas de dentes para experimenta&ccedil;&atilde;o, tudo de maneira n&atilde;o consensual.
Ironicamente, mas de maneira previs&iacute;vel na linha cronol&oacute;gica da ci&ecirc;ncia, esses experimentos promoveram o campo da f&iacute;sica nuclear ao fornecerem uma vis&atilde;o pr&aacute;tica dos limites quantitativos dos elementos radioativos nos organismos de seres humanos.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.494Z

Projeto Manhattan: cientistas injetaram plutônio em pacientes

Imagem de Estudo da CIA mostra que ditadura brasileira foi pior que soviética no megacurioso

Segundo a Polity IV, o governo de 1964 era tão repressivo quanto o soviético, cubano e chinês da mesma década

Iniciado no final da d&eacute;cada de 1960 pelo professor em ci&ecirc;ncia pol&iacute;tica Ted Robert Gurr, da Universidade de Maryland, a Polity &eacute; uma s&eacute;rie de dados em pesquisa em ci&ecirc;ncia pol&iacute;tica desenvolvida para medir o grau de democracia, autocracia e anocracia (regimes de autoridade mistos ou incoerentes) nos pa&iacute;ses.
Idealizada com o intuito de entender o comportamento dos governos em um dos per&iacute;odos em que mais prosperaram regimes controversos, o estudo foi patrocinado pela For&ccedil;a-Tarefa de Instabilidade Pol&iacute;tica (PITF) &mdash; um projeto de pesquisa patrocinado pelo governo dos Estados Unidos &mdash;, e ambos financiados pela Ag&ecirc;ncia Central de Intelig&ecirc;ncia (CIA).
Atualmente, o Projeto Polity, em sua 4&ordf; edi&ccedil;&atilde;o e desenvolvido pela ONG Centro para a Paz Sist&ecirc;mica, se tornou uma rede de esfor&ccedil;o de coleta de dados que monitora constantemente as mudan&ccedil;as de regimes em 167 pa&iacute;ses, fornecendo avalia&ccedil;&otilde;es anuais das caracter&iacute;sticas da autoridade de cada um, mudan&ccedil;as e atualiza&ccedil;&otilde;es de dados.
<h2>Como funciona</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/17/17110928037159.jpg" alt="(Fonte: Systemic Peace/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Systemic Peace/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A maneira como o Polity Score funciona &eacute; bem objetiva. Em uma escala de 21 pontos, o esquema de notas variam de -10 (monarquia heredit&aacute;ria) a +10 (democracia consolidada). Entre -10 e -6, est&atilde;o as autocracias; e entre -5 a +5, as anocracias.
Esse esquema de medida registra as principais qualidades do recrutamento de executivos, restri&ccedil;&otilde;es &agrave; autoridade executiva e competi&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica; informa&ccedil;&otilde;es sobre as institui&ccedil;&otilde;es do governo central e sobre grupos pol&iacute;ticos que agem ou reagem no escopo dessa autoridade.&nbsp;
Os dados da Polity n&atilde;o incluem considera&ccedil;&otilde;es de grupos e territ&oacute;rios que s&atilde;o ativamente removidos dessa autoridade, como os separatistas, considerados pol&iacute;ticas &agrave; parte, e que n&atilde;o est&atilde;o efetivamente politizados em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; pol&iacute;tica central de um Estado.
<h2>Brasil de 1964: uma autocracia absoluta</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/17/17111153912160.png" alt="(Fonte: Portal Roma News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Portal Roma News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Em sua &uacute;ltima edi&ccedil;&atilde;o, o governo brasileiro de 2013, comandado por Dilma Rousseff (PT), recebeu uma nota 8, considerando uma democracia. No entanto, para a &eacute;poca da <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119824-milagre-economico-como-o-brasil-cresceu-na-ditadura-.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Ditadura Militar</a>, instaurada atrav&eacute;s do <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119809-paul-aussaresses-o-torturador-convidado-pela-ditadura-militar.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Golpe de 1964</a>, o Brasil recebeu a nota -9 (autocracia absoluta) &mdash; a mesma classifica&ccedil;&atilde;o que da Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica no fim do governo stalinista, e da China durante a Revolu&ccedil;&atilde;o Cultural de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/116128-a-grande-fome-de-mao-milhares-de-chineses-foram-canibalizados.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Mao Ts&eacute;-Tung</a>.
Os dados da CIA indicaram que n&atilde;o s&oacute; o Brasil era uma ditadura h&aacute; 57 anos, como tamb&eacute;m uma extremamente repressiva, mais do que a sovi&eacute;tica e cubana na mesma d&eacute;cada. &Eacute; interessante ressaltar que a Polity IV n&atilde;o contabiliza mortes, apenas a situa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica de um pa&iacute;s.
&ldquo;O estudo Polity n&atilde;o mede especificamente repress&atilde;o, mas ele nota a coer&ccedil;&atilde;o em determinar pol&iacute;tica p&uacute;blica ou limitar competi&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica. Em geral, ditaduras militares s&atilde;o semelhantes aos Estados hegem&ocirc;nicos de partido &uacute;nico&rdquo;, explicou Monty G. Marshall, diretor atual do Centro para Paz Sist&ecirc;mica, de acordo com uma mat&eacute;ria da Folha de S&atilde;o Paulo. &ldquo;Via de regra, elas t&ecirc;m um sistema de autossele&ccedil;&atilde;o para o Executivo ou autoridade designada para o Executivo&rdquo;.&nbsp;
A compara&ccedil;&atilde;o com a Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica surgiu da diferen&ccedil;a entre uma ditadura ativa para uma que j&aacute; havia sido pacificada, em meados de 1954, um ano ap&oacute;s a morte de <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/116973-a-perturbadora-verdade-por-tras-da-foto-de-stalin-com-uma-crianca.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Josef Stalin</a>.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/17/17111256068161.jpg" alt="(Fonte: El Pa&iacute;s/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: El Pa&iacute;s/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Sobre isso, Marshall continua: &ldquo;O grau de repress&atilde;o nas autocracias &eacute; uma fun&ccedil;&atilde;o da intensidade do dissenso entre ativistas de oposi&ccedil;&atilde;o, no lugar de uma forma espec&iacute;fica de autoridade executiva. Repress&atilde;o sempre &eacute; aplicada por for&ccedil;as de seguran&ccedil;a leais em resposta a provoca&ccedil;&otilde;es reais ou percebidas. Autocracias podem evitar repress&atilde;o aberta quando os elementos da sociedade civil se mant&eacute;m obedientes ou inativos.&rdquo;
Quanto ao fato de existir um sistema eleitoral ativo na ditadura, Marshall respondeu que &eacute; algo irrelevante, visto que a inten&ccedil;&atilde;o do sistema da Polity &eacute; garantir que pseudodemocracias recebam notas de acordo com suas &ldquo;pr&aacute;ticas&rdquo;, n&atilde;o suas &ldquo;fachadas&rdquo;. Ele deixa claro que muitos regimes tentam aumentar as percep&ccedil;&otilde;es de legitimidade atrav&eacute;s de procedimentos eleitorais controlados pelo pr&oacute;prio governo.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.481Z

