Saúde/bem-estar
03/07/2019 às 02:30•3 min de leitura
Toda vez é a mesma coisa. Família reunida na praia e um churrasco rolando enquanto todos conversam ao ar livre. A noite começa a cair e com ela os mosquitos saem em busca de alimento, mas nem todos parecem tão apetitosos aos olhos deles. Ao mesmo tempo que algumas pessoas nem notam a chegada dos pernilongos, outras começam um balé de tapas, coceiras e irritação.
Mas qual seria o motivo de existirem alvos preferenciais? Teorias sobre o assunto não faltam. Entre as mais populares, estão: tipo sanguíneo, pele clara, suor excessivo ou ingestão de alimentos que contenham alho ou vinagre. Quando testados com rigor científico, esses motivos clássicos acabam não fazendo sentido, mas a busca por uma forma de pelo menos diminuir o número de picadas é muito importante, pois os insetos são um dos principais vetores para transmissão de doenças.
Apesar de parecer que todo tipo de mosquito adora nos atacar, apenas algumas das aproximadamente 3 mil espécies existentes se especializaram em picar humanos. Evolutivamente, faz muito mais sentido uma fonte de alimentação diversificada, pois nem sempre existe uma pessoa dando sopa. De forma geral, são duas espécies que possuem uma preferência especial pelo nosso sangue: o conhecido – e temido – Aedes aegypti, transmissor da zika e da dengue, e o Anopheles gambiae, que carrega o parasita causador da malária.
Todos os mosquitos utilizam o dióxido de carbono como um indicador da presença de uma presa a distância, mas o composto é onipresente e pouco útil do ponto de vista científico, que busca encontrar um motivo para que algumas pessoas sejam premiadas. Junto dele, o ácido lático também é um atrativo relevante; e, ao lado da amônia, alguns ácidos carboxílicos, acetona e sulfona, formam o conjunto de sinais que indicam uma boa refeição, para os mosquitos.
A presença desses compostos sinaliza ao animal que existe um alvo interessante, mas não está claro para os pesquisadores o motivo da escolha. A melhor evidência que temos sobre essa seleção de pessoas específicas está na variação da microbiota que existe em nossa pele.
Ao ouvir falar em bactérias, podemos pensar logo em doenças transmitidas por elas, como tétano, pneumonia e tuberculose, porém no fim das contas elas mais nos ajudam do que atrapalham. Sim, algumas são transmissoras de doenças, mas nosso corpo possui diversas microbiotas, compostas por bactérias e fungos não patogênicos, que auxiliam o funcionamento do nosso organismo.
Nossa pele também possui uma microbiota e, aparentemente, ela é a principal responsável pela escolha dos pernilongos, funcionando como fonte de odores específicos que atrairiam os animais. Possuímos uma estimativa de 1 milhão de bactérias por centímetro quadrado de pele, e cada pessoa cultiva uma combinação específica de microrganismos, o que torna a composição dela muito peculiar.
Diversos fatores determinam quais tipos de bactérias vão compor a microbiota existente na pele de cada pessoa. O que comemos, onde vivemos, onde tocamos e até mesmo produtos que passamos na pele fazem diferença na presença ou não de micróbios específicos; isso sem falar em questões genéticas, que influenciam quantidade de suor, oleosidade da pele e diversos outros fatores, que acabam culminando em uma microbiota específica.
Nosso suor não emite nenhum odor, mas mesmo assim sua composição varia entre as pessoas, reforçando a tese de que os odores liberados pela microbiota são os causadores da escolha dos pernilongos. Apesar dessa constatação, ainda não foram identificadas quais bactérias específicas seriam as responsáveis por tornar algumas pessoas tão apetitosas aos olhos dos mosquitos.
Quando essa composição for rastreada, poderemos desenvolver formas de produzir repelentes mais eficazes, talvez até utilizando algum composto ingerido oralmente, que alterasse levemente a reação do nosso corpo à microbiota natural. Por enquanto, os produtos existentes no mercado conseguem ajudar bastante; o problema é que sempre nos esquecemos de passar o repelente naqueles lugares que nunca imaginávamos ser possível um mosquito picar.
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