Saúde/bem-estar
22/09/2021 às 11:00•2 min de leitura
Em 24 de março de 1945, um homem negro chamado Ebb Cade, então com 53 anos, trabalhava para a construtora Oak Ridge quando sofreu um acidente de carro que resultou em fraturas graves em seus braços e pernas, levando-o para sua hospitalização no Oak Ridge Army Hospital.
Em 10 de abril do mesmo ano, seu médico recebeu a ordem de Wright Langham, chefe da Divisão de Saúde do Laboratório do Projeto Manhattan dos Estados Unidos, para que Cade recebesse uma injeção de 5 microgramas de plutônio sem seu consentimento.
Wright Langham. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Cade não fazia ideia, mas era o paciente zero do plano de estudo idealizado pela equipe do médico radiologista Stafford Warren para fazer experimentação humana, visando obter estudos acerca dos impactos e efeitos que os envolvidos no Projeto Manhattan enfrentavam ao trabalhar com elementos nocivos, como plutônio e urânio, durante o desenvolvimento de uma bomba atômica.
Foi em 1942 que os líderes do programa estabeleceram a Divisão de Saúde, visando estudar maneiras de proteger os trabalhadores da exposição à radiação, estudar doses de tolerância e planejar métodos de tratamento.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em laboratórios em Chicago, Berkley e Rochester, os cientistas realizaram testes de exposição à radiação em animais de todas as maneiras possíveis, até extinguir suas possibilidades. Quando acreditaram que os dados não eram suficientes para determinar as diretrizes da radiação, concluíram que era o momento para os testes em humanos.
Entre abril de 1945 e julho de 1947, em hospitais afiliados ao Projeto Manhattan em Nova York, Tennessee, Chicago e São Francisco; 18 pessoas foram injetadas com plutônio, outras seis com urânio, mais cinco com polônio, e pelo menos uma com amerício.
Cada uma teve sua finalidade experimental, e o teste com plutônio, por exemplo, tentou determinar através de fezes e urina qual a quantidade de material radioativo que permanecia no corpo de um indivíduo exposto e por quanto tempo.
Considerado um dos processos mais complexos de serem analisados, após as amostras serem coletadas das vítimas, elas sofriam um processo de secamento, em que eram convertidas em cinzas e finalmente dissolvidas em ácido.
Eileen Welsome. (Fonte: C-SPAN/Reprodução)
Demorou até 1993 para que a jornalista Eileen Welsome publicasse uma exposé no The Albuquerque Tribune sobre os experimentos em humanos realizados durante a Guerra Fria, que ficaram sob alto sigilo governamental por anos.
A matéria, que recebeu o Prêmio Pulitzer de Jornalismo, começou a ser elaborada por Welsome pouco depois de 1987, quando ela descobriu um arquivo de documentos governamentais recém-desclassificados enquanto trabalhava como repórter júnior no jornal de sua cidade.
A mulher descobriu que as cobaias de Langham não só foram injetadas com plutônio como também receberam amputações e extrações múltiplas de dentes para experimentação, tudo de maneira não consensual.
Ironicamente, mas de maneira previsível na linha cronológica da ciência, esses experimentos promoveram o campo da física nuclear ao fornecerem uma visão prática dos limites quantitativos dos elementos radioativos nos organismos de seres humanos.