Estudo da CIA mostra que ditadura brasileira foi pior que soviética

Imagem de Por que Nova York é infestada por ratos? no megacurioso

Em anos de colônia, até o DNA dos roedores sofreu mutações

A agitada <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119840-cenas-mostram-destruicao-causada-pela-tempestade-ida-em-nova-york.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Nova York</a> &eacute; conhecida por ser uma das vitrines do mundo da moda, por ter "fecundado" o circuito do Teatro Musical, por ser o "rosto" do sonho americano e tamb&eacute;m por ser a terceiro local mais infestado de <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115982-utopia-dos-ratos-experimento-previu-a-extincao-da-humanidade-.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">ratos</a> dos Estados Unidos.
A segunda cidade mais cara para se morar no pa&iacute;s tem esse problema desde o final dos anos 1700, quando os ratos passaram a formar col&ocirc;nias em becos, por&otilde;es e parques da cidade, atra&iacute;dos por algo que a superpopula&ccedil;&atilde;o produz em qualquer lugar: lixo.
<h2>O problema dos ratos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14163250213262.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Os ratos migraram para a cidade quando os navios da Fran&ccedil;a e da Inglaterra ancoraram nos portos da cidade no final do s&eacute;culo XVIII, trazendo, al&eacute;m de pessoas, o rato noruegu&ecirc;s, tamb&eacute;m conhecido como rato marrom. O roedor se originou na &Aacute;sia e se espalhou pelo Oriente M&eacute;dio at&eacute; a Europa e a &Aacute;frica.
Outras esp&eacute;cies de ratos tentam, mas n&atilde;o conseguem se firmar na cidade. De acordo com uma mat&eacute;ria do Popular Science, o rodentologista urbano Robert Corrigan v&ecirc; isso como um al&iacute;vio, pois existiu sempre a d&uacute;vida se os portos ainda seriam um problema como nos s&eacute;culos passados. No entanto, ainda que os roedores cheguem, eles n&atilde;o conseguem estabelecer uma nova liga&ccedil;&atilde;o gen&eacute;tica para permanecer.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;USA Today&nbsp;" data-fonte-url="https://www.gannett-cdn.com/-mm-/6fbb22b3bb8dceb32521b4583894eef36c4dc9bc/c=0-64-1988-1187/local/-/media/USATODAY/None/2014/10/15/635489800290300024-AP-Superstorm-Rats.jpg?width=1988&amp;height=1123&amp;fit=crop&amp;format=pjpg&amp;auto=webp"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14163650447269.jpg" alt="(Fonte: USA Today/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: USA Today/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Nova York produz cerca de 14 milh&otilde;es de toneladas de lixo por ano, com fontes abertas de comida, como lixeira nos fundos de restaurantes decr&eacute;pitos em &aacute;reas menos glamorosas da cidade, ajudando a potencializar a perman&ecirc;ncia dos ratos.
A administra&ccedil;&atilde;o de Bill De Blasio, atual prefeito da metr&oacute;pole, j&aacute; destinou US$ 32 milh&otilde;es para a redu&ccedil;&atilde;o das atividades dos ratos em at&eacute; 70% nas tr&ecirc;s &aacute;reas mais infestadas da cidade. Contudo, Corrigan deixa claro que isso nunca ser&aacute; o suficiente, pois essas popula&ccedil;&otilde;es locais n&atilde;o foram "nocauteadas".&nbsp;
"&Eacute; socialmente um al&iacute;vio ter o impressionante n&uacute;mero de 70% de extermina&ccedil;&atilde;o, sendo que a din&acirc;mica populacional da esp&eacute;cie s&oacute; diminuiria se fosse alcan&ccedil;ado 90% de extermina&ccedil;&atilde;o", pontuou o profissional.
