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A grande 'Guerra dos Ovos' causou quase uma extinção na Califórnia

19/09/2021 às 08:003 min de leitura

Entre 1848 e 1855, mais de 300 mil pessoas buscando fazer fortuna com ouro migraram do mundo todo para a Califórnia, indo em direção à serraria Sutter’s Mill (em Serra Nevada), onde o proprietário Joh Sutte havia encontrado ouro e dado início à Grande Corrida do Ouro.

Os navios que tomaram conta da baía de São Francisco despejaram milhares de empresários, operários, ladrões e civis. Como consequência direta, em 2 anos a cidade se tornou a que mais crescia no mundo, com uma população que foi de 800 para mais de 20 mil pessoas.

No entanto, a falta de preparo para abarcar tanta gente prejudicou a indústria agrícola da região. Os trabalhadores do ramo não conseguiam acompanhar o afluxo de famintos, gerando escassez e aumento astronômico nos preços dos alimentos.

A ilha dos mortos

(Fonte: History 101/Reprodução)(Fonte: History 101/Reprodução)

Em 1857, quando o "furacão" de homens famintos terminou de devastar São Francisco, a cidade começou a sofrer com a perda do básico: os ovos de galinha. O rescaldo da Corrida do Ouro foi tão impactante que o preço dos ovos chegou a custar US$ 30 a unidade.

Após anos falando em ouro, o assunto principal havia-se tornado os ovos. Para obtê-los, as pessoas foram longe, mais do que deveriam, como fez o farmacêutico Dr. Robinson, visando fazer fortuna extraindo ovos do único local que havia: as Ilhas Farallon.

Localizada a cerca de 40 quilômetros da ponte Golden Gate, a cadeia de ilhotas é um local inóspito para os seres humanos, mas um santuário para pássaros marinhos e mamíferos. A tribo Miwok que habitava o norte da Califórnia, perto da costa, chamava o local de “Ilhas dos Mortos”.

Mas os cidadãos famintos de São Francisco só tinham interesse no fato de a ilha hospedar a maior colônia de nidificação de aves marinhas dos Estados Unidos. A cada primavera, milhares de pássaros desciam nas ilhas proibidas e cobriam seus penhascos com ovos de todos os tamanhos.

A ganância dos eggers

(Fonte: Amusing Planet/Reprodução)(Fonte: Amusing Planet/Reprodução)

Em 1849, Robinson e seus homens tiveram que escalar rochas cobertas de guano, penhascos íngremes à beira-mar e lutar contra gaivotas vorazes que tentavam proteger seus ninhos. Muitas pessoas morreram durante a tentativa, tanto na caravana feita pelo farmacêutico como nas que vieram logo depois dele, ávidas por se alimentarem e também venderem mais do que os US$ 3 mil que o homem faturou.

Os eggers, como foram chamados os famintos aventureiros, buscavam todos os tipos de ovo, mas principalmente os ovos de murre. Isso porque eles são tão comestíveis quanto os de galinha, mas são bem maiores.

(Fonte: NPR/Reprodução)(Fonte: NPR/Reprodução)

Entre 1849 e 1896, cerca de 14 milhões de ovos de murre foram enviados para São Francisco em um sacrifício anual e contínuo dos eggers para alimentar os bolsos dos empresários. A guerra começou de fato quando o mercado cresceu fora de controle e os empresários tiveram que prestar serviço à Pacific Egg Company, uma empresa fundada por seis homens que navegaram para a ilha em 1851 e se declararam proprietários por direito de posse.

Em um contexto em que os ovos de murre eram vendidos por US$ 1 a dúzia, e a indústria da caça tornou-se altamente lucrativa, o monopólio foi contestado pelos eggers rivais. Em 1859, o governo federal se apropriou das ilhas para fazer um farol, aumentando os conflitos e causando uma luta brutal pelo poder do local.

A guerra pelos ovos

(Fonte: NPR/Reprodução)(Fonte: NPR/Reprodução)

A Grande Guerra dos Ovos causou brigas mortais entre gangues, envolvendo granadas, facadas e tiroteios pelo poderio das ilhas e da indústria dos ovos de murre, mas o conflito não se limitou apenas ao território farallones.

Os barcos que transportavam os ovos eram saqueados regularmente ou até mesmo detonados pela guerrilha rival para causar prejuízos e colocar mais medo no oponente. Os tribunais de São Francisco foram inundados por casos de homicídio, atentados, roubos, invasão de propriedade e danos.

As autoridades locais imploraram por uma intervenção federal, mas os burocratas distantes subestimaram o nível de violência que a guerra havia alcançado. Em 1859, os guardiões do farol foram expulsos sob ameaças. Em maio do ano seguinte, uma multidão armada assumiu o controle das ilhas definitivamente.

O governo só entrou em ação após uma noite de guerra, em 3 de junho de 1863, entre pescadores e empregados armados da Pacific Egg Company, deixando mortos e feridos. No entanto, em vez de proibir o comércio, foi concedido à empresa o monopólio de vendas, permitindo a devastação sistemática das colônias de aves marinhas. 

Em 1879, a empresa também passou a transformar focas e leões-marinhos em óleo, um processo desprezível para render tonéis de gordura fervente, que poluía o ar e enchia as montanhas de carcaças.

(Fonte: Islapedia/Reprodução)(Fonte: Islapedia/Reprodução)

Os anos amargos de exploração da vida selvagem, que morreu mais do que os exploradores famintos, foi encerrado apenas 30 anos depois, em 23 de maio de 1881, quando os militares dos Estados Unidos expulsaram à força a Pacific Egg Company das ilhas.

Isso não impediu, porém, que os pescadores continuassem a invadir o local de maneira independente, principalmente durante o verão. A peregrinação só caiu no início do século XX, quando uma indústria avícola de criadores de galinhas foi estabelecida em Petaluma, a 61 quilômetros ao norte de São Francisco, diminuindo a demanda por ovos de murre.

O interesse mudou de foco, mas quem pagou por anos de pilhagem não regulamentada foi a população de aves da ilha, que chegou a cair de 400 mil para 60 mil em 4 décadas de exploração. A quantidade de ovos produzida por ano caiu de 500 mil, em 1854, para apenas pouco mais de 90 mil em 1896.

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