Artes/cultura
19/09/2021 às 06:00•3 min de leitura
Localizado no Oceano Índico, Zanzibar era um país insular próximo à costa de Tanganica, atualmente parte do território da Tanzânia. Desde 1698, a ilha esteve sob controle dos sultões de Omã, que expulsaram os colonos portugueses que haviam alegado posse em 1499.
Em 1858, o sultão Majid bin Said declarou a ilha independente de Omã, reconhecida pelo Reino Unido, que dividiu o país. Foi então na Cidade de Zanzibar que os sultões subsequentes estabeleceram sua capital e sede do governo em um palácio construído com vista para o mar.
Khalid bin Barghash. (Fonte: Historic Collection/Reprodução)
Tudo mudou quando o sultão Sayyid Ali morreu, deixando seu único filho Khalid bin Barghash para ascender ao poder em seu lugar. Contudo, o cônsul da Grã-Bretanha queria outra pessoa no controle da ilha: Hamad ibn Thuwayn, primo de Khalid, que era mais maleável e poderia colaborar com as políticas e tratados europeus. Khalid era conhecido por ser resistente às políticas territoriais europeias, como a abolição da escravidão e a restauração da economia mercantil.
De qualquer forma, as leis de Zanzibar não determinavam que o poder deveria caminhar de maneira linear e hereditária, portanto os europeus não estavam quebrando nenhum protocolo quando exigiram que outro pretendente ocupasse o cargo de máximo poder.
Mas na cabeça de Khalid, eles estavam.
(Fonte: Alchetron/Reprodução)
Khalid permaneceu com a guarda baixa e permitiu que Hamad governasse de maneira pacífica por mais de três anos, até 25 de agosto de 1896, quando ele morreu de repente em seu palácio. Muito embora não haja evidências, é aceitável que Khalid o tenha envenenado, pois não demorou para colocar seu plano massivo de tomada do poder assim que Hamad fechou os olhos.
Horas depois da morte, o homem assumiu a posição de sultão, mesmo sem o conhecimento britânico. Quando soube da reviravolta, o diplomata Basil Cave ordenou que Khalid renunciasse, mas esse ignorou-o e começou a reunir suas tropas em torno do palácio. No final do dia, ele conseguiu uma força de 2.800 homens, em sua maioria civis, armados com espingardas.
Basil Cave. (Fonte: Lafayett Org/Reprodução)
Temendo um ataque, Cave enviou 900 soldados zanzibares sob o comando do tenente Arthur Edward Harrington Raikes do Regimento Wiltshire. Mais de 150 marinheiros foram convocados para evitar confusão entre os cidadãos, bem como proteger o consulado britânico.
Cave continuou enviando avisos a Khalid, ordenando que suas tropas se rendessem e que ele deixasse o palácio, mas o homem seguiu ignorando-o. Às 15h daquele dia, ele realizou uma cerimônia em que ascendeu ao poder de maneira ilegal, alertado pelo diplomata britânico que sua atitude constituía um ato de rebelião que poderia fazer o sultanato dele não ser reconhecido mais pelo governo britânico.
(Fonte: History of Yesterday/Reprodução)
O ultimato a Khalid foi emitido no dia seguinte, impondo que ele deixasse de uma vez por todas o palácio até às 9h de 27 de agosto, senão enfrentaria “as mais desastrosas consequências”. A resposta de Khalid foi ordenar que todos os barcos não militares deixassem o porto para a guerra que estava a caminho.
Às 8h do dia derradeiro, Khalid informou a Cave: “Não temos intenção de içar nossa bandeira e não acreditamos que vocês abrirão fogo contra nós”. Cave, no entanto, respondeu apenas: “Não temos nenhum desejo em atirar no palácio, a menos que você não faça o que lhe é dito”.
E assim aconteceu, quando o relógio indicou 9h, os navios britânicos bombardearam o palácio. Dois minutos depois, a artilharia de Khalid havia sido destruída, bem como a estrutura de madeira do palácio, que desmoronou com 3 mil homens dentro. O sultão só conseguiu escapar por uma saída nos fundos da construção, deixando seus servos e guerrilheiros para lidarem com as consequências de suas decisões.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Às 9h38, o ataque teve fim quando a bandeira do sultão foi puxada, encerrando a guerra mais curta da História. Infelizmente, as baixas foram desproporcionais ao tempo de ataque: mais de 500 pessoas morreram, em meio a centenas de feridos e desabrigados.
Khalid, por sua vez, se refugiou no consulado alemão, que conseguiu tirá-lo do país em 2 de outubro daquele ano. Ele só foi pego pelas tropas britânicas em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, na invasão da África Oriental. Ele foi exilado em Santa Helena antes de retornar à África Oriental e falecer em 1927.
Durante todo o tempo em que o sultão permaneceu escondido, o governo britânico conseguiu manter o controle do trono de Zanzibar com seus pretendentes manipuláveis.