<h2>Muta&ccedil;&otilde;es</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14163816338270.jpg" alt="(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Pinterest/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Mas, no final das contas, al&eacute;m da produ&ccedil;&atilde;o desregulada de lixo por algumas pessoas, apesar das pol&iacute;ticas p&uacute;blicas e dos m&eacute;todos de extermina&ccedil;&atilde;o, o que contribui para o constante crescimento dos ratos na cidade s&atilde;o dois fatores: linhagem gen&eacute;tica e adapta&ccedil;&atilde;o territorial.
Conforme o estudo feito pelo formando Matthew Combs, da Universidade de Fordham, os ratos passaram a ir para o Lower East Side e o East Harlem porque s&atilde;o &aacute;reas onde existem mais diversidade gen&eacute;tica da esp&eacute;cie, podendo gerar beb&ecirc;s ratos com muta&ccedil;&otilde;es de DNA frequentes.
Combs e sua equipe sequenciaram os genomas de 29 ratos marrons espalhados pela cidade e os comparou com amostras de DNA de ratos marrons no nordeste rural da China, cuja extens&atilde;o ancestral acredita-se ser da mesma esp&eacute;cie. Eles procuravam sinais de varreduras seletivas de muta&ccedil;&otilde;es ben&eacute;ficas que se tornaram predominantes em uma determinada popula&ccedil;&atilde;o.
<span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Atlas Obscura&nbsp;" data-fonte-url="https://assets.atlasobscura.com/media/W1siZiIsInVwbG9hZHMvYXNzZXRzL2ZlNTk5OTQwYjI4NGJkZGZjOF9BdGxhc1JhdDYuanBnIl0sWyJwIiwiY29udmVydCIsIiJdLFsicCIsImNvbnZlcnQiLCItcXVhbGl0eSA4MSAtYXV0by1vcmllbnQiXSxbInAiLCJ0aHVtYiIsIjYwMHg-Il1d"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14163957510271.jpg" alt="(Fonte: Atlas Obscura/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Atlas Obscura/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
A an&aacute;lise revelou que dezenas de genes mostravam varia&ccedil;&otilde;es entre os roedores nova-iorquinos, algumas associadas &agrave; mobilidade, ao comportamento e &agrave; dieta. Essas altera&ccedil;&otilde;es pareciam ser muta&ccedil;&otilde;es recentes que ocorreram ap&oacute;s uma separa&ccedil;&atilde;o da popula&ccedil;&atilde;o ancestral, seguida pela migra&ccedil;&atilde;o dos ratos da &Aacute;sia para a Europa e depois para a Am&eacute;rica.
Uma das conclus&otilde;es dos pesquisadores mostraram que algumas muta&ccedil;&otilde;es gen&eacute;ticas podem ter feito os ratos desenvolverem uma resist&ecirc;ncia ao rodenticida. Eles tamb&eacute;m notaram que houve mudan&ccedil;as nos genes associados &agrave; metaboliza&ccedil;&atilde;o de carboidratos e a&ccedil;ucares. Isso mostra que os ratos urbanos est&atilde;o comendo por&ccedil;&otilde;es cada vez maiores de a&ccedil;&uacute;car e gordura processadas que os humanos descartam de maneira errada &mdash; e essa dieta pouco saud&aacute;vel os torna suscet&iacute;veis a problemas de sa&uacute;de heredit&aacute;rios.
O pr&oacute;ximo passo na pesquisa de Combs &eacute; estudar os ratos de outras cidades para saber se seus genomas evolu&iacute;ram de maneira semelhante &agrave; popula&ccedil;&atilde;o de roedores de Nova York. De qualquer forma, j&aacute; ficou mais do que claro que os ratos foram afetados pela vida pr&oacute;xima aos humanos de maneira permanente, fazendo entender a dificuldade do problema em acabar com eles.

thumb-image-2024-02-29T14:05:46.094Z

Por que Nova York é infestada por ratos?

Imagem de Cais do Valongo: a vitrine da escravidão no Rio de Janeiro no megacurioso

Estima-se que mais de 1 milhão de escravos desembarcaram no local para serem comercializados

Em 2011, foi redescoberto o Cais do Valongo durante escava&ccedil;&otilde;es feitas para a reforma urbana da zona portu&aacute;ria do Rio de Janeiro. Soterrado h&aacute; 168 anos, o local foi palco de um dos piores epis&oacute;dios da hist&oacute;ria da humanidade: a&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119138-gordon-a-chocante-fotografia-que-expos-a-escravidao-nos-eua.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">escravid&atilde;o</a>, da qual o Brasil fez parte por <a href="https://www.megacurioso.com.br/educacao/118715-lei-aurea-entenda-como-foi-a-abolicao-da-escravatura-no-brasil.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">300 anos</a>.
"O Cais do Valongo &eacute; um lugar simb&oacute;lico, porque ali est&aacute; o passado da popula&ccedil;&atilde;o afrodescendente do pa&iacute;s", disse a arque&oacute;loga T&acirc;nia Andrade Lima, em entrevista ao Di&aacute;rio do Rio.
O governo da cidade nunca fez quest&atilde;o de evidenciar o passado doentio do local, muito pelo contr&aacute;rio. At&eacute; que fosse escavado, havia apenas um totem informando que ali existira o Cais da Imperatriz, erguido pela corte portuguesa para o casamento de Teresa Cristina (1822-1889) com&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119760-golpe-da-maioridade-a-manobra-que-coroou-d-pedro-ii.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Dom Pedro II</a> (1825-1891).
<h2>Vitrine para brancos</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14162432962248.jpg" alt="(Fonte: Di&aacute;rio do Rio/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Di&aacute;rio do Rio/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Por muitos anos, os escravos que desembarcavam no Brasil entravam pela Praia do Peixe (atual Pra&ccedil;a XV) e eram negociados na Rua Direita (atual Rua Primeiro de Mar&ccedil;o), bem no centro do Rio, &agrave; vista de todos.
Isso mudou em 1779, quando o Marqu&ecirc;s do Lavradio (1699-1760), vice-rei do Brasil, estabeleceu uma nova legisla&ccedil;&atilde;o que movia o com&eacute;rcio negreiro do Rio para o Cais do Valongo. Dessa forma, ele visava evitar que a elite tivesse contato com os problemas causados pelo tr&aacute;fico, como doen&ccedil;as trazidas pelos negros e a decad&ecirc;ncia de v&ecirc;-los nus, bem como preservar a imagem "europeia" da cidade perante os turistas.
Entretanto, o Valongo se tornou mais do que o local aonde as pessoas iam para comprar escravos depois que a corte real chegou no pa&iacute;s; era tamb&eacute;m onde os escravos passavam por uma longa recupera&ccedil;&atilde;o da viagem nos navios abarrotados, antes de serem vendidos em "perfeito estado" como m&atilde;o de obra.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14162528462252.jpg" alt="(Fonte: Gest&atilde;o Educacional/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Gest&atilde;o Educacional/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O lugar se tornou um complexo, que inclu&iacute;a o Cais de Desembarque, por onde os africanos chegavam; as Casas de Engorda, onde eram alimentados para engordarem e parecerem saud&aacute;veis para seus propriet&aacute;rios; os Armaz&eacute;ns de Venda, "vitrines" onde eram expostos para os senhorios; e tamb&eacute;m os Cemit&eacute;rios dos Pretos Novos, valas sem marca&ccedil;&atilde;o onde eram jogados aqueles que n&atilde;o sobreviviam ao traslado mar&iacute;timo massacrante.
Al&eacute;m disso, Valongo era um espa&ccedil;o de quarentena para aprendizado da l&iacute;ngua, de pr&aacute;ticas do trabalho e aulas de processo de socializa&ccedil;&atilde;o para a "nova vida" que os negros teriam.
<h2>Local de desespero</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14162632119254.jpg" alt="(Fonte: Geledes/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Geledes/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
O cais viveu seu auge de sucesso ap&oacute;s 1808, quando o tr&aacute;fico de africanos dobrou de 15 mil para 30 mil escravizados desembarcando no local. Entre 1811 e 1831, metade do Produto Interno Bruto (PIB) do pa&iacute;s vinha do tr&aacute;fico negreiro, que acumulou nesse per&iacute;odo mais de 1 milh&atilde;o de africanos dos 4 milh&otilde;es que entraram no Brasil pelo ancoradouro at&eacute; 1850. Essa economia movida a vender gente foi o que levou o pa&iacute;s a ser o &uacute;ltimo do Ocidente a abolir a escravatura.
Naquela &eacute;poca, cada escravo tinha um pre&ccedil;o. Um jovem, saud&aacute;vel e com alguma habilidade especial, como a carpintaria, poderia ser vendido pelo equivalente a R$ 215. No fim do s&eacute;culo XIX, quando o Brasil estava no ponto mais alto de compra e venda de escravos, a renda da tributa&ccedil;&atilde;o do mercado negreiro era alt&iacute;ssima, por&eacute;m o Rio era um polo distribuidor muito forte.
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/14162731916255.jpg" alt="(Fonte: Escola Educa&ccedil;&atilde;o/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Escola Educa&ccedil;&atilde;o/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Vindos da Angola, da &Aacute;frica Oriental, de Guin&eacute; e da &Aacute;frica Ocidental, ainda que os navios aportassem aqui no Brasil nos entrepostos do Maranh&atilde;o e da Bahia, a maioria tinha que passar pelo Cais do Valongo para que os traficantes pagassem seus impostos. S&oacute; ent&atilde;o seus &ldquo;produtos&rdquo; sa&iacute;am da capital direto para planta&ccedil;&otilde;es ou outras regi&otilde;es do pa&iacute;s.
E apesar dos esfor&ccedil;os das autoridades em "blindar" a elite dos horrores que aconteciam &agrave; luz do dia, a inglesa Maria Graham (1785-1842) escreveu em seu di&aacute;rio de viagem, entre 1821 e 1823: &ldquo;Todo o tr&aacute;fico de escravos surge com todos os seus horrores perante nossos olhos&rdquo;.
<h2>Na hist&oacute;ria</h2>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/09/14/reproducao-14162859994258.jpg" alt="(Fonte: Prefeitura do Rio/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" />(Fonte: Prefeitura do Rio/Reprodu&ccedil;&atilde;o)
Foi s&oacute; em 1831 que o Cais do Valongo foi fechado definitivamente, quando o Brasil cedeu &agrave; press&atilde;o da Inglaterra para a proibi&ccedil;&atilde;o do tr&aacute;fico transatl&acirc;ntico. Ainda assim, os traficantes continuaram usando portos clandestinos para trazer sua "mercadoria" para o pa&iacute;s.
Em 1911, ap&oacute;s a pr&oacute;pria corte portuguesa apagar o levante hist&oacute;rico que causou, o prefeito Pereira Passos aterrou de vez esse marco da cidade com suas reformas urban&iacute;sticas que deram lugar &agrave; Pra&ccedil;a do Com&eacute;rcio.
Em 2017, o Cais do Valongo recebeu o t&iacute;tulo de Patrim&ocirc;nio Mundial pela Unesco, considerado o maior s&iacute;tio de mem&oacute;ria da Di&aacute;spora Africana fora da &Aacute;frica, al&eacute;m de refletir o papel da viol&ecirc;ncia da qual o Brasil foi o &uacute;ltimo a abrir m&atilde;o.

Julio Cezar de Araujo